sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

A CASA DO GAIATO

Todos os portugueses cresceram a ouvir falar de Obra dos Meninos da Rua fundada pelo Padre Américo. A Casa do Gaiato fez parte da nossa família e da nossa identidade. Toda a gente pelo Pais fora colaborava regularmente, uma ou várias vezes por ano para uma obra que se sabia não vivia do Estado, nem do Orçamento, mas dos contributos dos portugueses que voluntariamente colaboravam. Antes do Estado Providência era a Casa do Gaiato que recebia meninos e lhes dava Muro. Pela Obra do Padre Américo passaram milhares de meninos que escaparam da marginalidade e da miséria e se fizeram homens, pelas casas de cá e pelas casas de África. Para que esta obra sem paralelo tenha resistido ao tempo e seja acarinhada por todos os que lá vieram e pelos muitos, muitos portugueses que a conheciam, visitavam e apoiavam, foi lá trabalharam. Dedicação sem limites, sem horários, sem ordenados e sem empregos, dedicação desinteressada a uma causa, a mais nobre das causas: os meninos da rua. No entanto, em vez do reconhecimento da sociedade portuguesa, do muito obrigado aos que lá passaram a vida a dar o seu melhor, convivendo com situações dificílimas de marginalidade, de luta pela vitória do Bem, de repente esses poucos, que não são profissionais da Segurança Social, apanham com um ataque desleal feito em nome não se sabe bem de quê. Esse mesmo Estado, que não soube tratar dos meninos que estavam a seu cargo na Casa Pia (uma vergonha), que tem instituições chamadas de reinserção social, que só o são de nome, que tem escolas públicas cheias de problemas e de violência, devia deixar trabalhar em sossego quem a uma obra dedicou a vida. Sejamos claros: foram à Casa do Gaiato procurar casas parecidas com as da Casa Pia e não encontraram. Encontraram uma Obra criada pelo Padre Américo, cujo processo de beatificação corre no Vaticano. Estiveram lá meses a fio, nunca falaram com nenhum dos padres que lá vive e lá trabalha, e fizeram um ridículo relatório que alimenta jornais em cada falta de assunto. Por mim, confesso que a minha acusação preferida desse relatório contra a Casa do Gaiato de Paços de Sousa, é aquela da piscina ao ar livre que lá tem (e eu vi recentemente) não ter água quente, mas apenas água fria... Que horror piscina ao ar livre... Também me parece muito mal que não deixem os meninos ter telemóvel. Alias, comuniquei imediatamente o facto à directora do Colégio Moderno, onde o meu filho mais novo tem aulas, porque lá também não os deixam fazer igual uso... Tudo isto seria profundamente ridículo se tal ataque não estivesse a pôr em perigo a Casa do Gaiato. Já nem falo da injustiça profunda de uma sociedade que não sabe reconhecer e agradecer a quem faz o Bem. Mas, num país com a segurança social falida e tanta gente a precisar de apoio do Estado, ao menos não ataquem e não ponham em perigo uma obra que vive sem subsídios e apenas de contributos de portugueses e da dedicação de quem lhe oferece a vida. ZITA SEABRA in "Vidas" (suplemento do Correio da Manhã) de 22 de Janeiro de 2005 Posted by Hello NB: Ausente por uns dias, regresso hoje ao contacto com os cibernautas. E começo com um texto, oportuno, de Zita Seabra, publicado no Correio da Manhã. Um amigo atento fez-mo chegar, o que agradeço. Fico à espera de novas sugestões. F.M.

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