quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

UM MUNDO DE GENTE ENCRESPADA E DESILUDIDA





Parece que andamos todos a jogar taco a taco ou desconfiados de quem passa ao nosso lado, como se fosse um inimigo. Todos os dias, polémicas, desmentidos, respostas tortas e crispadas, opiniões a pretender ser moeda única na comunicação. Todos os dias a parecer que as relações sociais e o direito de cidadania e de expressão têm de ser inspirados no prós e contras. Cada vez mais frequentes as manifestações de rua que, anos atrás, eram apenas por razões laborais e hoje, também, para expressar direitos fundamentais à saúde que só este campo dá razões, sem conta, para crispar as pessoas.
É verdade que só o governo fornece matéria de sobra para esta irritação colectiva, que já deixa poucos de fora, pouco mais que a gente que vive longe de Lisboa, que quando sente esmagada ou esquecida, mostra a coragem e a sabedoria da vida que leva consigo. Então não se cala e, como o cego de nascença do Evangelho, que é mandado calar por quem não quer ser incomodado, mas o faz gritar ainda mais. Na persistência teve a cura, porque alguém, por gritava, o ouviu. Mas esse foi Jesus, não o ministro da saúde...
Na vida em sociedade há coisas ambivalentes e difíceis que não se esclarecem só porque sim e não se implementam validamente, só pela força férrea de quem manda.
Há resignação que não é aceitação e a resignação pode sempre levar ao “já basta”.
Quem detém a autoridade, pais, professores, bispos e padres, ministros e subalternos até ao extremo dos agentes de segurança pública, precisa de saber que, se já não é igual quem é chamado a obedecer, também não pode ser igual quem detém a autoridade.
Não se trata de subverter o papel da autoridade, mas sim de a compreender e exercer como serviço, respeito pelos súbditos, sejam eles quem forem, diálogo normal que já ninguém dispensa, nem sequer os miúdos dos jardins-de-infância. Depois, também a consciência de que opiniões não são dogmas e a grandeza de alma para reconhecer que nem sempre o que se mandou estava certo e era o melhor, ou que não foi previamente dialogado e justificado. A teimosia não é força de razão.
A nível nacional os factos multiplicam-se todos os dias: o lugar do aeroporto, o furor da ASAE, a administração BCP, as medidas precipitadas na saúde, a sobrecarga das urgências já tornadas átrios de morte, o eterno problema das escolas, a polémica lei do tabaco, a dança das pensões de reforma, as leis do trabalho, o disparado custo de vida, os impostos, o desemprego sempre a crescer, enfim e acima de tudo o manifesto desfasamento entre o discurso dos governantes e a vida das pessoas…
Parece que o governo, que até tem tomado medidas necessárias, decidiu ouvir pouco ou mesmo nada, com excepção para os grupos de pressão, escondidos atrás de anonimatos e vénias. Para o povo e seus representantes naturais e as diversas instituições que com ele lidam de perto e sabem interpretar os seus sentimentos e seus desejos não há tempo.
Já alguém disse que as diversas autoridades, e disse-o olhando os governantes, são “ventríloquos”. Como a tentação é de todos, pode estender-se a outros com poder de decisão. Quem fala só para dentro ou só fala de si, dá nota de merecer especial atenção. A comunicação normal é feita com os outros, para que possa ter eco, resposta e parceria colaborante nas decisões a tomar.
Muito deste clima encrespado evitava-se e teríamos mais concórdia e colaboração, se todos valessem por si e fossem mais responsabilizados na resposta às necessidades emergentes. O governo, para poder estimular quem serve e apoiar quem age, tem de ter abertura, proximidade normal das pessoas, diálogo construtivo.
Se entramos no “hoje sim, amanhã não”, jamais se saberá a ponta a pegar na conversa. Isto leva à critica fácil, ao arredar dos mais válidos, ao ascender dos mais inúteis, à escolha de criados de serviço, a que se dispensam opiniões e se favorecem aspirações.


António Marcelino

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Papa cancela visita a Universidade Italiana


O Papa cancelou a visita que estava programada à Universidade “La Sapienza”, de Roma, atendendo aos protestos de alguns professores e alunos. A visita tinha sido preparada a pedido do Reitor da Universidade, durante uma recepção no Vaticano.
O Presidente italiano, Giorgio Napolitano, manifestou a sua solidariedade a Bento XVI após a anulação da visita. Houve manifestações de apoio ao Papa, por parte de muitos católicos. Alguns jornais de grande circulação em Itália também repudiaram a atitude de professores e alunos, que mostraram a intolerância de que são capazes.
O mundo está assim. Parece que se está a tornar moda hostilizar as religiões, nomeadamente a Católica, nas pessoas dos seus responsáveis. Sobretudo em alguns meios intelectuais e académicos. A religião católica parece que incomoda muita gente. Ou então é politicamente correcto, para algumas inteligências, ser anti-religioso de forma agressiva e mal-educada. Prega-se a liberdade, a tolerância, o diálogo entre todos, crentes e não crentes, mas no fundo, certa gente, sente-se bem a provocar quem tem fé, com direito a vivê-la, negando qualquer possibilidade de ouvir os que têm ideias diferentes. Vêm com fantasmas, com argumentos ridículos, com teorias sem sentido, como se um intelectual católico, como é Bento XVI, não tivesse lugar numa universidade como “La Sapienza”, por sinal fundada por um Papa.
Estou em crer que, se o convidado fosse um líder muçulmano ou um ditador qualquer, com aversão à democracia e aos direitos humanos, talvez a universidade italiana lhes franqueasse as portas e a cátedra, com os aplausos dos que agora ofenderam o Papa.

Na Linha Da Utopia


A Identidade à Francesa!

1. A força cultural de certos países foi e vai imprimindo as suas próprias modas como hábitos de pensar e viver. Tantas vezes uma impressão quase imposição de modelos que, herdando momentos decisivos da história do passado, acabam por “ir à boleia” da sua memória não se vendo no presente como sair do pântano... Quantos clubes e mesmo instituições cristalizaram no tempo e nos seus tempos gloriosos passados! Claramente salta à luz do dia que, com a velocidade dos acontecimentos da história presente e na incapacidade da adaptação das tradições pesadas, o cordão umbilical da ligação à contemporaneidade se vai perdendo. Isto mesmo aplicar-se-á às linguagens, às instituições de ensino, às instituições políticas e mesmo religiosas. Hoje, o ritmo de tudo será diário, e numa transversalidade de processos andantes e, aos níveis institucionais, necessariamente transnacionais. Nada de novo; ou melhor, tudo novo, quando não, o comboio passa…
2. Neste sentido muito concreto, quase que se poderá perguntar: que vale ao Benfica ter uma história gloriosa se hoje a “coisa” não funciona? Que valerá aos portugueses a lembrança nostálgica dos feitos heróicos de há cinco séculos se hoje não se beber desse dinamismo criativo e visionário? Que vale à França ter marcado a história com uma Revolução Francesa (1789) de alguns valores universais, mas que depois se tornaram nacionalistas… conduzindo a sua própria história com défices interculturais? Enfim, tudo tem o seu valor… numa história que nunca se deve (nem pode) apagar. Mas por vezes parece que preside às relações das nações um contraditório: por um lado não se dá lugar às grandes mensagens históricas que construíram o património de valores universais, por outro, quando dá jeito, puxa-se pelos galões da história particular de cada nação para a garantia de superioridade sobre “o outro”…
3. A própria história, afinal, que se constrói todos os dias, encarrega-se de diferenciar positivamente o que tem valor. O segredo dos portugueses no séc. XV-XVI, da Holanda no séc. XVII e dos Estados Unidos no séc. XVIII-XX foi a capacidade de abertura cosmopolita, lendo a “diferença” como “complementaridade” numa unidade superior. O “fechamento”, quer por motivações políticas, filosóficas ou religiosas, sempre conduziram ao isolamento asfixiante, ao princípio do fim. O que acontece em França, diríamos, é consequência natural das opções seculares exclusivistas sobre os “outros”... Uma identidade “à francesa” que vai perdendo terreno no panorama social, cultural, literário, estando a cidade de Paris sem a “Luz” que outrora foi impulso na ordem da racionalidade.
4. Neste particular, Nuno Rogeiro há dias destacava que, diferentemente dos relacionamentos nas comunidades hispânicas e francófonas, as comunidades lusófonas vivem uma (quase generalizada) proximidade sadia… O que faz com que muitas das ex-colónias francesas e mesmo inglesas da África do futuro aprendam o “português” como a língua dos relacionamentos culturais e comerciais. Também as últimas presidências francesas têm demonstrado (e continuam) que, em termos de liderança e visão, a “razão” das luzes anda descolorida… Entre as múltiplas identidades como pertença futura, talvez a “identidade à francesa” como sinal de modernidade tenha os horizontes mesmo comprometidos.


Alexandre Cruz

ARES DO INVERNO


SOL ESCONDIDO
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O Sol, escondido nas nuvens, tarda em nos aquecer. Lá está ele, à espreita, mas as nuvens negras não o deixam chegar até nós, que bem precisamos do seu calor. A chuva virá a seguir, para nos recordar que estamos no Inverno. Nós já sabemos, é certo, mas sempre gostamos de sonhar com o tempo primaveril e com o calor do Verão. Tudo há-de vir a seu tempo. Até lá, contentemo-nos com a beleza das fotografias, que o Inverno, afinal, também nos proporciona.

SOMOS UM PAÍS DE PESSIMISTAS?

Há programas de rádio e televisão que abrem os seus microfones a quem se dispuser a telefonar. Concordo com esta maneira de dar voz a quem normalmente não a tem. Por esta forma, é possível ouvir desabafos, críticas e reacções aos problemas do dia-a-dia que afligem as pessoas. De quando em vez lá consigo aproveitar algum tempo livre para ficar a par do que pensam os portugueses sobre a realidade da nossa sociedade. Por vezes, aparecem pessoas com saber e calma suficientes para dizerem o que pensam, com delicadeza e capacidade de síntese. Outras, nem por isso. Poucas afinam pela positiva, sublinhando o que há de bom, sem deixarem de dizer por que razão não concordam com isto ou com aquilo. A maioria, frequentemente com azedume, acha que está tudo mal. Todos os políticos são desonestos e incompetentes, todos os serviços públicos são incapazes, tudo está errado. Raramente aparece quem diga bem seja do que for. Fico com a ideia de que, de facto, somos um País de pessimistas. Sendo verdade que há muito a corrigir, muito a aperfeiçoar, também é verdade que há muita coisa boa. No meio, afinal, é que estará a virtude. FM

Ponte da Barra






PONTE DA BARRA VAI FAZER 30 ANOS DE VIDA
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A Ponte da Barra, presentemente em obras de restauro e de beneficiação, vai completar 30 anos de vida. Com a conclusão das obras em curso, os responsáveis políticos e técnicos estão a oferecer-lhe uma boa prenda, que é, também, uma prenda para quem diariamente a utiliza e para quem nos visita.
Começou a ser construída em 1972 e em 1978 foi dada como utilizável em pleno, para bem das populações e do turismo em geral. Recordo-me bem do que isso significou para todos. Até aí, todo o trânsito de Aveiro para as praias fazia-se através da Gafanha da Nazaré. Imaginem os mais novos o que isso significava. Um autêntico pandemónio, sobretudo no Verão, com carros e mais carros a tornarem impossível passar-se de um lado para o outro, a pé, na chamada Av. José Estêvão. E então, quando ainda havia inúmeros carros de vacas, o caos generaliza-se, já que a avenida não era suficientemente larga.
FM

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

PRÓS E CONTRAS

NOVO AEROPORTO DENUNCIA ERROS CRASSOS Ontem à noite ainda consegui ver o programa PRÓS E CONTRAS, na RTP, moderado pela jornalista Fátima Campos Ferreira, que nem sempre consegue esconder de que lado está, quando devia ser completamente isenta. Se há muita gente a contestar esta atitude de uma jornalista credenciada, a verdade é que deve ser difícil esconder sempre as suas preferências. Não há ninguém perfeito, mesmo aqueles que pregam sê-lo. Três notas, apenas, em jeito de comentário: 1 – Este processo do novo aeroporto veio mostrar que a democracia não pode ser jogada só pelos partidos políticos e pelos políticos profissionais ou militantes de uma qualquer corrente ideológica. O povo, pela palavra individual ou através de instituições, tem sempre de se fazer ouvir. E o Governo, qualquer que ele seja, não pode descurar a obrigação de olhar para o que o povo diz. Um grupo de empresários, liderado pela CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), soube avançar com a iniciativa de procurar outro espaço para o novo aeroporto, sem peias nem complexos, e descobriu o que ninguém tinha visto. Alcochete vai ser o local do novo aeroporto, pondo de lado a OTA, de que se falava há tantos anos. Se não fosse a sociedade civil, o Governo não daria nenhum passo para analisar uma outra alternativa, que afinal havia e houve. 2 – O bastonário da Ordem dos Engenheiros denunciou que em Portugal há muito o hábito de os políticos tomarem decisões de ânimo leve, sem ponderarem os prós e os contras. Depois, e só depois, é que chamam os engenheiros e outros especialistas para resolverem os problemas, transportando esta atitude enormes custos para o erário público. Seria bom, diz o bastonário, que os políticos tomassem isto em conta, para não se cometerem os mesmos erros. E se é verdade que o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) resolveu em seis meses o que outros não conseguiram em muitos anos, por que razão não aproveita o Estado os seus técnicos para que estudem atempadamente os projectos, antes de se decidirem, politicamente, pela sua execução? 3 – O presidente da Câmara das Caldas da Rainha afirmou, peremptoriamente, que as autarquias, quando querem levar por diante um projecto, pedem pareceres a técnicos, sabendo de antemão que os mesmos avançam com propostas de acordo com a vontade da entidade que lhes paga. Neste caso, as autarquias. Quis dizer o óbvio: que há técnicos e políticos desonestos. Os mesmos que pregam honestidade. Então, onde está a honorabilidade dos técnicos que ganham para dizer amem a quem lhes paga? E a dos políticos que pedem pareceres a quem falta à verdade, unicamente para avançarem com projectos que à partida estariam condenados? Quereria ele insinuar que o LNEC, afinal, se comportou como os técnicos que fazem o frete de dar pareceres à medida da vontade do Governo? O presidente do Laboratório Nacional, ali presente, disse, mais do que uma vez, que o estudo foi feito com base, unicamente, em dados científicos. E o Governo não estaria interessado em manter a OTA, local que sempre tinha defendido? Que estranho país este! FM