segunda-feira, 6 de julho de 2009

Provedor do Leitor do PÚBLICO denuncia opções editoriais imperdoáveis

O provedor do leitor do PÚBLICO, Joaquim Vieira, assume com coragem o seu papel. No domingo, no seu texto habitual, critica abertamente o jornal que lhe paga, denunciando abertamente, mas com serenidade e oportunidade, critérios editoriais daquele diário. Tudo a propósito da posição do diário que nos habituou à sua posição de jornal de referência. Concretamente, sobre a forma como a redacção tratou os três manifestos divulgados por outros tantos grupos de economistas e outras personalidades do nosso panorama político-social. O PÚBLICO, directa ou indirectamente, não tratou da mesma forma os que defendem os grandes investimentos em que o Governo aposta e os que os desaconselham. Apesar das explicações que o director do jornal lhe forneceu, a verdade é que o PÚBLICO errou escandalosamente nesta questão. E isso é mau para a credibilidade de um jornal de referência, com obrigações de ser honesto no tratamento jornalístico dos mais variados temas. É certo e sabido que os jornais não podem cair na tentação de tomar partido na política. Se quiserem seguir essa orientação, então que o façam, mas não tentem esconder essa opção. E assumam as consequências. Fernando Martins

Um convite interessante

Recebi um dia destes um convite interessante: um amigo de longa data sugeriu-me que o visitasse em sua casa. Para ver os seus livros. Quando nos encontramos, falamos sempre de qualquer coisa. Os livros vêm à baila, mas nunca passamos disso. De conversa ao sabor da maré. Os convites que recebemos – falo por mim – têm, normalmente, outro sentido, outras motivações. Lá me dirigi, conforme havia prometido, para apreciar a sua colecção. Obviamente, agradou-me imenso o que vi: um gosto, mesmo paixão, pelos livros. Alguém que, sem exteriorizar vaidade, vai coleccionando primeiras edições, pondo em destaque, nas prateleiras das suas estantes, livros relacionados com os Descobrimentos Portugueses, porque tem plena noção de que esse período foi o mais global e representativo da nossa história. As encadernações são cuidadas, sabendo o meu amigo qual o lugar certo de cada obra. Essa paixão conduziu-o à procura de informação ajustada a cada tema, ao mesmo tempo que presta atenção a quanto se publica, para eventuais aquisições. Manuseei livros, de várias épocas, de diversos autores, saboreei um ou outro excerto de alguns dos nossos clássicos, senti a riqueza de cada obra e edição, apreciei o que é gostar de livros. Manifestei a minha vontade de o entrevistar, mas ele, delicadamente, adiou esse meu desejo de divulgar o seu gosto pelo coleccionismo de primeiras edições e de obras relacionadas com a época áurea da nossa história. Porém, não resisti à ideia de sublinhar, hoje e aqui, a satisfação que senti, quando vi o amor do meu amigo pelos livros. Por respeito ao seu pedido omito o seu nome. Mas um dia terá de ser conhecido. Fernando Martins

Crise ética na economia e na política


Ao longo do dia de Sábado, num seminário organizado pela CNJP, figuras como Laborinho Lúcio, Guilherme de Oliveira Martins, Ulisses Garrido ou Adriano Moreira reflectiram sobre a "Crise ética na economia e na política". Tendo como ressalva a recusa de "euforias" ou "cruzadas" éticas (nas palavras de D. Carlos Azevedo ou de José Manuel Pureza) e sublinhando, portanto, a necessidade de actuar responsavelmente em vez de ideologicamente, ficou porém claro que já não há como defender a neutralidade axiológica do sistema económico vigente. É imperativo denunciar a imoralidade de um modelo económico que tem vindo a aumentar as desigualdades, a causar profundas fracturas sociais e a pôr em risco até a sobrevivência humana no planeta.
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A era dos Ídolos

1. A força do mundo das comunicações põe e dispõe. O seu impacto eleva determinadas pessoas a patamares quase acima do humano. É um facto evidente que aqueles que pela sua habilidade em determinada actividade se destacam são tornados paradigmas a seguir, modelos que a publicidade aprecia pela sua capacidade de influenciar… Quem dera que ao crescimento das famas sempre cresça a capacidade e a responsabilidade de a transportar. Tarefa nada fácil, pois que, como qualquer instituição ou qualquer pessoa, a fase da subida é sempre aliciante pela novidade que comporta, pelos estímulos que atrai, pela permeabilidade e flexibilidade da aceitação que faz parte de um caminho novo, aberto. Como em tudo, após a novidade, a arte e o engenho estará em manter os patamares de qualidade a que se chegou. É assim mesmo!
2. Ainda o luto pelo ídolo Michael Jackson (1958-2009) não está minimamente feito, nem reflectida a ressaca dos impactos da fama e da falta do herói, e estão as atenções famosas voltadas para Madrid. A histórica apresentação do futebolista Cristiano Ronaldo no clube madrileno, (com objectividade) pelo escândalo dos valores económicos que comporta e pelo espectáculo mundial que o assunto se tornou, continuam a falar-nos daquela fama acima da racionalidade humana. É assim, não há explicação, talvez seja mesmo a melhor “explicação”. Já muita tinta fez correr o relembrar das grandes verdades que estão em jogo e da jogada milionária do Real Madrid para quem agora importa capitalizar o máximo multiplicando o fenómeno. Com Jackson também a fase da subida foi imensa e maravilhosa.
3. Há dias Cristiano foi perseguido por um fotógrafo jovem. O artista jovem de 24 anos de idade, embora já habituado, mas a precisar de algum silêncio de privacidade, irritou-se para com o paparazzi. Qualquer palavra ou gesto que fique gravada ou fotografado são o emblema com que o futebolista, artista ou político terá de lidar… O ídolo não pode dormir, é a sua era!
Alexandre Cruz

domingo, 5 de julho de 2009

FESTIVAL DO BACALHAU

Como já era esperado, em Agosto vamos ter o Festival do Bacalhau no Jardim Oudinot. Com organização da Câmara Municipal de Ílhavo e da Confraria Gastronómica do Bacalhau, o Festival decorre entre 19 e 23, sempre com muita animação, exposições, artesanato e muita música. Just Girls, Roberto Leal, José Cid, Per7ume e Rita Guerra vão actuar para os seus fãs e para todos os que gostam de saborear o “melhor bacalhau do mundo”, como lembrou no ano passado o presidente da Câmara Municipal, Ribau Esteves, em ambiente de festa. 
O Festival decorre no maior e mais atractivo parque de lazer da Ria de Aveiro, um tanto ou quanto à sombra do Navio-Museu Santo André, um excelente exemplo da saga dos bacalhaus, durante muitos anos o campeão das pescas de Portugal e um dos primeiros do mundo, segundo nos confidenciou, um dia, o capitão Francisco Marques, na altura director do Museu Marítimo de Ílhavo. Para além do bacalhau, o rei da festa, as nossas iguarias gastronómicas não deixarão de marcar presença. Mas ainda será justo sublinhar a importância das exposições representativas da nossa terra e a riqueza expressiva do artesanato regional. 
As tasquinhas, a cargo de instituições do concelho de Ílhavo, que assim se associam ao Festival do Bacalhau, vão servir, sem dúvida, para bons encontros familiares e de amigos, à volta da saborosa comida, confeccionada por quem ainda consegue, e sabe, pôr na mesa os sabores dos nossos antepassados, aqui e ali renovados com saber e gosto, ao jeito de quem quer contentar os mais novos, que não hão-de faltar. Esperamos, pois, que ílhavos e gafanhões, bem como as gentes da região de Aveiro e turistas, saibam aproveitar este festival dedicado ao “fiel amigo”, como uma real mais-valia, em tempo de crise, que nos aconselha a ficar por cá. 

Fernando Martins

ESPANTO DE SABEDORIA

A originalidade de Jesus
Jesus regressa à sua terra. Leva consigo os discípulos, a sua nova família. Vem preocupado, pois havia sido acusado de ter enlouquecido, de estar possuído por um espírito mau, de se comportar como um marginal. Aproveita a ida à sinagoga e, chegada a sua vez, fala de tal modo que faz surgir um enorme espanto nos ouvintes. “Que sabedoria é esta?! – interrogam-se os presentes. A “homilia” de Jesus constitui um comentário ao projecto que Deus tem para tornar feliz a humanidade inteira: confiança uns nos outros, superação de preconceitos, atitudes solidárias, abertura à mudança, respeito pelo que é diferente, amor à liberdade, captação do sentido da tradição e alcance dos gestos, preocupação com os que sofrem, sobriedade na posse e uso de bens, partilha generosa, autodomínio pessoal, relação filial com Deus que se expressa na convivência social e na prática da fraternidade universal. Enquanto o ouviam, uma onda emocional perpassa na assembleia e gera sentimentos contrários: Do encanto à desilusão, da adesão curiosa ao desprezo ostensivo, do acolhimento hospitaleiro à rejeição hostil e caluniosa. O projecto que Jesus anuncia envolve-nos a todos. “Quem te criou sem ti, sem ti não te salvará” – afirma Santo Agostinho. Ninguém se pode dispensar. Cada um no seu lugar, a fazer “render” as capacidades que tem, a lançar pontes de comunhão, a criar novas solidariedades, a reinventar formas de “ecologia” ética que despolua e desintoxique a opinião pública de tantos lixos nocivos à sanidade dos cidadãos. O episódio da Nazaré constitui um espelho do que ocorre ainda hoje. Jesus é reconhecido por muitos como uma grande figura da história, um homem extraordinário, lúcido, lutador incansável pelos ideais da paz e da justiça, um guru de sábias sentenças, uma personagem inconfundível. Mas Jesus é muito mais que isto. A sua originalidade está em ser Aquele que te/nos salva, te/nos liberta dos horizontes rasteiros e imediatos e te/nos oferece ajuda para que a tua/nossa liberdade seja criativa e sonhadora. O cariz peculiar da sua acção está em te/nos proporcionar uma relação pessoal, um encontro de amigos, um projecto de comunhão, de amor e de vida.
Georgino Rocha

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 138

BACALHAU EM DATAS - 28

Pescadores de bacalhau

O DIA-A-DIA DOS PESCADORES DE BACALHAU
Caríssimo/a: Manuel Óscar da Rocha Fernandes, “capitão pescador”, publicou, em 1992, uma brochura intitulada “A Ria de Aveiro – Os barcos lagunares e a costa adjacente – A pesca do Bacalhau” e, entre as páginas 23 e 27, escreveu: «O Dia a dia na Pesca
O dia começava com os "louvados", normalmente às quatro horas da manhã. Eram assim chamados, porque o homem que estava de vigia e encarregado de ir chamar os companheiros para iniciar o dia de trabalho, antigamente, fazia-o cantando com versos, na maioria das vezes de sua autoria, como por exemplo: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo Filho da Virgem Maria, Venha um homem para o leme e dois para a vigia! São quatro horas, Padre nosso, Avé Maria! "
Ou ainda estes outros
"Louvado e adorado seja o Santo Nome de Jesus que por causa de nós irmãos, morreu na Cruz! E morreu para nos salvar! Ó de baixo, salta para cima que o de cima está a acabar! Levantai-vos irmãos meus, filhos da Virgem Maria olha quem rende o leme e os dois para a vigia! São quatro horas, vamos ao café!"
De seguida tomavam o pequeno almoço, constituído por peixe frito, café e pão. Era também essa a composição do lanche que levavam para fora para o resto do dia. Iam depois receber o isco - lula ou cavala - para iscar as centenas de anzóis que constituem os seus aparelhos de pesca. Antes da existência de frigoríficos, a isca era apanhada pelos próprios pescadores: peixes que apanhavam à zagaia e dos quais aproveitavam as vísceras ou aves marinhas que abundam nas zonas de pesca. Seguia-se o arriar dos dóris, precedido da tradicional ordem do Capitão, que, de boné na mão, dava início à faina:" Vamos lá à vida com Deus!". Toda a tripulação se descobria e dava-se início ao trabalho. E lá iam a remos ou à vela para o lado que mais lhes palpitava e experimentando aqui e além com a zagaia até encontrarem indícios de peixe, aí começavam a largar os seus trolleys que se estendiam por algumas centenas de metros. Após uma permanência na água de uma ou duas horas, começavam a recolha das linhas. Se a pesca era abundante e dava para carregar o bote, vinham a bordo descarregavam e voltavam para acabar de alar o aparelho e novamente lançar as linhas para novo lanço. Pelas cinco ou seis horas, se o tempo estava claro, era içado a bordo do navio, um sinal convencionado com os tripulantes para que regressassem. Se estivesse nevoeiro, a chamada era feita por tiro de canhão e posteriormente por morteiro (foguete) seguido por toques de sereia, que, periodicamente, se sucediam, até que o último homem estivesse à vista do navio. Uma vez a bordo, e após uma refeição quente, que às quintas e domingos era de carne acompanhada de uma caneca de vinho, dava-se início à escala e salga do pescado (esvisceração e conservação pelo sal). Ao terminar a escala, que se chegava a prolongar até às primeiras horas da manhã, o moço encarregado de lançar o peixe já escalado e lavado para o porão, tirava o barrete e anunciava o fim do trabalho: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para hoje não há mais e para amanhã Deus dará". Quase sempre tomavam uma sopa quente antes de se deitarem, normalmente constituída por um caldo de peixe a que chamavam "chora". Acontecia por vezes, que, devido aos fundos pedregosos ou correntes de água, o pescador perdia o aparelho ou o ensarilhava. Acabado o serviço de peixe, em vez de se ir deitar, ia tratar de repor as linhas perdidas ou clarificar o aparelho ensarilhado, para na maré seguinte estar apto para poder voltar ao trabalho. Perdia o descanso, que por via de regra não ia além de quatro ou cinco horas, ou excepcionalmente seis, quando o número de dias de pesca consecutivos abundante era considerável. Só nos dia de "brisa" (mau tempo que não permiti a pesca) é que se aproveitava para pôr o descanso em dia.» Traçado o plano geral, busquemos alguns pormenores, para isso lendo, um que outro parágrafo, das páginas 32 a 34, do livro várias vezes citado “Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar”:
«...A bordo, a água, elemento essencial da vida, depressa ficava choca, turva ou da cor acastanhada, com sabor e cheiro nauseabundo, após várias semanas em contacto com a madeira dos barris. Mas, mesmo nestas condições degradantes, não se pense que era gasta à discrição. O seu racionamento era rigorosamente controlado - uma caneca por dia a cada homem - e no final do dia de trabalho, depois de se lavarem com água do mar, essa sim, em abundância, havia então uma pequena tina com água e creolina, onde todos passavam as mãos e os pulsos, como protecção contra a furunculose e desinfecção de úlceras e ferimentos. A doença era um luxo que não se podia permitir, o que levava estes homens a trabalharem até à exaustão, até ao limite supremo das suas forças; só quando caíam esvaídos se dava algum crédito aos seus queixumes, por norma sempre encarados como possível manha, invariavelmente seguidos de reprimenda áspera do chefe. ... Mas não ficavam por aqui as agruras destes homens! Eles viam-se ainda confrontados com infecções resultantes de ferimentos acidentais, cortes feitos nas cascas dos búzios que aproveitavam para isca, espetadelas em anzóis infectados ou espinhas. E vinham os terríveis penaríssios, que na melhor das hipóteses, após longos dias de atroz sofrimento, lhes deixavam os dedos aleijados. Para as espetadelas a solução era a cauterização da ferida com um arame em brasa, metido bruscamente pela carne dentro, tratamento que nem todos suportavam, ou quando a ele acabavam por se sujeitar, era demasiado tarde. Então, a morte vinha numa agonia lenta e horrorosa, de sofrimento indescritível, reclamar o seu quinhão de vidas. Era esta a situação trágica de todos os pescadores, ...durante tantos meses separados do mundo dos vivos, sem notícias da família, esta também sem saber se o marido ou pai estava ainda vivo. E para o luto, que todos os anos visitava várias famílias, a data era sempre a da chegada ao porto de armamento, quando ao fazer-se a contagem dos tripulantes, à medida que iam saindo do navio, alguns não apareciam. » Do poço sem fundo que é a vida de cada um dos nossos pescadores do bacalhau quase nada se disse ... e o espaço vai já longo. Espreitemos por entre névoas, nevoeiros, gelos e temporais. Ajoelhemos diante dos seus dramas. Caia sentida a nossa lágrima ao folhear as páginas dilaceradas e sangrentas desta tragédia ainda por escrever. Manuel

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