domingo, 12 de abril de 2020

A MORTE NÃO PODE SER A ÚLTIMA PALAVRA

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

"Não vale a pena repetir que o ser humano não tem conserto. Estamos sempre a tempo, em qualquer idade, de nascer de novo."

1. Não há liturgia cristã que suspenda as leituras do Antigo e do Novo Testamentos, por vezes acompanhadas pela grande música e integradas numa celebração ritual. Na Semana Santa são, por regra, muito mais abundantes. Exigem o auxílio de uma boa cultura bíblica, bastante ausente da maioria das assembleias. Não se deve confundir uma celebração litúrgica com uma imaginária reconstituição do passado, do mundo que já não existe. É certo que algumas homilias tentam situá-las no presente mediante considerações e aplicações, muitas vezes de pendor pietista e moralizante que amortecem a imaginação em vez de a incendiar. Existem e sempre existiram belas excepções.
O mundo desses textos, a história turbulenta e dilacerada da Cristandade em que foram acolhidos, pensados, celebrados, traídos e retomados como fonte de luz, não fazem do Cristianismo uma religião do Livro como acontece, por exemplo, com o Islão.
Não pode haver culto da Sagrada Escritura. Sagrado é Aquele de quem elas testemunham, Aquele que se fez “carne”, isto é, fragilidade humana. O Verbo de Deus não se fez Livro.

O CALVÁRIO DO MUNDO E A SANTA ESPERANÇA

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

1. Pascal, um dos maiores matemáticos e cristãos de sempre, tinha prevenido nos Pensamentos: "Jesus estará em agonia até ao fim dos tempos. É preciso não dormir."
Na Paixão de Jesus, estamos todos, pois os figurantes são exactamente os mesmos: Judas que não percebeu Jesus (esperava um messianismo de poder político) e o entregou; os sacerdotes do Templo, Herodes, Pilatos, que o condenaram à morte e morte de cruz; Pedro, o homem generoso, mas que, por cobardia, o negou; os discípulos que, apavorados, fugiram; os soldados que o torturaram, cumprindo ordens; o Cireneu que, embora um pouco forçado, o ajudou; os dois, talvez "terroristas", que o ladearam na cruz: um continuou a blasfemar, o outro compreendeu e Jesus prometeu-lhe o Paraíso com ele naquele próprio dia; o centurião reconheceu:"Verdadeiramente este homem era Filho de Deus"; as mulheres nunca o abandonaram e ali estiveram em pé. E Jesus, que, no Getsêmani sentiu pavor e pediu, em lágrimas e suando sangue, a Deus, seu Pai, que, se fosse possível, o libertasse daquele horror, talvez, transportando a cruz, o tenha assaltado a dúvida: valeu a pena?; morreu, perdoando a todos; sentindo-se abandonado e só, gritou aquela oração que ecoa através dos séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?", mas continuando a confiar: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito".

A HUMANIDADE RESSUSCITARÁ PARA UM ESTILO DE VIDA RENOVADOR

O grupo com a Cruz que nos visitou em 2017 (foto dos meus arquivos)

Neste Domingo de Páscoa, que hoje se celebra no recolhimento interior e no confinamento por força do COVID-19, levantei-me mais cedo. Quis aproveitar o dia todo para o saborear em plenitude, evocando pessoas, familiares e não só, que foram e ainda são, algumas, companheiras de jornada, nos caminhos de oito décadas. Como num filme a cores, ouço as suas vozes e os seus cantares, recordo conversas com histórias que perduram na minha já cansada memória e revivo tradições que se foram alterando no tempo até caírem em desuso. 
No Domingo de Páscoa, logo de manhã, era preciso assinalar que em nossa casa morava gente cristã do rito católico à espera da visita pascal. Uns verdes na porta de entrada que dá para a rua assinalava o desejo de receber a Cruz com o Cristo enfeitado com flores. Já não era o Cristo do Calvário. A Ressurreição, que a Páscoa celebra festivamente, era sinal de alegria e de fé para quem acredita que o Mestre se tornara no Salvador. Este ano, porém, o coronavírus veio ditar leis impensáveis há umas semanas. A visita das Boas Festas anunciadas pela campainha não terá lugar. As famílias não se reúnem, as inquietações abafam convívios tão enriquecedores, os temores fecham portas à alegria, os afilhados não podem visitar os padrinhos, o almoço festivo passa a almoço sem risos e sem expressão. Nuvens negras ameaçam o futuro de todos. Resta-nos a certeza de que a humanidade ressuscitará para um estilo de vida renovador. 

Fernando Martins

sábado, 11 de abril de 2020

QUEM FOI O PINTOR QUE TAIS TINTAS USOU?


Quem foi o pintor que tais tintas usou? E quem o inspirou? A natureza fez tudo.

COM JESUS RESSUSCITADO, VENCER AS SITUAÇÕES DE MORTE

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo da Páscoa

"A Páscoa de Jesus, afirma o bispo de Aveiro, é uma ocasião propícia para pensarmos a sociedade e a nossa vida cristã de uma forma diferente"

A manhã de Páscoa desperta serena com Madalena agitada a correr para o túmulo de Jesus. Era ainda escuro. Mas já raiava o clarão da aurora que se avizinha. Corre para sintonizar com o ritmo do seu coração, com o desejo de prestar os últimos cuidados ao cadáver de Jesus, com a vontade de certificar mais uma vez o sucedido, com o “pressentimento” de que algo de novo pode acontecer, pois o amor é mais forte do que a morte. A saudade revela-se um bom caminho para o encontro da verdade. Jo 20, 1-9.
Chegada ao local, depara-se com o sepulcro vazio e tudo arrumado “a preceito”. Pelo seu espírito perpassa a certeza afirmada: Levaram o Senhor e não sabemos onde O puseram, certeza que transmite a Simão Pedro e ao discípulo amado. Estes partem imediatamente para confirmar a notícia, seguindo cada um a cadência do seu passo. Chegam, aproximam-se, observam, entram no sepulcro e vêem que a realidade condizia com o que lhes havia dito Maria Madalena.

A UM CRUCIFIXO

Cristo que muda de expressão (Museu de Aveiro)
1

Abençoada a morte que sofreste...

Mil vezes santo, Jesus.
o peso da Tua cruz
e santa a esponja de fel
que Te chegaram aos lábios...
E os pregos que Te pregaram as carnes...
Ah!, que eu bendiga todos os insultos,
todas as troças e todas
as pedradas...

Como saber de Deus e amá-Lo, sem ter visto
esse olhar de piedade e de perdão
por tudo que Te fizeram?

2

Em que sítio, em que tempo,
tive eu assim um Irmão
Que olhava assim como Tu?

Mas em que longe,
em que tão longe dia.
que, se não fosse agora o Teu olhar
a despertar
minha memória adormecida,
nunca mais me lembraria
de que tivera um Irmão?

         -  Abençoada vida,
          abençoada a morte que sofreste...


Sebastião da Gama
in “Serra-Mãe”
Poemas

sexta-feira, 10 de abril de 2020

NÃO É NADA FÁCIL O MOMENTO QUE ESTAMOS A VIVER

Não é nada fácil o momento que estamos a viver. Não tanto pelo isolamento que nos foi imposto, mas pelas incertezas que pairam sobre nós. Sabemos como tudo começou, mas nada sabemos sobre o fim do pesadelo. 
Já disse por aqui que até gosto de silêncios, de refúgios e de alguma solidão, desde que me não sejam impostos. A liberdade de ser e estar, de poder escolher e decidir, de ficar isolado e de sair faz parte da minha real independência. Nunca gostei de ser agrilhoado, dependente, menorizado. Contudo, nesta altura da pandemia sinto-me triste por não vislumbrar no horizonte saída para este estado de alma. 
Leio e ouço pregar que depois deste pico nas curvas incertas dos atingidos pelo COVID-19, provavelmente ou garantidamente, como já ouvimos, outras se seguirão sem datas marcadas. E o medo que nos assalta a toda a hora, com notícias de terror, qual filme macabro para apreciadores, não deixam dúvidas de que a pandemia está para durar. 
Para já, prometo que tenciono reduzir ao mínimo a informação sobre a guerra provocada por um vírus mais poderoso que todas as bombas atómicas e outras que a humanidade já sofreu. 

Fernando Martins

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