terça-feira, 7 de junho de 2016

AÇORES: Ponta Delgada

Entrada no Forte
Vista de cima do Forte
Vista geral do porto
Hoje, 7 de junho, estamos em Ponta Delgada sob aviso laranja. Chove e o sol não dá sinal de vida. Temporal lá mais para diante. E quando o rei autorizar, com luz e calorzinho, a cidade espera-nos. Será uma boa ocasião para um certo repouso e para algumas leituras. Prevista está a visita à cultura do chá que Raul Brandão registou no seu livro “As Ilhas Desconhecidas” e que eu tomo como guia. Há outros, naturalmente, de produção turística que recomendo, mas desta feita fico-me pela prosa poética de Raul Brandão. Sou assim.
A propósito do chá, por onde passámos ontem, diz o escritor: «O melhor chá dos Açores, delicado e aromático, tomei-o na Gorriana (Agora Gorreana), na casa fidalga do senhor Jaime Hintze, toda ao rés-do-chão e caiada de amarelo, entre o bulício alegre da vida rústica, num lar que a bondade de sua esposa santifica.» É claro que não poderemos sentir a bondade que santifica da esposa do proprietário, mas acredito que alguém por ali tenha herdado o espírito bondoso que Raul registou.
A cidade de Ponta Delgada tem muito que ver. Entrámos no Forte de São Brás para apreciar o Museu Militar, que nos faz recuar no tempo em que as ilhas açorinas foram palco de lutas sangrentas. Há de tudo no museu. Armas de várias épocas, realmente dignas de museu. Documentos, pinturas, cartas, objetos pessoais do dia a dia do pessoal militar, cozinha de campanha, canhões antiaéreos, baterias, instrumentos musicais, etc. Do cimo do Forte pode contemplar-se a cidade e o mar que a acaricia ou a agride, conforme a sua disposição do momento.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

AÇORES: Furnas, mar e outros horizontes

Cascata
Cascata em vale
"Enterro da panela"

Cozido está pronto

Caldeiras 
Viajar é garantidamente um ato cultural. O viajante absorve muito do que ouve, vê e sente. Adapta-se a novas formas de vida, respira ares diferentes, contacta com culturas diversas, abre-se a horizontes mais largos. Por razões variadas não tenho viajado muito. Conheço um pouco de Espanha, passei como gato por cima de brasas pela Bélgica, estive em França duas vezes, passei uma semana na Alemanha. E os meus olhares e memórias ficam-se por aí. 
De Portugal, conheço mal o Alentejo e razoavelmente o resto do nosso país. Uma semana na Madeira e uns dias agora em S. Miguel. Nada mais. Mas é natural que sonhe com outras viagens, embora comecem a rarear as oportunidades para isso. Canso-me imenso nas caminhadas a quem nenhum viajante pode escapar. Resta-me a leitura para preencher e enriquecer a minha ânsia de contactar com outros povos e outras paisagens.
Agora nos Açores tive já o prazer de me deslumbrar com uma terra diferente da que todos os dias me envolvem na minha terra natal. Manhã cedo saímos de Ponta Delgada para horas de carro. As   Caldeiras, ao lado da Lagoa das Furnas,  foram as primeiras metas. Em Lagoa das Furnas assistimos ao “enterro” de panelas do célebre Cozido das Furnas. Depois, cova aberta, apreciámos a retirada as panelas do calor vulcânico e seguimos para o Restaurante Tonys, onde havia mesa reservada para o almoço. O restaurante foi literalmente invadido e ocupado por estrangeiros, no meio dos quais estávamos nós. Bem comidos e bebidos com conta peso e medida, seguimos para a freguesia de Salga do concelho do Nordeste, cuja vila estava marcada nas etapas deste dia.
Miradouros em cada canto, todos a oferecerem vistas deslumbrantes, aqui e ali incomodadas por nevoeiros densos. Aliás, neste giro convivemos com as quatro estações do ano, como é típico de S. Miguel. Ora estava sol que acalenta e nos oferece panoramas largos, ora surgia o nevoeiro cerrado que limitava o que merecia ser visto, ora chovia e ventava, ora nos atacava  o frio desesperante. 
O mar que nos acompanha desde a chegada, que se vê imensas vezes, mas que de repente foge dos nossos pontos de mira, para reaparecer com toda a sua majestade quando menos se espera, faz parte integrante da vida dos açorianos e de quem os visita. E nós gostamos, realmente, da sua companhia. Já alguém imaginou o que seria o mundo sem mar? 
Ruas estreitas, é certo, com vacas por cada esquina que rapavam a erva verdinha e deitadas a ruminavam, flores e mais flores que demarcavam propriedades e estradas, piscinas termais e outras que as populações e turistas usufruem, morros e serras a quebrarem a monotonia, tornando tudo mais belo, cascatas e zonas ajardinadas cuidadosamente preparadas para acolherem quem chega ou passa, de tudo um pouco vimos neste dia que as minhas palavras não conseguem descrever por falta de arte. O cansaço também contribui para este pobre registo do meu diário.


São Miguel: Sete Cidades e arredores

Um pouco do muito que vimos







Em 30 de julho de 1926, Raul Brandão esteve em São Miguel com espírito jornalístico, mas sempre acompanhado pela alma de artista, com a sua sensibilidade própria e única. Não há dois artistas iguais, porque se isso acontecesse um eliminaria o outro. E nessas deambulações deixou-nos retratos que nos nossos dias aceitamos e citamos com prazer.
Diz ele que «nesta ilha há duas coisas maravilhosas: as Furnas e as Sete Cidades». Estivemos hoje nas Sete Cidades e à medida que nos aproximávamos da Lagoa das Sete Cidades sentíamos que o nevoeiro iria estragar-nos a festa de uma paisagem de tons e cores diversos. Felizmente não foi tanto assim, embora em dia luminoso o espetáculo fosse mais belo. Mesmo Valeu a pena. Turistas com presença garantida, fotógrafos amadores como eu a disparar de vários ângulos. E boa razão tem Raul Brandão para dizer: «Quase tenho medo de falar duma paisagem que hoje, mais do que nunca, me parece irreal…»
Senti o mesmo neste domingo,5 de junho. O verde dos cerrados onde pasta o gado, os picos das montanhas, os penedos plantados no oceano, as ruas estreitas, a obrigação de parar para as vacas passarem na sua calma ancestral, as piscinas abrigadas, a ausência de areia branca, a floresta a encher os espaços e o casario a bordejar ruas e ruelas, largos e encostas das montanhas. Igrejas entre o antigo (vi uma de 1507) e o moderno atestam a presença do cristianismo desde a descoberta. 
O farol, de que falarei mais tarde também mereceu a nossa atenção, pequena mas bem cuidado. Navios no alto mar não vi. Nem surfistas nem nadadores, mas vi o oceano agitado e de vez em quando um ventinho mais forte que os montes não conseguiram desviar da nossa presença.
Amanhã, se Deus quiser, as Furnas e o seu famoso cozido esperam-nos.

domingo, 5 de junho de 2016

AÇORES: Uma luz que nos acaricia



«É uma luz que me acaricia, uma série de cinzentos que entram uns nos outros e desmaiam, apanham não sei que claridade e ficam absortos e quietos,  ou criam nova vida e recomeçam  uma gama de tons que faziam o desespero dum pintor, porque a paisagem a esta luz extraordinária ganha sombras, variedade e frescura que os pincéis não sabem reproduzir…»

Raul Brandão, 
in “As Ilhas  Desconhecidas”

Pus pé em terra do anticiclone  no princípio da tarde de ontem, graças aos desafios do meu João Paulo e à generosidade da minha Aidinha. Ameaças de chuva e mau tempo não perturbaram o nosso desejo antigo de conhecer os Açores, que Raul Brandão, quase há 100 anos, descreveu com arte e realismo. Hoje será muito diferente, mas os tons cinzentos entrecortados pela claridade que as nuvens frequentemente filtram e emprestam tonalidades novas a quem chega, como foi o nosso caso, meu e da Lita, enchem-nos  a alma e preenchem uma lacuna na nossa sensibilidade.
O João, à chegada, informa que já nos viu  por um frincha do aeroporto de Ponta Delgada. Apressados, fomos degustar o bife num restaurante especialista na  área dos bifes de vaca, carne saborosíssima do gado açoriano. Gado famoso, diga-se de passagem. E corremos para conhecer ao vivo a paisagem do mar da  ilha de São Miguel, sem areia branca, mas com sinais de quem sabe criar espaços marinhos para tonificar o corpo com sol e maresia, em piscinas naturais  que abundam por aqueles sítios. As primeiras impressões cativaram-nos pela originalidade  das baías, pelas ondas que desafiam surfistas , pela tonalidade negra das pedras que nos propõem  desafios no equilíbrio necessário para quem deseja aproximar-se do ocenano. E com a arquitetura do casario, das igrejas construídas em locais estratégicos para anunciar  o  transcendente  aos habitantes tantas vezes tão afastados do mundo, mais as ruas estreitas a indiciarem antiguidade, mais nos sentimos entusiasmadas e com ânsias de nos próximos dias, então mais afastados  das águas que rodeiam  a ilha, nos cruzarmos com outras paisagens.  

Ética e religião

Crónica de Frei Bento Domingues



1. Tornou-se um lugar-comum dizer que, na fonte de todas as grandes tradições religiosas, existe uma experiência original do Mistério Absoluto, ou de Deus, irredutível a qualquer categoria criada para o exprimir. Foi o que tentei mostrar no domingo passado. Mahatma Gandhi estava convencido de que, se pudéssemos ler as escrituras das diversas religiões, chegaríamos à conclusão de que todas elas estão de acordo nos seus princípios básicos, úteis para todos.
Pode-se perguntar se haverá alguém que possa viver, por dentro, as experiências de todas as tradições religiosas nas suas diversas evoluções e interpretações? Duvido! Será isso necessário para cultivar o respeito pela diversidade cultural e religiosa? Creio que não. O que julgo indispensável é o questionamento ético dentro de toda a actividade humana e, por isso, também dentro de todas as práticas religiosas.

sábado, 4 de junho de 2016

Filarmónica Gafanhense vai ter novo fardamento

SARDINHADA | 9 DE JULHO

A juventude está na banda
A Filarmónica Gafanhense está a comemorar 180 anos ao serviço da cultura musical e quer continuar com o entusiasmo que sempre a animou desde a sua fundação. E nestas comemorações, a direção pretende dotar a banda com novo fardamento, pois o atual conta já com «16 anos e necessita urgentemente de ser renovado».
Para a concretização deste objetivo, a direção tem estado e continuará a estar empenhada em promover eventos destinados à angariação de fundos, pois a despesa importará em 14 mil euros «para a renovação integral do fardamento». Nesse sentido, no passado dia 22 de maio realizou-se um encontro de membros da banda e amigos, da Gafanha da Nazaré e arredores, à volta de um Porco no Espeto, no espaço do Stella Maris. 
No próximo dia 9 de julho haverá mais uma iniciativa, desta vez uma sardinhada, integrada nas comemorações dos Santos Populares, que surge ao jeito de substituição do arraial da festa de São Pedro, no lugar da Cale da Vila, que este ano não se realiza. 
Enquanto se aposta na organização de convívios deste género, que todos consideram uma mais-valia para aproximar a banda do nosso povo, com a vantagem de se conseguirem obter alguns fundos, a direção não deixa de apelar à contribuição dos amigos para que ajudem com donativos, através do IBAN PT50 0033 0000 00003659704 35 Millennium BCP, ou deslocando-se ao Stella Maris, aos sábados, entre as 14h30 e as 17h, onde a Filarmónica Gafanhense ensaia provisoriamente.

FM

A resistência a Francisco

Crónica de Anselmo Borges


1. Algo mudou quanto à possibilidade da comunhão para os divorciados recasados? De regresso de Lesbos, Francisco foi claro: "Eu posso dizer: sim. Ponto." Quem tivesse dúvidas quanto a mudanças nesta e noutras questões teria, na oposição de muitos da alta hierarquia, a prova de que elas são reais.
De modo frontal, o cardeal G. L. Müller, prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, veio corrigir Francisco, dizendo que os divorciados recasados não podem, em caso algum, aproximar-se da comunhão e o máximo a que podem aspirar, depois da confissão, é viverem "em castidade total, como irmãos". Uma vez que o famoso teólogo Hans Küng tinha revelado, num artigo, que o Papa se lhe dirigira pessoalmente como "lieber Mitbruder" (querido irmão), manifestando abertura a um debate livre na Igreja sobre o dogma da infalibilidade, Müller assegurou que é um herege, que "não crê na divindade de Cristo nem na Trindade". Numa entrevista ao Achener Zeitung, o cardeal W. Kasper, que está com Francisco e que foi quem o convenceu a receber o Prémio Carlos Magno, atribuído por "ser a voz da consciência de Europa", declarou que "a enorme maioria das pessoas até para lá da Igreja Católica está fascinada com este Papa. Na Cúria, também há oposição resistente". Porquê? "Ele dá uma reviravolta a muitas coisas. Está sobretudo empenhado na mentalidade. Só se esta mudar é que virão as reformas nas estruturas. Isso precisa de tempo. Francisco trabalha nisso. A Cúria é uma instituição antiga, onde se cultiva carreiras e hábitos."

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