sábado, 26 de junho de 2021

O gafanhão e a areia - 1

Uma página por dia


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Virtude e virtudes

Crónica de Anselmo Borges 
Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Numa palavra, praticar a virtude é estar de acordo 
com a humanidade em nós e dignificá-la.

1 Não me parece que a virtude tenha hoje grande cotação. O que actualmente parece ser mais valorizado tem que ver com o ter, o prazer e o poder, a qualquer preço. Daí que, quando se está minimamente atento, se veja o que se vê - apenas exemplos: a calamidade da corrupção; o estado da Justiça; bancos a afundar-se e os contribuintes a pagar; por mais apoios que cheguem da Europa, milhões, mais milhões, mais milhares de milhões, parece que caem num abismo sem fundo e o que é facto é que continuamos sempre na cauda (onde estão a organização e o investimento inteligente?); a irresponsabilidade pelos erros cometidos: alguém conhece alguém que se assuma como responsável (capaz de responder, que é isso que quer dizer responsável) por um erro ou mesmo um crime?...
Desgraçadamente, a virtude ou uma pessoa virtuosa, de virtudes, parecem hoje associadas a beatice e menoridade. Mas isso não é de modo nenhum correcto, mesmo de um ponto de vista meramente etimológico. De facto, virtude - do latim vir, virtute -, é, como pode ler-se no Dicionário de Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, "o conjunto das qualidades que dão valor ao Homem, moral e fisicamente; carácter distinto do Homem, mérito essencial, valor característico, virtude, qualidades morais; qualidades viris, vigor moral, energia, coragem, valentia; a virtude, a perfeição moral".

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Há quase 900 anos Portugal «nasceu para ser igual e livre»

Arcebispo de Braga 
evocou ontem a batalha de S. Mamede


A 24 de junho de 1128, próximo de Guimarães, D. Afonso Henriques venceu a batalha de S. Mamede e abriu caminho à independência. Hoje, todos são chamados a alistar-se para a «batalha da fraternidade», que se trava num único lugar, mas «em todas as casas, nas escolas, nas fábricas, nas empresas, no mundo da justiça e da saúde, nos programas da política». Aliás, «não há lugar onde ela não deve ser combatida».
«Não sabemos quantos morreram no campo de S. Mamede. Sei que salvaremos muitas vidas quando nos alistarmos nas fileiras de um exército que, de um modo consciente e responsável, luta e trabalha por um mundo mais fraterno que se empenha numa ecologia integral para salvar a humanidade e a natureza. Portugal, neste dia primeiro da sua existência, nasceu para ser igual e livre. Só o será quando todos formos irmãos e amarmos a terra maravilhosa que Deus criou para embelezar a família humana.»
Foi com estas palavras que o arcebispo de Braga [D. Jorge Ortiga] evocou nesta quinta-feira, na “cidade-berço”, a batalha de S. Mamede, no «primeiro dia de Portugal», durante a homilia da missa a que presidiu, inspirada pela encíclica “Fratelli tutti”, do papa Francisco, «sobre a fraternidade e a amizade social», na qual lançou apelos tanto aos políticos como aos católicos.

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Tempo de Verão

 

Hoje está um tempo de Verão. Quente e luminoso. Sadio e convidativo para tomar um refresco com praia à vista. Depois, não faltará um barquinho a deslizar serenamente para regalo dos olhos e alimento dos sonhos. As nossas praias, Barra e Costa Nova, com bandeiras azuis, prometem o acolhimento que todos desejamos.

Boas férias para todos

Furadouro - Ovar 

Com Junho vem o Verão, que nos desperta para períodos de descontração e lazer, curtos e frequentes, mas também um tanto ou quanto mais prolongados, a que chamamos férias. As temperaturas amenas e a ausência de chuvas impelem-nos para passeios que nos enriquecem e rejuvenescem. Todos gostamos do Verão, penso eu.
Praias, serras, aldeias típicas, monumentos, paisagens, cidades e gentes diferentes do nosso dia a dia esperam por nós, sem grandes despesas. Importa que saibamos preparar programas atempadamente. Por aqui vou dando umas dicas a partir das minhas experiências.
Boas Férias para todos.

Fernando Martins

A fé confiante em Jesus cura e liberta

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIII do Tempo Comum

Ainda hoje, numa curva do caminho perto do lago da Galileia, junto a Cafarnaum, pode ler-se numa pedra a inscrição: «Aqui, neste lugar, a mulher considerada impura, mas cheia de fé, tocou em Jesus e ficou curada.»

O mar de Tiberíades é palco qualificado da missão de Jesus. Aqui ocorrem cenas marcantes que desvendam os segredos de que é portador: a pesca e a vocação dos apóstolos, a barca amarrada na praia e os horizontes novos abertos aos “pescadores” de homens, a travessia serena e a tempestade acalmada que confirma a suspeita dos discípulos inquietos e sobressaltados, a afluência de multidões ávidas do encanto da Palavra e carecidas de ajuda para as suas necessidades vitais. Mc 5, 21-43.
O encontro de Jairo, o chefe da sinagoga de Cafarnaum, dá-se precisamente à beira-mar. Ao ver Jesus, cai-lhe aos pés, gesto de profunda humildade e reconhecimento, e faz-lhe um pedido insistente: a minha filha está a morrer, vem impor-lhe as mãos, liberta-a dos males, faz com que viva, dá-lhe a salvação. A morte ameaçadora da saúde precária da filha personaliza a morte do ser humano, simbolizada na agitação dos mares revoltos e na turbulência dos “vendavais” da vida. O contraste não pode ser mais significativo: a puberdade, com a sua carga explosiva da vida, – a menina tem 12 anos, idade núbil – confronta-se com a iminência da lei da caducidade, do definhamento, da morte “inexorável”. E o alcance deste episódio percorre toda a história humana e suscita a mais viva indignação de quem aprecia a vida como dom inegociável, sem preço nem condição.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Cansaço de Álvaro de Campos



O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)