domingo, 1 de fevereiro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 116

BACALHAU EM DATAS - 6 ;

Santa Maria Manuela

CARTAS... E COLÓNIAS
Caríssimo/a:
Depois de termos lido o que escreveu o nosso amigo capitão Valdemar sobre a pesca do bacalhau nesses recuados tempos, iremos constatar que nem só de pesca se tratava e que, pelos vistos, muito mais estava em jogo. Afinal a ciência estava sempre presente e era uma constante nas navegações dos Portugueses...
1500 - «Por volta de 1500, no hemisfério norte, [os Portugueses] terão provavelmente chegado à Gronelândia, ao Labrador e à Terra Nova. Na década de 1520, tentaram estabelecer uma colónia na ilha de Cape Breton e, em meados do século XVI, na Nova Escócia.» [in Um Mundo em Movimento- Os Portugueses na África, Ásia e América (1415-1808), de A. J. R. Russell-Wood, DIFEL- Difusão Editorial, S.A., Lisboa, 1998, pp. 19-20]
1502 - «O planisfério dito de Cantino, de 1502, “é a primeira carta a dar uma incipiente representação da Terra Nova, sob a designação de Terra del Rey de Portugal!”» [Oc45, 77] «O que assinalamos como importante na viagem de Gaspar Corte Real foi o facto de a partir dela se ter elaborado o planisfério de Cantino pelo qual se divulgava um primeiro mapa menos fantasioso dessas regiões...» [HPB, 20]
1504 - «Carta de Pedro Reinel que representa a Ocidente, no Atlântico Norte, a região da Terra Nova e regiões próximas. Os autores de cartografia defendem que esta carta foi o resultado da viagem de Miguel Corte Real em 1502 e outra que se seguiu em 1503, em busca deste navegador e de seu irmão Gaspar Corte Real, viagens em vão quanto ao objectivo primordial, mas que mantiveram o reconhecimento sistemático da orla marítima oriental da Terra Nova e regiões vizinhas, a norte e a sul, portanto muito importantes como fontes adequadas para os cartógrafos e para a história da geografia.» [Oc45, 32] «Os primeiros empreendedores quiseram associar-se com alguns da Ilha Terceira, e assim combinados fizeram partir uma colónia para se estabelecer na Terra Nova, e isto com tanta brevidade que quando os Bretões e os Normandos ali chegaram, em 1504, já acharam, segundo J. Verazanni [na relação da viagem que fez à Terra Nova ao serviço da França, publicada em 1525], os portugueses de posse de uma parte da costa; o que os fez contentar com o reconhecimento da outra porção, tanto para Norte como para Sul da que os nossos já ocupavam, e aonde faziam as suas pescarias.» [Oc45, 77 ] Manuel

sábado, 31 de janeiro de 2009

Um livro de Anselmo Borges

JANELA DO (IN)FINITO
Acabei de ler, há dias, mais um livro de Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra. Melhor dizendo, reli as crónicas que semanalmente escreve no Diário de Notícias e que eu, com muito gosto, coloco no meu blogue, onde também podem ser lidas e relidas. Deste autor já conhecia Janela do (In)Visível e Religião: Opressão ou Libertação?, duas obras que, como a que apresento hoje, me ajudaram e ajudam a pensar. Mais: que me oferecem conhecimentos, me encaminham para outras leituras e me suscitam reflexões. Antes de começar a leitura, crónica a crónica, tive o cuidado de ler, serenamente, o Prefácio de Guilherme d’Oliveira Martins, cujo título, Uma janela que permite olhar o mundo, garante, à partida, a certeza de que sairemos mais enriquecidos quando chegarmos à última página. E assim foi, realmente. A importância das releituras está na descoberta de novas mensagens, novas ideias e novas pistas, por paradoxal que possa parecer. Como a “janela” volta à liça, o que denota um certo mistério do autor pelo vocábulo, aproveitei a Palavra de Abertura, de Anselmo Borges, para ficar esclarecido. Diz ele que “O fascínio de uma janela está em que se vê de fora para dentro e de dentro para fora, mas de tal maneira que as duas visões não são coincidentes”. Depois continua com o porquê desse fascínio, talvez muito próprio dos filósofos, mas não adianto mais para deixar aos seus leitores, sobretudo aos que ainda não pegaram nesta obra, o prazer de lerem tudo, de fio a pavio. Voltando ao Prefácio, permitam-me que sublinhe uma curta passagem de Oliveira Martins: “Basta ler com atenção. Eis o apelo permanente que estes textos contêm. Longe da placidez ou da facilidade. Anselmo Borges põe o dedo nas feridas, põe-nos em causa e põe-se em causa. E, longe das receitas, apela constantemente para a liberdade e responsabilidade.” E noutra passagem, refere que os textos deste livro “são excelentes motivos de reflexão sobre um conjunto vasto de temas relacionados com o fenómeno religioso, com o diálogo entre religiões, com a relação entre fé e razão, com a diversidade das culturas, e também com a evolução da humanidade num mundo globalizado”. Janela do (In)Finito é, pois, um livro para ter sempre à mão. A qualquer momento, o esclarecimento pode estar lá. Fernando Martins

DOCUMENTO DE MUMADONA EM EXPOSIÇÃO NO MUSEU DA CIDADE

Até 26 de Abril
A "Exposição 'BI Aveiro' conta já com os originais que estavam em falta, nomeadamente, o documento de doação da Condessa Mumadona Dias ao mosteiro de Guimarães de vários bens patrimoniais, entre os quais se encontra a referência a “Alauario et salinas” com data de 26 de Janeiro de 959. A mostra, patente no Museu da Cidade até ao dia 26 de Abril, é um reflexo da identidade de Aveiro, os documentos expressam bem essa perspectiva. Neste sentido, as peças seleccionadas prendem-se, em boa parte, com um cariz administrativo tendo subjacente a organização do território, a sua definição e valorização ao nível local e por reconhecimento de instâncias superiores. A mostra pode ser visitada de Terça a Domingo, das 10 às 12.30 horas e das 14.30 às 19 horas. Tem entrada livre.”
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A BARRICA foi remodelada

Embora atravessando graves problemas económicos, A Barrica, com a colaboração da Câmara Municipal de Aveiro e da Federação Portuguesa de Artes & Ofícios, remodelou o seu posto de venda, situado na Praça Joaquim de Melo Freitas, em Aveiro. A reabertura foi hoje, sábado, 31 de Janeiro, pelas 10 horas da manhã. Isto significa que os apreciadores do artesanato já por lá podem passar, com a certeza de que haverá novidades a ter em conta.

GAFANHA DA NAZARÉ: Residências paroquiais

Nesta casa residiu o padre Guerra até deixar de ser Prior da Gafanha da Nazaré
"Quando o padre José Francisco Corujo (Prior Guerra) veio para a Gafanha da Nazaré, foi necessário, então, preparar-lhe uma residência. A comissão da paróquia arrendou, por isso, uma casa, na Chave, pertencente ao proprietário Manuel Cravo. Mais tarde, o prior Guerra mudou-se para uma outra casa, que ainda existe, na actual Av. José Estêvão, e que era pertença do mestre José Lopes Conde, conhecido por mestre José Lázaro. Ali residiu até deixar de ser prior da nossa terra, em 1947."
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O sol brilhou

Não sei se por muito tempo, mas o sol brilhou hoje. Deu, para já, para sair de casa, porque cansado de estar fechado andava eu. Respirei um ar mais fresco, encontrei amigos, cavaqueei com alguns, senti-me outro. Foi bom andar por aí, fotografar umas coisas úteis para mais um texto nos meus blogues. Registei o palpitar de gente apressada e gostei de ansiar por dias agradáveis, sem frio, sem vento e sem chuva. Eles hão-de vir para poder usufruir dos ambientes que me acalentam há sete décadas.

SIMONE WEIL: FILÓSOFA E MÍSTICA

SIMONE WEIL: FILÓSOFA E MÍSTICA
Faria 100 anos na próxima terça-feira. Nasceu no dia 3 de Fevereiro de 1909, mas morreu jovem, com 34 anos apenas. Chamava-se Simone Weil, e era de ascendência judaica. Figura complexa, filósofa de formação - as Obras Completas, na Gallimard, completarão sete volumes -, professora de Filosofia, viveu intensamente os dramas da primeira metade do século XX. No seu número de Janeiro, Philosophie Magazine consagrou-lhe um dossier, sublinhando "a originalidade" da sua filosofia, na confluência articulada de experiência real, reflexão e acção. Aí se relata como a foram encontrar, com 11 anos apenas, no meio de uma manifestação de grevistas no boulevard Saint-Germain. Simone de Beauvoir refere nas suas Memórias um encontro na Sorbonne: Weil jura apenas pela Revolução que "daria de comer a toda a gente" e a Beauvoir, que sustenta que o verdadeiro problema é o de "encontrar um sentido" para a existência", replica: "Vê-se bem que nunca passaste fome!" Para perceber a alienação dos operários, tornou-se ela própria operária e sindicalizou-se: "Enquanto nos não tivermos colocado do lado dos oprimidos, para sentir com eles, não se pode tomar consciência." Esgotada pela incapacidade de seguir a cadência infernal da produção, dirá que aí "o pensamento se encarquilha como a carne diante do bisturi". Visionária, viu claramente que a libertação não viria nem do fascismo nem do comunismo, abstracções "ávidas de sangue humano" que remetem para "duas concepções políticas e sociais quase idênticas". Denunciou a exploração da classe operária e o colonialismo, mas manteve-se crítica face ao comunismo. Pôs-se ao lado da Resistência, reivindicando "uma forma de ofensiva", mas excluindo a violência das armas. Comprometida com a liberdade e a libertação, manteve-se distante dos partidos políticos e da Igreja. Sobre os partidos escreveu que se trata de "organismos, publicamente, oficialmente constituídos de modo a matar nas almas o sentido da verdade e da justiça". Quanto à Igreja, temia a sua intolerância. Ficou, pois, à porta, pensando que a sua vocação era permanecer "cristã fora da Igreja". Embora educada no agnosticismo, viveu intensamente à "espera de Deus". Deus não deve ser tanto procurado como esperado como graça. Essa graça consiste em "morrer para si mesmo", ser "des-criado" e depois "re-criado" em Deus. Nesta espera, foi determinante uma experiência em Portugal em 1935, na Póvoa de Varzim. Ela que sabia o que era o sofrimento, assistindo a uma procissão em honra da padroeira, com velas e cânticos de uma tristeza pungente - "Eu nunca escutei nada mais pungente" -, teve repentinamente "a certeza de que o cristianismo é por excelência a religião dos escravos, que os escravos não podem não aderir a ele, e eu também". Fui reler a sua obra Carta a um Homem Religioso, onde levanta a lista dos obstáculos que a mantiveram fora da Igreja. Tudo se resume nesta afirmação: "A Verdade essencial é que Deus é o Bem. Ele só é a omnipotência por acréscimo." Por isso, "é falsa toda a concepção de Deus incompatível com um movimento de caridade pura. Todas as outras são verdadeiras, em graus diferentes". Os únicos milagres são os do amor, de tal modo que "Hitler poderia morrer e ressuscitar 50 vezes que eu não o veria nunca como filho de Deus". "A forma de pensar de Cristo era a de que devíamos reconhecê-lo como santo porque ele fazia o bem perpétua e exclusivamente." A Igreja centrou-se no dogma, que levou ao anátema e, assim, "estabeleceu um início de totalitarismo". "Os partidos totalitários formaram-se devido ao efeito de um mecanismo análogo ao da fórmula anathema sit. Esta fórmula e o seu uso impedem a Igreja de ser católica, a não ser de nome." A parábola do bom Samaritano "deveria ter ensinado a Igreja a nunca mais excomungar quem quer que fosse que praticasse o amor ao próximo". Só o amor salva: "Qualquer pessoa que seja capaz de um gesto de compaixão pura para com um infeliz (coisa, aliás, muito rara) possui, talvez implicitamente mas sempre realmente, o amor de Deus e a fé." Anselmo Borges, in DN