terça-feira, 25 de março de 2008

José Sócrates garante: crise ultrapassada

O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou hoje que "os últimos três anos foram de uma governação muito difícil e exigente, com um grande esforço de contenção da despesa pública, mas a crise orçamental de 2002, que voltou em 2005, está ultrapassada, e os factores que a motivaram estão também resolvidos, com as mudanças estruturais feitas no país".
Andávamos todos preocupados, com medo de continuarmos num país sem futuro garantido, mas, afinal, não há razões para isso. Já podemos respirar fundo, encher o peito de ar e acreditar que, a partir de agora, sem loucuras, podemos admitir que haverá menos sacrifícios, sobretudo para quem tem passado estes últimos anos a apertar o cinto.

Delírios Suaves

"Cartas das Finanças que não estranharei se porventura me chegarem: Inquérito sobre os lugares onde compro jornais e revistas, por que raio compro tantos todos os dias, onde guardei as facturas, o que quer dizer “Rita:91123456” nas costas daquela factura da FNAC, onde está o Correio da Manhã de 27 de Dezembro a que corresponde esta factura, por que motivo não apresento facturas comprovativas da aquisição do jornal 'Meia-Hora'."
Leia mais em Pedro Rolo Duarte

LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO


O Presidente da República, Cavaco Silva, de visita oficial a Moçambique, tem dedicado largo espaço à Língua Portuguesa, a quinta mais falada no mundo. Isso, porque entende que o Português que deve ser mais apoiado a nível internacional, por todos os portugueses e pelas organizações estatais. “Os nossos interesses comuns impõem um trabalho conjunto em favor de uma maior afirmação internacional da nossa língua, mais consentânea com o seu estatuto de quinta língua mais falada no mundo”, afirmou o chefe de Estado, como li na comunicação social.
Quanto ao polémico acordo ortográfico, de que tanto se fala, penso que se impõe uma maior difusão dos prós e contras do acordo, sem esquecer que a Língua Inglesa, pelo que sei, nunca precisou de qualquer acordo para se impor no mundo. O mesmo se diga do Castelhano, também tão falado em toda a parte do universo.

FM

Fisco questiona os noivos

Mas quem teria pago o bolo?

O Fisco, na ânsia de cobrar impostos e de castigar quem a eles foge, resolveu questionar os noivos, no sentido de descobrir quem pagou o quê e a quem. Acho legítimo que o Fisco procure saber o que se compra e o que se vende, com o intuito de obrigar os transgressores a cumprirem as leis fiscais do País. Mas daí a incomodarem os noivos e a obrigá-los a denunciarem as ofertas que lhes fizeram vai uma grande distância. Penso que o Fisco terá possibilidades de descobrir tudo isso sem recorrer a processos de denúncia e a inquéritos a noivos. Por esse andar, qualquer dia, teremos o mesmo em relação aos baptizados, aos funerais, às festas de aniversário e quejandos.
Acho que os questionários não podem invadir a privacidade de ninguém, muito menos de quem vive uma festa que se pretende única e para sempre. Por exemplo, porque é que o Fisco não avisa que as empresas ligadas à organização de casamentos têm de estar colectadas, com contabilidade organizada? Isso parece-me legítimo. Como é legítimo fiscalizar as lojas que vendem objectos ou produtos conotados com prendas. Agora, procurar saber quem deu prendas… e quem prestou serviços… junto dos noivos, é que não me parece correcto. Parece-me certo, até me demonstrarem que estou errado.
FM

segunda-feira, 24 de março de 2008

Segunda-Feira de Páscoa


Na segunda-feira de Páscoa, o povo da Gafanha sempre a dedicou à Feira de Março. Quando eu era miúdo, os autocarros da Auto Viação Aveirense não paravam, sobretudo depois do almoço. O pessoal não tinha carro, como hoje. O meio de transporte mais usual era a "camioneta da carreira", como então se dizia. Nas paragens, os amigos da Feira apareciam em massa. Depois, era a compra de pequenas coisas que faziam falta ao dia-a-dia: a colher de pau, o tacho de barro, os brinquedos para a criançada, as farturas que sempre ali tiveram espaço, o saca-rolhas, os sapatos e a roupa feita, etc. Compras feitas, uma voltinha nos carrocéis, uma visita ao Poço da Morte, onde o Dias, do Stand Dias, mostrou como um jovem normal também lá sabia andar de mota, era o regresso com a tralha às costas. E as camionetas, com o tejadilho cheio, lá faziam o transporte de regresso a casa. Era um dia de alegria.
FM

ÍLHAVO: Homenagens no Dia do Município

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré na Polónia

A Câmara de Ílhavo homenageou, hoje, em sessão solene, comemorativa do dia do município, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré e três munícipes considerados “embaixadores de Ílhavo no mundo”, todos com medalhas de vermeil. Ainda foram distinguidos, com medalhas de dedicação, os antigos funcionários Fernando Conde e Hélder Viana. Em minha opinião, os galardoados mereceram o reconhecimento da autarquia, pelo muito que fizeram em prol do Concelho de Ílhavo e da suas gentes.
Os meus parabéns a todos.

ÍLHAVO: Feriado Municipal


E os ílhavos saíram vencedores...
(...)
«Ora os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul: a questão fora interrompida com a nossa chegada à proa do barco. Mas um dos ílhavos – bela e poética figura de homem –, voltando-se para nós, disse naquele seu tom acentuado: “Pois aqui está quem há-de decidir: vejam nos senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim. Mas nós...”
– “Nenhum de nós é de Lisboa: só este senhor que aqui vem agora.”
Era o C. da T. que chegava.
– “Este conheço eu; este é dos nossos!” bradou um homem de forcado, assim que o viu: “Isto é um fidalgo como se quer. Nunca o vi numa ferra, isso é verdade; mas aqui de Valada a Almeirim ninguém corre mais do que ele por sol e chuva, e há-de saber o que é um boi de lei, e o que é lidar com gado.”
– “Pois oiçamos lá a questão.”
–“Não é questão”, tornou o Ílhavo: “mas, se este senhor fidalgo anda por Almeirim, para Almeirim vamos nós, que era uma charneca outro dia, e hoje é um jardim, benza-o Deus! – mas não foram os campinos que o fizeram, foi a nossa gente que o sachou e plantou, e o fez o que é, e fez terra das areias da charneca.”
– “Lá isso é verdade.”
– “Não, não é! Que está forte habilidade fazer dar trigo aqui aos nateiros do Tejo, que é como quem semeia em manteiga. É uma lavoura que a faz Deus por Sua mão, regar e adubar e tudo: e o que Deus não faz, não fazem eles, que nem sabem ter mão nesses mouchões co plantio das árvores: só lá por cima é que algumas têm metido, e é bem pouco para o rio que é, e as ricas terras que lhes levam as enchentes.”
– “Mas nós, pé no barco pé na terra, tão depressa estamos a sachar o milho na charneca, como vimos por aí abaixo com a vara no peito, e o saveiro a pegar na areia por não haver água... mas sempre labutando pela vida.”
– “A força é que se fala” tornou o campino, para estabelecer a questão em terreno que lhe convinha: “A força é que se fala: um homem do campo que se deita ali à cernelha de um toiro que uma companhia inteira de varinos lhe não pegava, com perdão dos senhores, pelo rabo!...”
E reforçou o argumento com uma gargalhada triunfante, que achou eco nos interessados circunstantes que já se tinham apinhado a ouvir os debates.
Os ílhavos ficaram um tanto abatidos; sem perderem a consciência de sua superioridade, mas acanhados pela algazarra.
Parecia a esquerda de um parlamento quando vê sumir-se, no burburinho acintoso das turbas ministeriais, as melhores frases e as mais fortes razões dos seus oradores.
Mas o orador ílhavo não era homem de se dar assim por derrotado. Olhou para os seus, como quem os consultava e animava, com um gesto expressivo, e voltando-se a nós, com a direita estendida aos seus antagonistas:
– “Então agora como é de força, quero eu saber, e estes senhores que digam, qual é que tem mais força, se é um toiro ou se é o mar.”
– “Essa agora!...”
– “Queríamos saber.”
– “É o mar.”
– “Pois nós que brigamos com o mar, oito e dez dias a fio numa tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes que brigam uma tarde com um toiro, qual é que tem mais força?”
Os campinos ficaram cabisbaixos; o público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição, e o Vouga triunfou do Tejo.»


Almeida Garrett
In "Viagens na minha terra"
Nota: O fidalgo "C da T" era o Conde da Taipa