Uns conselhos de Ramalho Ortigão
Uma leitura para este tempo é ou pode ser Ramalho Ortigão. Um clássico porventura a cair no esquecimento. Dele não conhecia muito. Umas Farpas e textos de antologias.
Graças à Editora Quetzal, estou a ler "As Praias de Portugal - Guia do Banhista e do Viajante", cuja primeira edição data de 1876. As nossas praias, Barra e Costa Nova, não lhe mereceram qualquer referência. Apenas diz que a Costa Nova era frequentada por algumas famílias de Aveiro e seus subúrbios. Nem o Algarve está no mapa.
De qualquer forma, o leitor fica ao alcance de bons nacos de prosa e de informação variada. E não faltam curiosidades científicas, decerto já ultrapassadas. Já lá vão uns 150 anos.
Deixo aqui um pedacinho dedicado às mulheres, que talvez possua um fundo de atualidade, com poesia para este tempo.
Boas férias para todos.
«Aí o tens, boa amiga, o vasto, o poderoso Oceano! Procura conhecê-lo. Ele será o teu melhor, o teu mais fiel amigo, o teu médico, o teu mestre, o namorado do teu espírito.
Tudo aquilo de que precisa o teu abatido organismo, a tua imaginação, o teu carácter, a tua alma, o mar possui para to dar.
Ele tem o fosfato de cal para os teus ossos, o iodo para os teus tecidos, o bromureto para os teus nervos, o grande calor vital para o teu sangue descorado e arrefecido.
Para as curiosidades do teu espírito ele tem as mais interessantes histórias, os mais engenhosos romances, os mais comoventes dramas, as mais prodigiosas legendas.
Para as fraquezas da tua imaginação, da tua sensibilidade, da tua ternura, tem finalmente a grande força austera, simples, tenaz, implacável, que na terra se não encontra senão dispersa, em pequenas parcelas, pelo que há de mais sublime e de mais culminante na humanidade: a alma dos heróis e o coração das mães; - força imensa, sobrenatural, inconsciente, de que o mar é viva imagem colectiva e portentosa.»
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