Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo IV da Páscoa
Jesus estabelece connosco uma relação humana muito rica que, biblicamente, se expressa na imagem do bom pastor que se dedica totalmente às ovelhas do seu rebanho. Visualiza-o no seu agir sempre solícito em benefício de quem está em necessidade. Identifica-o no seu ensinamento acessível a todos. Confirma-o na sua atitude final quando entrega ao Pai o seu espírito. Fixa-o e transmite-o, sobretudo, na narrativa de João no Evangelho que, por sua vez, recorda as mensagens de Ezequiel, cap. 34, dirigidas aos exilados da Babilónia.
João quer fazer uma catequese sobre Jesus ressuscitado. Recorre a contrastes eloquentes: entrar pela porta ou rebentar a sebe que resguarda e protege o rebanho, ser reconhecido na voz que chama e é correspondida ou sentir-se considerado como um estranho sem eco de resposta, ver-se procurado e seguido ou dar conta que é abandonado e fica desolado, cuidar da vida das ovelhas ou desleixar-se a ponto de a falta de pastagens lhes provocar a fome e a morte, fazer-se tudo para elas ou explorá-las e aproveitar ao máximo os recursos que têm. Jo10,1-10
Estas atitudes configuram o bom ou o mau pastor, a novidade de Jesus em relação a outros que são chamados a realizar a missão do pastoreio, a radicalidade do serviço de dar a vida por todos e cada um, a diferença clara e contrastante do seu modo de proceder com o das autoridades judaicas, de todo o tipo. “Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância”. Por isso, vai à frente, guiando; atrás, protegendo; ao lado, animando o seu amado rebanho.
João dá rosto e dinamismo a esta mensagem, recorrendo a figuras e situações típicas: O porteiro de serviço ao redil, a porta funcional para o pastor e o rebanho, a desfaçatez perigosa e real do bandido e salteador, a relação amigável entre as ovelhas e quem as chama pelo seu nome, a mediação indispensável de Jesus à salvação: “Quem entrar por Mim será salvo”. De qual nos sentimos mais próximos?
Esta advertência e exortação tem como “pano de fundo” a porta de serviço, a vocação pessoal a dar resposta, a comunhão dos que se acolhem para reganhar forças e partir em missão. Que feliz coincidência com a mensagem do Papa Francisco para o Dia Internacional de Oração pelas Vocações!
Que rico ensinamento e que belo apelo: Ser chamado pelo seu nome, convidado a participar na vida plena, testemunhar a alegria que provém de Jesus ressuscitado e nos inunda! O salmo 22 pode ajudar-nos a ser coerentes e agradecidos.
Ocorre neste domingo o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, sobretudo as pessoas com responsabilidades públicas, os esposos “corajosos”, as pessoas que se consagraram especialmente ao Senhor e os sacerdotes. Por feliz coincidência, em Portugal a Igreja celebra o Dia da Mãe e o das Vocações Sacerdotais.
O Papa Francisco dirige-lhes uma mensagem cheia de realismo e encanto. Termina assim: Caríssimos, … desejo que a Igreja percorra este caminho ao serviço das vocações, abrindo brechas no coração de todos os fiéis, para que cada um possa descobrir com gratidão a chamada que Deus lhe dirige, encontrar a coragem de dizer «sim», vencer a fadiga com a fé em Cristo e finalmente, como um cântico de louvor, oferecer a própria vida por Deus, pelos irmãos e pelo mundo inteiro. Que a Virgem Maria nos acompanhe e interceda por nós.
Pe. Georgino Rocha