1. Já são várias as ocasiões em que pais de crianças e adolescentes, verdadeiramente interessados com a melhor educação dos seus filhos, o maior tesouro, manifestam uma profunda preocupação com os efeitos maléficos da competitividade feroz. Já não é só no 12º ano de escolaridade, na fronteira delicada de grandes decisões e transições, que os adolescentes sofrem os abalos de um sistema de vida que coloca os resultados práticos acima de quaisquer valores, mesmo, muitas vezes, acima dos valores da ética pessoal e social. Logo a partir de uma «publicidade férrea» nos meios de comunicação, no dizer de Lipovetsky, os mais novos vão entrando numa lógica em que o outro se apresenta mais como “concorrente” e menos como um “irmão”; que o digam muitos dos entretenimentos reinantes, onde a força e o domínio do outro é o objectivo primordial.
2. A reafirmação contínua da competitividade nos grandes discursos sócio-políticos faz transferir para o quadro educativo das gentes mais novas a lei da superioridade. O delicado refrão de que os melhores é que triunfam na vida pode fazer regressar a lei de Darwin, fazendo emergir uma selecção natural dos mais fortes por vezes menos respeitadora e integradora das diversidades. Não são casos isolados, já entre alunos do básico e secundário, os registos de desumana “inveja” escolar, de egoísmo na não partilha de conhecimentos, de angústias profundas ou mesmo cansaços (e até quase-esgotamentos) diante de resultados não tão excelentes. Parece que tudo se encontra formatado mais na ordem do melhor sucesso para mais dinheiro ganhar no futuro, que propriamente na ordem da descoberta progressiva da vocação a uma área de conhecimento para servir a sociedade.
3. Pode ter efeitos bloqueadores da totalidade da experiência humana a focalização exclusiva na obtenção dos melhores resultados para mais e melhor poder competir. É verdade, sem dúvida, que o esforço, rigor e trabalho, terão de acompanhar o crescimento da vida. Mas quase que valerá a pena pedir-se que as crianças sejam crianças e que os adolescentes não sejam adultos competitivos antes do tempo. Uma vida equilibrada na razoabilidade é que proporcionará o cidadão humano do futuro, aquele que sabe que a vida é um todo social e não uma caminhada solitária em leituras de vida vividas na competitividade como valor absoluto. As mazelas deste modelo de sociedade estão aí, espelhadas nas ansiedades stressantes acalmadas com milhões de anti-depressivos. A vida é desafio diário; mas quanto mais desenvolvermos as capacidades de humanidade pessoal e social mais conseguiremos ser resposta estimulante.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Histórias do Mar e da Ria
Por iniciativa da Rádio Terra Nova, em cooperação com a Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, decorreu um concurso literário sobre “Histórias do Mar e da Ria”.
Para além dos prémios, que são sempre um estímulo à participação, é justo realçar a importância destes concursos, nem sempre acarinhados devidamente pelas nossas escolas e outras instituições educativas e culturais.
Quando tanto se fala da Língua Portuguesa, como riqueza nacional que urge preservar e valorizar, impressiona-me a indiferença que há face a iniciativas que a promovem, aceitando, passivamente, que ela seja bombardeada no dia-a-dia por novos termos oriundos de outras latitudes, sobretudo nas conversas entre jovens, nas mensagens via telemóvel e nas comunicações pela Internet.
Se o estudo do Português fosse mais apoiado e se os nossos jovens fossem sensibilizados para a participação em Concursos Literários, talvez houvesse mais gosto por falar e escrever com correcção a Língua Portuguesa.
Porém, não é com o alheamento de tantos professores, escolas e instituições que poderemos acreditar no futuro do Português. Mais do que ensinar as regras gramaticais, importa estimular a nossa juventude a escrever com sentido estético, sendo certo que a participação em concursos pode ser uma excelente forma de a levar a gostar da nossa Língua.
FM
Para além dos prémios, que são sempre um estímulo à participação, é justo realçar a importância destes concursos, nem sempre acarinhados devidamente pelas nossas escolas e outras instituições educativas e culturais.
Quando tanto se fala da Língua Portuguesa, como riqueza nacional que urge preservar e valorizar, impressiona-me a indiferença que há face a iniciativas que a promovem, aceitando, passivamente, que ela seja bombardeada no dia-a-dia por novos termos oriundos de outras latitudes, sobretudo nas conversas entre jovens, nas mensagens via telemóvel e nas comunicações pela Internet.
Se o estudo do Português fosse mais apoiado e se os nossos jovens fossem sensibilizados para a participação em Concursos Literários, talvez houvesse mais gosto por falar e escrever com correcção a Língua Portuguesa.
Porém, não é com o alheamento de tantos professores, escolas e instituições que poderemos acreditar no futuro do Português. Mais do que ensinar as regras gramaticais, importa estimular a nossa juventude a escrever com sentido estético, sendo certo que a participação em concursos pode ser uma excelente forma de a levar a gostar da nossa Língua.
FM
PONTES DE ENCONTRO

BENTO XVI: ENTRE O ESTRANHAR E O ENTRANHAR
Durante a visita que o Papa Bento XVI efectuou aos EUA, entre15 a 21 de Abril, do corrente ano, recordei-me da célebre expressão de Fernando Pessoa (1888-1935) que “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Esta lembrança e a relação que dela fiz fizeram-me recuar ao dia 19 de Abril de 2005, altura em que o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito para a Cátedra de São Pedro.
Lembro-me muito bem das manifestações de júbilo que se viam no rosto das milhares de pessoas que aguardavam, na Praça de São Pedro, que o “fumo branco” saísse da chaminé da Capela Sistina e de muitas outras expressões de alegria que os Órgãos de Comunicação Social transmitiam, incessantemente, um pouco de todo o lado do mundo, logo após a eleição papal.
A esta realidade contrapunha-se, em simultâneo, uma outra, onde um estado de ânimo, menos exuberante, porventura mais céptico ou de desilusão, era bem visível.
De tudo isto me recordo e, até, de algumas afirmações (e dos seus autores) feitas, poucos minutos, depois do anúncio “Habemus Papam”.
Bento XVI sucedia a um Papa – João Paulo II – que tinha exercido um pontificado de cerca de 27 anos, tempo este que está para lá do próprio “entranhar” de Pessoa, para se situar no nível daquele que já se identifica connosco e nós com ele, numa unidade construída de ternura e afecto espiritual e que está para além da admiração e do respeito.
Para alguns, o Cardeal Joseph Ratzinger, trazia consigo referências pouco favoráveis, das quais se destaca o ser uma pessoa conservadora e o ideólogo da linha dura da Cúria Romana. Provavelmente, os seus 24 anos como Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé muito podem ter contribuído para o surgimento destas opiniões.
Algum tempo, após a sua eleição, Bento XVI começou a despertar a compreensão e o acordo dos mais cépticos e os discursos e outros escritos seus, analisados à lupa, tanto por crentes, católicos ou não, como por ateus e agnósticos muito ajudaram a alterar a opinião inicial que havia sobre ele.
Durante a visita de Bento XVI, aos EUA, ouvi um padre americano afirmar que, enquanto Prefeito, não podia ser bom, pois o cargo não dava para isso, pelo que só depois de ser eleito Papa passou a ter condições para o poder ser, ou seja, a velha questão entre a liberdade da pessoa e a sua lealdade à instituição que serve.
Dizem alguns, que o homem é ele e as suas circunstâncias, pelo que as contradições destas duas dimensões podem ser incompatíveis. Assim, quem se vergue à força dos circunstancialismos de um momento, de um lugar ou de uma tarefa está a deixar de lado o seu próprio eu. Quem diz isto parece, contudo, esquecer-se que as circunstâncias também podem ajudar o homem na procura das certezas que não tem, na satisfação e na coerência que descobre e que o podem levar a mudar as próprias circunstâncias. Estamos, pois, perante uma questão para a qual não há uma só saída, mas que não nos pode inibir de tomar opções, em função do que somos e conhecemos, em vez de ficarmos à espera que algo surja, fale, pense e aja por nós.
O Padre Anselmo Borges escreveu, um dia, que “qualquer homem existe compreendendo e interpretando, mas de tal modo que nunca interpreta de modo adequado e pleno o que quer compreender”, pelo que o homem,só se vai completando através do futuro que atravessa e vive e, mesmo assim, não deixa de ser um homem inacabado.
A afirmação do padre americano, não sendo única, é um mau exemplo do que se pode fazer, mesmo sem intenção, para rotular, negativamente, uma pessoa e o seu carácter, sobretudo quando se pensa que a liberdade, a responsabilidade, o descobrir o nunca atingido ou a satisfação pela realização do bem variam em função da hora, do local e do cargo que se exerce. No fundo, é querer fazer do homem um irresponsável, prisioneiro do tempo e do espaço, quando ele está para além da sua e da nossa compreensão.
Durante a visita que o Papa Bento XVI efectuou aos EUA, entre15 a 21 de Abril, do corrente ano, recordei-me da célebre expressão de Fernando Pessoa (1888-1935) que “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Esta lembrança e a relação que dela fiz fizeram-me recuar ao dia 19 de Abril de 2005, altura em que o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito para a Cátedra de São Pedro.
Lembro-me muito bem das manifestações de júbilo que se viam no rosto das milhares de pessoas que aguardavam, na Praça de São Pedro, que o “fumo branco” saísse da chaminé da Capela Sistina e de muitas outras expressões de alegria que os Órgãos de Comunicação Social transmitiam, incessantemente, um pouco de todo o lado do mundo, logo após a eleição papal.
A esta realidade contrapunha-se, em simultâneo, uma outra, onde um estado de ânimo, menos exuberante, porventura mais céptico ou de desilusão, era bem visível.
De tudo isto me recordo e, até, de algumas afirmações (e dos seus autores) feitas, poucos minutos, depois do anúncio “Habemus Papam”.
Bento XVI sucedia a um Papa – João Paulo II – que tinha exercido um pontificado de cerca de 27 anos, tempo este que está para lá do próprio “entranhar” de Pessoa, para se situar no nível daquele que já se identifica connosco e nós com ele, numa unidade construída de ternura e afecto espiritual e que está para além da admiração e do respeito.
Para alguns, o Cardeal Joseph Ratzinger, trazia consigo referências pouco favoráveis, das quais se destaca o ser uma pessoa conservadora e o ideólogo da linha dura da Cúria Romana. Provavelmente, os seus 24 anos como Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé muito podem ter contribuído para o surgimento destas opiniões.
Algum tempo, após a sua eleição, Bento XVI começou a despertar a compreensão e o acordo dos mais cépticos e os discursos e outros escritos seus, analisados à lupa, tanto por crentes, católicos ou não, como por ateus e agnósticos muito ajudaram a alterar a opinião inicial que havia sobre ele.
Durante a visita de Bento XVI, aos EUA, ouvi um padre americano afirmar que, enquanto Prefeito, não podia ser bom, pois o cargo não dava para isso, pelo que só depois de ser eleito Papa passou a ter condições para o poder ser, ou seja, a velha questão entre a liberdade da pessoa e a sua lealdade à instituição que serve.
Dizem alguns, que o homem é ele e as suas circunstâncias, pelo que as contradições destas duas dimensões podem ser incompatíveis. Assim, quem se vergue à força dos circunstancialismos de um momento, de um lugar ou de uma tarefa está a deixar de lado o seu próprio eu. Quem diz isto parece, contudo, esquecer-se que as circunstâncias também podem ajudar o homem na procura das certezas que não tem, na satisfação e na coerência que descobre e que o podem levar a mudar as próprias circunstâncias. Estamos, pois, perante uma questão para a qual não há uma só saída, mas que não nos pode inibir de tomar opções, em função do que somos e conhecemos, em vez de ficarmos à espera que algo surja, fale, pense e aja por nós.
O Padre Anselmo Borges escreveu, um dia, que “qualquer homem existe compreendendo e interpretando, mas de tal modo que nunca interpreta de modo adequado e pleno o que quer compreender”, pelo que o homem,só se vai completando através do futuro que atravessa e vive e, mesmo assim, não deixa de ser um homem inacabado.
A afirmação do padre americano, não sendo única, é um mau exemplo do que se pode fazer, mesmo sem intenção, para rotular, negativamente, uma pessoa e o seu carácter, sobretudo quando se pensa que a liberdade, a responsabilidade, o descobrir o nunca atingido ou a satisfação pela realização do bem variam em função da hora, do local e do cargo que se exerce. No fundo, é querer fazer do homem um irresponsável, prisioneiro do tempo e do espaço, quando ele está para além da sua e da nossa compreensão.
Vítor Amorim
domingo, 15 de junho de 2008
NA LINHA DA UTOPIA

Era uma vez… A carreira
1. Era uma vez, algures lá longe em outro mundo, um governante de um país. Mergulhado nas águas sedutoras do poder omnipotente, um dia afirmou que a ratificação de um tratado europeu, na Europa de 27 países, era um dos passos «mais importantes da minha carreira pessoal». No dia seguinte o referendo acabaria por ser chumbado. Era uma vez um treinador de futebol, de uma selecção de um país em que o futebol tinha proporções colectivas enérgicas e em que esse líder treinador, mesmo com os prós-e-contras, havia conseguido um popular lugar ao sol. Na hora de continuar ou deixar a equipa, o próprio confessa que «a federação não cobriu a parada», pelo que «o dinheiro foi a razão para partir» rumo à Inglaterra. No dia seguinte, os rigorosos ingleses exigem a língua inglesa!
2. “É uma vez”, e é bem verdade, que alguns acontecimentos deste género vão fazendo vir à tona da água a qualidade, ou sua ausência, das lideranças que vão comandando os barcos sociais. Não é novidade que a fasquia da generosidade das grandes lideranças vai baixando e que vestir a camisola do serviço desinteressado é realidade, hoje, quase tida como ideia irrealizável. Mas talvez o pior de tudo seja que quase todos os vedetismos contemporâneos afirmam-se com as suas exorbitâncias, em termos económicos ou éticos, absolutamente escandalosas. (Quanto “pior” melhor?!) O generoso amor à camisola parece ser uma espécie em vias de extinção, e as mais novas gerações vêm vindo para este mundo e aprendendo desta escala de valores que dá primazia ao que se tem em vez do que se é.
3. Valorizar-se e sublinhar-se a «carreira pessoal» acima das causas a defender é ver tudo ao contrário, quase que fazendo dos eleitores-cidadãos o joguete de afirmações mais interessadas no prestígio pessoal que no autêntico espírito de serviço ao bem comum. É essencial rebater cada vez mais esta tecla! Confessamos que já nos parecia estranho um programa televisivo com o título «corredor do poder», mas afinal tudo faz parte do mesmo carreirismo, este que é um elemento perturbador da vi(d)a de uma sociedade democrática mais saudável. Quanto aos milhões que giram em torno dos grandes carreiristas famosos do futebol, neste escândalo, valerá a pena perguntar, nem que seja como inquietude inconformista com a realidade do ser pessoa: para quem já se vangloria dos “trilhões” que tem, de que valem mais uns milhões de euros?!
4. Não será tudo um profundo engano de pura ilusão, e logo de quem todos os dias tem uma visibilidade mediática extraordinária. Sinal de desumanidade? Império dos milhões de euros mas do vazio de valores? Enquanto esta forma de lideranças tiver todos os palcos, os valores humanos da educação para a generosidade serão praticamente impossíveis. Ou não será?!...
2. “É uma vez”, e é bem verdade, que alguns acontecimentos deste género vão fazendo vir à tona da água a qualidade, ou sua ausência, das lideranças que vão comandando os barcos sociais. Não é novidade que a fasquia da generosidade das grandes lideranças vai baixando e que vestir a camisola do serviço desinteressado é realidade, hoje, quase tida como ideia irrealizável. Mas talvez o pior de tudo seja que quase todos os vedetismos contemporâneos afirmam-se com as suas exorbitâncias, em termos económicos ou éticos, absolutamente escandalosas. (Quanto “pior” melhor?!) O generoso amor à camisola parece ser uma espécie em vias de extinção, e as mais novas gerações vêm vindo para este mundo e aprendendo desta escala de valores que dá primazia ao que se tem em vez do que se é.
3. Valorizar-se e sublinhar-se a «carreira pessoal» acima das causas a defender é ver tudo ao contrário, quase que fazendo dos eleitores-cidadãos o joguete de afirmações mais interessadas no prestígio pessoal que no autêntico espírito de serviço ao bem comum. É essencial rebater cada vez mais esta tecla! Confessamos que já nos parecia estranho um programa televisivo com o título «corredor do poder», mas afinal tudo faz parte do mesmo carreirismo, este que é um elemento perturbador da vi(d)a de uma sociedade democrática mais saudável. Quanto aos milhões que giram em torno dos grandes carreiristas famosos do futebol, neste escândalo, valerá a pena perguntar, nem que seja como inquietude inconformista com a realidade do ser pessoa: para quem já se vangloria dos “trilhões” que tem, de que valem mais uns milhões de euros?!
4. Não será tudo um profundo engano de pura ilusão, e logo de quem todos os dias tem uma visibilidade mediática extraordinária. Sinal de desumanidade? Império dos milhões de euros mas do vazio de valores? Enquanto esta forma de lideranças tiver todos os palcos, os valores humanos da educação para a generosidade serão praticamente impossíveis. Ou não será?!...
D. Manuel II e Aveiro
"Quem, nos dias de hoje, entrar na Sala das Sessões da Câmara Municipal de Aveiro e lançar um olhar atento sobre o conjunto das cadeiras de alto espaldar que a ornamentam, tenderá a reter no seu cérebro uma certa impressão de assimetria. Para além das dez que, em posição frontal, se encontram alinhadas ao longo da vasta mesa, uma outra se encontra encostada à parede do seu lado direito, mas faltando no lado oposto a que formaria o seu par. Não é de crer que se tivessem adquirido apenas onze cadeiras para aquela Sala e não se tivesse adquirido a que completaria a dúzia. Quase ninguém sabe hoje que essa outra cadeira, que foi pertença da Câmara Municipal de Aveiro, se encontra actualmente no Paço Ducal de Vila Viçosa, desconhecendo-se, até há muito pouco tempo, a sua proveniência. Foi a cadeira ofertada a El-Rei D. Manuel II que, durante a sua visita a Aveiro, em Novembro de 1908, manifestou desejo de a possuir e que nela se sentou durante o memorável passeio fluvial que o levou da Barra ao desembarque no Canal Central da cidade. Encontra-se descrita na obra “Cadeiras Portuguesas” de Augusto Cardoso Pinto.
Também muito poucos terão hoje conhecimento dessa visita, e menos ainda saberão como ela decorreu, que cerimónias, festas e realizações populares tiveram lugar. Aproximando-se o seu centenário, e embora “a descrição dos esplendorosos festejos com que Aveiro solenizou a visita do Soberano [seja] tarefa bastante difícil e quase impossível” (Districto de Aveiro, n.º 3767, 30 de Novembro de 1908), parece apropriado relembrá-la para que, de facto, ela “nunca [seja] esquecida por este povo” (Acta da sessão extraordinária da Câmara Municipal de Aveiro de 28 de Novembro de 1908)."
Também muito poucos terão hoje conhecimento dessa visita, e menos ainda saberão como ela decorreu, que cerimónias, festas e realizações populares tiveram lugar. Aproximando-se o seu centenário, e embora “a descrição dos esplendorosos festejos com que Aveiro solenizou a visita do Soberano [seja] tarefa bastante difícil e quase impossível” (Districto de Aveiro, n.º 3767, 30 de Novembro de 1908), parece apropriado relembrá-la para que, de facto, ela “nunca [seja] esquecida por este povo” (Acta da sessão extraordinária da Câmara Municipal de Aveiro de 28 de Novembro de 1908)."
In Preâmbulo do livro "D. Manuel II e Aveiro", de Armando Tavares da Silva
O veto da Irlanda
Com o veto da Irlanda ao Tratado de Lisboa, não faltam as análises ao sucedido e às consequentes implicações que essa atitude arrasta. Cá para mim, a UE vai continuar como até aqui… Com ou sem Tratado, vai ficar tal como tem estado. E não morre ninguém.
Estou convencido de que, se houvesse referendos, mais países votariam contra, embora não acredite que isso fosse o resultado de grande reflexão. O veto de outros países seria o resultado lógico de quem é chamado a votar um Tratado, feito à margem do povo. O povo terá pensado: se o fizeram, agora entendam-se.
Por princípio, os Governos assinam Tratados, muitos de altos interesses, sem consultarem o povo. Os Governos estão mandatados para gerir, por período certo, os destinos dos seus países. É assim numa democracia representativa.
Ora a UE tem funcionado sem grande envolvimento das pessoas nos seus próprios destinos. Há eleições, de facto, para o parlamento europeu, mas nem aí os eleitores correm em massa. As abstenções são, como se sabe, elevadas. Então há que escolher um caminho que leve os europeus a assumirem, como seus, os seus destinos. Como? Elegendo, realmente, quem dirige a UE. Talvez assim nos habituássemos à ideia de sentir a Europa como espaço comunitário.
FM
PONTES DE ENCONTRO
Vasco Santana: um actor à medida do seu peso!
Nem sempre os afazeres da vida nos permitem fazer tudo aquilo que desejamos, mesmo quando a nossa vontade procura contrariar algumas dessas situações, como foi o caso, mas sem êxito. Vem isto a propósito da evocação, atrasada, dos 50 anos do falecimento do actor Vasco Santana, ocorrida precisamente no dia 13 de Junho de 1958, ou seja, no dia de Santo António, em Lisboa, cidade que também o viu nascer, em 28 de Janeiro de 1898.
Falar de Vasco Santana é recordar o Vasquinho da Anatomia, do filme A Canção de Lisboa (1933), onde contracenava com Beatriz Costa, que faltava às aulas semana após semana, e que dizia que “Chapéus há muitos, seu palerma!”; é sentir ternura pelo Senhor Narciso, do filme Pátio das Cantigas (1942), que bebe para afogar as mágoas dos seus desgostos de amor pela D. Rosa, ficar encantado com a cena da bêbado que pede lume para acender o seu cigarro a um candeeiro da via pública e que anda sempre em conflito com o seu vizinho Evaristo (António Silva), a quem está sempre a provocar com: “Ó Evaristo, tens cá disto?”; é o estar atento à sabedoria e aos conselhos do grande ensaiador e profundo conhecedor de teatro no filme Pai Tirano (1941), onde participou, igualmente, Ribeirinho. Para além destas personagens, Vasco Santana desempenhou outros papéis, não tão proeminentes, mas não menos relevantes, em outros filmes, como, por exemplo, Camões (1946), História de Uma Cantadeira (1947) e Ribatejo (1949).
Para além do cinema, a sua carreira dividiu-se entre o teatro de revista e a comédia, géneros onde não foi só actor, mas também autor, tradutor e adaptador.
Muitos dos seus êxitos ficaram na história do teatro ligeiro em Portugal e na primeira metade dos anos quarenta foi figura de topo no panorama artístico português, onde só entrar em cena já era o suficiente para ele pôr o público a rir.
Na antiga Emissora Nacional também conseguiu alcançar êxitos assinaláveis, através dos diálogos do Zequinha e da Lelé.
Igualmente conhecido pela sua faceta de grande conquistador dos encantos femininos, este actor português soube aproveitar, profissionalmente, todas oportunidades que teve e, passados 50 anos do seu desaparecimento, continua, através dos filmes em que participou, a encantar e a agradar a todas as gerações de espectadores que o vêm.
Numa altura em que as razões para sorrir se tornam cada vez mais escassas para a grande maioria dos portugueses, há que preservar e divulgar este e outros actores nacionais, a fim de que não se perca o saudável hábito de rir, até porque ainda não se paga imposto para tal! Vasco Santana e outros grandes colegas seus fizeram-no de uma forma admirável, no seu tempo. Convém, no entanto, não esquecer que, em Portugal, continuamos a ter grandes profissionais que nos podem ajudar neste excelente exercício salutar que é o rir. É só uma questão de, quem de direito, lhes darem a oportunidade devida, como foi o caso que sucedeu com Vasco Santana, e acreditar no talento, na qualidade e na criatividade dos actores portugueses contemporâneos. Ficamos, todos, a ganhar. O “Vasquinho”, mesmo sem fazer o exame de anatomia, não discordaria, estou certo, deste meu desejo nem enjeitaria, para nos animar, de cantar, de novo, o Fado do Estudante!
Vítor Amorim
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