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Bento Domingues |
1. "O animal corre, e passa, e morre. E é o grande frio. / É o grande frio da noite, é a escuridão. / O pássaro voa, e passa, e morre. E é o grande frio. / É o grande frio da noite, é a escuridão. / O peixe nada, e passa, e morre. / E é o grande frio. / É o grande frio da noite, é a escuridão. / O homem come, e dorme, e morre. E é o grande frio. / É o grande frio da noite, é a escuridão. / Acende-se o céu, apagam-se os olhos, resplandece a estrela. / E aqui em baixo é o frio, e lá no alto é a luz. / Passou o homem, desfez-se a sombra, libertou-se o cativo. / Vem, espírito, vem, por ti chamamos." [1]
O autor dos Actos dos Apóstolos diz que quando chegou o dia de Pentecostes – isto é, cinquenta dias depois da Páscoa – estavam todos os discípulos reunidos no mesmo lugar. Como disse na crónica do Domingo passado, se nada acontecesse de novo, continuava ali uma Igreja na sua prisão de medo, de gente pasmada, fiéis a um judaísmo tradicional, o judaísmo da fidelidade à letra que mata, e às interpretações infinitas do mesmo. Os Actos falam de algo insólito. Uma rajada de vento e línguas de fogo. O que teria sido aquilo? Estamos perante representações simbólicas.
Segundo uma narrativa antiga, a diversidade de línguas era fruto de uma maldição divina [2]. Era deus que não queria que os povos se entendessem, não fossem eles unirem-se contra ele. Um deus assustado com a criatividade humana.