No 25 de Abril, recordei um tanto ou quanto levemente, algumas portas que Abril abriu. Hoje, lembro mais uma – O 1.º DE MAIO – de largo alcance social. Realmente, nesta data, evocada e celebrada por todo o mundo democrático, sem peias de qualquer espécie, os trabalhadores homenageiam os que lutaram e morreram pelos seus direitos no mundo do trabalho, clamando por justiça no relacionamento entre patrões e empregados, por salários dignos, por condições laborais humanizantes, pelo direito à greve e à livre associação, pela igualdade de tratamento entre homens e mulheres, por apoios sociais e por reformas compatíveis com as necessidades vitais.
Em 1886 surgiram nos EUA as primeiras manifestações de trabalhadores a exigirem 8 horas de trabalho diário, o que provocou respostas violentas por parte da polícia. Aconteceu em Maio e uma greve geral mostrou o descontentamento reinante contra a exploração do homem pelo homem.
Três anos mais tarde, em 20 de Junho 1889, a Internacional Socialista, reunida em Paris, convocou uma manifestação anual, para o 1.º de Maio, no sentido de manter a luta pelas 8 horas de trabalho. Era, de certa forma, uma homenagem aos que morreram na defesa de melhores condições laborais e de menos horas de laboração.
Em 1 de Maio de 1891, numa manifestação em França, morrem dez operários e meses depois, em Bruxelas, a Internacional Socialista proclama o 1.º de Maio como dia internacional para as reivindicações de melhores condições de trabalho. Outros países, sobretudo os mais industrializados, seguem o exemplo dos pioneiros. Havia países em que os operários tinham de trabalhar 16 horas por dia, muitas vezes em condições péssimas e mesmo desumanas. Na nossa terra, nas secas e não só, trabalhava-se de sol a sol.
Em Portugal houve também celebrações do 1.º de Maio muito incipientes. Na primeira República, os sindicalistas chegaram a ser perseguidos e durante o chamado Estado Novo foram proibidas manifestações sindicais. Só com o 25 de Abril, com as portas que se abriram às liberdades fundamentais, é que o 1.º de Maio passou a ser celebrado, como o Dia Mundial do Trabalhador. É feriado nacional e as festas de e com trabalhadores generalizaram-se a todo o território português. Manifestações, comícios, convívios, com organização das Centrais Sindicais ou mesmo sem elas, os nossos trabalhadores, agora debaixo de um conceito mais alargado, sentem este dia como seu, respeitando-o como homenagem a todos os que, com o seu esforço físico e científico, mas também com a sua capacidade criativa, constroem riqueza e alimentam projetos de dignificação do homem e da mulher para os nossos tempos.
Fernando Martins