Crónica de Anselmo Borges
Anselmo Borges |
Foi condenado pela religião oficial como blasfemo e pelo poder imperial como subversivo social e político. Não por Deus. Porque Deus não quer a dor e o sofrimento, mas a alegria. Deus não precisa de sacrifícios nem de vítimas. Jesus foi vítima, porque Deus não quer vítimas. Entregou a sua vida por amor e foi crucificado, porque Deus não quer crucificados. "Deus é amor incondicional": este é o verdadeiro letreiro que encima a Cruz de Cristo.
Aparentemente, no horror daquela Sexta-Feira Santa, foi o fim. Mas, lentamente, reflectindo sobre a experiência que Jesus fez de Deus, sobre o modo como viveu, como agiu, como morreu, os discípulos fizeram a experiência avassaladora de que o Deus-amor, a quem Jesus se dirigia como Abbá, Pai-Mãe querido, não o abandonou nem sequer na morte. Jesus não morreu para o nada, mas para Deus. Na morte, não encontrou o nada, mas a plenitude da vida de Deus.
Esta é a mensagem de Páscoa, que os discípulos, outra vez reunidos, foram anunciar pelo mundo, e por ela deram a vida. E chegou até nós, cuja vida se passa em Sábado, entre a dor de Sexta-Feira Santa e a esperança do Domingo de Páscoa.