sábado, 28 de dezembro de 2019

O Futuro Absoluto

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias de hoje, 
dia da celebração dos 155 anos do jornal 
Anselmo Borges 

1. Face ao futuro, é essencial pensar. A palavra escola vem do grego scholê, que significa ócio, com o sentido de tempo livre para homens livres pensarem e governarem a polis. 
Hoje, falta esse ócio, tudo se torna negócio (do latim nec-otium). A própria política tornou-se sobretudo negócio. Assim, sob o império da técnica e do negócio, não se pensa, calcula-se. A técnica não pensa, calcula (Heidegger), o mesmo valendo para os negócios. 

2. O futuro vem grávido de esperanças, mas também com perigos: a guerra nuclear, as NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas, neurociências), desembocando no transhumanismo e no pós-humanismo, a injustiça estrutural mundial, o meio ambiente, as drogas, a paz, os direitos humanos, o trabalho... Vivemos num mundo global, estes problemas são globais e a questão é que a política é nacional, quando muito, regional. 
Olhando para o futuro, não se impõe pensar numa Governança Global? Não digo governo mundial, mas governança global, já que os problemas enunciados só com decisões ético-jurídico-políticas globais podem encontrar solução. 

3. Problema maior hoje: uma espécie de cansaço vital. Porque não há sentido último. Daí, nem é no desespero que se vive, mas na inesperança. 
Só com Deus, “Futuro Absoluto” (K. Rahner), se pode erguer um futuro autenticamente humano, com Sentido final, pois Ele é o Futuro de todos os passados, do presente e de todos os futuros. 

Anselmo Borges no DN

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Águeda com os seus guarda-chuvas



 



(Clicar nas imagens para ampliar)


É sempre um prazer visitar a cidade de Águeda, mas se pudesse e tivesse tempo para passar pelas suas aldeias o prazer seria, porventura, redobrado. Conheci algumas, que calcorreei há anos em férias e trabalho, que deixaram na minha memória paisagens puras e gentes acolhedoras que jamais esquecerei.  
Ontem, depois de uma intervenção médica no hospital, fiquei livre e com o meu filho Pedro saboreámos a agitação humana no centro da cidade, sob o cenário já tão badalado dos guarda-chuvas, todos brancos, julgo que para não obscurecer o ambiente. Aqui ficam alguns registos do que sentimos e experimentámos. Vale a pena passar por lá. 

As nossas paisagens: Marina do Oudinot



As nossas paisagens fazem parte integrante dos quotidianos gafanhões. A Marina do Oudinot, com Guarita à vista, abre esta secção que pretendo frequente. Aceitam-se propostas. 
Nesta foto, os barcos ancorados e o espelho de água são um desafio à nossa contemplação. Não passe a correr. Pare uns instantes e aprecie. 

Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo da Sagrada Família

Georgino Rocha

Duas vezes, ouve José a voz do enviado de Deus que lhe diz: “Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe”. Uma, para fugir para o Egipto. Outra, para regressar às terras de Israel. A primeira, porque o Menino corria perigo de vida. A segunda porque Herodes, o perseguidor, havia morrido. E José acolhe prontamente a ordem recebida e, com obediência confiante, dá-lhe seguimento. Mt 2, 13-15. 19-23.
Não hesita nem se queixa, apesar do nascimento ter sido há tão pouco tempo, da fragilidade do Menino, da debilidade de Maria. Não teme a noite, nem a incerteza e o cansaço da viagem. Dócil e ousado, faz-se ao caminho. Que belo exemplo nos deixa: prontidão em ouvir, generosidade em arriscar, disponibilidade para agir, fidelidade em obedecer, discernimento para acertar na opção a tomar, cuidado solícito em salvaguardar a sua família. José, movido pelo amor, realiza a missão recebida.
A fuga e o regresso, facto com algum fundo histórico, mas sobretudo simbólico e teológico, são aproveitados por Mateus para fazer uma excelente catequese sobre Jesus e a sua família. José, o esposo de Maria; Maria, a Mãe do Menino; Jesus, o filho de Deus, todos unidos pelo mais fiel amor, pela mais profunda comunhão, pelo maior desejo de fazer o que o enviado de Deus havia anunciado como promessa e, agora, se realiza neles e por eles. Hoje, celebramos a Festa da Sagrada Família de Nazaré, referência insubstituível para “todo o que faz a vontade de Meu Pai que está no céu”, dirá Jesus mais tarde - Mt 12, 50, acrescentando: “Esse é Meu irmão, Minha irmã, minha Mãe”. Referia-se aos discípulos, a nós, à Igreja que somos a Sua nova família.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O Presépio abre-nos a porta a um mundo mais fraterno


“Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado”


Com votos de Santo Natal para todos os meus amigos que frequentemente visitam o meu blogue. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

VIMO-LO CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Missa do Dia de Natal

“Vimo-Lo cheio de graça e de verdade”, é como João apresenta o Verbo de Deus que se faz carne humana e habita entre nós. “Vimo-lo” é certeza reconhecida e anúncio jubiloso. O Verbo de Deus faz-se carne humilde e débil. A sua glória brilha na fragilidade de uma criança, Jesus. A terra do nascimento é Belém de Judá, aldeia humilde, embora de nobres tradições, e não Jerusalém ou outra cidade importante. A Palavra eterna ressoa nas vozes do tempo e assume as formas de comunicação humana. A tenda de Deus ergue-se na história e regista as “marcas” contingentes da humanidade, configurando-se não como templo de pedras, mas como consciência desperta para a dignidade da sua vocação a deixar-se encher de graça e de verdade. Grande maravilha! Felizes os que a sabem apreciar. Jo 1, 1-18.
João Evangelista apresenta-O, assim, não por fantasia engenhosa, pessoal e da comunidade a que se dirige, mas por terem visto a glória do Senhor e experienciado o seu amor, por terem ouvido a sua palavra e transmitido a sua mensagem, por terem tocado as suas “chagas” e partilhado a sua paixão. Apresenta-O assim, com um propósito claro explicitado na sua 1ª. carta: “ Para que estejais em comunhão connosco. A nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo … para que a vossa alegria seja completa” (Jo 1, 3 e 4). Estes escritos são redigidos muito mais tarde e visam dar uma visão teológica do acontecimento natalício, contemplando Deus no seu ser de relação trinitária.

domingo, 22 de dezembro de 2019

A Europa perdeu a batalha das nações


«A Europa perdeu a batalha das nações, sem criar um substituto que não seja a vacuidade do cosmopolitismo global. Perdeu as batalhas da tecnologia, da ciência e da cultura. É hoje raro, algures no mundo, reconhecer traços sólidos da cultura europeia, a não ser o património histórico dentro de portas. Até no continente europeu, marcas, símbolos e valores ascendentes são americanos, islâmicos, africanos e asiáticos. A Europa perdeu a batalha da defesa: se tiver de se defender, depende de outros, de americanos em particular. Desde que eles estejam dispostos, o que é cada vez menos verdade. Talvez a Europa seja ainda um farol na justiça, nos direitos humanos e na protecção social. Nem sempre. Mas talvez. Só que, para isso, é necessário ter riqueza, instituições, democracia, consensos, defesa e segurança. O que vai faltando… Os europeus sabem gastar e distribuir. Mas sabem cada vez menos criar, poupar, consolidar e desenvolver. Sem estes, aqueles não são possíveis.»

António Barreto

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