Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias
Continuo com os silêncios que a vida requer na sua decência.
O silêncio respeitador. É o silêncio diante de alguém que está a dormir, a sofrer e sobretudo a morrer. Nunca esquecerei as palavras do cardeal P. Veuillot, arcebispo de Paris, que morreu jovem, aos padres: "Quando fordes ao hospital ver alguém, não vades com discursos na tentativa de uma conversão..., não. Sentai-vos em silêncio e dai-lhes a mão."
O silêncio sossegado. Numa praia serenamente deitados numa toalha sobre a areia, apanhando sol e embalados pelo rumor sereno das ondas do mar.
O silêncio cuidadoso. As mulheres são acusadas de terem dificuldade em estar caladas. Talvez isso provenha de um facto criado pela evolução, que deixou uma marca orgânico-cerebral (área de Broca). Os homens iam caçar e tinham de manter um silêncio cuidadoso para não espantar a caça enquanto as mulheres ficavam em casa e tinham de estimular os bebés para a fala.