Quando tenho conhecimento de que há padres que se servem do ambão onde proclamam o Evangelho para pregarem opções político-partidárias, penso logo que esse sacerdote errou a vocação. Sei que as nossas atitudes têm ou devem ter muito de política, sobretudo quando procuram sensibilizar os outros para a construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna, onde não haja miséria e fome degradantes, nem a exploração seja de quem for. Mas também sei que a igreja e as suas celebrações nunca podem criar divisões entre a família paroquial, apresentando uns partidos como santos e outros como diabos.
Se analisarmos os programas dos diversos partidos políticos, é certo e sabido que em todos podemos encontrar projectos que qualquer cristão poderá assumir, como compatíveis com a Doutrina Social da Igreja. Mas também é certo que nos mesmos partidos haverá muita coisa que não está de acordo com a nossa consciência. O que é preciso é sabermos distinguir onde está o meio-termo e o essencial para um futuro melhor e para o bem-estar das populações.
Ora, a análise dos programas partidárias deve ser feita, a meu ver, na sociedade e até nas diversas organizações eclesiais, porque os cristãos, bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos, têm de estar inseridos no mundo e não fechados nos templos. E nas celebrações, onde se reza e se partilha a Palavra de Deus e onde comungamos o Corpo de Cristo para melhor gerarmos comunidade fraterna, nunca deverá haver espaço para comícios políticos, penso eu.
Fernando Martins
Foto: Altar nunca deve ser tribuna de política partidária