O Totti |
A Lita com o Totti e a Tita |
O Totti, um cão que viveu connosco cerca de 16 anos,
deixou-nos no passado 13 de agosto. Foram 16 anos cheios de histórias que
ficarão para toda a nossa vida. Histórias de dedicação, alegria e fidelidade a toda a prova, que um dia saíram
reforçadas com uma prenda que lhe demos — a nossa Tita — sua companheira de
todas as horas. Mas há tempos, a Tita deixou-nos também, ficando toda a família
muito triste. O Totti não fugiu à regra e sentiu, decerto mais do que todos nós,
a perda da sua amiga de sempre. O Totti andava triste, olhar distante e
frequentemente perscrutador, numa tentativa de ver chegar a sua amiga de
qualquer canto da casa, do jardim ou do quintal.
A sua tristeza foi-se acentuando, de parceria com as doenças
próprias da idade: Menos visão, surdez em crescendo, coluna vertebral a
tolher-lhe os movimentos, coração a dar sinais de cansaço, tiroide a
provocar-lhe incómodos, tosse constante. Medicação para tudo, cuidados
especiais nunca prodigalizados pela Lita. Teimosia em tomar remédios, que
distinguia mesmo quando muito disfarçados durante as refeições. Gritava por não
conseguir levantar-se, sem forças nas patas traseiras. E no dia 13 de agosto, à
tardinha, foi o tempo de nos deixar. Morreu serenamente. As corridas velozes, o
ladrar a quem passava, o brincar com quem chegava, o atirar-se às galinhas e
outras aves que detestava, o lançar-se furioso contra gatos que invadissem os
seus domínios e o rosnar quando lhe tocavam nos ouvidos, tudo acabou.
Rezam as histórias e as lendas que os cães são os maiores
amigos do homem. Terão sido os primeiros animais a serem domesticados pelo ser
humano. E há provas extraordinárias da sua dedicação pelos donos ou pelos que
deles cuidavam, mas ainda da estima de homens e mulheres pelos canídeos, fossem eles de que raças fossem.
O Totti tinha por hábito fixar os horários da chegada a casa
dos que se tinham ausentado para o trabalho ou para passeios ou compras. E à
hora que a sua curta memória ou instinto determinavam, lá ia ele para o portão esperar quem havia de
chegar. Se era a Lita, seria o portão por onde entraria o carro. Se eram familiares,
o portão seria outro. Assim durante muitos anos. E quando o esperado abria o
portão, dava uns gritinhos de alegria e uns saltitos de felicidade, como que a
anunciar: Já chegou! Depois esperava as carícias que nunca ninguém lhe negou.
A vida é assim. Não é por acaso que um velho ditado proclama
à saciedade: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães.” E eu
concordo.
Acompanho com muito carinho e amor todos os que gostaram da
Tita e do Totti, em especial a Lita, que os tratou como gente.
Fernando Martins