sábado, 29 de abril de 2006

"Fraternitas" reunido em Fátima

“Fraternitas”
quer ser uma
consciência crítica
da Igreja “Queremos ser uma consciência crítica de tudo o que nós fazemos e em Igreja se faz” mas “não uma consciência contestatária” – disse à Agência ECCLESIA Vasco Fernandes, presidente do movimento “Fraternitas”, reunido em Fátima até ao próximo dia 1 de Maio. O XIII encontro deste movimento de padres dispensados do ministério pretende ajudar os participantes (cerca de seis dezenas) a reflectir sobre a “relação entre “Fraternitas” e Igreja institucional” e “Que movimento queremos ser?” – sublinhou este responsável. E adianta: “sem agressividade queremos assumir um papel crítico sobre aquilo que nós e os nossos irmãos fazemos”. Fundado há 10 anos pelo Con. Filipe Figueiredo, o presidente do “Fraternitas” referiu que “muitos de nós não nos sentimos desaproveitados”. Apesar de alguns “não estarem bem inseridos” porque “temos bispos que estão mais reticentes quanto ao nosso papel” – adiantou. Com cerca de 100 sócios, Vasco Fernandes esclareceu que existem cerca de 600 padres dispensados do ministério mas “não temos os ficheiros actualizados”. Os encontros nacionais realizam-se em Fátima mas o responsável do “Fraternitas”, natural da diocese do Porto e foi padre jesuíta, quer implantar os encontros regionais para facilitar a comunicação entre os membros. : Fonte: Ecclesia

Um artigo de Laurinda Alves, no Correio do Vouga

Os ramos
da cerejeira “Tenho saudades do meu avô. Às vezes, sonho com ele e vejo-me sentada ao seu lado, na cadeira rente ao chão, que os netos disputavam para ficar mais perto dele a ouvir as histórias que contava como ninguém. Vejo-o enorme, sentado no seu cadeirão de braços, com as pernas cruzadas e os óculos de meia-lua sobre a ponta do nariz, a ler o jornal concentrado e, ao mesmo tempo, muito atento a tudo à sua volta. Vejo-o com todo o tempo do mundo a ter tempo para todos. Lembro-me da sua voz, das suas cores e da maneira como os olhos riam. Era um homem alto, lindo, cabelo imaculadamente branco, olhos azul-escuro que acinzentavam conforme a luz dos dias, andar compassado e tranquilo. Um andar de quem conhece a terra que pisa. (...) O tempo em que o meu avô e a minha avó eram vivos foi o tempo mais feliz da nossa família. Amados pelos filhos e netos, eram igualmente venerados pelas noras e genros. O dia do piquenique anual, feito à sombra da cerejeira mais antiga e perfumada das terras do meu avô, era um dia inesquecível. Vinham homens para assar o borrego e mulheres para ajudar a estender as toalhas na terra inclinada sobre a vinha. Nós divertíamo-nos uns com os outros, divididos entre o prazer dos assados, as anedotas do tio Guilherme e os saltos para o tanque que todos os anos era limpo e cheio de água fresca. Alguns desses dias foram filmados e ficaram gravados para sempre. As imagens estão gastas e não têm som mas, de cada vez que as vejo ou me lembro delas, oiço as vozes com uma estranha nitidez. (...) Um dia, o meu avô deitou-se, adormeceu e não voltou a acordar. Morreu exactamente como viveu.” Se deixo aqui aquilo que escrevi há alguns anos, é porque todas estas memórias e sentimentos continuam muito presentes e não sei dizer as mesmas coisas por outras palavras. Por outro lado, se recordo parte do que então escrevi, é justamente por ter referido a velha cerejeira. Foi por causa desta árvore e de tudo o que vivemos à sombra dos seus ramos que o gesto de alguém, que eu só conhecia de nome mas era íntimo da minha família, me tocou de uma forma tão profunda. Manuel Vieira, o padre “Manel”, de quem tanto ouvi falar, mas com quem nunca me tinha cruzado por vivermos vidas diferentes, em lugares distantes, foi ter comigo à entrada de um encontro onde participei recentemente e ao qual cheguei em cima da hora, cheia de nervos e sobressaltos. Manuel Vieira apresentou-se, abriu um sorriso enorme e estendeu a mão com uma carta para mim. O envelope continha qualquer coisa invulgar e, mesmo atrasada, não resisti a abri-lo logo ali. Tinha três ramos de árvore e um papel escrito dos dois lados. Os pequenos ramos estavam unidos por um elástico e tinham sido cuidadosamente embrulhados num saquinho de plástico para os proteger melhor. Olhei com ar interrogativo, enquanto alguém me puxava pelo braço para descer as escadas do enorme auditório, onde já estavam sentadas centenas de pessoas à minha espera. Não resisti a ler o papel enquanto me apresentavam à plateia. E o que o papel dizia era muito simples e muito poético: “Passei em Aldeia Velha na manhã do dia 16 e parei à sombra da cerejeira, ao lado da casa de campo. Subi à parede e colhi um raminho desta cerejeira já velhinha mas ainda conhecida por ser a cerejeira do seu avô. Agora fala à neta. Penso que as coisas, mesmo insignificantes, quandos nos ligam à vida passada ou presente, deixam de ser insignificantes, para se tornarem importantes e mensageiras.” Pode crer, querido padre Manuel Vieira.

Vagos por estes dias

Vagos, com os seus recantos e encantos (Para ver melhor, clique nas fotos)

ESCUDELA

O que é uma escudela?
Abriu na Gafanha da Nazaré, há tempos, um estabelecimento de padaria e pastelaria que foi baptizado, pelos seus proprietários, com o nome "Da Escudela", em memória, por certo, dos seus avós. Como o vocábulo não é muito conhecido das novas gerações, não foram poucos os que me interrogaram sobre tal. Houve até quem me fizesse perguntas, via e.mail, sobre o dito vocábulo.
Como diz um bom dicionário, a escudela é uma "malga, tigela de madeira; vasilha arredondada própria para comida; vasilha de folha, com que se tira água para rega".
Cá pelas Gafanha, como mostra a foto, a escudela era e é uma tigela de madeira, usada exclusivamente para moldar as boroas de milho, antes de as meter no forno. Feita a massa e depois de levedada, as gafanhoas arrancavam, à mão, a porção sufuciente para fazer uma boroa, que atiravam para a escudela, previamente polvilhada com farinha seca. Com golpes rápidos e ágeis, faziam a massa saltar na escudela, até aquirir a forma desejada. De seguida, com a pá, metiam-na no forno. E aí tínhamos, passado o tempo necessário, a saborosa boroa de milho das Gafanhas.
F.M.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Povo chinês está a ser esmagado

Denúncias do Cardeal
Joseph Zen Ze-Kiun
Recentemente nomeado Cardeal, Joseph Zen Ze-Kiun é um homem lúcido, desassombrado, que a partir de Hong Kong observa a realidade chinesa e se preocupa com a evolução da Igreja numa sociedade profundamente capitalista e materialista. Sem meias tintas diplomáticas, fala de tudo, diz tudo. Acerca da China, afirma que o povo está a ser esmagado, que o governo controla tudo, mas que mesmo assim existe o risco de uma explosão. Justifica a aparente contradição: «A agitação social, sobretudo entre os camponeses, vem cada vez mais ao de cima. O desespero torna-se uma força.»
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Como vê a Igreja na China?
Por um lado, há sinais de esperança; por outro, há sinais desencorajadores. Entre os sinais de esperança, estão a sagração dos bispos de Xangai e Xian, o que significa que a Igreja tem conseguido impor-se ao Governo, sem golpes teatrais: com paciência, com firmeza, e o governo teve de aceitar os bispos nomeados pela Santa Sé. Ao mesmo tempo, há muitas desordens, desuniões nas dioceses: bispos legítimos que não estão de acordo; e depois, naturalmente, o secularismo está a contagiar o clero. Na política, apesar da abertura da economia, a democracia não fez qualquer progresso. Conseguem continuar a controlar, com a ajuda da técnica moderna e dos servidores da Internet.
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(Para ler toda a entrevista, clique aqui)

APFN felicita medidas contra cultura antinatalista

Pensões de reforma
devem ser indexadas
ao número de filhos
A APFN congratula-se com o anúncio feito pelo Primeiro-Ministro de que irá fazer variar a taxa contributiva para a Segurança Social em função do número de filhos, medida com uma enorme força política no sentido de contrariar a cultura antinatalista que tem sido promovida e alimentada nos últimos trinta anos. No que diz respeito às outras medidas anunciadas para promover a sustentabilidade da Segurança Social, a APFN considera-as como inevitáveis e, infelizmente, ainda curtas, como o tempo (curto) se encarregará de demonstrar. Com efeito, o Governo está a anunciar estas medidas baseado no "Relatório de Sustentabilidade de Segurança Social" que, conforme temos vindo a denunciar desde a primeira hora, está viciado na projecção demográfica, ao prever que o índice sintético de fecundidade vai aumentar de 1.4 para 2.0 filhos por mulher em 2050!!! Qualquer pessoa, olhando para a evolução deste índice nos últimos 30 anos e observando a cultura dominante, facilmente se apercebe que a tendência será, como tem sido, decrescente! É por ainda acreditar neste Relatório, que o Primeiro-Ministro afirmou que a gravidade da situação da Segurança Social é sobretudo devido ao aumento de esperança de vida! A APFN apela ao Primeiro-Ministro que, como engenheiro que é, analise os fundamentos deste Relatório, e, perante o erro grosseiro e como Primeiro-Ministro que é, ordene ao INE para efectuar uma projecção realista e à Segurança Social para rever o famigerado Relatório! E, claro, também como Primeiro-Ministro que é, e com a coragem política que tem vindo a revelar, adopte verdadeiras políticas de família e de natalidade, na linha do que a APFN tem vindo a defender e promover, assim como a Comissão Europeia e a OCDE, para reduzir e eliminar o actual défice de 33%! É óbvio que, agora, o Governo não pode deixar de tomar as medidas de austeridade que anunciou, apesar de não ser responsável pela situação actual. Tal deve-se à distracção durante 30 anos, e é naturalíssimo que a geração que se distraiu pague pela sua distracção. No entanto, as famílias numerosas não têm qualquer responsabilidade por este facto. Pelo contrário! Por esse motivo, é da mais elementar justiça que, como reclamamos, as pensões de reforma sejam indexadas ao número de filhos, dando a liberdade às pessoas de optarem por terem filhos, garantindo a sustentabilidade de um Sistema de Segurança Social para todos ou, pelo contrário, optarem por sistemas alternativos de previdência, limitando-se a preocuparem-se com o seu umbigo, como agora parece ser moda. 27 de Abril de 2006 APFN - Associação Portuguesa de Famílias Numerosas

Um artigo de José Pacheco Pereira

QUEM PAGA A CRISE?
No fim de um ano de aumento de impostos, de excepcional recolha fiscal e do arranque de várias medidas de contenção, o Governo conseguiu ter um défice superior ao previsto no último orçamento de Santana Lopes / Bagão Félix, descontadas as receitas extraordinárias. Nunca saberemos se o previsto se iria realizar, como nunca saberemos se os 6,8% calculados pelo Banco de Portugal não seriam contrariados por medidas do Governo. O que sabemos é que os resultados são maus. Os relatórios da última semana da OCDE e do BM apenas acentuaram a impressão de que nada vai bem, e as medidas do Governo só tocam na superfície dos problemas, na “epiderme” como diz Medina Carreira. Tudo isto num contexto excepcional quanto às condições políticas, com um governo de maioria absoluta e com uma oposição muito fragilizada, e com considerável apoio da opinião pública. Torna-se evidente que os dilemas que já existiam em 2005 estão hoje mais acentuados e a margem de manobra, com a passagem do tempo, é já bastante menor. Vamos pois a caminho de tempos muito difíceis, agravados pela conjuntura internacional, mas não explicáveis nem exclusiva, nem principalmente por ela. Agora que realmente tudo vai começar a apertar, e já sem a sombra nem a desculpa legitimadora do governo Santana Lopes, as opções erradas de Sócrates, do Governo e do PS começam a perceber-se com maior clareza. Deixo de lado, que havia uma maneira alternativa de actuar, uma política genuinamente liberal, que no entanto não corresponde às opções políticas e ideológicas do Governo socialista. Como nas histórias infantis, tudo começou no princípio, “naquele tempo”. No balanço da actuação de Sócrates esquece-se várias coisas: uma é que o discurso com que o PS ganhou as eleições não era um discurso de crise, bem pelo contrário, era o da sua negação. Não se chegava ao ponto de anunciar a “retoma”, mas o discurso socialista era o de que havia “vida para lá do défice”. É uma história da carochinha da propaganda acreditar que Sócrates só se apercebeu da situação real depois do relatório Constâncio, porque tal era impossível. É verdade que Sócrates corrigiu o discurso logo que ganhou as eleições e fez bem, mas uma coisa é corrigir um erro outra é compreender totalmente a necessidade de uma viragem de fundo. Depois de um ano a ser saudado com justiça pela sua coragem nas medidas difíceis, pouca gente se apercebeu que os problemas de fundo do nosso desequilíbrio financeiro se mantêm, em particular com o estado a gastar sempre mais e a “comer” não só o que tinha, mas também o que estava a entrar de novo. Apresentar como resultado um défice maior do que o governo anterior não tem volta que se lhe dê – é andar para trás. Porque é que é hoje mais difícil passar de 6% para 4,8% do que seria um ano antes? : (Para ler todo o artigo, clique ABRUPTO)