domingo, 29 de junho de 2008

Figueira da Foz: Recriação da Guerra Peninsular – 2




Este fim-de-semana, como referi há dias, foi dedicado na Figueira da Foz às celebrações do Bicentenário do envolvimento desta região na Guerra Peninsular (1807 - 1814), mais conhecida por Invasões Francesas, por ordem de Napoleão Bonaparte.
Ontem, sábado, pude apreciar, na Biblioteca Municipal, uma exposição alusiva ao evento, que deu bem para recordar o que foi esse período em que a Corte Portuguesa se transferiu para o Brasil, assumindo o povo a sua quota parte na defesa da dignidade da Pátria, com os inerentes sofrimentos que isso implicou. Na eucaristia das 19 horas, celebrada na igreja matriz de S. Julião, foram recordadas as vítimas das Invasões Francesas. Participaram nesta cerimónia, que foi animada musicalmente pelo coral David de Sousa, as autoridades políticas e militares.
Hoje, domingo, durante a manhã, também participei no descerramento da Placa Comemorativa do Bicentenário da Tomada do Forte de Santa Catarina, que ocorreu em 27 de Junho de 1808. Diz o folheto distribuído no local que, por força da presença das tropas de Napoleão, “o povo vive à míngua de tudo, [sendo] ameaçado e ultrajado. A revolta popular iniciada no Porto alastra-se. Correm rumores de que a Inglaterra prepara um desembarque de tropas para se aliar ao exército português na luta contra o invasor.
“Para ajudar a alcançar este objectivo, forma-se, em Coimbra, um Batalhão Académico, formado por 40 voluntários, 25 dos quais estudantes, que, sob o comando do sargento de artilharia Bernardo Zagalo, parte em marcha, dia 25 de Junho, rumo à Figueira com a missão de atacar de surpresa os franceses que ocupam a vila e o Forte de Santa Catarina.”
Pelo caminho, muitos populares juntaram-se ao Batalhão, com as suas foices, piques e lanças. Era imperioso vencer os franceses e criar condições para o desembarque das tropas aliadas, comandadas por Wellington. Efectivamente, isso veio a acontecer entre 1 e 5 de Agosto, na Costa de Lavos.
Ora, hoje foi oferecido ao povo a recriação da tomada do Forte, com a consequente substituição da bandeira francesa pela bandeira de Portugal. Depois da vitória, uma salva de artilharia anuncia a libertação da vila e a prisão dos militares franceses, que são levados para Coimbra. A recriação desta passagem histórica foi da responsabilidade da Associação Napoleónica Portuguesa – Grupo de Recriadores Históricos do Município de Almeida.
Muito povo associou-se a esta manifestação cultural, na manhã deste domingo.
Permitam-me que destaque a importância destas celebrações, num tempo em que tanto se esquece, segundo creio, o passado. Apesar da distribuição de informações sobre o evento, penso que os mais novos pouco ficaram a saber do que aconteceu há 200 anos. Mas nestas situações, os mais velhos têm de assumir as suas responsabilidades, transmitindo aos mais novos, com os seus conhecimentos de história, se é que os têm, o que foi o viver dos nossos avós. Aqui está, pois, o mérito, destas recriações. Cá por mim, confesso que já dei o meu contributo, respondendo a algumas questões que me puseram.
FM

Pão e Vinho

Temos uma área marítima de fazer inveja. Está globalmente subaproveitada, qualquer que seja o ponto de vista: ecológico, económico, científico, energético, de navegação ou turismo. Sem falar nos portos e na construção naval. Portugal tem uma superfície florestal interessante. Tem a maior área do mundo de montado e é o maior produtor de cortiça, mas não se conhece um esforço proporcional dedicado à investigação e ao melhoramento do sobreiro, da azinheira e do sistema de montado. O mesmo pode ser dito do pinheiro, da oliveira e de outras espécies. Portugal não tem clima para a agricultura tradicional, nem para a agricultura europeia. Mas as condições naturais são favoráveis a certos tipos de cultivo, como sejam a floresta, as culturas arbustivas, as plantações permanentes (a vinha, por exemplo), certas pastagens, os prados sob montado e outras espécies, nomeadamente as que podem beneficiar dos Invernos amenos e das Primaveras temporãs. A hortofruticultura tem também, em certos casos, excelentes condições. Nestas áreas, assim como nas do regadio, da correcção de solos, da vinha, da vinificação, da investigação científica, da formação profissional e do processamento industrial, há espaço e necessidade para investimentos colossais, a longo prazo e muito produtivos, sem danificar o ambiente. O ministro Jaime Silva pensa que não. E outros antes dele. Coitados: limitam-se a dizer o que lhes mandam dizer. Em Bruxelas, por causa da política comum. Em Lisboa, por causa das estradas.
António Barreto
In «Retrato da Semana» - «Público» de hoje

NA LINHA DA UTOPIA

Paulo de Tarso, 2000 anos
1. Talvez exista com Paulo de Tarso uma certa injustiça, talvez a primeira fase (perseguidora) de sua vida tenha condicionado a sua aceitação popular. É incontornável que Paulo (conhecido como São Paulo) foi das personalidades mais importantes da história do Cristianismo nascente e, consequentemente, da própria história da humanidade na matriz ocidental. Mas Paulo não caiu no “goto” popular como Santo António, São João Baptista ou o seu contemporâneo São Pedro. Estes, ainda que muitas vezes quase de modo contrário em relação à sua vida de entrega generosa e sacrificial, foram angariando a dimensão popular festiva e afectiva, que o digam as inúmeras tradições e romarias que nestas semanas têm percorrido as vivências comunitárias em Portugal, onde os seus nomes representam encontro, convívio, festa… 2. Já Paulo, uma das personalidades essenciais reconfiguradoras do Cristianismo, não tem assim tantas famas de “festeiro”. Não tem grandes romarias nem muitas tradições, não passou nessa faceta para as gentes, ele que deu mundos e fundos no anúncio da boa mensagem a todas as gentes e como fundador itinerante de comunidades… Será que Paulo não entrou tanto na dimensão popular por ter sido um intelectual da fé? Ou pelo seu confronto de ideias com Pedro? Ou ainda, pela, sua conversão tardia e não se ter libertado da fama de perseguidor? Ou pelas preferências terem sido orientadas mais para a vertente papista de Pedro que para a irreverência da “fé inculturada” de Paulo… Enfim, as perguntas poderiam não mais acabar nesta busca de (compreendendo a sua importância decisiva na Igreja primitiva), reconhecer em Paulo o impulso enérgico que, todavia, não entrou no popular tanto como seria de desejar para um designado dinamismo universalista implementado por ele próprio. 3. Começam nestes dias (28 de Junho 2008 a 29 de Junho 2009) as comemorações do chamado Ano Paulino. Faz 2000 anos do nascimento de Paulo de Tarso. Este incansável líder fundador de comunidades, anunciador de uma mensagem (cristã) na diversidade das gentes e culturas, reinterpretador na origem (abraâmica) da genuína essência do sentido da vida de Jesus, escritor de 13 cartas que continuam a ser dos documentos mais estudados da Escritura, incontornável e decisiva personalidade da história das ideias mesmo sociopolíticas e religiosas… Paulo terá muito a dizer ao nosso tempo. Que o diga a urgência ecuménica, o aprofundado diálogo inter-religioso, a percepção do novo discernimento entre o essencial a aprofundar e os acessórios a actualizar diante dos tempos interpelantes, estimulantes e inadiáveis do séc. XXI. Que nos diria, hoje, Paulo como a sua frescura reinterpretativa e o seu enérgico dinamismo viajante? Este ano, como sempre, pode ser uma oportunidade inédita ou pode ser um pró-forma... Não chega aprofundar modelos dinâmicos de existência (cristã) e…permanecermos na mesma. Os próprios “acessórios” a rever hoje são essenciais. Não é fácil, é preciso mesmo coragem Paulina!
Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 84

AS ERVILHAS
Caríssima/o: Veio-me às mãos um velho texto de 1976, publicado em “O Timoneiro”, no Postal do Porto; curiosamente está na linha do que se teceu na última semana e, sendo assim, fica como adenda: «Naqueles velhos tempos, vínhamos da escola à noitinha, quando o sol desaparecia no horizonte. No regresso ficava-nos a casa mais perto, se atravessássemos os campos. A fome cegava-nos! Surgiu-nos uma terra com apetitosas ervilhas. Estás a ver o que aconteceu ao nosso estômago delicado? Teve de trabalhar ervilhas sem frango. Que rico manjar! Ficámos tão consolados que só nos apetecia esticar e dormir uma soneca como a lebre da história. Mas ... de repente, demos às de vila-diogo ... É que, à nossa frente, a apanhar ervilhas tranquilamente para um cesto, andava o dono. Ao ver-nos, não fez um gesto nem deu um grito ... Nós é que não esperámos e fomos tão mal educados que nem lhe agradecemos ... Agora, garantido: se ele fosse candidato às eleições rumo ao socialismo, o meu voto era para ele, pois provou, sem palavras, que “as ervilhas quando nascem são para todos”. Isto, porém, é utopia ... E acredita, até hoje, foram as ervilhas que melhor me souberam e tenho pena de não te poder oferecer.» Permiti que termine como o fiz então: Na falta de melhor, aí vai um abraço do Manuel

De volta...

De volta aos hábitos de todos os dias... Na ausência, aqui estive quando me foi possível. Saudações para todos os meus amigos do ciberespaço.
FM

sábado, 28 de junho de 2008

Mandela: símbolo da liberdade e da tolerância


Assisti ontem, na televisão, a um concerto comemorativo do 90.º aniversário de Nelson Mandela. Para além da música e dos testemunhos de admiração pela figura ímpar de Mandela, este concerto levou-me a reflectir sobre a personalidade do homem, do político, do lutador pela causa da liberdade e da fraternidade universais.
O concerto ostentava um número – 46 664 – , que seria o número de presenças no espectáculo. Mas lembrava, também, o número da cela que Mandela ocupou na cadeia às ordens dos tribunais do “apartheid”, o regime que defendia a segregação racial.
As pressões dos países livres e democráticos levaram o regime a libertá-lo. Depois foram as eleições, a ocupação da cadeira da chefia do Estado e o Prémio Nobel da Paz.
Toda gente minimamente informada conhece a história de vida deste herói universal e o seu exemplo de amor à paz, à fraternidade e à tolerância. Durante a presidência do seu país, a África do Sul, mostrou como soube aproximar-se e dialogar com os que antes o perseguiam e condenavam. Sem rancores nem espírito de vingança.
Mas hoje e aqui também recordo, a propósito deste evento, alguns diálogos que mantive com um amigo, religioso, que acreditava nas virtualidades do “apartheid”. Que era importante para brancos e negros, dizia-me ele. E por mais que eu argumentasse, à luz da fé católica, que todos os homens eram iguais, em direitos e obrigações, independentemente da cor da pele, das opções religiosas e políticas, o meu amigo teimava em acreditar que, na África do Sul, a separação de raças só trazia vantagens. Aceitava, portanto, que houvesse escolas, lugares públicas, hospitais, autocarros, igrejas, etc. etc., para negros e para brancos, separadamente. Morreu o meu amigo sem eu conseguir convencê-lo de que o “apartheid” era a mais estúpida forma de sociedade.
Quando me lembro desta posição de um amigo meu, não posso deixar de pensar que, afinal, ainda perduram nas sociedades democráticas, como a nossa, resquícios destas ideias. Vejam, por exemplo, como as nossas televisões não conseguem contratar apresentadores negros, como o nosso Governo não tem ministros negros, como a nossa Assembleia da República só tem um deputado negro, do CDS, que alguns confundem como um segurança, com todo o respeito que os seguranças nos merecem.
Afinal, ainda temos muito que caminhar para expurgarmos a sociedade de ideias racistas.

FM

S. Jacinto sem Ferry-boat

Segundo noticia o Diário de Aveiro, o director-geral da Navalria, Nuno Santos, adiantou que a demora na entrada em funcionamento do “ferry-boat” se deve a um atraso na colocação de um equipamento na casa das máquinas da embarcação. Os que lêem o Diário de Aveiro ficam a saber que só para a próxima semana terão o ferry-boat a funcionar. Com uma ponte, onde fosse possível, nada disto aconteceria. Há tempos recebi um convite de pessoa amiga para me deslocar a S. Jacinto. Gostava ela e eu, com minha esposa, de recordar vivências de tempos que já lá vão. Se vier, dizia-me ela, como não há Ferry-boat, por causa de uma avaria, eu arranjarei alguém para o ir buscar à lancha. Prometi que só quando pudesse atravessar com o meu carro poderia aceitar o convite, para não causar transtorno a ninguém. Nunca, com todo o meu amadorismo, vi bem o ferry-boat. A passagem natural, por meio de ponte, mais a norte ou mais a sul, seria o ideal, para proporcionar outra vida a S. Jacinto e às suas gentes, privados da ligação natural à Gafanha da Nazaré. Mas os nossos políticos, regionais e mesmo nacionais, decidem, muitas vezes, sem olhar às realidades locais. Nuns sítios nascem pontes com a maior das facilidades. Noutros, como aqui, nem sequer equacionam a questão. Depois é isto. A ligação por ferry-boat entre a Gafanha da Nazaré e S. Jacinto está suspensa há muito tempo. Uma simples avaria altera a vida de toda a gente.
FM

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