sábado, 5 de janeiro de 2019

Estátuas de Aveiro






Estas estátuas, não muito grandes, não precisam de legendas e o que representam está bem patente na base das mesmas. Ficam na Ponte Praça, no chamado olho da cidade, a mais movimentada rotunda de Aveiro, na minha ótica. Como se compreende, as estátuas representam profissões caídas em desuso, mas que estão na memória de muitos aveirenses. 

Narrativas Evangélicas do Natal

Reflexão de Anselmo Borges
publicada no OBSERVADOR


Anselmo Borges
 Para se entender o que se passa com as narrativas dos Evangelhos à volta do Natal, há pressupostos fundamentais.

1. Em primeiro lugar, a fé cristã dirige-se a uma pessoa, Jesus confessado como o Cristo (o Messias) e, através dele, a Deus que Jesus revelou como Pai e poderemos também dizer como Mãe, com todas as consequências que daí derivam para a existência.
O que diz o Credo cristão, símbolo da fé? “Creio em Jesus Cristo. Gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, ressuscitou ao terceiro dia.” Segundo a fé cristã, isto é verdade? Sim, é verdade. Mas segue-se a pergunta fundamental: o que deriva dessas afirmações para a nossa existência de homens e mulheres, cristãos ou não? O Credo é teologia dogmática, especulativa, em contexto linguístico da ontologia grega. Ora, a teologia dogmática tem que ver com doutrinas e dogmas, com uma estrutura essencialmente filosófica. Pergunta-se: os dogmas movem alguém, convertem alguém, transformam a existência para o melhor, dizem-nos verdadeiramente quem é Deus para os seres humanos e estes para Deus?
Exemplos mais concretos, um do Antigo Testamento e outro do Novo, até para se perceber a passagem do universo hebraico em que Jesus se moveu e o universo grego no qual aparecem redigidos os Evangelhos. No capítulo 3 do livro do Êxodo aparece a manifestação de Deus na sarça ardente e Moisés dirige-se a Deus: se me perguntarem qual é o teu nome, que devo responder-lhes? E Deus: “Eu sou aquele que sou”. Dir-lhes-ás: “Eu sou” enviou-me a vós. A fórmula em hebraico: ehyeh asher ehyeh (“eu sou quem sou”, “eu sou o que sou”) é o modo de dizer que Deus está acima de todo o nome, pois é Transcendência pura, que não está à mercê dos homens, mas diz também (a ontologia hebraica é dinâmica) o que Deus faz: Eu sou aquele que está convosco na história da libertação, que vos acompanha no caminho da liberdade e da salvação. Depois, com a tradução dos Setenta, compreendeu-se este ehyeh asher ehyeh como “Eu sou aquele que é”, “Eu sou aquele que sou”, o Absoluto. Filosofando sobre Deus, a partir daqui, Santo Tomás de Aquino dirá que Deus é “Ipsum Esse Subsistens” (O próprio ser subsistente), Aquele cuja essência é a sua existência. Isto é verdade, mas significa o quê para iluminar a existência? Perdeu-se a dinâmica do Deus que está presente e acompanha a Humanidade na história da libertação salvadora.
No Novo Testamento, João Baptista, preso, mandou os discípulos perguntar a Jesus se ele era o Messias. Jesus não afirmou nem negou. Mas deu uma resposta existencial, prática: “Ide dizer-lhe o que vistes e ouvistes: os coxos andam, os cegos vêem, a Boa Nova é anunciada, a libertação avança, a salvação está em marcha”.
O que é que isto significa? A teologia, a partir da Bíblia, é, antes de mais, teologia narrativa e não dogmática. Quer dizer: tem uma estrutura existencial, histórica. Na teologia especulativa, o centro de interesse é o ser; na teologia narrativa, o decisivo é o que acontece. Assim, na perspectiva cristã, o essencial consiste na pergunta: O que é que acontece quando Deus está presente? Na linha dogmático-doutrinal, exige-se e até se pode dar um assentimento intelectual, subordinando-se, mas a existência continua inalterada. Corre-se então o perigo de uma “fé” em fórmulas doutrinais coisistas, petrificadas, sem qualquer transformação da vida, que é o que acontece tão frequentemente. Ora, a vida cristã, se quiser ser verdadeiramente cristã, no discipulado de Jesus, tem de ser determinada mais pela ortopráxis do que pela ortodoxia (sem menosprezo, evidentemente, pela ortodoxia, segundo uma hermenêutica adequada): Jesus louvou a cananeia pela sua fé, que não era ortodoxa, deu como exemplo o samaritano, que não seguia a ortodoxia, mas praticava a misericórdia, e, sobretudo, leia-se o Evangelho segundo São Mateus, no capítulo 25 sobre o Juízo Final, no qual não há perguntas sobre fórmulas teóricas religiosas, mas sobre a prática: “Destes-me de comer, de beber, vestistes-me, visitastes-me na cadeia e no hospital...”.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A estrela Guia: Jesus manifesta-se a quem o procura

Georgino Rocha

Ao sair do Templo, o Menino Jesus é tomado pelo velho Simeão e apresentado como Luz das nações e Salvador de todos os povos. Apresentação que é louvor a Deus, bênção para Israel e maravilha para Maria e José que ouve a oração profética do venerável ancião. Apresentação que abre novos horizontes ao reconhecimento feito pelos pastores na gruta de Belém.
Hoje, a gruta é de novo palco de outra apresentação feita aos Reis Magos, e constitui para nós o Evangelho da Festa da Epifania do Senhor, que a Igreja celebra.
Mateus, que escreve para Judeus, é o único evangelista a referir o episódio (Mt 2, 1-12). E fá-lo com beleza narrativa e grande alcance profético. Recorre a tradições bíblicas, como a de Isaías, hoje proclamada, e a outras fontes orais que trabalha com liberdade imaginativa. E faz o relato dos Reis Magos que constitui um autêntico itinerário de fé cristã. Vamos segui-lo de perto e “explorar” os seus pontos principais.
O primeiro passo deste itinerário surge na disposição interior dos Magos, na sua abertura ao mundo e atenção ao que acontece, na sua curiosidade e capacidade de percepção, na sua insatisfação com a sua religiosidade habitual. Sem esta disposição nem sequer se inicia o caminho. Vive-se na acomodação ou na indiferença. Semear a sã inquietação é ponto prévio de toda a iniciação cristã. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Um poema de Sophia para este tempo


O mar dos meus olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Nota: Por sugestão de "Portos de Portugal" 

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz

«A BOA POLÍTICA ESTÁ AO SERVIÇO DA PAZ»

A propósito, vale a pena recordar as «bem-aventuranças do político», propostas por uma testemunha fiel do Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:

Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.
Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.
Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que realiza a unidade.
Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.
Bem-aventurado o político que sabe escutar.
Bem-aventurado o político que não tem medo.

Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito. Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras. 
Ler toda a mensagem aqui

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Um 2019 à medida de cada um



Por estranho que pareça, já nos cansámos de remeter, até à exaustão, os postais de boas festas próprios do salto para o novo ano. No quadro das minhas vivências, já atirei para o saco das memórias os tais postais ilustrados, uns com arte e outros sem graça nenhuma, para além da boa vontade de quem, ano a ano, ainda se dá ao luxo de os enviar aos amigos e familiares. Este ano, os correios não deixaram nenhum na caixa da correspondência, à porta de entrada da nossa casa. Mas se acabaram os postais, sobram os e-mails que, um dia, também hão de desaparecer de cena, de tanto se banalizarem. 
Novas formas de comunicar, novas tecnologias, novos hábitos e novos relacionamentos surgirão nas nossas vidas, com a juventude que nos rodeia a imprimir novas dinâmicas de proximidade, que o longe se torna perto. Hoje, já vi em direto as avenidas do Dubai com o laser a substituir os foguetes, que na Gafanha e arredores ainda se ouvem alguns mesmo muito fraquinhos. Deles, resta a alegria de quem tem vontade de celebrar o ano novo, partilhando emoções traduzidas em foguetório. E à falta de foguetes, haverá sirenes dos navios, tachos velhos fora de uso e outras graças mais ou menos estrondosas. Há de tudo para todos os gostos. 
Eu e a Lita estamos ao calor da fogueira que crepita na salamandra da minha tebaida. Olhos atentos ao fogo que nos iluminará os caminhos dos nossos futuros e dos futuros dos que amamos muito, em especial, filhos, noras, genro e netos. Ora eu ora a Lita, numa conjugação solidária e cúmplice, vamos atirando achas para que o lume nos aqueça o corpo, que a alma se alimenta dos olhares saudosos da nossa juventude em comum, já lá vão mais de 53 anos. O amor não tem idade e muito menos velhice. Amanhã, já no novo ano, a vida continua. E só Deus saberá até quando. 
Votos de saúde, paz, alegria, otimismo e muito amor para todos. 

Lita e Fernando

Poema de Ricardo Reis para este tempo


No breve número de doze meses

No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.

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