Reflexão de Georgino Rocha
A manhã do primeiro dia da semana deixa transpirar um ambiente novo, segundo narra São João. Jo 20, 1-9. Ao desânimo do Calvário sucede o ardor diligente de Madalena, de Pedro e do discípulo que Jesus amava. Ao silêncio da morte sofrida responde o hino vibrante da vida nova. Ao túmulo fechado pela pedra corresponde agora o sepulcro aberto, “escancarado”, vazio pela ausência de quem lá tinha sido depositado. A desolação dolorosa e mortiça dá lugar à curiosidade efervescente avivada pela saudade.
A escuridão do espírito começa a dissipar-se pela luz da aurora nascente. A vontade deixa-se moldar pelo ritmo do coração. E um novo movimento acontece: a corrida da Páscoa que iniciada em Jerusalém comporta um dinamismo envolvente de todo o mundo e de toda a história. O Senhor ressuscitou. A morte foi vencida. A causa defendida por Jesus é oficialmente confirmada por Deus. O presente abre-se a um futuro radioso que se antecipa. A esperança germina e floresce em situações humanas concretas. As flores da vida nova estão por aí, não as vedes? E não conseguis do que vedes ao que não vedes?
Os protagonistas da narrativa de João constituem o rosto de quem faz este percurso. A corrida física ao túmulo manifesta a sua corrida interior e espiritual: Desinstalar-se e pôr-se a caminho, acolher dúvidas e procurar respostas, remover preconceitos e identificar sinais, deixar-se guiar pelo coração e iluminar pela razão, aceitar a nova visão que desponta com a fé inicial, crer nos ensinamentos das Escrituras, reconhecer a presença de Jesus ressuscitado no encontro fraterno e celebrativo, partir em alegre e criativa missão de anunciar a Boa Nova que dá sentido pleno a toda a vida.
As sementes da Páscoa germinam, hoje, na alegria de viver, na paciência da esperança, no amor de doação, na ousadia da confiança, na relação próxima do voluntariado, no esforço abnegado dos empreendedores solidários, nas ditosas mães e pais de família, no serviço respeitoso e criativo dos prestadores de cuidados, na participação consciente das celebrações litúrgicas e sacramentais, na sabedoria dos idosos, na coragem dos mártires que dão vida a gestos e atitudes que pareciam ter passado definitivamente.
A nova Páscoa abrange toda a criação. A natureza, nas suas múltiplas facetas, multiplica e exibe os seus sinais de festa e reveste o seu “traje de gala”. A primavera dá-lhe brilho e cor. Junta a sua energia vigorosa à vida nova de Jesus, fruto da doação total. Canta de esperança e celebra um presente florido que anuncia um futuro jubiloso. A vida triunfa da morte como a primavera supera o inverno. Os sinais festivos multiplicam-se um pouco por toda a parte e os corações humanos abrem-se ao suave aroma pascal. O amor mostra-se em toda a sua beleza. As boas festas pascais – que nos damos uns aos outros – expressam o ritmo dos nossos corações em sintonia com a primavera da natureza e com a onda entusiasmante do Senhor ressuscitado. E alimentam a vida nova que a corrida da Páscoa nos faz encontrar e saborear.