QUANDO NÃO SE DEVE REPETIR…
1. Sabemos todos das fronteiras da sociedade da informação. Implacável nos seus efeitos modeladores da vida pessoal e social. Com imensas virtudes e potencialidades, mas com contra-valores que por vezes desdizem a sua própria missão. Criam deuses e derrubam regimes; abrem novas vias de sociedade plural mas, mesmo em contextos de liberdade de informação, é ténue e delicada a “linha” entre o que é legalmente permitido e o que eticamente obriga ao discernimento e à contenção. O caso repetido continuamente nas notícias da “corajosa” estudante de telemóvel na sala de aula e da “temerária” e esmagada professora subjugada pela turma ridente, é uma das imagens que merecia um crivo pedagógico, não que viesse de fora como imposição mas fazendo parte da própria função socioeducativa das comunicações sociais. É naturalmente difícil esse consenso em apostarmos todos naquilo que, sem escamotear verdades inconvenientes, pode melhor criar formas de ser e estar em comunidade. Ninguém sabe os impactos (subjectivos) nestes dias das imagens de deseducação escolar; mas ninguém duvida que elas acabam por ser mais uma “acha” para um quadro de referência social e educativo já bem ateado.
2. As repetições sensacionalistas até ao excesso têm efeitos generalizantes e geram consequências contraditórias com o que se quer transmitir. As necessárias éticas da informação e comunicação, no meio das suas sempre ténues fronteiras de uma área concorrencial ao limite, não se podem deixar seduzir com o que o povo gosta ou com o que facilmente tem auditório. Tantas vezes, como neste caso da violência na escola, ao denunciar os males existentes acaba-se por divulgar e multiplicar esse mesmo mal. É uma pergunta delicada mas, pelas dificuldades do diálogo de gerações e numa certa indiferença dos valores onde “tanto faz” quem respeita quem, quantos estudantes da idade turbulenta vão despertando exacerbadamente para os seus direitos (de “passar de ano”) esquecendo-se dos seus deveres de pessoa, aluno, cidadão… Nesta cadeia de relacionamentos, o elo mais fraco tem merecido novamente uma exposição desmesurada e desautorizante: a professora/os professores; enquanto que o recriado sentido corporativo dos alunos vai abrindo os olhos para os seus “galões” da liberdade interminável de que são a razão de ser da escola.
3. Ainda assim esta sedutora casuística, não é verdade que este seja o quadro generalizado das escolas, e o pior que pode acontecer é a repetição caótica do mesmo “caso” que dá a sensação de estar tudo perdido. Neste contexto, também como actor da “cidade educadora”, as comunicações sociais, sendo-lhes permitido, como “ética” nem sempre devem repetir e repetir tudo o que conhecem. Ou já não há margem para isto, e o que conta é o que se quer fazer passar, esquecendo-se e promovendo deformação que se critica?
Alexandre Cruz