domingo, 10 de junho de 2018

Notas do meu Diário: A chuva na Primavera



Antes da aurora, a Lita disse-me que choveu toda a noite. Acreditei. Não ouvi nada porque sou meio surdo, um bem para dormir descansado. Um mal porque tenho de usar próteses auditivas. Aberta a janela, pouco depois, confirma-se a triste Primavera que nos coube na roda da vida. Como diz um conhecido cronista, nunca vi uma Primavera assim, mas decerto já passámos por outras semelhantes. Confiadamente, esperamos que o Verão corresponda ao que desejamos. Muito sol, quentinho quanto baste, mas não tão forte que possa estimular os incêndios. 
Por casa, joelhos quentes por manta que afugenta o frio, salamandra apagada porque a lenha se foi com o fumo pela chaminé, a leitura e a escrita são o meu refúgio. Sentado, com o portátil sobre os joelhos, dou uma volta ao imaginário em busca de futuros destinos. Mar à vista, mas a serra como experiência para novos olhares. 
Por perto, o Totti, o velho cão já centenário e agora muito dorminhoco, mal que se tem intensificado desde que a sua companheira, a Tita, deixou este mundo. De vez em quando, levanta a cabeça para saber quem está e volta a passar-se para o mar da tranquilidade que o sono oferece. 
“A vida no Campo”, de Joel Neto, é um livro tranquilizante. Um diário que se lê com muito gosto sem cansar. Joel Neto, que foi jornalista em Lisboa (ainda é cronista no DN), deixou tudo para voltar às suas origens: Ilha Terceira, lugar dos Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã. Vive com a mulher e dois cães, em casa com jardim e horta. Na contracapa lê-se: «Rodeado de uma paisagem estonteante, das memórias da infância e de uma panóplia de vizinhos de modos simples e vocação filosófica, descobriu que, afinal, a vida pode mesmo ser mais serena, mais barata e mais livre. E, se calhar, mais inteligente.» 

Fernando Martins 

Nota: Joel Neto é autor de ARQUIPÉLAGO e MERIDIANO 28, duas obras que aguardam vez de leitura. 

Futebol, o espelho do mundo que temos construído




Adriano Miranda 

O doido da família

Frei Bento Domingues

«Em nome do cristianismo, em nome da sua exclusiva posse da verdade, foram muitas vezes condenadas as outras religiões, pois a verdade e o erro não merecem o mesmo respeito.
Do anátema passou-se à tolerância. Não eram igualmente verdadeiras mas, para superar as guerras de religião, o melhor era suportá-las. Mal menor.
O pluralismo humano e cultural apontava para algo mais positivo. Nasceu a teologia sobre as outras religiões, baseada na pergunta: qual a significação que a diversidade religiosa pode ter no plano de Deus?»


1. A Catalunha continua a ser notícia por vários motivos, sobretudo por razões de ordem política. Os meios de comunicação portugueses não foram excepção, mas esqueceram a grande homenagem à figura marcante da cultura catalã actual e de significação universal.
A Generalitat de Catalunya i l'Ajuntament de Barcelona estão a celebrar, em 2018, o Ano de Raimon Panikkar (1918-2010), centenário de um sábio do nosso tempo [1]. Filho de pai indiano e hindu e de mãe catalã católica romana, nasceu em Barcelona, viveu na Índia e morreu rodeado da beleza em Tavertet.
Era padre, cientista, filósofo, teólogo e místico. Sem deixar de ser católico integrou, na sua identidade, vários elementos de outras crenças religiosas. Como diz Ignasi Moreta, editor das suas Obras Completas, das quais já saíram dez volumes, "era uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre as Letras e as Ciências, entre as expressões do Cristianismo, do Induísmo, do Budismo e do Pensamento Secular".

sábado, 9 de junho de 2018

Aveiro: Ponte Laços de Amizade




No canal,  junto ao Forum,  há uma ponte com nome curioso, no mínimo. Chama-se "Ponte Laços de  Amizade - Poema a Aveiro" e liga aquele espaço comercial ao outro lado. As proteções laterais da ponte estão cheias de fitas assinadas, que traduzem, decerto, a ideia de que as grandes amizades tanto são espontâneas como resultam de pontes que estabelecem ligações de proximidade, que  perduram pela vida fora. Gostei de ver, sim senhor. Mas não pude conhecer as motivações que levaram ao batismo desta ponte, com data de 10-12-2016.

Requalificação da Av. Lourenço Peixinho é uma urgência



«Para além do Rossio, outra zona central da cidade que esteve em discussão na reunião de Câmara de ontem foi a Avenida Dr. Lourenço Peixinho, onde a coligação PSD/CDS que governa a edilidade também pretende intervir. A sétima versão do estudo prévio foi apresentada em traços gerais por Ribau Esteves. De acordo com a descrição do autarca, a nova versão do documento mantém os dois passeios laterais mas com o dobro da largura (cinco metros cada) e com uma linha de árvores em cada um, à custa do separador central, que ficará apenas com um metro. Haverá duas faixas de rodagem em cada sentido, uma das quais será reservada a transportes públicos e bicicletas. Cada uma das margens da principal artéria da cidade terá ainda estacionamento longitudinal.»


Nota: Com o tempo, tudo passa. O que ontem era moda, vai hoje para o caixote do lixo. Sou do tempo em que a Av. Lourenço Peixinho era a sala de visitas de Aveiro, Tudo para ali confluía e tudo ali se celebrava. O comércio da moda concentrava-se naquela avenida e era por ela que passeávamos. Também tomávamos café a apreciar o trânsito de veículos e pessoas. E ao domingo era certo e sabido que lanchávamos num dos cafés ou pastelarias da avenida com a família. 
Depois vieram as grandes superfícies com o Forum à cabeça e tudo se alterou. A sala de visitas mudou-se de armas e bagagens para ambientes mais atrativos e a velha avenida envelheceu. Cá para nós, contudo, ainda será possível rejuvenescê-la. Não voltará aos tempos de ouro, mas poderá ser uma alternativa válida às grandes superfícies. 

Bourdain ficará na memória de muitos



«Um outro dia, anos mais tarde, num zapping televisivo, reapareceu-me Anthony Bourdin. A agilidade fílmica da CNN dava outro enquadramento e ritmo a esta sua nova experiência televisiva. O modelo era diferente: menos intimista, mais cosmopolita, no limiar da antropologia cultural. Era muito interessante ver uma figura saída da cozinha convencional a passear-se por cenários quase “radicais”, das tascas de rua aos locais mais simples e estranhos. Devo confessar, para que não sobrevivam dúvidas, que raramente aquela exploração de culinárias raras me excitou os sentidos, particularmente ao ver Bourdain testar alguns produtos cuja bizarria fazia presumir sabores estranhos.»

Ler mais aqui 

Nota: Confesso que apreciei imenso  Anthony Bourdin nos seus programas televisivos, pela naturalidade na apresentação, pelo apetite que ele nos  suscitava, pela cultura  gastronómica que irradiava, mas não só, e por tudo o que nos ofereceu um pouco de todo o mundo. Não quis continuar a viver e foi pena, porque teria ainda muito mais para nos ensinar. E tenho para mim que o seu estilo dificilmente será  ultrapassado. 

sexta-feira, 8 de junho de 2018

S.O.S. cristãos

Anselmo Borges

1 "A perseguição é um pouco "o ar" do qual o cristão vive ainda hoje, porque também hoje há muitos, muitos mártires, muitos perseguidos por amor a Cristo. Em muitos países os cristãos não têm direitos. Usar uma simples cruz (crucifixo) leva à cadeia. E há pessoas na cadeia; há hoje pessoas condenadas à morte por serem cristãs. Houve pessoas assassinadas e o número hoje é maior do que o dos mártires dos primeiros tempos. São mais. Mas isto não é notícia. Isto não tem lugar nos noticiários, nos jornais, eles não publicam estas coisas. Mas os cristãos são perseguidos."
Quem, mergulhado em tristeza, fez estas declarações foi o Papa Francisco no dia primeiro deste mês de Junho.

2 Como é o Papa, poderia não dar-se muita atenção. "Afinal, está a defender os seus", dirão muitos. Mas há uma jornalista catalã, Pilar Rahola, bem credenciada, que acaba de escrever uma obra de grande investigação, com o título desta crónica - S.O.S. Cristians - e o subtítulo: "A perseguição dos cristãos no mundo de hoje, uma realidade silenciada." Tanto mais credenciada quanto escreve: "O meu racionalismo militante impede-me de acreditar em Deus, mas a minha ética não me impede de respeitar os crentes", "o livro não aborda a moral de um grupo religioso, mas a ética de toda a humanidade. Precisamente por isso, não fala dos cristãos pela sua condição religiosa, mas pela sua condição de vítimas. E é neste ponto que o livro assume um compromisso solidário, uma vontade de arrancar o véu que oculta o sofrimento de centenas de milhares de pessoas perseguidas, maltratadas e assassinadas em pleno século XXI só pelo facto de seguirem a Cristo". Tratando-se de uma perseguição com objectivos de extermínio em vários países, é uma questão de decência ética acabar com o muro do silêncio que se abateu sobre esta tragédia. Como disse o prémio Nobel da Paz, Elie Wiesel, judeu sobrevivente dos campos de extermínio nazis, "O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença. O contrário da fé não é a heresia, é a indiferença. E o contrário da vida não é a morte, mas a indiferença entre a vida e a morte".

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