quarta-feira, 26 de março de 2008

Na Linha Da Utopia



QUANDO NÃO SE DEVE REPETIR…

1. Sabemos todos das fronteiras da sociedade da informação. Implacável nos seus efeitos modeladores da vida pessoal e social. Com imensas virtudes e potencialidades, mas com contra-valores que por vezes desdizem a sua própria missão. Criam deuses e derrubam regimes; abrem novas vias de sociedade plural mas, mesmo em contextos de liberdade de informação, é ténue e delicada a “linha” entre o que é legalmente permitido e o que eticamente obriga ao discernimento e à contenção. O caso repetido continuamente nas notícias da “corajosa” estudante de telemóvel na sala de aula e da “temerária” e esmagada professora subjugada pela turma ridente, é uma das imagens que merecia um crivo pedagógico, não que viesse de fora como imposição mas fazendo parte da própria função socioeducativa das comunicações sociais. É naturalmente difícil esse consenso em apostarmos todos naquilo que, sem escamotear verdades inconvenientes, pode melhor criar formas de ser e estar em comunidade. Ninguém sabe os impactos (subjectivos) nestes dias das imagens de deseducação escolar; mas ninguém duvida que elas acabam por ser mais uma “acha” para um quadro de referência social e educativo já bem ateado.
2. As repetições sensacionalistas até ao excesso têm efeitos generalizantes e geram consequências contraditórias com o que se quer transmitir. As necessárias éticas da informação e comunicação, no meio das suas sempre ténues fronteiras de uma área concorrencial ao limite, não se podem deixar seduzir com o que o povo gosta ou com o que facilmente tem auditório. Tantas vezes, como neste caso da violência na escola, ao denunciar os males existentes acaba-se por divulgar e multiplicar esse mesmo mal. É uma pergunta delicada mas, pelas dificuldades do diálogo de gerações e numa certa indiferença dos valores onde “tanto faz” quem respeita quem, quantos estudantes da idade turbulenta vão despertando exacerbadamente para os seus direitos (de “passar de ano”) esquecendo-se dos seus deveres de pessoa, aluno, cidadão… Nesta cadeia de relacionamentos, o elo mais fraco tem merecido novamente uma exposição desmesurada e desautorizante: a professora/os professores; enquanto que o recriado sentido corporativo dos alunos vai abrindo os olhos para os seus “galões” da liberdade interminável de que são a razão de ser da escola.
3. Ainda assim esta sedutora casuística, não é verdade que este seja o quadro generalizado das escolas, e o pior que pode acontecer é a repetição caótica do mesmo “caso” que dá a sensação de estar tudo perdido. Neste contexto, também como actor da “cidade educadora”, as comunicações sociais, sendo-lhes permitido, como “ética” nem sempre devem repetir e repetir tudo o que conhecem. Ou já não há margem para isto, e o que conta é o que se quer fazer passar, esquecendo-se e promovendo deformação que se critica?

Alexandre Cruz

PASSAGEM




Nada mais lógico do que a grande festa cristã ser a festa da Passagem. Esta é a marca da nossa existência, uma passagem, em que aquilo que importa é não esquecer que não se fica indefinidamente no mesmo lugar, por mais que o homem sonhe com elixires da imortalidade.
Tomámos este ritmo da Natureza, a mesma que com as suas estações e ciclos lunares marca o calendário das celebrações pascais, este ano mais cedo do que algum de nós irá um dia voltar a ver.
Aprender que o mais importante é passar e não ficar é uma lição dura, que nem sempre estamos dispostos a receber. Percebemo-lo nos mais variados campos, da política à economia, do desporto à religião: é grande a tentação de pensar que não há um fim para o tempo em que se está, como se a vida não fosse, acima de tudo, tempo que passa. E depressa.
Páscoa é, afinal, o condensar da nossa existência: chegar e partir, sempre de novo, num percurso que, para a fé, leva o ser humano rumo ao esplendor da luz que não se apaga.
Inevitavelmente, a Páscoa recorda o núcleo da fé cristã: Cristo morreu e ressuscitou. Uma passagem singular, que marcou a história da humanidade, e que a Igreja apresenta a cada um como o seu caminho, o sentido da existência. Mais do que procurar elaborações complicadas do seu quadro de convicções ou de, supostamente, elaborar listas com novos pecados, procura, com a preparação e a celebração da festa da passagem, centrar-se no que é essencial sobre a vida do homem e sobre a eternidade.
A preocupação com o essencial, a transmissão da fé, foi também a marca do último triénio de trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa, que agora chega ao fim. Os novos caminhos, com a preocupação de adaptação aos tempos actuais, respondem, então, a esta necessidade de passagem, fazendo chegar à sociedade pós-moderna os critérios cristãos de leitura da realidade que a Igreja tem para oferecer.
É caso para dizer que, também neste caso, não há nada mais lógico do que a Igreja em Portugal querer falar daquilo que tem mais importância: a vida, a obra e a mensagem de Jesus. Porque há muitos que ainda não se aperceberam, por distracção ou por ingenuidade, de que só estão cá de passagem.

Octávio Carmo

O Papa defende «verdade histórica» da Ressurreição

“A Igreja proclama alegremente que Cristo ressuscitado tem o poder de mudar as vidas e de incidir uma nova luz na história humana. Hoje, tal como em todas as alturas, Cristo vem ao nosso encontro para permanecer no meio de nós com o seu poder salvífico”


Bento XVI

A telenovela continua

Já vi, vezes sem conta, o vídeo da aluna em luta com a professora por causa do telemóvel. A notícia, vista, ouvida e lida, também já cansa. O que agora se diz nada acrescenta ao que já se sabe. Não seria melhor acabar com estas cenas? Ou não há mesmo mais nada para noticiar? Quem procura notícias, durante o dia, está condenado a ver e a ouvir, até à exaustão, sempre as mesmas imagens, com as informações já gastas.

PÚBLICO com a blogosfera

O PÚBLICO passa a colaborar, de forma mais concreta, com a blogosfera. É um passo digno de registo, porque incentiva, por esta forma, a ligação às notícias do dia-adia. A ferramenta, chamada "Twingly", é já usada em alguns jornais estrangeiros, como o "Politiken", da Dinamarca, ou o "Helsingin Sanomat", da Finlândia.

Um poema de Orlando Figueiredo

Escrevo em segredo Escrevo em segredo as veredas do teu nome enquanto o misterioso hálito do teu veneno avança errante dentro de mim Por amor ou fantasia o fogo do teu olhar despe-me a alma em silêncio O que resta de mim apenas existe para tua glória Sou teu escravo o teu triunfo é o meu destino Orlando Jorge Figueiredo
- Fevereiro 2008

Dia do Livro Português


Segundo um “site” que consultei, hoje é o Dia do Livro Português. Bom motivo para lembrarmos, aqui, que Portugal tem dado ao mundo muitos escritores. Prosadores e poetas enchem a nossa memória, desde tenra infância. E ainda agora, com a infância já distante, não deixo de admirar tantos cultores da Língua Portuguesa, espalhados por todos os países lusófonos e pelos mais diversos recantos do globo.
O que mais me impressiona é que, cada dia que passa, novos escritores vão surgindo, oferecendo-nos belíssimos textos que nos permitem sonhar, através de viagens que nos propõem carregadas de histórias e emoções. A literatura portuguesa, afinal, talvez seja um dos poucos sectores da nossa vida colectiva que escapam às crises que nos envolvem. É um sector sempre pujante, não obstante as dificuldades que muitos escritores sentem em entrar nos gabinetes dos editores, mais preocupados, decerto, em divulgar os autores mais badalados.