segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Gafanha e Faganha

Texto escrito há 10 anos 

O meu amigo Zé tem tido um medo terrível das modernices dos computadores e da Net, sem razão lógica. Ele, que anda sempre na luta, há anos, pelo progresso social, cultural, político e económico… receia enfrentar coisas tão simples. Nem parece de um progressista!
Mas a história da nossa terra e das suas gentes está desde sempre nas suas preocupações, porque acredita que o exemplo de tenacidade dos nossos antepassados pode servir para nos estimular nos trabalhos de construção de um futuro mais fraterno e mais justo para todos.
Um dia destes teve o bom gosto de me enviar umas considerações sobre Leprosos, Gafaria, Galafanha, Gadanhar. E contou uma história que aqui transcrevo, das suas andanças pela Europa, onde contacta com gafanhões e outras gentes. Diz ele que participou num casamento, numa igreja de aldeia, onde foi levado por uma amizade antiga. Só não sei é se ele rezou pela felicidade dos noivos, mas julgo que sim. Mesmo que ele negue, por se declarar alheio a orações, estou convicto de que rezou. Alguém acredita que o meu amigo Zé já esqueceu o Pai-Nosso aprendido na infância?

O MEC está de volta no PÚBLICO

O Miguel Esteves Cardoso  voltou depois de férias  para o seu cantinho no PÚBLICO. Férias merecidas como trabalhador que é, não de enxada ou martelo, mas de escrita. Lê-se rápido, acicata a imaginação dos leitores, estimula leituras e consultas, critica e aplaude, dá conta de qualquer assunto, enfim, é um cronista ou colunista arguto e informado. E ainda escreve com graça e bem, sem cansar ninguém. 
Perguntou se estava tudo bem e começou logo a brindar-nos com a sua colaboração no PÚBLICO. Veio em boa hora. Falo por mim. Que comunique sempre com um otimismo saudável, são os meus votos. 

F. M.

domingo, 18 de outubro de 2020

Uma estranha caixa de correio

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO
«A Caixa de Correio de Nossa Senhora, de António Marujo,
é o grande livro do ano sobre o fenómeno religioso»

1. O livro de António Marujo, A Caixa de Correio de Nossa Senhora [1], é, para mim, o grande livro do ano sobre o fenómeno religioso, ao desvendar, por uma investigação inédita e rigorosa, um arquivo até agora desconhecido e indispensável para conhecer o Coração que move os peregrinos da maior peregrinação do Ocidente.
O autor é bem conhecido. Integrou o núcleo fundador do PÚBLICO, onde esteve até Janeiro de 2013, sendo responsável pela informação religiosa. É autor premiado de várias obras no âmbito dessa vasta temática e director do 7Margens, jornal digital dedicado a dar a conhecer o que acontece no mundo das religiões e as formas complexas como marcaram e marcam a história vivida dos crentes.
O seu profundo conhecimento da problemática de Fátima já tinha sido bem demonstrado [2]. Entretanto, ao procurar um tema novo sobre a questão religiosa durante a Primeira Guerra Mundial, no que a Portugal dizia respeito, reencontrou-se com o segredo dos segredos de Fátima, de um modo surpreendente, narrado por ele próprio. 

sábado, 17 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI. 2 - Uma outra Economia

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Como pôr a Economia a funcionar, 
salvaguardando a dignidade de todos?

1. Ninguém é uma ilha. Só somos uns com os outros e precisamos de amor e de reconhecimento. Que importa a existência se ninguém nos reconhecer, se não valermos para alguém? Não é desse reconhecimento que todos andam à procura? Só o valer para alguém é que justifica a existência. E, quando se descobre que valemos para Deus, que Deus nos dá valor e nos reconhece, então a vida está salva, encontrando a plenitude de sentido. 
Um dos pressupostos na nova encíclica — “Todos irmãos e irmãs” — é exactamente esta verdade fundamental: “Ninguém pode experienciar o valor de viver sem rostos concretos a amar. Aqui reside um segredo da verdadeira existência humana.” E daqui arranca a revolução de Francisco, a da dinâmica da fraternidade universal. Este é um ponto de partida, porque esta experiência, se autêntica, irradia e torna-se contagiante, num contágio bom de felicidade: começa-se por baixo, por um, pela família, e vai-se “pugnando pelo mais concreto e local, até ao último recanto da pátria e do mundo. Mas não o façamos sós, individualmente. Todos, retomando a parábola do bom samaritano, somos responsáveis pelo ferido que é o próprio povo e os povos todos da Terra.” Quem na vida foi meu próximo e de quem é que eu fui e sou próximo? Vai-se dando assim o encontro entre o concreto local e o universal, evitando tanto um localismo individualista fechado como um universalismo abstracto, homogeneizante e dominador. Realiza-se, pelo contrário, aquele ideal do poliedro, tão caro a Francisco: a unidade que floresce na variedade da riqueza de perspectivas, do tesouro de cada cultura, um mundo com “o seu colorido variado, a sua beleza e, em última análise, a sua humanidade”. 

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza celebra-se hoje, 17 de outubro, com o objetivo de alertar para a necessidade de defender um direito básico do ser humano. Foi criado em 1992, mas nunca se conseguiu alcançar o almejado objetivo. E com a pandemia em curso todos sabemos que a erradicação da pobreza é meta inatingível a curto prazo, se é que alguma vez o será. Contudo, que ao menos à nossa volta tenhamos a coragem de contribuir para que ninguém seja privado do pão e do essencial para viver  sem fome. 
Sabe-se, há muito, que uns 20% da população portuguesa passam fome ou estão no limiar da pobreza, sem que as estruturas estatais consigam evitar esta lamentável situação, de forma definitiva. No entanto, não podemos deixar de louvar as instituições particulares e as pessoas mais sensíveis que lutam, dia após dia, para matar a fome a quem nada tem para comer. É nossa obrigação, em nome da solidariedade, contribuir com tudo o que pudermos para que a ninguém falte o mínimo para sobreviver dignamente. Não apenas neste dia, mas durante todos os dias do ano. 

F. M. 

POSTAL ILUSTRADO: Mais vale só...


Mais vale só que mal acompanhado, diz um velho e sempre atual ditado. O barquinho por ali ficou à espera de se tornar útil. Ou então optou pelo estado de pose para a fotografia, em moldura bem conhecida das gentes lagunares. Aqui a ofereço para este fim de semana.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

MAIS QUE UMA QUESTÃO DE IMPOSTOS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o DOMINGO XXIX


«Pagar o imposto – questão tão actual – é dever de todo o cidadão, 
não um dever cego, mas ilustrado por uma consciência informada 
e desejosa de cooperar para o bem comum da sociedade»

As controvérsias dos opositores a Jesus vêm crescendo. Os domingos anteriores narram algumas dessas controvérsias. Quase sempre, as perguntas são capciosas e as parábolas respondem com sabedoria, habilidade e subtileza. No evangelho de hoje surgem os fariseus aliados aos herodianos que “passam ao ataque”. Mt 22, 15-21. Trata-se da questão dos impostos a pagar (ou não) a César, imperador de Roma que dominava também naquelas terras. 
«É lícito ou não pagar tributo a César?», questiona a delegação enviada. É uma pergunta armadilhada que não pode falhar. Havia que pôr cobro ao agitador Nazareno que se movimenta tão livremente na esplanada do Templo e desafia o mais sagrado das práticas judaicas. 
Leva consigo uma estratégia aliciante: tecer elogios que, se não fossem hipócritas, eram verdadeiros e reconheciam o agir correcto do Mestre. Pagar ou não tributo, eis a questão crucial. Se dizia sim, era colaboracionista com o ocupante romano e, por isso, insolidário com o povo oprimido. Se respondesse não, caía sob a alçada da lei e podia ser acusado de subversivo e revolucionário. E o exército imperial não tardaria a fazer-lhe o que havia feito a Judas, o Galileu, aquando da sublevação por ocasião do censo destinado a conhecer a população e a introduzir nova carga de impostos, cerca de seis anos antes de Cristo. 

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