As bolsas, o Tibete e os Jogos de Pequim
1. Dos últimos tempos aos últimos dias, o “efeito dominó” tem marcado o ritmo dos reajustamentos da economia mundial às novas configurações da globalização em curso. Neste cenário, “economia” vai sendo a palavra mais que repetida ganhando contornos, infelizmente (dizemos) de que “tudo” é economia; o que seria um “meio” cada vez mais vai sendo um “fim” em si mesmo, o que proporciona ambientes de estratégia e posicionamento em ordem mais ao progresso do “ter” desmesurado que no sentido de uma justa “justiça social” como referencial das chamadas sociedades desenvolvidas. Entre tantas e múltiplas causas da “crise” (ainda que se procure sempre fugir a esta palavra desmotivadora) do reajustamento é a própria especulação dos mercados americanos; especulação, um “sinal” que, de algum modo, se procura “ter mais olhos que barriga”.
2. Do outro lado do mundo, ou melhor, (hoje) ali ao lado, na China que se prepara para a “imagem” simpática e publicitária dos Jogos Olímpicos do próximo verão, vive-se o que já, felizmente, vai tendo repercussões: a histórica chacina da China sobre o Tibete vai ceifando vidas. Diversas instâncias dos Direitos Humanos e da ordem política vão lançando forte alerta sobre Pequim. Resta saber o que fará a capital do gigante acordado imperial chinês. Sabe-se de muita desumanidade daqueles lados e de que as próprias condições das áreas do “trabalho” continuam a anos-luz de uma dignidade condigna dos humanos. Mas tudo avança, tudo tem avançado, quase numa opção de “cegueira” dos poderes ocidentais, privilegiando-se as trocas comerciais aos pressupostos da dignidade humana. Claro que as realidades não são lineares; mas é certo que o novo paradigma (menor) chinês vai abrindo caminhos de retrocesso em termos de humanidade global.
3. Reparando na história do Tibete, podemos identificá-la com muitas das histórias de povos que, anexados à força, procuram a sua legítima autonomia. Assim aconteceu com o Tibete que, na sua história recente, em 1950 foi invadido pelo regime comunista sendo “província” anexada e nos inícios de 1999 foi vítima de forte campanha ateísta pelo regime de Pequim. Os factos que nestes dias temos observado são a continuação desta ofensiva e da busca de autonomia. Pelo mundo fora aqueles que, efectivamente se identificam com a liberdade “livre” não podem pactuar com a actuação do regime comunista “híbrido”. Que sentido terá, neste quadro, a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim na China, quando lá se tem procurado iludir a realidade que agora se testemunha no Tibete? Para os atletas os jogos são importantes. Para as instâncias sócio-políticas só nas condições de humanidade e paz os jogos fazem sentido.
4. Também sabemos que os efeitos da pressão internacional, mesmo desta forma, podem ajudar à prevalência dos Direitos Humanos e da consequente autonomia dos povos e da liberdade religiosa. Quem dera que, no mundo global, todas as apostas fossem projectadas na humanidade dos humanos! Também o Tibete continua como símbolo dessa árdua luta da liberdade no Séc. XXI.
Alexandre Cruz