PITADAS DE SAL - 2
A
FEIRA DOS MOÇOS
Caríssima/o:
Há muitos, muitos anos...
Assim começam as histórias verdadeiras que vamos inventando. Há aí alguém que não saiba como surgiu a do sal na ria de Aveiro?
Mais de mil anos se passaram desde a primeira notícia escrita com a doação da nossa “avó” Mumadona. (A primeira referência conhecida a Aveiro data do ano de 959, onde, no testamento da Condessa Mumadona Dias, são legadas salinas em Allavarium.)
Quer dizer que as marinhas tinham donos (os proprietários) e havia pessoas que nelas trabalhavam: os marnotos, os moços, as mulheres...
Quando, a caminho do Liceu, passávamos na estrada junto das marinhas era certo ouvirmos umas frases , mais ou menos soltas, atiradas contra “esses malandros...”. Eram dos moços que nos “socavam” forte e feio... e nos “convidavam para irmos trabalhar pr'ò sal”! Esqueciam-se que alguns dos nossos companheiros de jornada, se nos distraíssemos, receberíamos como “prémio” o trabalho nas marinhas...
E afinal como eram contratados estes rapazes? Normalmente, numa feira, na “Feira dos Moços”:
«Até princípios dos anos oitenta, no dia 25 de Março — data da inauguração da secular Feira de Março — e nalguns Domingos subsequentes, os moços, que pretendiam trabalhar nas marinhas, reuniam-se, nos Arcos e na Ponte Praça — antes desta existir, o local de encontro era a ponte do lado poente —, esperando serem contactados pelos marnotos, que os poderiam contratar para toda a safra, por uma importância a acordar entre as duas partes interessadas, em função dos conhecimentos do trabalho de salinagem e da aptidão física.
O contrato era normalmente ratificado com o tradicional alborque.» (Diamantino Dias, Glossário-Designações relacionadas com as Marinhas de Sal da Ria de Aveiro, p. 49)

