Hoje, segunda-feira, é o Dia Mundial da Poesia, motivo mais do que suficiente para falar dela. A minha primeira reacção foi oferecer aos meus leitores um poema bonito, de um poeta conhecido ou não. Um poema da minha preferência, daqueles que me enchem a alma e me sugerem a partilha com os outros. Mas não o faço. Simplesmente porque entendo que cada pessoa tem os seus poetas preferidos e, dentre eles, os seus poemas predilectos. Apresentar um e só um, hoje, seria uma heresia. Cada qual que escolha, então, um poema e envolva com ele todos os momentos deste dia.
A poesia não é só um conjunto de palavras ordenadas para nos presentearem uma mensagem, bem embrulhada em ritmo, harmonia e musicalidade. Ela é também uma flor bonita, um sorriso de criança, a ternura de um idoso, o encanto de quem ama, a solidariedade de gente generosa, uma paisagem que nos leva a sonhar.
A poesia está em toda a parte: na amizade que damos, na natureza sempre em busca da Primavera, nos regatos silenciosos que alimentam rios e mares, no universo e nos seus segredos, no mundo microscópico e macroscópico que nos eleva até ao Criador.
A poesia está a meu lado, de manhã à noite, quando me deito e quando me levanto. Envolve-me quando procuro ser bom e foge de mim quando ignoro os outros. A poesia é a vida feliz que experimento constantemente e até a vida com os seus momentos menos alegres.
A poesia merece, pois, um Dia especial. Para olharmos para ela, para a divulgarmos, para a criarmos. Todos temos dentro de nós poesia à espera de nascer. À espera de desabrochar. À espera que aprendamos a oferecê-la aos outros. A poesia é o nosso amor por uma humanidade mais fraterna.
Fernando Martins
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A Força da Fé
Penso que todos, crentes e não crentes, reconhecem a força da fé que anima o Papa João Paulo II. Nos mais diversos momentos do seu longo pontificado, o Papa mostra ao mundo a sua capacidade de amar, num espírito evangélico nunca regateado. Ele quer estar em todas as circunstâncias com os que sofrem, com os tristes e angustiados, com os deserdados da sorte, com os que procuram a verdade, a justiça, a liberdade e o amor. Mesmo quando ele próprio sofre. Depois da operação melindrosa a que foi submetido e quando muitos auguravam longo tempo de repouso e de restabelecimento, João Paulo II não desiste de estar com o povo. Ontem, mais uma vez, veio ao encontro dos mais de 50 mil peregrinos que o esperavam na Praça de São Pedro. Não para falar, mas para os ver. E não deixou, talvez com muito sacrifício, de os abençoar, erguendo, bem alto, o ramo de oliveira, o cristão símbolo da paz.
F.M.
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Ainda a pobreza em Portugal
Ontem abordei, ligeiramente, o problema da pobreza em Portugal. Como tantas vezes o tenho feito nos mais diferenciados lugares. Disse então, como pode ser confirmado, que no nosso País há 200 mil portugueses a passar fome, no dia-a-dia, de portas abertas, uns, e escondidos, outros. Talvez a maioria, neste último caso.
De cada vez que há eleições, os políticos garantem que o problema da pobreza vai ser tarefa prioritária do Governo. Mas, apesar dessas promessas, o problema persiste, escandalosamente. A nossa sociedade está habituada a pensar, e disso faz ponto de honra das suas reclamações, que é tarefa dos governantes erradicar a pobreza das nossas comunidades.
Mesmo as instituições vocacionadas para isso, que tanto fazem para ajudar os que precisam, não deixam de reclamar mais apoios do Governo. Porém, a sociedade em si, sem alma, continua eternamente à espera que alguém (indefinido) resolva os problema. O que é de lamentar, porque todos somos co-responsáveis. Do Estado podemos e devemos esperar, penso eu, mais facilidades e mais estímulos para que as instituições e as pessoas se ajudem mutuamente nos momentos difíceis, segundo o princípio da solidariedade e da caridade cristã.
O Estado não pode fazer tudo. Porque não tem meios, porque não está próximo das pessoas, porque não sente os dramas dos pobres envergonhados. Graça Franco, jornalista da Renascença e cronista do PÚBLICO, escreveu hoje, neste jornal, a propósito da pobreza que existe entre nós: "Eng. Sócrates se tiver de esquecer uma das suas promessas deixe lá os impostos. Se for preciso suba-os mas não deixe de cumprir a promessa de combater a pobreza e a exclusão social. Se as nossas consciências não respondem porque ficaram do tamanho das cabecinhas de alfinete... agitem-nos as carteiras!" Subscrevo, obviamente, esta proposta.
Fernando Martins