quarta-feira, 28 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia


Energia(s) de Arado?

1. Em tempos em que os agricultores de Trás-os-Montes deixam o tractor em casa e regressam à força biológica do gado para puxar o arado, celebra-se, a 29 de Maio, o Dia Nacional da Energia. Como sensibilização, esta efeméride, de iniciativa da Direcção Geral da Energia, data de 1981. Naturalmente procura-se uma consciência apreciadora do recurso essencial das energias; visam-se atitudes de poupança económica e de consciência ecológica. Nos dias que vivemos, como nos grandes tempos de incerteza, a energia, por todas as imensas redes que comporta, assume valores e proporções de preocupação global. Algumas capitais europeias, como Paris e Londres, estão ao rubro numa petição, hoje universal, pelo retorno à normalidade enérgica.
2. Mas, naturalmente, não é só em dias especiais ou em tempos conturbados da economia especuladora que se torna importante esta reflexão orientadora das acções concretas. Estas querem ser cada dia, e à medida que o mundo vai sendo mais «família global», uma realização cuidadora e preservadora, tanto de hábitos poupadores como de preservação ambiental. Para cidadãos, suas casas, comunidades e instituições. A este propósito, e sendo a despesa pública em energia das maiores facturas diárias do país, custa a entender (nem sequer custa, não se entende) a razão pela qual muitas vezes durante o dia nas cidades e vilas de Portugal verifica-se que a luz pública está acesa. Certamente existirão razões plausíveis tecnicamente (?); mas ao bom senso dos cidadãos comuns e como sinal colectivo, nenhuma delas, na ordem da racionalidade eficaz, parece justificar tal desperdício.
3. Se o Dia Nacional da Energia, promovido pelas instâncias devidas conseguisse uma reflexão a partir de realidades tão simples e diárias como esta já teria valido a pena. A essencial sensibilização para uma economia dos recursos energéticos, hoje, anda na ordem do dia e caminha a par dos apelos dessa reflexão profunda sobre a pobreza em Portugal. Não só politicamente, nem para se ficar na própria lamentação; mas para, efectivamente, reconstruir a “energia” eficaz para resgatar a pobreza em ordem ao desenvolvimento como compromisso de todos em equidade social. O regresso dos bois à terra é uma decisão difícil, como último recurso; mas opção que demonstra bem as forças e capacidades das gentes que se entregam de alma e coração, sem resignações, à causa da luta diária. Sem exaltações e sem pessimismos. Quem dera que esse empenho decidido fosse escola de todas as gerações. Da terra vem tudo!

"É tão fundo o silêncio"


É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.

José Saramago


In “Provavelmente Alegria”

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Auto de Revista da Capela de Nossa Senhora da Nazaré

PONTES DE ENCONTRO


O Petróleo e as preocupações do Presidente

“Resta-me, pois, concluir que neste tipo de negócio [petróleo], para não falar de outros, a realidade está sempre a ser ultrapassada por decisões enigmáticas e por interesses obscuros, onde prevalece especulação e a corrupção sem rosto, sem pátria e sem fronteiras.”
Escrevi estas palavras há precisamente dois meses, ou seja no dia 27 de Março de 2008, neste blogue. Quando fiz esta afirmação, não tinha nenhuma bola de cristal ao pé de mim, nem eu possuo qualquer dom de adivinhação. Passados dois meses, os dados que já eram conhecidos na altura, já davam indicações suficientes neste sentido, mas a postura dos responsáveis políticos foi o silêncio, talvez para ver se a subida parava e não alarmar os consumidores. Infelizmente nem os preços pararam de subir nem as preocupações deixaram de aumentar. Mais recentemente, começou-se a ouvir a palavra especulação na boca de alguns economistas e especialistas petrolíferos. Finalmente, ontem, dia 27 de Maio, foi a vez do próprio Presidente da República, Professor Cavaco Silva, afirmar, durante um encontro com o rei e a rainha da Noruega, no Palácio de Belém, que: “A subida dos preços dos combustíveis deve-se ao funcionamento do mercado e com certeza a uma dose de especulação”, para logo acrescentar: “Portugal não controla o preço do petróleo, pelo que não é fácil encontrar respostas para a subida de preços que preocupa os portugueses.” Também neste dia o presidente francês falou numa possível baixa do IVA na UE e o Primeiro-Ministro português referiu-se que os recursos são “escassos” para apoiar a classe média portuguesa.
Sobre as declarações do Presidente da República, convém lembrar que o preço do petróleo, entre outros bens e matérias-primas, sempre esteve condicionado, em regra, à lei da oferta e da procura, pelo que não há nada de novo aqui. O que há de novo e de muito preocupante, é a especulação, como ele reconheceu, e que ninguém sabe como lhe pôr um fim.
Até porque para lhe pôr um fim, era necessário saber quem são os especuladores e, depois, encontrar formas de eles acabarem com o que estão a fazer.
Ora bem, como ninguém sabe quem eles são [os especuladores], as regras vão continuar a ser ditadas por estes “ilustres desconhecidos”, perante a impotência das democracias e dos países civilizados. Isto é um dado adquirido e não vale a pena ter esperanças ou ilusões que não vai ser assim. Quem é que deixou chegar isto a este ponto? Esta é a pergunta que ainda não ouvi ninguém fazer, mas gostava de ouvir a sua resposta. Sei, no entanto, que quem deixou chegar isto a esta situação de caos foi alguém que não cumpriu as obrigações e deveres que tinha perante a sociedade e a economia mundial e deixou, por isso mesmo, o mundo entrar numa espiral de loucura autêntica. Aqui, já deve ser mais fácil encontrar os responsáveis e, se necessário, puni-los.
Relativamente à constatação do Professor Cavaco Silva que “não é fácil encontrar respostas para a subida de preços”, creio que a resposta já foi dada no que escrevi, até aqui. Perguntarão os leitores, não há solução para isto? Sinceramente, não sei! Se na base de especulação estiverem interesses geopolíticos que tenham por objectivo asfixiar, senão mesmo derrubar as democracias ocidentais, o jogo que tem que ser feito ainda vai ser mais difícil e não vai ser um só país a fazê-lo. Tempo e paciência, coisas que praticamente já não existem, vão ser necessários. Como sempre, em Portugal tudo é “escasso”, desde a disciplina, à ética e ao dever de já terem feito de Portugal um país mais próspero e justo. Só não se é escasso em promessas eleitorais, assim como os portugueses são mais que generosos em acreditar nelas, sem procurarem ter uma intervenção mais activa e crítica, perante quem as tem feito, ao longo destes anos de democracia.

Vítor Amorim

terça-feira, 27 de maio de 2008

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Avenida José Estêvão

Searas de Portugal


Os nossos emigrantes fazem sucesso um pouco por todo o mundo. Desde sempre. Portugal foi desde as suas origens um país de emigrantes. Mas também de imigrantes. E disso nos tem dado nota a nossa história. Tão rica, mas nem sempre conhecida.
De vez em quando vamos sentindo essa realidade através dos meios de comunicação social, com reportagens saborosas, mostrando as marcas indeléveis dos portugueses através dos séculos.
Mas as actuais gerações também têm enriquecido o mundo com a exportação da nossa cultura para outros ambientes. E os nossos emigrantes, saudosistas como poucos, ou não fosse a palavra saudade uma das nossas criações mais sublimes, nunca esquecem as suas e nossas raízes.
Frequentemente, recebo reflexos de alguns que um dia partiram em busca de uma vida mais risonha. Como foi o caso de hoje. Outros terão ido pelo gosto da aventura, ou por um certo inconformismo com o que a terra-mãe lhes (não) dava.
O meu amigo e leitor José Ferreira remeteu-me um “site” que transportava uma entrevista com o Alberto Ramos, meu vizinho, que um dia emigrou para o Canadá, lá se radicando até hoje com a família. Não o vejo há muito, mas recorda o seu sorriso e a sua arte de executante musical.
Fiquei satisfeito de ver como ele nunca esqueceu a música e as canções, animando os portugueses, e não só, nas suas festas, que as pessoas não vivem nem podem viver só para o trabalho. O conjunto musical, Searas de Portugal, com Cantares do Nosso Povo, não se cansa de recordar as músicas de Portugal, do Minho ao Algarve, passando pela Madeira e pelos Açores.
Constituído por cinco homens e três senhoras, aqui ficam os nomes, com apelidos que estão na minha memória e nos meus ouvidos: Rosa Ramos (adufe e solista), Rosa Ribau (adufe e solista), Ilda Teixeira (acordeão), Alberto Ramos (solista, viola e cavaquinho), José Rebelo (acordeão e coro), João Ribau (viola baixo e coro), Paulo Lourenço (instrumentos tradicionais e coro) e João Cardoso (bombo e coro).
Sendo certo que o grupo musical tem actuado quase em todo o Ontário e Quebeque, alimenta, contudo, o sonho de cantar, um dia, nas festas e romarias do nosso País. E por que não nas festas das nossas Gafanhas? Quem o convida?

FM

Na Linha Da Utopia

A arte de (sobre)Viver
1. Não admira que comecem a crescer, mais ainda, mil e uma formas de pensar e de espiritualidade, porventura nem sempre tão saudáveis, que vêm propor soluções mágicas ilusórias que na prática não se conseguem atingir. Para quem está bem acima destes problemas da maioria da sociedade portuguesa até pode dizer, comodamente, como há dias referiu o Sr. Ministro da Economia: os portugueses que poupem mais! Bom, pode-se poupar quando há recursos para isso; que o digam a este respeito os que estão no topo da tabela salarial nacional ou que tiveram a lotaria de chorudas reformas auto-conquistadas e pagas, efectivamente, pelos contribuintes. Quando se dizem esses chavões para os portugueses pouparem mais, sente-se claramente a distância entre dois mundos: os regalados que podem dizê-lo abertamente e os que no silêncio contam os cêntimos em todas as coisas para ver se conseguem gerir a vida. Esta é a realidade, que assusta milhares de famílias a caminho da pobreza, numa grande parte de classe média em asfixia. Talvez o discurso devesse ser: que os portugueses inventem mais, estudem mais, cultivem mais! 2. Ainda há dias tivemos a confirmação de que os papéis das promessas mágicas do «professor» Baba, Bobo, Bubu… ganharam nestas semanas uma maior força nos automóveis das cidades. A todas estas magias a «crise» é o terreno favorável, em que diante da incultura espiritual, nas horas de aflição corre-se e recorre-se a tudo, mesmo gastando mundos e fundos. Talvez valha a pena dizer-se claramente que todas essas promessas não são verdadeiras e que todas as energias se devem, sim, concentrar, criativamente na procura de soluções dignificantes dentro de nós. No grito pela sobrevivência, a sedução do «mágico» promete ilusoriamente fora de nós. Não é fora da pessoa humana, mas dentro da profundidade do ser que a esperança nos pode despertar para novas formas de nos reinventarmos diante dos problemas da vida. Diante do panorama de crise e grave instabilidade, já não falamos só da loucura dos portugueses pelo mágico Euromilhões, mas da tentação das soluções fáceis e imediatas de todos esses professores que é pura falácia de ignorância sobre «si mesmo». 3. Conhecer-se e alimentar-se interiormente a si próprio, nas horas boas e nas horas difíceis, é tarefa cada vez mais importante. Mesmo para manter o equilíbrio emocional, intelectual, existencial. A espiritualidade, a filosofia, a religião, as igrejas, são esse «lugar», como que fora do tempo e do espaço, de reinvenção da própria vida e da arte de viver. Quem disse que as religiões tiverem a sua época estava e está enganado. A espiritualidade humana, como fenómeno de projecção de toda a esperança existencial, floresce por todo o lado, mas tantas vezes assente nos bens materiais ou prometendo mundos e fundos absolutamente irrealistas. E as pessoas acreditam! Especialmente em tempos de crise, esta desordenança do ser pode-se agravar. A espiritualidade verdadeira, o autêntico cultivo dos valores profundos, oferece outro caminho: a paz, a serenidade, a redescoberta da esperança, a consciência que o ser humano é (criado) à imagem de Deus-Amor. Aqui tudo estará reequilibrado, também na redescoberta comprometida de forças vencedoras! Alexandre Cruz