Um texto inédito de Ângelo Ribau
Entre sol e chuva, as terras foram todas margeadas
Finalmente, entre sol e chuva, as terras foram todas margeadas e semeadas.
Era um serviço relativamente leve. Espalhavam-se as sementes pela terra, atrelava-se o arado de margear aos bois, e aí íamos nós de um extremo ao outro da terra, voltava-se em sentido contrário tantas vezes quanto as necessárias, até que o terreno ficasse todo margeado. Os regos que separavam as margens ficavam à distância de cerca de um metro uns dos outros. Depois, com um ancinho era cobrir as sementes que tivessem ficado a descoberto, evitando assim que os pardais as comessem! Se o tempo fosse húmido e quente não tardaria um mês que pudéssemos começar a colher erva para o gado.
Agora, enquanto não se arranjava outro trabalho, o tempo ia descansando o físico, a mente ia-se cultivando e até havia tempo para, de vez em quando, ir visitar um amigo que havia adoecido, doença que o obrigava a estar acamado. Conversávamos, jogávamos uma suecada quando calhava, e lá o ia ajudando a passar o tempo.
A chuva parara. Havia possibilidades de o dia seguinte ser um dia de sol. Logo havia a ordem:
— Se amanhã o dia estiver bom, vamos à marinha apanhar mais uma bateira de estrume!
A ideia da cobra veio-me à cabeça e não me deixou nada descansado. Enfim o tempo começava a esfriar e possivelmente as cobras estariam metidas nas suas tocas, protegendo-se do frio. Era esta a minha esperança…



