CARREIROS E CAMINHOS
Caríssima/o:
Uma das minhas netas salta de cadeira para cadeira e, sem deixarmos entrever o sorriso, temos de a admoestar “que te podes magoar”... E nas férias a tentação maior é a ameixoeira do quintal que, uns e outros, trepam e sobem pelos ramos, como andarilhos ou arrastando a roupa pelos troncos... Felizes que têm um quintal...
Comparativamente à nossa liberdade e actividade, não serão muito afortunados, apesar disso; é que a nossa imaginação e a necessidade de medir forças e velocidades com os outros levavam-nos a caminhos e carreiros só conhecidos por nós (assim pensávamos...). Verdade seja que as estradas ou ruas, como agora se diz, eram poucas e magoavam os pés porque tinham muitas pedrinhas soltas, obrigando-nos a andarmos aos saltos nas pontas dos pés. E aqueles caminhos e carreiros iam mudando conforme a estação, oferecendo-nos aventuras as mais diversas. Vede, em pleno Dezembro, o caminho transformado em autêntico regato para as corridas dos nossos barcos de papel ou de casqueira e para a colheita das enguias que 'se criam' nas valetas. Também as suas areias argilosas molhadas se aproveitam para as construções...
Quantas vezes fazíamos carreiros pelas cabeceiras dos terrenos lavrados e plantados, driblando os ralhos do lavrador e de sua mulher que os sublinhavam com algum torrão que nos perseguia .
Eram ainda estes caminhos e carreiros que, mais tarde, nos levariam à Escola, debaixo das recomendações de nossos pais para que tivéssemos cuidado... para não nos aleijarmos,... que além disso não iam as suas preocupações!
[Quando vejo as estatísticas dos jogadores informando-nos de quantos quilómetros percorrem durante um jogo, começam logo a desbobinar na minha mente as idas e vindas de e para a Escola, as voltas e voltinhas nos recreios, as corridas, os jogos,... Mas também não admira: nós de vez em quando comíamos caldo de feijão...]
Manuel