quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Declaração de nulidade do matrimónio

O que vai e não vai mudando no Vaticano


«Desenganem-se os que pensam que vai ser “liberalizada” a até aqui demorada aceitação da nulidade do casamento católico. Ou que vai ser aceite a sua dissolução perante as leis da Igreja católica. Para o Vaticano, o casamento católico continua a ser indissolúvel e, para que ele seja anulado, é preciso cumprir os rituais pedidos baseados nos motivos já antes utilizados. Mas o que o Papa Francisco acaba de aprovar corresponde, ainda assim, a uma revolução no sistema: um processo que demorava anos e custava milhares de euros pode agora ser breve e gratuito (demonstrando “a gratuitidade do amor de Cristo”, justifica o Papa, “num assunto tão ligado à salvação das almas”). Mas, mais do que isso, a decisão poderá ser agora tomada na diocese do casal e a segunda opinião é facultativa (antes era obrigatória e demorada e, com recurso, podia ir até ao Vaticano). Sem pôr em causa fundamentos, Francisco continua a mudar o que parecia imutável.»

Nota: Li no PÚBLICO de ontem


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Mudar de vida

«Assim como lavamos o corpo devíamos lavar o destino, 
mudar de vida como mudamos de roupa»

Fernando Pessoa
(1888-1935), poeta português

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

Com Procissão pela Ria 
20-09-2015
14.30 horas
Procissão pela Ria (Foto do meu arquivo)
Como já é tradição, vai realizar-se no próximo dia 20 de setembro, domingo, no Forte da Barra, Gafanha da Nazaré, a festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, de que destacamos a procissão pela Ria, que antecede a Eucaristia, por volta das 14.30 horas. 
Do programa consta o acolhimento com almoço aos grupos e ranchos convidados — Rancho Folclórico de Santa Maria de Airães, Ronda da Miadela e Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré — pelas 12 horas, nas instalações da APA (Administração do Porto de Aveiro). 
A procissão com destino ao Porto Bacalhoeiro sai da igreja da Cale da Vila às 14 horas, iniciando-se, meia hora depois, o desfile pela Ria, no qual se incorporam os andores de Nossa Senhora dos Navegantes e outros, a Filarmónica Gafanhense, os grupos e ranchos convidados, moliceiros e mercantéis, bem como barcos de recreio e demais embarcações, algumas das quais transportarão pessoas devidamente autorizadas. Convidam-se, entretanto, os proprietários de barcos a associarem-se à festa. 
Na sua passagem por S. Jacinto, haverá um simbólico encontro com a população local que, como é normal, manifestará a sua alegria junto de Nossa Senhora.No final da eucaristia atuará a Filarmónica Gafanhense, seguindo-se o Festival de Folclore.
A organização é do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em sintonia com a paróquia e em colaboração com diversas instituições públicas e privadas.

Leia um pouco da história da Festa da Senhora dos Navegantes

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Fiel

Poema de Guerra Junqueiro 
e foto enviados por Maria Donzília Almeida



Na luz do seu olhar tão lânguido, tão doce,
Havia o que quer que fosse
Dum íntimo desgosto:
Era um cão ordinário, um pobre cão vadio
Que não tinha coleira e não pagava imposto.
Acostumado ao vento e acostumado ao frio,
Percorria de noite os bairros da miséria
À busca dum jantar.
E ao ver surgir da lua a palidez etérea,
O velho cão uivava uma canção funérea,
Triste como a tristeza oceânica do mar.
Quando a chuva era grande e o frio inclemente,
Ele ia-se abrigar às vezes nos portais;
E mandando-o partir, partia humildemente,
Com a resignação nos olhos virginais.
Era tranquilo e bom como as pombinhas mansas;
Nunca ladrou dum pobre à capa esfarrapada:
E, como não mordia as tímidas crianças,
As crianças então corriam-no à pedrada.
Uma vez casualmente, um mísero pintor
Um boémio, um sonhador,
Encontrara na rua o solitário cão;
O artista era uma alma heróica e desgraçada,
Vivendo numa escura e pobre água furtada,
Onde sobrava o gênio e onde faltava o pão.
Era desses que têm o rubro amor da glória,
O grande amor fatal,
Que umas vezes conduz às pompas da vitória,
E que outras vezes leva ao quarto do hospital.
 

domingo, 6 de setembro de 2015

Refugiados - Apelo do Papa

"Que cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada mosteiro, cada santuário da Europa hospede uma família, começando da minha diocese de Roma".

Papa Francisco


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Saber envelhecer

"Saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria 
e um dos capítulos mais difíceis na grande arte de viver"

Hermann Melville (1819-1891), 
escritor, poeta e ensaísta norte-americano

Li no Público de hoje

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sábado, 5 de setembro de 2015

Faleceu o escritor gafanhão Ascêncio de Freitas

Ascêncio de Freitas
No passado dia 23 de agosto, faleceu na Amadora, onde residia, o escritor gafanhão Ascêncio de Freitas.  Natural da Gafanha da Nazaré, viu a luz do dia no Forte da Barra em 3 de agosto de 1926, tendo concluído,  recentemente, 89 anos de vida.
Em 1949, fixou-se em Moçambique, onde viveu três décadas, sem nunca esquecer as suas raízes. Nos seus livros, de vez em quando, deixava transparecer ou evocava com nitidez marcas indeléveis das suas origens. Na sua obra, sobretudo contos e romances, Ascêncio de Freitas apoia-se, com riqueza de pormenores, fundamentalmente, em vivências moçambicanas, o que lhe deu legítimo direito a integrar antologias daquele país irmão. 
Em Portugal, o escritor gafanhão foi galardoado, com merecido  reconhecimento, pela sua obra, de que destacamos “Cães da Mesma Ninhada” (Prémio Cidade da Beira “A Reconquista de Olivença” (Prémio Vergílio Ferreira), “O Canto da Sangardata” (Prémio Pen Clube),”A Noite dos Caranguejos” (Prémio Ferreira de Castro) e “A Paz Enfurecida” (Escrito com Bolsa do IPLB — Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, obtida por concurso).
Ascêncio de Freitas, que nunca olvidou a sua terra, vinha com alguma frequência à Gafanha da Nazaré, onde colaborou com amigos e instituições. Por isso, a ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré) prestou-lhe significativa homenagem em 8 de julho, tal como fez a Câmara Municipal da Amadora pouco tempo antes do seu falecimento.
Em sua memória, publicamos um expressivo  texto do seu livro “Ai, Amor!”, cuja primeira edição saiu em janeiro de 2009.


         «O capitão Armando Vieira, do mesmo modo familiar com que o tinha recebido pela primeira vez logo após a chegada, fez entrar o amigo da juventude pela porta da cozinha, com as manifestações de alegria de quem acolhia em sua casa alguém que tivesse acabado de regressar, ileso, de uma batalha perdida
         e a cozinha estava inundada de um odor forte, saído de algo que estava a cozinhar, que fez recordar ao tio Florêncio a caldeirada de bacalhau
         não obstante ele pensou que não poderia adivinhar de forma tão simples e imediata que seria esse “o jantar gafanhão” que lhe tinha sido prometido, pois a caldeirada não poderia nunca ser considerada um prato gafanhão, nem tão-pouco apenas português
         — Estás a lembrar-te de alguma coisa conhecida neste cheirinho que está aqui na cozinha, não estás, sócio?
         mas eu aposto singelo contra dobrado em como não adivinhas o que a Adélia tem ali a cozinhar
         — Guiado pelo cheiro, eu apostaria que se trata de caldeirada de bacalhau
         mas ao mesmo tempo qualquer coisa me diz que perderia a aposta, porque este aroma que anda no ar não é exactamente igual ao da caldeirada
         perderia… seguramente
          porque depois de teres prometido um jantar gafanhão, seria falta de imaginação apresentares-me para comer uma banal caldeirada de bacalhau
         embora seja coisa que não como há muitíssimo tempo
         só que ninguém poderá dizer que se trata de um prato gafanhão
         os bascos e os galegos também a fazem
         — Deixa-te de divagações e vem dar uma espreitadela
         disse o capitão Armando Vieira
         aproximou-se do fogão, retirou a tampa do tacho e uma intensa nuvem de vapor subiu no ar
         depois de a deixar dissipar, o capitão Vieira fechou os olhos e aproximou o rosto do recipiente, de onde saía, junto com a branda fumarada, o som de um suave borbulhar
          — Oh, assim estragas a surpresa, Armando
         protestou Adélia
         mas ele aspirava o vapor que saía do tacho e comentava:
         — Hum, este cheiro a salgado entra-me no nariz e trepa-me até à alma
         vem cheirar, vem cheirar este perfume que nos lembra o mar e é como se fossem as mãos dos anjos a acariciar o que há de melhor dentro de nós
         ah, e como formosa nos parece a vida saboreando estes petiscos
         melhor do que isto só  lagosta suada ou bacalhau á Freitas
         o tio Florêncio aproximou-se dele e espreitou para dentro do tacho
         aspirou também o cheiro da comida
         — Então que tal?
         — Não estou a ver o que possa ser
         cheira a bacalhau… mas ao mesmo tempo há qualquer coisa de diferente neste cheiro
         — São sames, sócio, são sames, que já não deves comer há muito tempo
         — Sames?
         caramba, há mais de trinta anos que não me lembrava sequer dessa estranha palavra, quanto mais comê-los   
         — Sim senhor, um guisadinho de sames de bacalhau, bem à gafanhoa
é ou não é?»

Excerto do capítulo oitavo
do romance “Ai, Amor”



NOTA: Só hoje me foi possível escrever este texto de homenagem a um escritor gafanhão que admirava pela originalidade da sua escrita cheia de memórias,  algumas das quais referentes à nossa terra e nossas gentes. Longe da casa, não tinha à mão o texto com o qual desejava prestar-lhe a minha gratidão. 

F.M.

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