quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Centro de Religiosidade - Um convite à nossa contemplação

Alguns aspetos da exposição 









Tempo de terra...
                            rumo de mar


Mais uma vez os nossos homens partem, mar fora, na aventura do pão de cada dia. A vida deles é sempre mais uma vez. Marinhar teimoso para sobreviver, desfraldar de velas sempre a partir, acenar de lenços, saudades que vão, saudades que ficam. E a alma da nossa terra, desta terra marinheira de céu azul e capelinhas brancas, de imagem dolorida do Senhor Jesus dos Navegantes, reparte-se por esses mares de Cristo na inquietação das horas difíceis e na esperança do regresso daqueles que partiram. E depois do regresso os nossos homens partem outra vez. A vida deles é sempre mais uma vez...

Amigos! Um homem do mar é um homem de fé. Rude, valente diante a tempestade, tem sempre fé. Aprendeu-a no regaço terno das mães, tempera-a nas batalhas árduas contra as fúrias das tempestades, fortalece-a no convívio sagrado da família, revê-a nos olhos dos seus filhos. E no mar, quando o mar é mar ou toalha mansa de prata, ele sente-se mais perto de Deus.

Amigos! Que o Senhor Jesus dos Navegantes vos dê a paz das consciências tranquilas no fim de cada dia de trabalho, vos ajude na pesca e vos traga salvamento.

Eles que partem, 1961, D. Júlio Tavares Rebimbas +, prior de Ílhavo

Nota: Tradução do texto da imagem

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Centro de Religiosidade Marítima (CRM) nasceu em Ílhavo na requalificação do espaço do antigo quartel dos Bombeiros Voluntários, nas traseiras da Igreja Matriz. Trata-se de uma obra da responsabilidade da Câmara Municipal, à qual se associou a paróquia de São Salvador, que importou em cerca de 1,5 milhões de euros, acolhendo, para além daquele centro, a Confraria Gastronómica do Bacalhau, uma loja social e um auditório. O espaço museológico pode ser visitado, gratuitamente, até ao fim do ano
Limitações pessoais impediram-nos de visitar o novo museu, há mais tempo. Só agora foi possível, embora de passagem, mas voltaremos. Garantidamente. Foram muitíssimos os elogios, mas não podemos deixar de salientar que as nossas expetativas foram amplamente suplantadas, tal a beleza estética, a sensibilidade artística e a riqueza do espólio que pudemos apreciar. As obras do CRM e da requalificação do Jardim Henriqueta Maia foram concebidas pelo arquiteto ilhavense José Paradela. oferecendo à sede do concelho um espaço amplo e arejado, complementado pela arte da museologia sacra. Todo este conjunto merece ser apreciado, divulgado e usufruído.
No CRM, nem sabemos que mais destacar, tal a diversidade e riqueza das peças de vários estilos e épocas, carregadas de vivências dos marítimos ilhavenses e seus familiares, animados pela fé e suas devoções, vivenciadas estas, imensas vezes, nos mares revoltos e nas fainas piscatórias e outras a elas ligadas.
Uma exposição que merece ser visitada.

Fernando Martins

Ficar à escuta


Ficar
à escuta

À escuta
de silêncio

Adília Lopes

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Primeiro dia de Setembro



Depois de um mês de algum descanso, pelas circunstâncias e tradições, voltamos à vida ativa, com profissões e hábitos a ditarem as suas leis. Cada um voltará às suas tarefas do dia a dia, restabelecidos decerto pelas férias. Apostaremos agora, os que puderem, na inovação e no diferente, se possível, já que o ramerrão não leva a parte nenhuma. 
Os aposentados, como eu, saberão delinear novas pistas, na ânsia de descobrirem novos horizontes de esperança com alguns sonhos a ilustrarem os caminhos diários. O dia a dia de cada um não pode nem deve ser mais do mesmo.
Bom ano de trabalho para todos os meus amigos e leitores.

O nabo


A ti tudo
te foi dado
e não tratas
os outros
com doçura

És um nabado
e és um nabo
(quem te dera
seres um nabo)

Adília Lopes
em SUR LA CROIX

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Paróquia da Gafanha da Nazaré - 111 anos de vida

Igreja Matriz - Inaugurada em 14-Jan-1912

Prior Sardo
Por decreto do Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, a nossa paróquia foi criada em 31 de Agosto de 1910, no respeito pelo decreto do Rei D. Manuel II, com data de 23 de Junho do mesmo ano. Nessa altura, com a extinção da Diocese de Aveiro no século XIX, ficámos a pertencer à Diocese de Coimbra até à restauração da diocese aveirense, em 11 de Dezembro de 1938.
Como tem sido largamente sublinhado, o grande dinamizador do processo que levou à criação da paróquia foi o padre João Ferreira Sardo, capelão da nossa terra, mas também, ao tempo, vereador da Câmara Municipal de Ílhavo, onde terá dinamizado o processo para o desmembramento da freguesia de São Salvador em duas paróquias. A nossa terra foi, portanto, elevada à categoria de paróquia, atendendo ao seu desenvolvimento, mas não só.
A aprovação da Câmara, liderada por Alberto Ferreira Pinto Basto, apoiou-se num pormenor curioso, registado em ata de 28 de Março de 1910:

“Considerando que os povos do mesmo lugar se acham separados da sede da atual freguesia por uma grande extensão de areia solta, cuja travessia se torna bastante incómoda; considerando que, sendo este concelho constituído por uma única freguesia, que hoje conta cerca de 15 mil almas, o seu pároco e regedor não conhecem grande número dos seus habitantes, o que sobremaneira embaraça o serviço público; por isso é a mesma Câmara de parecer que deve ser criada uma outra freguesia com sede no mencionado lugar da Cale da Vila d'este concelho.”

Com este parecer, considerado fundamental, D. Manuel II decreta, em 23 de Junho do mesmo ano, apenas três meses depois, a criação da freguesia, abrindo portas à fundação da paróquia, o que aconteceu em 31 de Agosto de 1910, com o decreto do Bispo de Coimbra. O seu primeiro pároco foi, obviamente, o Padre João Ferreira Sardo. 
Passados 111 anos, esta terra,  separada do “mundo” por uma grande extensão de areia solta, cuja travessia se tornava incómoda, tornou-se numa cidade respeitada e conhecida nas mais diversificadas paragens. Há gafanhões nos quatro cantos da terra e por aqui labutam gentes de diversíssimas origens.

Se é verdade que a Gafanha da Nazaré é obra de todos os gafanhões, daqui naturais e residentes que adotaram esta terra como sua, hoje é nosso dever honrar os primeiros habitantes que nela labutaram para transformar as areias soltas em terra fértil.
Não resisto a deixar um reparo para nossa reflexão. Os primitivos gafanhões, que arrotearam as dunas sob sol escaldante e ventos agrestes, não mereceram de nós qualquer símbolo que os perpetuassem como exemplo a seguir. 

Fernando Martins

O dito e o feito


"Qualquer pessoa com bom senso e uma mente perspicaz irá tomar a medida de duas coisas: o que é dito e o que é feito"

S. Heaney, escritor

Publicado em ESCRITO NA PEDRA do PÚBLICO 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Assim foi o nosso Agosto de outras eras

Chaves - Ponte romana


Lita comigo em Chaves
O mês de Agosto aí está na sua reta final. Faltam algumas horas e já pressinto a tristeza de muitos com o adeus a este mês, com tudo o que ele proporcionou de bom. As férias naturais dos portugueses estão de partida, deixando-os livres para o romance da vida. Agosto é mês de férias desde que me conheço. Escolares, as primeiras, em várias fazes da minha vida, seguindo-se as outras, de trabalhos e canseiras. Por fim, as definitivas. Aquelas que nos segredam sem ninguém ouvir: Descansa que trabalhaste bastante.
Bastante? Tanto quanto o necessário, mas garanto que não estou nada arrependido. Se voltasse atrás, talvez percorresse os mesmos caminhos, risonhos, uns, para esquecer, outros. E agora, quando acordo e salto da cama, relógio no pulso sem dele precisar, entro na azáfama de dar corda à roda do dia, que parar é morrer, dizem, decerto com razão. Depois, meses e meses a pensar nas próximas férias, minhas e dos demais, que por contágio mexem comigo.
Tantos Agostos de férias partilhadas, quais saltimbancos com a família. Em campismo, mas não só. Casa às costas, carro sobrecarregado, filhos felizes pela mudança de hábitos, novas amizades, serras calcorreadas, que o mar ficava à nossa disposição quando regressássemos. Novas terras e gentes, amigos que se faziam para a ocasião, que logo perdíamos de vista. Outros permanecem leais. Assim foi o nosso Agosto de outras eras. Agora, recordamos apenas e já nos sentimos muito felizes por isso.

Fernando Martins