Crónica de Anselmo Borges
para o Diário de Notícias
“Porque é que tu, que és Bispo, quando vens falar comigo, nunca me falas de Deus e da religião, mas do povo, da defesa dos seus direitos e da sua dignidade?”, perguntou o Presidente Samora Machel a D. Manuel Vieira Pinto, arcebispo de Nampula. “Porque um deus que precisasse da minha defesa seria um deus que não é Deus. Deus não precisa que O defendam. O Homem sim”, respondeu D. Manuel.
Esta história foi-me contada por D. Manuel Vieira Pinto, à mesa, quando estive lá, no Paço episcopal, em Nampula, durante um mês, em 1992, a preparar uma antologia de textos seus, com o essencial do seu pensamento e que publiquei em 1992: D. Manuel Vieira Pinto. Cristianismo: Política e Mística (Antologia, Introdução e Notas de Anselmo Borges), Edições ASA. Nesse livro, publiquei também textos de homenagem, entre os quais um, excelente, de Mário Soares, então Presidente da República, que o condecorou com a Ordem da Liberdade.
Aquela resposta do Padre Manuel, como o arcebispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto, gostava de ser tratado, diz bem o que é decisivo nele, para compreender o que significou a sua vida para a Igreja e para o mundo.
Já ia do Continente, como então se dizia, com boa e má fama, como acontece com todas as figuras que marcam a História. Com as suas conferências, a partir do movimento “Por um mundo melhor”, no contexto da assunção plena do Concílio Vaticano II, arrastava multidões.