quinta-feira, 25 de abril de 2019

25 de Abril - Do discurso do Presidente da República



“Dir-se-ia que foi ontem, mas passaram já 45 anos. E há 45 anos quais eram as expectativas, os anseios, os desafios, as causas dos jovens de Portugal? Desse Portugal também jovem, apesar do milhão que havia votado com os seus pés, emigrando, recusando a vida sem liberdade, sem mais desenvolvimento, sem maior justiça social. Lembramos bem o que nos unia, a nós jovens, dos mais opostos pensamentos na alvorada da mudança. Unia-nos democracia em vez de ditadura. Liberdade em vez de repressão. Desenvolvimento integral e justiça social mais partilhada em vez de desigualdade económica, descriminação social, taxas confrangedores de mortalidade infantil, de escolaridade e de infraestruturas básicas. Paz em África em vez de empenhamento militar sem solução política. Isto nos unia.”
 
E mais...

“Muito do mais nos dividia. Os contornos concretos do regime político, o sistema de governo, a visão sobre a Europa e do Mundo, o papel do Estado, pessoas e organizações, o caminho, o fim, o ritmo da Revolução, o alcance da Constituição e como ela se devia conjugar com a Revolução, prolongando-a, moderando-a ou conformando-a. E como sempre acontece com as revoluções, cada qual cadinho de muitas, muito diversas, uns veriam os seus desígnios triunfar no instante inicial. Alguns, em vários trechos do percurso. Outros, na primeira versão da lei fundamental, outros ainda no somatório das revisões que a foram moldando a novos tempos e a novos modos. Em rigor, dos jovens de 74 nenhum pode dizer ter visto vencer tudo o que queria para o seu e nosso futuro.” 

25 de Abril

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen,

In "O nome das coisas"

terça-feira, 23 de abril de 2019

Dia Mundial do Livro - Boas leituras



O Dia Mundial do Livro é celebrado desde 1996, a 23 de abril, por decisão da UNESCO. Pretende-se promover o livro, os autores, os ilustradores e os editores.
Diz o Google que esta data foi escolhida com base na tradição catalã, segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha de S. Jorge, e recebem em troca um livro, testemunho das aventuras do heroico cavaleiro. Em simultâneo, é prestada homenagem à obra de grandes escritores, como Shakespeare e Cervantes, falecidos em abril de 1616.
Para os amigos dos livros e das leituras, esta efeméride tem um duplo sentido, que engloba o prazer do conhecimento, o sentimento da busca do belo, o enriquecimento de imaginário e o gosto de viajar para a descoberta de outras gentes e outras culturas, que a grande maioria das pessoas podem não ter possibilidades de sair de casa.
Eu, que pertenço ao grupo destes últimos, sinto-me feliz por ter sido educado para as leituras, que são um dos meus grandes prazeres que a vida me tem proporcionado.
Boas leituras para todos.

FM

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Dia Mundial da Terra







O dia Mundial da Terra celebra-se a 22 de abril de cada ano, desde 1970. A ideia partiu do senador norte-americano Gaylord Nelson, que resolveu organizar um protesto contra a poluição da Terra, depois do desastre petrolífero de Santa Bárbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.
Daquele acontecimento não se tem falado muito, ultimamente, mas o tema da poluição e das lutas a favor da defesa do planeta, ameaçado constantemente, apesar dos tratados internacionais assinados pelos países conscientes dos seus deveres nessa linha, não deixa margem para dúvidas sobre a importância do nosso dever de cuidar da casa comum, no dia a dia de todos.

domingo, 21 de abril de 2019

RESSURREIÇÃO

Que a Luz de Cristo Ressuscitado nasça para cada um de nós

Senhor!
Eu bem Te vejo, apesar
da escuridão!
Inda me não tocou a Tua «Mão,
mas bem na sinto, bem na sinto em meus cabelos,
numa carícia igual a um perfume ou um perdão.

Senhor!
Eu bem te vejo, apesar
da escuridão!
Que já se abriram cinco
               (ou são cinquenta?...
                   ou são quinhentas?...)
Estrelinhas azuis no Céu azul
— as Tuas cinco, ou não sei quantas, feridas
lavadas pelas águas lá de Cima.

Vejo-Te ainda incerto e vago
como um desenho sumido,
mas esta é, Jesus, a última das noites.

Há já três
(não Te lembras, Senhor, das bofetadas
e dos cravos nos pés?...)
que Te pregaram numa cruz
e que morreste.

Até logo, Senhor!
           (Deixa ser longa a Noite e o Logo longo,
           que é de noite que eu seco os meus espinhos
           e cavo, na minh´alma, o Teu jardim.
           Rompa tarde a Manhã de ao fim
          da Tua minha Noite derradeira.

— Não quero é que Te rasgues novamente,
quando, no terceiro Dia longe-perto
                                       misericordiosamente,
ressuscitares em mim.)

Sebastião da Gama
 In  SERRA-MÃE

sábado, 20 de abril de 2019

Anselmo Borges: Entre a Sexta-Feira Santa e a Páscoa: Sábado

Anselmo Borges

Crentes ou não crentes — quem o disse foi George Steiner — é em Sábado que vivemos. Que é que isto quer dizer? Todos, de um modo ou outro, em nós mesmos e no mundo, constatamos e vivemos a Sexta-Feira Santa do sofrimento, do horror, da violência, do silêncio e da noite, e todos, de um modo ou outro, de forma mais explícita ou menos explícita, mais consciente ou menos, é pelo Domingo, o Domingo da Páscoa, que suspiramos e esperamos, a Páscoa da salvação.

O que nestes dias os cristãos celebram é este Sábado, que pertence ao núcleo da existência cristã, como disse São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã também a vossa fé. Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Evidentemente, a ressurreição implica por si mesma uma meditação sobre a morte e o sentido último da existência. Uma meditação sobre o Sábado, no qual vivemos.

1. Na história gigantesca do universo, com 13.700 milhões de anos, o sinal distintivo de que há Homem, não já simplesmente algo, mas alguém, são os rituais funerários. A partir daí, já não estamos em presença de um animal qualquer, mas do ser humano, que sabe que sabe, que tem consciência de si, consciência de que é mortal, e que, nem que seja de modo confuso, espera para lá da morte. A consciência da morte e a esperança constituem, portanto, na História do mundo, uma novidade essencial e radical.
Perante a morte e a mortalidade, surge a interrogação fundamental, que está na base das artes, das filosofias, das religiões: o que é o Homem? Sabemos que somos mortais, mas ninguém sabe o que é morrer, ninguém sabe o que é estar morto, nem sequer para o próprio morto. Face à morte, a linguagem falha. Assim, dizemos, perante o cadáver do pai ou da mãe, de um amigo: ele/ela está aqui morto/morta. Ora, o que falta é precisamente o pai, a mãe, o amigo, pois o que ali está não passa de restos mortais e lixo biológico. Ou dizemos que os levamos à sua última morada. Ora, quem se atreveria a enterrar ou a cremar o pai, a mãe, um amigo? Também dizemos que os vamos visitar ao cemitério. Ora, nos cemitérios, com excepção dos vivos que lá vão, não há ninguém. O Evangelho é cru: nos cemitérios, só há ossos e podridão. Então, o que há realmente nos cemitérios, para serem considerados lugares sagrados, de tal modo que a violação de uma sepultura constitui, em todas as culturas, uma profanação e um crime nefando? O que há nos cemitérios não é senão essa pergunta radical: O que e o Homem?, o que é ser Homem?

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