sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cronistas que vêem tudo negro...

Fico sempre espantado com os nossos cronistas que vêem tudo negro. Aprecio Vasco Pulido Valente pela sua cultura e domínio de escrita, mas não entendo tanto pessimismo sobre Portugal e os portugueses. Hoje, na sua crónica do PÚBLICO, voltou à carga, ressuscitando epítetos que nos foram atribuídos por gente importante do nosso País, desde Alexandre Herculano, Bulhão Pato e D. Carlos, com “Isto dá vontade de morrer”, “Piolheira”, “Choldra”, até aos políticos actuais que provocaram “um mal-estar difuso”. Passando, claro, pelos republicanos que ficaram desiludidos e pelos que sempre lutaram por alcançar a Europa sem nunca o terem conseguido, acabando na garantia de que “ninguém faz nada com sentido”. Afinal, segundo ele, "Portugal sempre gostou muito pouco de si próprio". Pelas suas contas, os portugueses não consegue sair da angústia nacional… Ora, a verdade é que há muita gente a pregar que vivemos num país inviável, mas cá estamos desde que D. Afonso Henriques deu o grito de independência, batendo-se com garra contra quem se lhe opunha. E passou essa mensagem às gerações seguintes para que o continuássemos. Porquê então tanto pessimismo?
FM

Espraiei nas dunas os meus olhos





Espraiei nas dunas os meus olhos
até à imaginação
em dia de primavera prometida
Fixei ao longe o céu escuro pela bruma
de sonhos esquecidos
E pensei nos tempos vividos
à sombra dos areais da minha infância
com farol à vista


FM

Professores protestam



Não sei se alguma vez, na nossa demo-cracia, os professores protestaram tanto como estão a fazê-lo agora. Que me recorde, não. De qualquer modo, esta classe profissional que está na base da formação das presentes e futuras gera-ções, dependendo dela os que hão-de continuar Portugal, não merecia que a obrigassem a andar nas ruas a protestar. Que o protesto público, quando justo, é tão digno como o que decorre dentro dos espaços de trabalho, diga-se, contudo, desde já. Porém, os professores, das mais variadas idades e graus de ensino, deviam poder contar com os nossos governantes para um diálogo face a face, donde pudesse sair uma reforma justa.
Ninguém contesta o direito de o Governo, democraticamente eleito, proceder às reformas há tanto esperadas e que constam das suas promessas eleitorais. Mas também é verdade que qualquer reforma pressupõe um trabalho conjunto entre quem governa e quem é parte interessada e fundamental para dar seguimento ao que vier a ser decidido.
Custa-me imenso ver o desalento dos professores, certamente por se sentirem marginalizados na discussão dos problemas que lhes dizem respeito. Quem nasceu para ensinar e para educar, jamais compreenderá quem insiste em lhe impor reformas sem diálogo, sem explicações plausíveis e muitas vezes sem lógica.
É sabido que o ministro da Saúde saiu do Governo por falta de capacidade para explicar as suas reformas no sector. Penso que a ministra da Educação está a seguir o mesmo caminho.
O melhor, a meu ver, será o primeiro-ministro decretar uma pausa para pensar. Depois, calmamente, que todos se sentem à mesa para conversar. Sem radicalismos. De uma parte e de outra. As nossas crianças e jovens, mais as suas famílias, exigem-no.

FM

Rão Kyao: Paz interior

Entrevista no DN



O que é que encontra no campo que a cidade não lhe oferece?


Principalmente, a paz interior. Há um reco-lhimento muito forte que é difícil de conseguir na cidade. Todos os dias viajo até ao campo para tocar um pouco. É um ambiente calmo, com muito ar puro. O lado contemplativo está sempre pre-sente.



PISCAR DE OLHOS



É esta a forma de comunicar de Jean-Dominique Bauby. Tudo o que pensava e sentia era transmitido por um piscar de olhos. Se queria dizer “sim” piscava uma vez; se pretendia dizer “não”, piscava duas vezes. E com que facilidade o fazia! E que serenidade transparecia do seu rosto! De uma enorme desgraça, emergia uma maravilha!
Há uma grande cumplicidade natural entre o coração e os olhos. A quadra popular expressa-o muito bem: “O coração mais os olhos, são dois amigos leais; quando o coração está triste, logo os olhos dão sinais”. Esta cumplicidade funciona com normalidade. O olhar é o espelho do coração e da multiplicidade de afectos e emoções, de preferências e critérios, de opções e atitudes que dão origem à qualidade de um estilo de vida humanizado.
Bauby era director da revista francesa “Elle” e aos 42 anos foi vítima de uma doença que o deixou intelectualmente lúcido, mas totalmente paralisado. Apenas um piscar de olhos lhe permitia expressar-se. Foi assim que escreveu o livro “O escafandro e a borboleta", adaptado ao cinema com rara felicidade. A borboleta é o símbolo das mensagens que envia do escafandro – a prisão em que se encontra. Em cada voo, vem um postal com um hino à vida, o valor das pequenas coisas, a força da esperança, o brilho da luz e tantas outras maravilhas que, quando perdidas ou debilitadas, adquirem mais valor.
Aquele piscar de olhos gravou-se na minha imaginação e deixou-me marcas profundas. Envolve a passagem da cegueira à visão, do isolamento à comunicação, do estar só à companhia, do orientar a vida por critérios subjectivos a ter referências objectivas, humanas e cristãs, do deixar escapar o momento fugaz a agarrar o tempo como única oportunidade de salvação.
O Evangelho – que narra a cura do cego de nascença – apresenta esta passagem em forma de itinerário espiritual. Quem se prepara para o baptismo vai adquirindo um novo olhar iluminado por Jesus Cristo – a luz do mundo. E, depois de baptizado, sente a necessidade de aprender a ver com o coração e não apenas com os olhos.
De facto, ver com o coração é ir além das aparências e descobrir a realidade, é apreciar o belo e o bom ainda que camuflados de laivos de fealdade e de maldade, é despertar o melhor de cada consciência mesmo que misturado em desvios erráticos notórios, é deixar o lodo e contemplar as estrelas, é sentir o “piscar dos olhos” de Quem aponta o caminho e respeita a liberdade, de Quem confia em nós, mas exige responsabilidade.

Georgino Rocha

Ano Europeu do Diálogo Intercultural

Mais de 500 actividades
agendadas de Norte a Sul do país

Rosário Farmhouse,
Alta-comissária para a Imigração
e Diálogo Intercultural

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

NECESSIDADE PERMANENTE DE PURIFICAÇÃO

Diz a história do Vaticano II, por muitos já esquecida ou nunca aprendida, que foi grande a discussão dos padres conciliares quando se reflectiu sobre a condição, ao longo do tempo, da Igreja, Povo de Deus, que peregrina no mundo. Viu-se então que, na sua história, havia páginas de santidade, mas também páginas com desvios do rumo que o seu Fundador lhe imprimira.
Era preciso deixar explicito que se assumiam umas e outras na sua verdade total. Foi assim que surgiu uma proposta de redacção para ficar no texto conciliar e que falava da Igreja de Jesus Cristo “santa e pecadora”. A afirmação, tal qual, não agradou, pois se acreditamos que o Espírito Santo a conduz e a anima na sua vocação à santidade, que é a vocação de todos os seus membros, o pecado não faz parte da natureza da Igreja, mas é resultado da falta de verdade e coerência daqueles que, dizendo-se cristãos, lhe desfiguram o rosto, que é o de um Deus Pai, rico em misericórdia, e de um Filho, que a quer pura e santa e por ela se entregou à morte, vencendo esta com a sua ressurreição.
Encontrou-se então uma fórmula mais aceitável, verdadeira e estimulante: “Igreja santa, mas sempre necessitada de purificação”. Assim se respeita a verdade da santidade e se faz apelo a que se considere a condição do pecado como transitória, com a libertação sempre à vista para quem quiser livremente aceitar o caminho, que Cristo abriu para todos.
A santidade de muitos cristãos, mais numerosos que os que recebem o reconhecimento público das suas virtudes, é um património da Igreja, rico e inegável. Ela mostra a todos, deste modo, aos de dentro e os de fora, como não faltam, nem nunca faltaram, cristãos para os quais Deus é o único Senhor, a Luz das suas vidas e a Força do seu caminhar, crescendo cada dia à medida de Cristo, no meio de contrariedades, lutas e trabalhos.
A Palavra de Deus, revelada e transmitida pela Tradição, ajuda-nos a entender que o santo é o cristão normal e que a santidade está ao alcance de todos os filhos de Deus, constituindo para cada um o apelo a ir mais longe, iluminado interiormente por uma fé esclarecida e coerente.
Porém, a Igreja não esquece nem pode esquecer que o tempo da peregrinação no mundo, se é o tempo do mérito, é também o tempo “da grande tribulação”. O tempo põe à prova tanto a grandeza, como a debilidade de cada um de nós. Por isso, a Igreja nunca deixará de convidar os cristãos à conversão evangélica, a voltarem-se para Deus com as suas forças e fraquezas, vitórias e derrotas, e a alinharem a vida toda, segundo o amor que lhe dá sentido e com garantia de segurança e de êxito. Assim, vai dizendo que todos podemos ser vencedores nos combates da vida, dando sentido de vitória a cada pequeno ou grande combate que vamos travando.
Só o amor a Deus e aos outros, por razão de Quem primeiro nos amou, é caminho de salvação. Só o deixar de estar ligado à Fonte da vida e de amar aqueles de nós mais precisam é prenúncio de perda e sinal do pouco que Deus pode significar para nós.
Não é fácil reconhecer a nossa condição, tanto de romeiros a caminho da santidade, por gestos de verdade e coerência de vida, como de humildes pecadores, que, por acções e omissões, vão deixando secar no coração o amor que salva.
Cada ano, na Quaresma, e, ao longo dos meses, através das acções mais diversas, a Igreja, mãe e mestra, nos estimula e adverte, tanto para a possibilidade da santidade ao alcance de todos, como para o perigo do pecado pessoal, social e comunitário, ao qual não faltam ocasiões aliciantes e portas abertas e convidativas a entrar.
É, também, tempo para dizer a todos que a necessidade de purificação acompanha a Igreja no seu a dia de peregrina e constitui um apelo claro com as suas exigências e verdade.
No tempo da peregrinação, que é o do enraizamento, prova e purificação da fé, nem há santidade consumada, nem situações irremediáveis. Definitivo, só o amor de Deus para com todos.

António Marcelino

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