terça-feira, 29 de abril de 2008

"PORTUGAL E OS PORTUGUESES"


Um livro de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto

Esta Terça-feira, dia 29 de Abril, pelas 19 horas, será lançada a obra «Portugal e os Portugueses», da autoria de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
A apresentação do livro, que terá lugar na livraria da Assírio & Alvim – Rua Passos Manuel 67B, Lisboa – será feita por Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura.
No primeiro capítulo – “Portugal e os Portugueses”, é reflectida a “relação entre os Portugueses e Portugal”. A segunda parte da obra – “Notas de Cultura Portuguesa” – aborda os temas do “Clericalismo e anticlericalismo na cultura portuguesa”, “O culto de Nossa Senhora: da fundação à restauração da nacionalidade”, “Maria na devoção dos portugueses – uma devoção nacional?” e “O Cristianismo é uma realidade ribeirinha”.
O terceiro e último capítulo – “Religião na Europa” – examina as questões do “Cristianismo e Europa: uma relação essencial” e “Religião na Europa: uma fronteira aberta”. Há ainda um anexo com entrevistas.
O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura apresenta o primeiro texto da obra – “Relação entre os Portugueses e Portugal” – que foi publicado pela primeira vez em Annualia 2006-7, da Editorial Verbo.
"A relação que mantemos com Portugal é, fundamentalmente, bíblica. Olhamos Portugal como uma personalidade colectiva portadora de uma alma, no sentido romântico do termo, ainda que referido a algo muito anterior ao Romantismo. E a relação que mantemos com esse gostoso e custoso colectivo vem na esteira de um outro povo, que se descobriu eleito e portador de uma missão universal", pode ler-se.

Fonte: Ecclesia. Clique aqui para ler mais

PONTES DE ENCONTRO


Cereais: de novo, para ajudar a entender!

Por mais de uma vez tenho abordado algumas questões relativas ao aumento dos cereais, em todo o mundo, com a consequente escassez destes bens alimentares na dieta básica de milhões de pessoas, o que tem provocado reacções de todo o género, que vão das manifestações públicas, em todos os continentes – algumas até bem violentas -, até a declarações de preocupação, proferidas por vários responsáveis políticos e religiosos, designadamente ao nível da Organização das Nações Unidas, independentemente da ineficácia que vem demonstrando, desde há vários anos, no seu funcionamento.
São factos indesmentíveis, ainda que, relativamente à causa, ou causas, que estão na origem destes aumentos, continuam a não aparecer respostas claras, explícitas e objectivas. Esta falta, persistente, de esclarecimentos rigorosos não deixa de ter uma leitura, a meu ver, negativa, pois começa a sobressair a ideia de que as explicações surgem em função dos interesses políticos ou ideológicos de quem diz que os dá.
Ainda, ontem, dia 28 de Abril, ouvi dois economistas portugueses a falarem deste assunto e os argumentos ou as razões de ambos não foram nada coincidentes.
Estaremos perante uma situação cujas explicações surgem em função de se gostar e defender, ou não, uma qualquer teoria económica?
Se assim for, tenho dificuldade em compreender porque é que as Nações Unidas promovem, a partir de hoje, dia 29, uma reunião na cidade de Berna, na Suíça, para discutir a crise alimentar mundial, tendo o seu mandatário a esta reunião, Jean Ziegler, referido que o direito à alimentação é “um direito fundamental para todos os que têm fome no mundo”.
Para este alto funcionário da ONU, o papel dos biocombustíveis, na crise alimentar, tem sido determinante nos aumentos dos cereais e a grande causa da fome no mundo, acusando a indústria dos biocombustíveis de estar por trás da súbita escalada do preço dos cereais.
Jean Ziegler ainda se pronunciou sobre a especulação, que calcula ser responsável em trinta por cento no aumento do preço dos produtos alimentares, estando, segundo disse, por trás das recentes interdições à exportação de arroz, em grandes países produtores, como é o caso do Brasil.
Esta iniciativa da ONU foi, entretanto, noticiada pela Rádio Vaticano.
Quanto à Comissão Europeia, deixou, ontem, um alerta sobre a crise alimentar. Nas suas previsões de Outubro de 2007, esperava uma subida de dez por cento, no preço da comida para o ano de 2008. Agora, diz que o aumento será de trinta e nove por cento, por causa da especulação, segundo notícia do “Diário Económico”, de hoje.
Voltando a ontem, dia 28, o economista João César das Neves escreveu um artigo de opinião, no jornal “Diário de Notícias”, com o título “O Fantasma da Fome Global”, no qual, reconhecendo que “A subida mundial dos preços alimentares é um tema dramático”, parece, depois, entrar em considerações onde “ A atenção mediática” centrada “em alguns efeitos pontuais”, o “Nervosismo internacional, maus anos agrícolas e instabilidade sociopolítica local hão-de passar.”
Falando da “famigerada especulação”, João César das Neves refere que “só de vez em quando surge para ficar com culpas.”
Afinal no que ficamos? Será que está tudo bem ou a caminhar para isso, não passando todas estas as notícias, destes últimos dias, de um alarmismo injustificado e perigoso?

Vítor Amorim

segunda-feira, 28 de abril de 2008

JARDEL ALERTA PARA O PERIGO DA DROGA


Em entrevista à Rede Globo do Brasil, Jardel, o grande goleador que ensinou como se marcam golos com aparente facilidade, passou um mau bocado na vida. De um dia para o outro, o goleador, o jogador que decidia campeonatos, como aconteceu no Sporting, foi derrotado pela cocaína. Confessou isso mesmo em entrevista que está a correr mundo. Quer, agora que se considera curado, pois não consome drogas há dois meses, voltar a jogar num clube grande do seu país, numa luta consigo mesmo. Resta saber se aos 34 anos ainda conseguirá marcar golos que resolvem jogos. Para mim, porém, a sua grande lição de vida está no testemunho que deu com a entrevista, alertando a juventude para o perigo da droga. Perigo que pode pura e simplesmente destruir um grande jogador. Ou um homem!

Coimbra: IPO


Na sala de espera do Instituto Português de Oncologia está sempre patente o rosto do País doente. E se não faltam expressões de dor, também nos confrontamos sempre com sinais de esperança.
Hoje estive em Coimbra como acompanhante de um familiar, para consulta de rotina. Nada de grave, é certo, mas é bom cultivar a prevenção. E ali, na sala de espera cheia de pacientes e acompanhantes, os meus olhos saltitaram de rosto para rosto, na ânsia de perscrutar o que ia na alma de cada um. Uns denotavam tranquilidade, outros reflectiam angústias, outros acreditavam na cura, outros fixavam os seus olhares num horizonte muito longe dali. Falta de cabelo disfarçada com lenço garrido em forma de chapéu que mãos hábeis souberam aconchegar, rostos macilentos, ternura em casais mais jovens e menos jovens, solidão de quem está só e que chega com bombeiro a ajudar. Todos os dias é isto.
Mas hoje ainda reparei nos voluntários que dão a sua alegria aos pacientes. Uns que acompanham os doentes às salas das consultas ou dos tratamentos, atentos e carinhosos; um que chega para anunciar, com ar de brincalhão, que todos podem dirigir-se ao átrio para tomar chá, café ou leite, “com umas bolachinhas”, tudo de graça, porque é oferta da Liga Portuguesa Contra o Cancro; outro que nos pergunta, solícito, se estamos com alguma dificuldade; outro, ainda, que anuncia que o São Pedro nos pregou uma partida: “andou-nos a dizer que tinha chegado o Verão e, afinal, está a chover.”
Que não senhor, responde um doente, “ainda agora vim de lá de fora e estava bom tempo”. “Olhe que não, olhe que não”, responde o voluntário. E lança o desafio: “vá ali à janela e já vê.” E alguns foram. Eu também. E estava mesmo a chover. Mas logo o Sol brilhou.

FM

RIA DE AVEIRO

(Clicar na foto para ampliar)
O meu amigo e amante da fotografia Carlos Duarte teve a gentileza de me enviar esta foto da nossa Ria com a Gafanha d'Aquém à vista. Dizia-me ele que era para o meu arquivo. Contudo eu acho melhor partilhá-la com os meus leitores. É que guardá-la poderá ser interpretado como sinal de egoísmo. E eu não estou nada interessado em cultivar esse defeito. Aqui fica ela com um abraço para o Carlos Duarte.

Na Linha Da Utopia


As Juventudes, todos os dias

1. Como hábito, o discurso presidencial do chamado dia da liberdade trouxe à ribalta sentimentos e preocupações que são reflexo da vivência diária da sociedade portuguesa. Desta feita o centro de referência foi a juventude. Duas tónicas foram sublinhadas: a «ignorância dos jovens» em relação à história política recente de Portugal, e nela a do 25 de Abril, e a «notória insatisfação» dos portugueses em relação ao funcionamento da vida política e democrática. Do que foi revelado pelo estudo efectuado sobre o alheamento das juventudes face à política, a configuração político-partidária tem deixado bastante a desejar nestas décadas democráticas.
2. Se por um lado se pode justificar o alheamento dos jovens da nossa história contemporânea pelo facto da idade, pois os jovens de hoje não viveram esse tempo concreto, por outro toda a complexidade da história que encerra a revolução dos cravos parece ainda mal compreendida, carecendo de uma pacificação na sua justa e contextual análise. No fundo, como tem sido passado esse testemunho e que «liberdade» tem falado da liberdade do 25 de Abril? Sem ocultar todos os complexos ângulos da questão, mas sem revivalismos que bloqueiam entendimentos em ordem ao futuro. Também, ainda que a história já fosse pacífica (se é que algum dia o será), uma certa indiferença da liberdade das juventudes vai assumindo contornos de desconhecimento dos pilares sociais fundamentais. Sem simplismos, tudo hoje corre demais e a história corre o perigo de passar à história.
3. Talvez, neste incompleto de essência da própria liberdade, afirma-se como imperativo tanto a consciência de que o regime da liberdade não pode esquecer a sua origem, como o não perder a consciência de que essa liberdade não é um dia histórico mas será tarefa diária. Talvez já seja pacífico entre as diversas correntes políticas a frase que o presidente da República referiu, pensamento semelhante ao de anteriores presidentes: que «num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar». Efectivamente, só quando as liberdades sintonizarem com todas as responsabilidades então atingiremos a meta... O estudo apresentado (como caminho de reflexão) revela que os jovens mostram aptidões extraordinárias para o voluntarismo social. Esta energia, que os partidos foram perdendo progressivamente, quererá ser integrada como dinamismo positivo na sociedade de todos…
4. O partido do governo no comentário ao discurso presidencial, destacava a «necessidade de envolver os jovens na política». Mas esta urgente consciência de participação cívica e democrática não cai do céu de forma instantânea. Importa alimentar de valores, éticas e princípios toda a vida social e, em particular, co-responsabilizando os jovens pelo presente (que é já futuro). Os jovens olham e perguntam: em que escala de valores se alicerça a vida social? Qual o lugar do ter em relação ao ser? É nesta fonte que a água terá de deixar de ser inquinada, quando não a mensagem não passa, antes pelo contrário. Também o optimismo precisa de raízes (no ser) para ter sustentabilidade. Quantas decisões, explícitas ou não, vão no caminho contrário ao da co-responsabilidade dos jovens na vida da comunidade…Vale a pena parar, apreciar e promover as instâncias que efectivamente apoiam os jovens numa vida com sentido e com valores sociais.

Alexandre Cruz

domingo, 27 de abril de 2008

O Papa Bento XVI nos Estados Unidos


Embora evitasse temas tão sensíveis nos Estados Unidos como a democracia e a discriminação das mulheres na Igreja ou a pena de morte, por exemplo, há quase unanimidade no reconhecimento do êxito da visita.
Dois objectivos principais moviam o Papa: tentar sarar as feridas profundas na Igreja e no país, causadas pelos abusos sexuais de padres com menores, e a visita à sede das Nações Unidas.
Quanto aos abusos sexuais, logo no voo a caminho de Washington, disse aos jornalistas que sentia “profunda vergonha”. Outra coisa, aliás, não poderia dizer. De facto, trata-se de pelo menos quatro mil padres pedófilos que abusaram de muitos milhares de menores. É repugnante e intolerável, tanto mais quanto a Igreja tem um discurso moral duro e até intolerante sobre a sexualidade. A Igreja perdeu, pois, autoridade moral e muitos crentes sentiram-se abalados na sua confiança.
Em sucessivas intervenções, o Papa referiu o incalculável sofrimento infligido por esses padres e reprovou que a hierarquia tenha “por vezes gerido muito mal” o problema.
Depois, num gesto inesperado, ouviu e conversou com um grupo de vítimas, no sentido de restaurar a esperança.
Para que a hipocrisia acabe e a ignomínia se não repita, é preciso tomar medidas concretas, pois a pedofilia é crime e há incompatibilidade entre o sacerdócio e o abuso sexual de menores. Uma das vítimas dirigiu ao Papa palavras duras: “Disse-lhe que tem um cancro na sua Igreja e que tem de fazer algo para atalhá-lo.” Aliás, há muito que a situação era conhecida – basta ler a obra The Changing Face of the Priesthood, de Donald B. Cozzens, que não é anticlerical. São necessárias mudanças, também ao nível institucional, e uma nova visão dos ministérios na Igreja.
No discurso na sede das Nações Unidas, no sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, defendeu a universalidade dos direitos humanos, sublinhou o seu fundamento e criticou as interpretações relativistas.
Os direitos humanos baseiam-se na “lei natural inscrita no coração do Homem e presente nas diversas culturas e civilizações”, sendo “cada vez mais apresentados como a linguagem comum e o substrato ético das relações internacionais”.
A sua universalidade, indivisibilidade e interdependência são outras tantas “garantias de protecção da dignidade humana.” É “evidente” que “os direitos reconhecidos e expostos na Declaração se aplicam a cada ser humano em virtude da origem comum da pessoa, a qual continua a ser o ponto central do desígnio criador de Deus para o mundo e para a História.” Desligá-los deste contexto “significaria restringir o seu alcance e ceder a uma concepção relativista, segundo a qual o sentido e a interpretação dos direitos poderiam variar e a sua universalidade poderia ser negada em nome das diferentes concepções culturais, políticas, sociais e mesmo religiosas.”
Ora, “a grande variedade de pontos de vista não pode ser motivo para obscurecer que não são só os direitos que são universais, mas igualmente a pessoa humana, sujeito desses direitos.”
A promoção dos direitos humanos na sua indivisibilidade é “a estratégia mais eficaz” para acabar com as desigualdades e reforçar a segurança. De facto, as vítimas da miséria e do desespero tornam-se presas fáceis dos que recorrem à violência e ameaçam a paz.
Depois de sublinhar a necessidade de “um consenso multilateral” na resolução dos problemas do mundo, talvez a novidade do discurso esteja na afirmação do direito de ingerência: todo o Estado tem o dever primário de proteger a dignidade da pessoa humana e os seus direitos, mas, “se os Estados não são capazes de garantir esta protecção, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos previstos pela Carta das Nações Unidas e outros instrumentos internacionais.”
É obvio que os direitos humanos devem incluir o direito à liberdade religiosa, que não se pode limitar ao livre exercício do culto, pois deve-se ter na devida conta “a dimensão pública da religião e, portanto, a possibilidade de os crentes contribuírem para a construção da ordem social.”
Anselmo Borges, no DN de sábado

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