A primeira vez que fui ao Brasil, perguntei por que não havia touradas, uma excepção em quase toda a América Latina onde elas despertam interesse e aficion. Um amigo explicou-me:
A coisa tentou-se, mas o negócio não deu, não. Em 1950, quando Mendes de Morais foi prefeito do Rio, mandou construir uma praça de touros ao lado do Maracanhã. Encomendou touros e toureiros no México e para promover melhor as corridas deixou que a entrada fosse gratuita. Aquilo ficou cheio mas teve que acabar. Não é que o povo torcia pelo touro? Era. Aplaudia o touro e assobiava o toureiro. Aí os toureiros se desmoralizaram muito e a coisa não tinha condições.
Creio que o Brasil corresponde àquela parte de mim que também torce pelo touro, que homenageia a sua fúria solitária, a sua coragem desacompanhada, contra o jogo, a astúcia e as vantagens dos homens.
António Alçada Baptista
In A PESCA À LINHA - ALGUMAS MEMÓRIAS
NOTA: Hão de estranhar os meus amigos esta história do escritor Alçada Baptista, falecido 7 de dezembro de 2008. Eu explico: quando hoje alinhava alguns livros numa estante veio às minhas mãos um livro deste escritor que muito apreciei e ainda aprecio. E daí as histórias que partilhava com os seus leitores. Ao publicar a história do touro e do toureiro no Brasil, celebro a sua memória.