segunda-feira, 2 de março de 2009

“A Barra e os Portos da Ria de Aveiro” em Madrid

DE 4 DE MARÇO A 12 DE ABRIL
ANA PAULA VITORINO VAI PRESIDIR À INAUGURAÇÃO
A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, vai presidir, esta quarta-feira, 4 de Março, em Madrid, à inauguração da exposição “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808 – 1932, no Arquivo Histórico da Administração do Porto de Aveiro”. A inauguração está prevista para as 18 horas, na sala de exposições da Arquería de Nuevos Ministerios, Paseo de la Castellana. A presença da exposição em Madrid acontece sob o Alto Patrocínio do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (Portugal), e do Ministerio de Fomento (Espanha), sendo organizada pela Administração do Porto de Aveiro (APA, S.A.) e por Puertos del Estado. De registar o apoio da Câmara Municipal de Aveiro. Patente até 12 de Abril de 2009, a exposição, comissariada por João Carlos Garcia e Inês Amorim (ambos professores da Faculdade de Letras do Porto), cumpre em Madrid a quinta etapa de um circuito de itinerância pela Península Ibérica. A exposição é composta por quatro núcleos: - “I – A RIA DE AVEIRO”; “II – A BARRA DE AVEIRO”; “III – A NAVEGABILIDADE DA RIA DE AVEIRO”; “IV – AS MARINHAS DE SAL DA RIA DE AVEIRO”.
Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

domingo, 1 de março de 2009

SINAL +

A Igreja Católica não precisa de lições de solidariedade social
Centro de Dia (foto do meu arquivo) AS CONFISSÕES RELIGIOSAS TÊM O DIREITO
DE DEFENDER OS SEUS PRINCÍPIOS
A propósito das declarações recentes da hierarquia da Igreja Católica sobre o casamento de mulheres cristãs com muçulmanos e sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, ouvi acusações sem nexo. Que a Igreja não tinha nada que se meter nestes assuntos e que devia, isso sim, preocupar-se com a pobreza, com as injustiças sociais, com os marginalizados. Enfim, a Igreja devia fechar-se nos templos, ficar por lá a rezar, preocupando-se com o espiritual e deixar o resto para os políticos. Claro que esta posição de algumas cabecinhas pensadoras reflectem bem o seu gosto preferencial pelas sociedades de pensamento único, esquecendo-se que, numa democracia, todos, mas mesmo todos, têm o direito e a obrigação de expor e defender as suas opiniões e as suas convicções. Sem querer avançar com temas polémicos, que existem em todas as sociedades livres, permitam-me que lembre apenas que a Igreja Católica, como outras Igrejas cristãs e não cristãs, não precisa que lhe recordem as suas obrigações sociais, traduzidas, no nosso país e pelo mundo, através das mais diversificados respostas, muito concretas, em favor de quem sofre e de quem precisa. Basta olhar para o lado, com olhos de ver.
FM

Mais um livro de Mons. João Gaspar

Aveiro2009 – Recordando Efemérides

Mons. João Gaspar



“Quando penso na história milenar de Aveiro e da sua região, logo assoma em mim a rara sensação de uma estranha e única composição de terra, de água, de sol, de ar e de luz, que, no rodar da existência, é difícil encontrar em qualquer outra parte. As vagas do Atlântico, as ondinas da ria, as velas dos barcos, as proas dos moliceiros, o remanso do Vouga, a beleza dos horizontes, a pujança dos campos, o verde das florestas, o contorno das serranias, a diversidade das povoações, o primor dos edifícios, o sinuoso das ruas, a singularidade dos costumes, a característica do folclore, a animação das festas, a galhardia dos cortejos, o sentimento das devoções, a originalidade das maneiras, a esperança das famílias, a traquinice das crianças, o entusiasmo dos jovens, a faina dos marnotos, a labuta dos agricultores, a canseira dos trabalhadores, a preocupação dos empresários, o talento dos letrados, a formosura das mulheres, o altruísmo dos voluntários, a coragem dos mártires, a vida das terras, a graça das gentes…”

 In NA MEMÓRIA, do livro de Mons. João Gonçalves Gaspar

Ontem tive o privilégio de assistir ao lançamento do mais recente livro de Mons. João Gonçalves Gaspar – Aveiro2009 – Recordando Efemérides –, no Museu da Cidade. Apresentou a obra Delfim Bismark Ferreira. Teceu naturais e justos elogios ao autor, que já publicou mais de 30 títulos, a maioria dos quais à volta de Aveiro e sua região, mas também sobre vultos da história local. 
Mons. João Gaspar pensou este trabalho há uns três meses. Pegando na ideia, buscou na história e na memória o que de relevante aconteceu em cada mês, de muitos anos “redondos”. Começou, obviamente, pela data mais antiga – 12 de Junho de 922 – que se refere provavelmente a Aveiro. Diz assim: “D. Ordonho II, rei da Galiza e de Leão, assinou uma importante doação em favor do Mosteiro de Crestuma, onde se menciona o PORTU DE ALIOVIRIO; se este topónimo corresponder a uma anotação alterada de ‘Alavário’, temos aqui a primeira referência histórica a Aveiro.” 
Fiquemos então com esta data que assinala o primeiro “baptismo” de Aveiro. Mas o livro tem muitas outras curiosidades que nos levam a visitas bem guiadas, através dos séculos e até quase aos nossos dias, pela vida da terra aveirense e das suas gentes. Esta obra, com edição de excelente papel e profusamente ilustrada, insere-se perfeitamente nas celebrações dos 250 anos da elevação de Aveiro a cidade. 
Com capa de Hugo Rios, a partir de desenho de Sara Bandarra, e composição de José Luís Santos, este livro é um regalo para os olhos e para o espírito de quem sente o património histórico como parte integrante do seu próprio ser. 
Mons. João Gaspar, provavelmente o mais prolífero historiador aveirense, não se poupa e esforços para nos ofertar, com alguma frequência, lampejos da sua sensibilidade e do seu labor, carregados de aveirismo, onde o eixense, que ele é também, mergulhou há muito, com assinalada paixão. Deste trabalho haverei de falar e de escrever algumas vezes, ao sabor das efemérides que o autor tão bem soube registar em letra de forma, com belas e oportunas fotografias. 

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 120

BACALHAU EM DATAS – 10
ERA PRÓSPERA A PESCA NO REINADO DE D. SEBASTIÃO
Caríssimo/a:
1570 - «Por razões que se relacionam mais com o estado da barra,”não foi longa esta afluência de navios estrangeiros ao porto de Aveiro. [...] O entupimento da barra – afirma Marques Gomes – que começou em 1570, paralisou quase por completo o comércio marítimo.» [Oc45, 78] 
1571 -Nov 03 - «Também era próspera a pesca do bacalhau naquele reinado [D. Sebastião], determinando-se em 3 de Novembro de 1571 que a flotilha de Aveiro seguisse com a de Viana para os Bancos.» [MG, 170] «A lei de 3 de Novembro de 1571, § 23, faz referência à necessidade de os barcos se armarem e pelejarem, juntos, contra inimigos. “As naus que forem da Vila de Aveiro e Viana e de qualquer outra parte dos meus Reinos e Senhorios à pescaria do bacalhau, irão armadas e elegerão, entre si ao tempo em que partirem Capitão-mor, tudo conforme este regulamento [...]”.» [Oc45, 78] «No reinado de D. Sebastião, esta actividade continuava a desenvolver-se. Foi então publicado o “Regimento para as frotas da pesca do bacalhau”, pelo qual estas eram reorganizadas sob um mesmo comando». [HPB, 22] «Dos portos do Minho, Douro e da barra de Aveiro, saíam regularmente frotas que tiveram dos reis D. João III e D. Sebastião regimentos para seu governo.» [ in Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, Iniciativas Editoriais, 1979, Volume I, pág. 268] 
1572 - «Secou-se e beneficiou-se bacalhau entrado na barra da vila de Aveiro, cf. Documento existente no Arquivo Municipal de Aveiro.» [MG,341] «Quanto à seca de bacalhau, Mosés Amzalak cita um documento existente no Arquivo Municipal de Aveiro, onde se refere à existência desta actividade no porto de Aveiro em 1572. Ainda sobre este período do século XVI, escreve Francisco Salles Lencastre que o produto da pescaria do bacalhau opulentou várias terras de Portugal, principalmente Viana na Foz do Lima e Aveiro.» [HPB, 21] 
1576 - «Havia na Terra Nova pescando bacalhau, 50 navios portugueses, 30 ingleses e 100 espanhóis.» [HPB, 22] 
1578 - «Segundo um mercador de Bristol, Anthony Parkhurst, “havia na Terra Nova mais de 100 velas espanholas pescando bacalhau, 50 velas portuguesas e 150 francesas e bretãs e 50 inglesas”.» [HPB, 21] A História reserva-nos muitas surpresas, habituados como estamos a sombras, sonhos, ... fantasmas, leituras rápidas, pouca reflexão/investigação... D. Sebastião [1554-1578, em 1568 assume o trono aos 14 anos], Alcácer Quibir, Sebastianismo... Quem de nós, ao falar no rei D. Sebastião, pensaria em ... pesca de bacalhau!?... Ainda mais: estando nós no início da Quaresma, imaginaremos a importância e influência da religião sobre a pesca do bacalhau? Pois vejamos: 
«Cedo o bacalhau salgado e seco se torna um alimento importante em Portugal. Dos portos do Norte do País e de Lisboa saem expedições anuais que trazem o peixe, cujo consumo se populariza. A obrigatoriedade religiosa de abstinência de carne nos dias magros decretados pela Igreja forçava a explorar aqueles recursos imensos.» [Oc45, 5] «A necessidade era imperiosa, já que a pesca era o alimento básico dos europeus dos séculos XV e XVI, para além do preceito religioso que impedia os cristãos de ingerir carne durante mais de metade dos dias do ano.» [Oc45, 24] 

 Manuel

DEIXA-TE TENTAR

“Deixa-te tentar” pelo desafio do caminho a percorrer, se queres chegar à meta; pela luta a travar, se pretendes alcançar vitória; pela fidelidade diária, se desejas saborear a felicidade; pelo esforço constante, se sonhas ter o êxito ansiado. Deixa-te tentar, sente o estímulo que te desperta energias e avança sem cedências nem mistificações. Deixa-te tentar pelo apelo da consciência, se aprecias a paz interior e valoras a rectidão do proceder; pelos segredos do coração, se cultivas o encanto da surpresa e estás aberto à novidade que humaniza; pela força da emotividade racional, se desejas avivar o humano que há em ti e viver em harmonia e liberdade. Deixa-te tentar, aprecia a verdade que liberta e o caminho que conduz à vida. Sem vacilações, animado pela esperança, valorizando sempre os passos dados. Deixa-te tentar pela presença amiga dos outros, se acreditas na força da solidariedade e na mais valia da reciprocidade; pela cooperação sustentável e pelas exigências da subsidiariedade, se queres “fazer um mergulho” em profundidade e desvelar o que existe de melhor na tua interioridade; pelo bem comum de todos, vencendo egoísmos talvez justificáveis, se aspiras a ter um coração à medida do universo e a ser amigo do mundo que Deus cuida com amor de serviço. Deixa-te tentar, dá espaço a um novo olhar, lança lufadas de ar fresco na monotonia bafienta das rotinas e abre horizontes à estreiteza do êxito fácil e imediato. Define-te pela afirmação, pelo sim generoso, pela entrega solícita, pelo serviço voluntário e solidário. Deixa-te tentar pela probabilidade consistente, para não dizer pela certeza absoluta, de que Deus cuida de nós com amor p/materno e está pronto a colaborar connosco para que se vençam todas as crises que desumanizam as pessoas e vitimam inocentes de todas as categorias, destroem espécies únicas da fauna e da flora indispensáveis ao equilíbrio do cosmos, poluem o planeta terra arruinando o jardim-casa de cada ser humano e de toda a humanidade. Deixa-te tentar, se pretendes sinceramente que o teu “eu” aflore com autenticidade e o teu agir seja coerente e sincero. Ceder a tão entusiasmante e oportuna tentação é atitude positiva, sinal de clarividência constante, caminho viável e seguro de realização, penhor antecipado de bênção feliz. Facilita o auto-conhecimento, fideliza a autenticidade, reforça a relação solidária e alicerça no presente as pontes do futuro.
Georgino Rocha

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Os nossos emigrantes

Tito Estanqueiro na primeira pessoa

O brasileiro é alegre e muito dado a festas


Quando cheguei ao Brasil, em 1981, tinha apenas 15 anos. Vivia o fervor da adolescência e a vontade de trilhar um caminho diferente, pois sentia que em Portugal as possibilidades não seriam muito grandes. Recebeu-me meu saudoso pai, Manuel Teixeira Estanqueiro, mais conhecido por Manuel Rito, com todo o carinho de quem muito queria a minha presença por perto.

 Manaus foi a cidade que me acolheu nos primeiros tempos. Era uma cidade de ruas largas, praças grandes, mas pouco cuidadas, e o Teatro Amazonas, fruto do período áureo do ciclo da borracha, sobressaía pela sua imponência. Tudo muito diferente da região de Aveiro.
Verifiquei de imediato que o brasileiro é alegre, muito dado a festas para comemorar tudo, com o churrasquinho no final do expediente ou a propósito de um simples jogo particular da selecção brasileira, que faz parar o país. Imaginem como é quando se trata de competição oficial para a Copa do Mundo.
As saudades não faltaram e subsistem, mas a forma como o brasileiro tudo faz para que qualquer um, que aqui chega, se sinta em casa, foi e é a tónica dominante que me fez ficar por cá até hoje.
Senti saudades da minha mãe e irmã, tal como de outros familiares e amigos. As telecomunicações não eram tão desenvolvidas como hoje. Lembro-me de ter ligado para saber o resultado final de um jogo do nosso Sporting, com que dificuldades! Tudo isto me alimentava o sonho de um dia regressar a Portugal, para estar mais perto da família e para desfrutar das coisas boas em que o nosso país é pródigo. Naquela altura, as saudades de Portugal eram de certa maneira “combatidas” com a Emissora Nacional, mesmo que as ondas curtas não permitissem escutar, com precisão, as informações e a música portuguesa.
Falando do “Funchal”, recordo que o meu pai, piloto aviador comercial, não deixava de fazer um voo rasante sobre o paquete, quando ele navegava entre Santarém e Manaus, caso passasse próximo. Desde que cheguei, convivi com jovens da minha idade, embora houvesse uma enorme diferença no relacionamento. O jovem brasileiro era mais ousado... e as meninas muito atrevidas. Entrei na escola técnica para frequentar o segundo grau (que dá acesso ao ensino superior), que não completei. Aí vi que não havia respeito para com os professores, como era habitual em Portugal. Mas nas áreas do conhecimento, não havia grandes diferenças. Com o falecimento do meu pai, num acidente de aviação, em Junho de 1982, só mais tarde, como autodidacta, me preparei e fiz os exames do segundo grau.
Perder o pai é sempre um trauma, mas a vida ensinou-me que temos de estar preparados para tudo. Talvez isso explique uma das grandes verdades que o brasileiro diz: “para que você ouse o máximo no seu dia-a-dia, viva hoje como se fosse o seu último dia, pois um dia você acerta.” Depois, em 1984, tirei o brevet de piloto comercial e comecei a voar para os locais mais distantes da Amazónia, onde o acesso só era possível por navegação fluvial ou aérea. Mesmo aí, o brasileiro acolhia os forasteiros, oferecendo-lhes o que de melhor havia na cidade.
O povo impressionou-me pela sua forma de encarar a vida, de viver o Carnaval, de opinar sobre tudo o que no dia-a-dia o afecta. Posso dizer que, pese embora as dificuldades, que são enormes, pelas disparidades regionais, é um povo muito empreendedor. Após a incursão pela aviação, mudei-me para Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, Estado que tem a maior parte do bioma Pantanal. Ingressei na Universidade Pública e completei a licenciatura de Ciências Económicas, com a qual voltei ao mercado de trabalho. Mais tarde, surgiu a possibilidade de tirar o mestrado em Ciências Económicas e lá consegui essa meta com algum brilhantismo. Foram tempos divididos entre Campo Grande e São Paulo. Esta última cidade é, sem dúvida, única; não falta nada, tem tudo o que se pode imaginar. Se visitar não deixe de conhecer o Mercado Municipal e o Museu da Língua Portuguesa. Vale a pena. Permitam-me que evoque um grande amigo, já falecido, António M. Cravo Cascais, com quem privei imensos momentos e de quem lembro a sua inegável dedicação e preocupação, após o falecimento do meu pai. Estou-lhe muito grato.
Depois de uma tentativa falhada de regressar de vez à Gafanha da Nazaré, com a Débora, pensei que talvez tenha errado em ter emigrado, mas, como diz a Ti Vitória, minha avó, agora “não adianta chorar pelo leite derramado”.
A minha vida, presentemente, está assente no Brasil. Em 2006, fruto das amizades realizadas e da competência que me é reconhecida, passei a desempenhar funções de director técnico da SEBRAE/MS, no Mato Grosso do Sul, uma instituição que apoia as micro e pequenas empresa. Assim, passei a ter a nossa Gafanha da Nazaré apenas como local das minhas férias, até porque empreendi novos desafios que vieram com a chegada do João Vítor, primeiro filho, e das novas responsabilidades assumidas.


Oásis de progresso

Quando havia a oportunidade, lá dava eu um pulo a Portugal para rever família e amigos. O período mais difícil foi entre 1982 a 1985, quando passei quase mil dias longe do que eu mais considero. Esse interregno ensinou-me que o dinheiro vale para ser usado em vida. De nada adiantaria eu fazer o habitual que os portugueses fazem: montar uma padaria, passar 20 anos sem ir a Portugal e depois regressar com alguma pompa. Quantas histórias parecidas escutei!
Desde 1985, quase todos os anos visito os parentes e amigos, como diria o meu bisavô, Ti Sarabando. Já são mais de 25 viagens que muito contribuíram para estar na nossa Gafanha.
As visitas são corridas, falta tempo para estar com todos, para partilhar horas de convívio, mas não deixo de ouvir quem me conta como tem evoluído a nossa terra. Sou um defensor do desenvolvimento económico, mas digo que faltou, durante imenso tempo, visão a alguns líderes políticos para reclamarem a expansão do Porto de Aveiro. Perdemos a chance de ter um desenvolvimento sustentável para as nossas gentes, implementando uma marina e a respectiva envolvente, que geraria mais emprego e poderia permitir uma outra dinâmica, colocando esse ponto ocidental da costa atlântica como oásis do progresso. Mas os novos Portos de Aveiro aí estão a preparar-se, certamente, para assumir um grande futuro, embora por vezes algumas obras portuárias descaracterizem o bucolismo da sempre acolhedora terra dos nossos pais e avós. ~

Texto elaborado a partir de uma entrevista, via e-mail, com o Tito Estanqueiro, economista, emigrante no Brasil, mas com as marcas das saudades da nossa terra e das nossas gentes bem presentes.

Fernando Martins

AUTOCARROS ATEUS E CRISTÃOS

O slogan "Deus provavelmente não existe. Deixe, pois, de se preocupar e goze a vida", que tinha começado por percorrer Londres, chegou à Espanha, nomeadamente a Barcelona e a Madrid, devendo alcançar outras cidades espanholas.
Como já aqui escrevi, trata-se, antes de mais, de um acto de liberdade de expressão. No quadro do respeito pela lei, todos têm direito a manifestar as suas opiniões e crenças. Este direito é, evidentemente, extensivo aos ateus.
Depois, é interessante que no "cartaz" se leia: "provavelmente". Não se diz que não há Deus, diz--se que "provavelmente" não há. Isto significa que os autores dos cartazes perceberam que não podem demonstrar a não existência de Deus. A afirmação da existência de Deus ou da sua não existência não é objecto de ciência, pois não pode haver verificação empírica. O ateu não pode dizer que "sabe" que não há Deus; ele apenas pode dizer que "crê" que não há Deus. Como o crente também não "sabe" que Deus existe; ele "crê" que Deus existe.
E entende-se todo este movimento ateu, que deve obrigar os crentes a pensar. Não foram frequentemente os crentes que deram uma imagem de Deus que obrigava ao ateísmo? Não se deve ser ateu face a um Deus mesquinho e ridículo - pense-se, por exemplo, no criacionismo americano, segundo o qual os primeiros capítulos do Génesis devem ser tomados à letra -, invejoso da alegria dos humanos e impedindo a sua realização e felicidade?
É precisamente o que se dá a entender na segunda parte do slogan: "Deixe de se preocupar e goze a vida." Deus aparece como impedindo a alegria de viver, de tal modo que a probabilidade da sua não existência seria o pressuposto para finalmente se viver de modo expansivamente humano.
Isso deve levar os crentes a reflectir, pois, embora seja fonte de vida, de salvação e realização plena da existência, de facto, muitas vezes foi pregado um Deus que amesquinha a vida, um Deus incompatível com a ciência, um Deus vingativo - ele até apanharia os ateus no inferno... -, um Deus desgraçadamente invocado para legitimar o que é contra Deus: a violência, o terrorismo, a guerra.
Mas também é preciso perguntar aos autores dos cartazes: que entendem por "deixe de preocupar-se e goze a vida"? Seja como for, crentes e não crentes têm de viver com responsabilidade e empenhar-se na luta por uma vida boa e justa para todos.
O lema do cartaz programado para a Itália pela União de Ateus e Agnósticos Racionalistas seria: "A má notícia é que Deus não existe. A boa é que não é preciso."Parece que foi impedido pelas autoridades. Lamentavelmente, pois esta publicidade dos autocarros ateus obriga toda a gente a pensar e é bom e urgente pensar no mais importante. O pior é não pensar, não se interrogar. A pergunta por Deus, seja para afirmá-lo seja para negá-lo, é a pergunta maior e é mesmo o fundamento da dignidade humana. O ser humano é digno, porque pode perguntar pelo Infinito.
Mas, afinal, Deus não é preciso? Também o crente reconhece que Deus não pode ser um tapa-buracos, a compensação para a nossa ignorância e impotência, a legitimação ideológica da ordem social e política ou a chave de abóbada de um sistema.
De qualquer modo, Deus tem a ver com o sentido último e a salvação. Foi talvez neste quadro que Nietzsche, sete anos antes de enlouquecer, escreveu a Ida, mulher do amigo F. Overbeck, pedindo-lhe que não abandonasse a ideia de Deus: "Eu abandonei-a, não posso nem quero voltar atrás, desmorono-me continuamente, mas isso não me importa." Como escreveu Wittgenstein, "crer num Deus quer dizer compreender a questão do sentido da vida, ver que os factos do mundo não são, portanto, tudo. Crer em Deus quer dizer que a vida tem um sentido".
Nas ruas de Madrid, compareceram também autocarros cristãos: "Deus existe. Desfruta a vida em Cristo." Claro que há esse direito. Mas seria lamentável uma "guerra" de cartazes. Os crentes devem sobretudo testemunhar Deus pela vida, pela combate a favor da justiça, pelo amor. E é também fundamental uma pastoral da inteligência, no diálogo entre a fé e a razão.
Anselmo Borges
In DN

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