terça-feira, 8 de julho de 2008

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

Mulher da seca e moço da marinha (foto de 1989)
UM QUARTO DE SÉCULO AO SERVIÇO DA CULTURA Quem tem acompanhado de perto, tanto quanto é possível, a vida do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, não pode deixar de reconhecer o muito que tem feito em prol da cultura da nossa região. Tanto na pesquisa e estudo das nossas raízes etnográficas como nos palcos nacionais e internacionais, onde tem exibido as nossas tradições dos fins do século XIX e princípios do século XX. Com os primeiros passos andados no seio da Catequese Paroquial, em 1980/81, por sugestão do prior da Gafanha da Nazaré, Padre Miguel Lencastre, que propôs para a festa final do ano catequético umas danças e cantares dos nossos antepassados, em 1 de Setembro de 1983 o Grupo Etnográfico era já uma instituição que alimentava o propósito de pesquisar, estudar e divulgar os usos e costumes dos nossos avoengos. Num mundo marcado pela globalização, onde os interesses dominantes se inclinam para a vertente económica, presentemente a mola real da vida colectiva, só temos que louvar quantos acreditam que se torna imperioso preservar as nossas raízes, alicerces indeléveis do presente e força impulsionadora da manutenção da identidade do nosso povo. Ora é isso que o Grupo Etnográfico tem feito, oficialmente, ao longo do último quarto de século, com o reconhecimento de quantos estão atentos à riqueza do nosso passado e de todos os que apostam na importância, insofismável, da cultura, em geral, e da sua matriz popular, a tal que está impregnada, de modo indiscutível, na alma das gentes. Desde a primeira hora que esta instituição levou muito a sério a preocupação de pesquisar com verdade, de estudar os usos e costumes com rigor e de apresentar o fruto desse trabalho com exemplar dignidade, levando, no seu dia-a-dia, muitos jovens, de todas as idades, a aderirem a este desafio e a tudo o que lhe está associado na ordem cultural, social e recreativa. Garante, assim, uma continuidade que nos há-de projectar nos próximos futuros, se todos os seus membros e amigos souberem dar as mãos e criar estímulos para prosseguirem na caminhada com determinação, rumo a uma sociedade mais solidária e mais aberta ao mundo, sem perder o lema de elevar o homem todo e todos os homens. Como sinais marcantes do seu dinamismo, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré não se tem ficado por aquilo que é mais normal numa instituição do género, ligada à Federação do Folclore Português, porque os seus anseios e iniciativas têm ido para além disso. Organiza três festivais anuais na Gafanha da Nazaré, participa em muitos outros, quer a nível nacional quer internacional, promove colóquios etnográficos, edita todos os anos uma brochura com notas referentes ao seu trabalho, administra e dinamiza a Casa Gafanhoa, pólo do Museu Marítimo de Ílhavo, preserva as marcas do passado, enfim, integra, nos nossos quotidianos, muito do que nos legaram os nossos avós. Valoriza, por esta forma, a alma e o sentir dos gafanhões e de quantos, oriundos dos mais variados recantos de Portugal e do estrangeiro, se tornaram gente nossa, perfeitamente identificada com dunas, planuras, ria, esteiros, praias, mar e horizontes a perder de vista. Fernando Martins

segunda-feira, 7 de julho de 2008

D. Manuel II e Aveiro



Uma Visita Histórica - 27 de Novembro de 1908



No livro “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, o autor, Armando Tavares da Silva, oferece aos seus leitores pormenores curiosos, através de uma escrita acessível e de grande rigor, mas também atraente. Leva, assim, quem gosta de história a interessar-se por este assunto, o de um Rei que passou pela nossa região, suscitando manifestações de carinho. E refere, ainda, a Gafanha, como terra de passagem. A dado passo, e ao descrever o passeio fluvial, diz que próximo à ponte da Gafanha formaram alas, «mais de 800 cyclistas, perfilados ao lado das suas bicycletas e que á chegada de el-rei levantaram calorosos vivas». Nessa altura, uma comissão, “abeirando-se do automóvel real, entregou ao monarca uma representação em que pedia a revisão da «lei da contribuição sumptuaria no que respeita[va] a possuidores de velocípedes», e a suspensão do andamento dos processos em juízo”. Mais adiante, salienta que depois da volta «Pessoas de todas as classes davam vivas a El-rei, misturando as suas vozes com as notas do hymno nacional tocado pelas bandas que vinham a bordo. Na margem, uma immensidade de povo, carros, cyclistas, etc., que o tinham ido esperar á Gafanha, faziam tambem a sua volta a Aveiro». «Desde a ponte da Gafanha até ás Pirâmides, o monarcha teve um verdadeiro passeio triunphal, aclamado pela multidão, que se apinhava nas margens, com verdadeiro entusiasmo». Posteriormente, na Câmara Municipal de Aveiro, «El-Rei poz ao peito do barqueiro Antonio Roque, da Gafanha, uma medalha de merito, philantropia e generosidade, abraçando-se ambos enternecidamente».
Deste texto retiramos algumas curiosidades, que vale a pena comentar. A primeira diz respeito ao número elevado (oito centenas; é obra, há cem anos!) de ciclistas que se juntaram para saudar o rei, mas também para protestar contra um imposto que lhes estava a ser aplicado. Naquele tempo, ter uma bicicleta era um luxo, que obrigava a pagar o imposto sumptuário. Presentemente, pagamos impostos por tudo e por nada, mas, que eu saiba, não há impostos que incidam sobre riquezas sumptuárias ou sobre a ostentação de riquezas que ofendem a pobreza da maioria dos portugueses.
Depois, ficámos a saber que um gafanhão, António Roque, provavelmente o mestre que conduziu o barco real, foi homenageado pelo rei. Interessante seria saber quem foi ele e quem são os seus descendentes, porque Roques há muitos aqui na Gafanha. Haverá por aí a medalha e o respectivo diploma? Fico à espera de achegas!

FM

NOTA: As fotos desta página foram publicadas no livro que lembra a Visita do Rei D. Manuel II a Aveiro, em Novembro de 1908, da autoria de Armando Tavares da Silva. A sua publicação no meu blogue foi autorizada, como “Documento cedido pelo ANTT”. FM

NA LINHA DA UTOPIA

Quem debate a pobreza?
1. Começa mais uma cimeira dos oito países mais ricos do mundo, designados elegantemente de G8. Por contraditório, com tanta riqueza junta, um dos temas de fundo a debater é a pobreza no mundo actual, particularmente em África. Verifica-se que são os que menos poderiam falar que têm quase toda a palavra; um debate que, embora integre (fica sempre bem) algumas figuras dos chamados países pobres, parece cabalmente inquinado à partida. Os “exploradores” marcam agenda para reflectir alguns dias sobre como encontrar soluções para terminar com a pobreza nos países e sectores que exploram; são os principais produtores de tecnologia e energia que geram dependência do resto do mundo; países G8 que ao longo de todo o ano procuram estratégia para ter mais, subtraindo aos que menos têm que, agora, fazem a pausa simpática para “perdoar” uns “cobres” e prometer algumas medidas de boa vontade, quase tocando aquela “solidariedade egoísta” em que dá sempre jeito haver pobres… Pois, é a dureza da verdade! 2. O escândalo, hoje tornado mediático, do flagelo da miséria e da fome crescente que atravessa e agrava muitos países não se compadece com o “discurso da circunstância”. Esta realidade crua de, na generalidade, os países ricos debaterem a pobreza dos outros deixa um amargo de boca em bocas sem pão. Não está, à partida e com isenção, em causa nenhuma linhagem política nem económica; mas estão gravemente em causa todas essas forças quando elas impedem o desenvolvimento das suas sociedades ou provocam mesmo o seu próprio subdesenvolvimento. Também o mega-fenómeno das manifestações anti-globalização, que já fazem parte da tradição no acompanhamento paralelo das cimeiras, nada adiantam de especial a não ser a própria afirmação da globalização no “grito” da desordenança global. As fronteiras são ténues; mas quanto mais alguns procuram refugiar o debate da pobreza mais a multidão de pobres caminha para a rebelião… Precisamos da racionalidade. 3. As instâncias da Organização das Nações Unidas a par de dinâmicas da sociedade civil continuam a ser o fórum próprio para a questão de fundo da pobreza ser justamente debatida na óptica do desenvolvimento dos povos. Cada semana que passa o fosso riqueza / pobreza agrava-se, não numa generalidade filosófico-política mas na vida de pessoas como nós, onde a luta pela sobrevivência assume contornos dramáticos. As instâncias devidas, desfocadas e porventura comodamente instaladas, estão a receber sinais decisivos até ao clímax das mudanças sócio-políticas. A insustentabilidade do modelo de sociedade actual está bem espelhado na crise dos mais variados recursos que obrigarão ao profundo repensar dos paradigmas de desenvolvimento. Nesta procura de justiça já é muito “tarde”, e tudo fica sempre por dizer… Mas que do norte do Japão, onde ocorre a isolada cimeira do G8 com países africanos, venha “ar fresco”… Mais que ajuda económica (dar o peixe), já prometida em 2005, provenham justas condições ao desenvolvimento (ensinar a pescar). Tudo passa pela Verdade do interesse…

Festival Nacional de Folclore

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré na Polónia
É já no próximo sábado, 12 de Julho, que se realizará o XXV Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré. Trata-se de uma organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em maré de celebrações dos seus 25 anos em prol da cultura.
Para além do grupo anfitrião, o Festival conta com a participação dos Grupos Folclórico de Melriçal (Soure), Folclórico da Região do Vouga (Mourisca do Vouga), Danças e Cantares de Perre, Associação Etnofolclórica "As Lavradeiras de Arcozelo" (Santa Maria Adelaide) e Zespol Piesni I Tanca "Vladislavia" (Polónia).
A actuação dos grupos convidados começará pelas 21.30 horas, na Alameda Prior Sardo.

PONTES DE ENCONTRO

Padre Himalaia: o sonho e a realidade! Desde os primórdios da Humanidade que o Sol sempre exerceu um enorme fascínio sobre o homem, que já o associava como fonte de vida, luz e calor. Por isso, em muitas civilizações, foi tratado com inúmeros nomes, enquanto deus pagão e mitológico. Templos foram construídos, sacrifícios foram praticados e muitas decisões de guerra, paz e pessoais foram tomadas em nome do respeito, da reverência e do temor com que era tratado. Na própria Sagrada Escritura são bastantes as referências a este astro celeste, a começar logo no primeiro capítulo do Livro do Géneses, versículo 3, enquanto primeiro elemento do Universo a ser criado pelo único e verdadeiro Deus. A própria data do Natal de Jesus Cristo – “O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.” (cf.: Jo 1,9) – a 25 de Dezembro, já adoptada, em Roma, no ano 336, foi escolhida como forma de substituir a festa pagã ao deus Sol (Natalis Solis Invictis), celebrada no Império Romano e instituída pelo imperador Aureliano (214-275), no ano de 274, e que era celebrada no Solstício de Inverno. De um modo ou de outro, o Sol, ao longo da História da Humanidade, sempre esteve associado ao passado, presente e futuro de homem e no texto que escrevi, no dia 5 de Julho, com o título “As energias renováveis e o futuro do homem”, procurei transmitir a ideia de que a estrela que temos mais perto do planeta Terra vai ter, no futuro, uma acção cada vez mais relevante, do que até aqui, na nossa forma de viver, enquanto fonte de energia renovável ao alcance de todos. A ideia do homem transformar a energia solar em seu próprio proveito, para os mais variados usos e fins, também tem sido uma constante ao longo da história humana, e alguns deles foram (e continuam a ser) pioneiros nesta busca precursora. Como português, destaco a pessoa do Padre Manuel António Gomes, nascido em 9 de Dezembro de 1868, em Cendufe, no concelho de Arcos de Valdevez. Para a história viria a ficar conhecido com a alcunha do Padre Himalaia, devido à sua elevada estatura, numa alusão óbvia à cordilheira dos Himalaias, que detém o ponto mais alto do mundo – Monte Evereste – com 8844,43 metros de altura. O Padre Himalaia é um daqueles vultos humanos que viu muito para além do seu tempo e cedo compreendeu que o desenvolvimento sustentável do planeta que habitamos depende de todos nós e das opções que fazemos. Opções estas que se vão reflectir nos comportamentos que cada um tem no seu dia-a-dia e nas consequências que provocam para a vida da Terra. É espantoso como, há mais de um século, este padre e cientista português já se interessava pelas energias renováveis, designadamente a energia solar, e pelos processos de organização e planeamento territorial, nomeadamente através de sistemas de irrigação, plantação de árvores e sistemas urbanos que antecederam, em muito, as preocupações actuais em torno do que se designa, presentemente, por questões de ecodesenvolvimento e de ecossistema, para além de muitas outras áreas científicas. Tudo isto numa altura em que o uso das energias fósseis estava em franca ascensão. Já no seu tempo, pretendia obter energia térmica para o funcionamento de motores a vapor que fossem capazes de desenvolver energia motora, nomeadamente para obtenção de electricidade e que, só agora, um grupo de estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, desenvolveu e de que falei no passado sábado. Mesmo a área pedagógica não foi esquecida, tendo desenvolvido ideias concretas sobre processos de formação pedagógica e profissional que deveriam levar à criação de quintas escolares, possibilitando uma relação constante entre os alunos e as actividades com a natureza. Este homem teve o mundo a seus pés e a invenção do Pirelióforo (que significa “trago o fogo do sol”) foi a sua coroa de glória, tendo ganho com este invento a Exposição Mundial de Saint Louis, nos EUA, em 1904. Veio a morrer em Viana do Castelo, no ano de 1933, pobre e quase ignorado. São exemplos como este que nos dizem que sempre foi possível fazer mais e melhor e que a esperança de todos começa na confiança que cada um deposita no outro, incondicional e responsavelmente.
Vítor Amorim

domingo, 6 de julho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

Cultura humanista
1. Ter uma visão de conjunto da história permite-nos a necessária distância crítica para melhor compreendermos o tempo presente. Não que a história se repita, mas que algumas ideias-força possam ter “semelhanças” com outras épocas, nomeadamente sobre o balançar da experiência humana que ora vai pelos patamares mais técnicos (ordem mais da matéria, estruturalismo – que podemos personalizar nos clássicos em Aristóteles), ora pelas vias mais humanas (ordem tendencialmente do espírito, humanismo – representado por Platão). Certamente que os estudiosos da historiografia, filosofia ou os antropólogos saberão ter a noção mais exacta, da justa medida, em que estes pêndulos podem mesmo significar as duas ideias-força que ao longo dos séculos têm andado a puxar os fios condutores da história, sucedendo-se uma à outra…(?) Neste sentido procurador, perguntar faz bem… 2. Temos assistido na história da humanidade, na sua linhagem marcadamente ocidental (somos escritores da história de nós próprios o que nem sempre acaba por resultar justo), a momentos de forte impulso de desenvolvimento científico-económico e depois à sua crise e progressiva maturação. O progresso científico-técnico traz consigo a “desmontagem” de determinadas concepções de vida que passam a ser qualificadas de tradicionais, vindo também propor uma visão estruturalista, metodicamente organizada, da vida, onde todos os rigores da surpreendente ciência seduzem a ponto de não haver fronteiras para esse admirável mundo novo, e onde o patamar humaníssimo e ético acaba por ficar na prateleira. Com o acalmar do “pó”, verificando que as euforias dos novos conhecimentos também geraram muitas fracturas, e diante do desencanto humano e da “falta de sentido”, retorna a procura da fonte originária da Humanidade, surgindo um Humanismo que venha dar “ar fresco” e ânimo ao tempo histórico da vida pessoal e social. 3. No primeiro momento (quase nesta dialéctica do progresso), a ciência e técnica afirmam-se como auto-suficientes; no segundo momento, Humanista, é o retorno de todos os saberes como serviço à “casa comum”. Neste contexto da procura de um “método” para o futuro, vale a pena partilhar uma opinião, no âmbito dos três anos de pontificado de Bento XVI (17-04-2008), em que Guilherme d’Oliveira Martins destaca que «o Papa utiliza um método todo inovador e muito promissor, que é o de citar textos e autores profanos, em confronto com textos da Igreja, para melhor ilustrar as ideias e reflexões propostas. Este procedimento, inédito até este pontificado, abre horizontes novos, uma vez que põe o pensamento religioso em diálogo com o mundo e as ideias contemporâneas, em nome do enaltecimento da razão e da compreensão dos seus limites (a invocação de autores como Adorno e Horkheimer é, neste sentido, muito curiosa e significativa.» Prossiga, em tudo, esta racionalidade dialogal. 4. Neste método dinâmico da aprendizagem com a diversidade do outro pode estar o retorno de um Humanismo sadio que reponha no seu lugar o “humano” acima de todas as realidades e coisas. Aqui haverá SER humano capaz de reencontrar o sentido pleno da Vida, este que supera todas as dicotomias e divisões da história. Ressurja uma cultura verdadeiramente humanista: esta garantirá a preservação do bom senso, em tudo e em todos!

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 85

VESTUÁRIO E CALÇADO Caríssima/o: Ora aqui está um assunto que muito nos interessava. Sabeis porquê? Nem sei se vos diga: grande perigo para o equilíbrio das nossas crianças, pois, quando começava o jogo do botão, a roupa tinha valor pelos botões que nos disponibilizava para continuarmos a pôr na doca... Como as «felpas» se resumiam ao indispensável, não admirava que usássemos a mesma camisola nas quatro estações... e sem reforço no inverno. Faz lembrar aquela cena do índio que afirmava “ser cara no corpo todo”! As calças eram uma amostra de vários bocados de flanela que iam tapando os buracos que as nossas brincadeiras lhes provocavam... e as joelheiras eram uma necessidade e uma prevenção: não foram elas e os nossos joelhos onde estariam? Lembro-me que as meninas usavam muito a chita, nos vestidos, nas saias e nas blusas... Roupas interiores, consideradas um luxo, iam aparecendo conforme as posses e as sobras dos ganhos dos pais. Não sendo um filme de ficção e não pretendendo “injuriar” a juventude, estes simples apontamentos ajudarão a sentir a evolução e praza que a um ou outro interrogue sobre o respeito a estas necessidades básicas. E na cabeça? Raramente bóina ou boné que se perdiam deixados no primeiro bengaleiro a jeito. Nos pés, solas grossas por andarem nus. Muitos viam os primeiros sapatos na comunhão ou no exame da quarta: sapatilhas de lona, azuis, castanhas ou brancas. Talvez fossem precisas umas meias mas, sinceramente, não me recordo de nenhumas que tivesse calçado. Agasalhos para o inverno estavam à mão de semear nos sacos de serapilheira que dobrados a preceito nos protegiam das chuvas e dos frios. Enfim, cenas de outro mundo poderiam surgir e fariam a nossa delícia... Como quando foi preciso tirar a fotografia para o bilhete de identidade e se usou a camisola do irmão mais velho ... que estava rota nos cotovelos... Manuel