sábado, 24 de novembro de 2007

O DIÁLOGO CIÊNCIA-RELIGIÃO

A história das relações entre a religião e a ciência está cheia de conflitos. Por vezes, foi a guerra declarada. Falando desses conflitos, é inevitável que venham à ideia sobretudo os casos de Galileu e Darwin. Ora, na raiz do equívoco, esteve - e ainda está, quando se pensa nos criacionistas americanos, que defendem o ridículo de uma leitura literal da Bíblia - o facto de se não ter percebido que a Bíblia não é um livro de ciência, mas de carácter religioso. Nisso, Galileu foi mais avisado do que os seus censores: a Bíblia não diz "come va il cielo, ma come si va in cielo", pois não é um livro de astronomia, mas de religião. Percebeu-se, finalmente, a autonomia de cada uma das esferas e dos respectivos campos de intervenção. Esta compreensão também significa que a ciência, apesar da acumulação dos seus sucessos gigantescos, não pode reivindicar o monopólio da racionalidade, como se fosse a única via de conhecimento verdadeiro. A razão é multidimensional. O fim dos conflitos não significa que não possam e devam dialogar, com vantagens mútuas. É sabido, por exemplo, que o cristianismo, ao desdivinizar o mundo, pela fé bíblica na criação, abriu espaço à investigação científica livre. Por outro lado, também a partir da lição que ela própria teve de aprender, a teologia prevenirá para o perigo de imperialismo da ciência. A religião tem de colocar-se no seu domínio próprio e saber claramente que não pode contradizer a ciência. Também aprendeu que a experiência religiosa tem um carácter "verificável-plausível": a fé não pode ser cega nem irracional e tem de dar razões, que convencerão uns e não outros, mas são razões publicamente argumentáveis. A teologia está atenta aos avanços da ciência e respeita a sua autonomia, que a impede de utilizações apologéticas indevidas. Mas, como escreve o teólogo A. Torres Queiruga, "tendo em conta o enriquecimento do conhecimento do real trazido pela ciência, reelabora a partir de si mesma e na sua lógica específica os seus próprios conceitos". Assim, por exemplo, se, tradicionalmente, se pensou que, enquanto a realidade sublunar estava submetida à mudança e à corrupção, a supralunar era incorruptível, imutável e perfeita, desde Galileu sabemos que não há esta diferença e que a realidade empírica toda é contingente, impondo-se com mais intensidade a pergunta: porque existe algo e não nada? Precisamente a contingência radical leva a pensar o Absoluto, fundamento último da realidade contingente. Também os cientistas são humanos e, por isso, põem inevitavelmente perguntas que transcendem o domínio da ciência: qual a origem última do mundo, o seu fundamento e o seu sentido? Estas perguntas não têm resposta científica, pois, referindo-se ao todo, ultrapassam a capacidade do método científico da verificação empírica. Trata-se de questões de ordem metafísica e religiosa, para as quais, simplificando, há três respostas. Uma é a do agnosticismo quase místico. É assim que o filósofo Luc Ferry diz: "Como todos os crentes, tenho, sem dúvida, o sentimento de que há um mistério neste mundo. Mas não desejo ir além desta constatação." Outra, no limite, diviniza a Natureza como força criadora do novo. O filósofo M. Conche acaba de escrever que Deus é inútil, pois a própria Natureza cria seres que podem ter ideias de todas as coisas, inclusive da própria Natureza. Não se trata, porém, da "natureza oposta ao espírito ou à história ou à cultura ou à liberdade, mas da Natureza omni-englobante, a physis grega, que inclui o Homem nela. Essa é a Causa dos seres pensantes no seu efeito." Ao crente monoteísta parece mais razoável uma interpretação da realidade que co-implica a presença do Deus transcendente, amor pessoal e criador. Afirma-se desse modo a infinita transcendência de Deus e a sua mais íntima presença à criatura, tornando-se então claro o que parece paradoxal: precisamente porque Deus está sempre presente como criador, faz o mundo fazer-se autonomamente, seguindo as leis próprias da natureza e a liberdade.
Anselmo Borges,
In Diário de Notícias

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

COM LIMITAÇÕES TÉCNICAS

Com algumas limitações, impostas pela ausência do meu computador, em hora de reparação, que estas coisas não duram sempre em bom estado, sinto-me na obrigação de informar os meus leitores desta realidade. O nosso computador, aquele que utilizamos no dia-a-dia, é o grande baú onde guardamos, em diversas caixas, os nossos diários e aquilo de que mais precisamos nos momentos certos. Hoje, e durante uns dias, estarei sem esse baú. Mas por cá continuarei, como mandam os hábitos estabelecidos e por respeito, também, pelos meus muitos amigos.
Fernando Martins

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

NÃO FIQUE PARADO A VER PASSAR O MUNDO

Tenho para mim que se um leitor meu ali-nhar com as minhas sugestões já valeu a pena o que escrevi no meu blogue. É sinal de que há gente atenta ao que se diz e, mais do que isso, acredita na verdade com que falo e escrevo.
Há dias um leitor disse-me, com toda a naturalidade, que tinha aderido a uma oportunidade de voluntariado, seguindo o que eu tinha recomendado. E acrescentava que estava muito sa-tisfeito, porque, na aposentação, sentia necessidade de se envolver em qualquer coisa de útil. Congratulei-me, obvia-mente, com isso.
Vem isto a propósito de às vezes, nas minhas caminhadas por aí, deparar com os cafés cheios de gente, notoriamente na situação de aposentada. Dias e dias sem nada fazer de importante, quando a sociedade está tão carente de que a ajudemos a progredir. E não é verdade que há tantas hipóteses de o fazermos, nos mais variados campos da solidariedade e em tantas vertentes da vida?
Então, caro leitor, encha-se de coragem e dê uma volta para descobrir onde é que pode ser útil, pondo à prova as suas capacidades humanas e criativas. Não fique parado a ver passar o mundo…

FM
Foto do site Diário de Medicina Preventiva

Na Linha Da Utopia


AJUDAR É NO BANCO ALIMENTAR

1. Por vezes poderemos andar tão envolvidos em grandes projectos para o resto do mundo que esquecemos que o mundo mais próximo terá de ser esse início. Sublinhe-se que a renovação da humanidade longínqua passa, necessariamente, pela nova “chama” solidária para com a humanidade próxima e diária. Claro, uma e outra, perto como longe, esse ideal transformador quer agarrar, envolver, gerando aqueles novos sentimentos que nos despertam para o essencial da vida, esta que para ser plena obriga a reparar (n)as situações difíceis de cada outro como nós. Afinal, “somos” com o outro!
2. Nos últimos anos já nos fomos habituando, por estas alturas pré-natal, tanto a proclamar os números da pobreza e da fome (bem mais de duzentas mil pessoas em Portugal), como a destacar projectos, tanto diárias e semanais nas comunidades locais, como as grandes e exemplares campanhas como o Banco Alimentar. Mas falta algo de muito importante, parece que as potencialidades desta sensibilização nacional tardam em chegar a todos, mesmo aos que estão nos essenciais processos de formação, numa necessária reinterpretação “indutiva” de tudo, onde a realidade (hoje humanitária) obriga à renovação das teorias (da razão), para mais e melhor.
3. Vendo de dentro (pois de “fora” as ideias precipitadas, e logo redutoras, também podem abundar), no nosso tempo, o Voluntariado afirma-se como um valor essencial e de efeitos transversais sensibilizantes para a sociedade de todos. O viver o Voluntariado (e todos o seremos de algum modo…, também na verdade de que existem variados níveis de compromisso com o voluntariado) reveste-se de uma grandeza que vence as simples ideias teóricas tantas vezes simpáticas mas pouco realmente serviçais. O Voluntariado cria proximidade surpreendente entre os valores universais da dignidade humana e a sua realização nas situações mais variadas e tantas vezes tão difíceis.
4. É por isso que, insistimos volta e meia nesta tecla, falar de educação e formação obrigará à recepção em sistema educativo da experiência de inúmeras organizações (muitas delas transnacionais) que promovem a solidariedade sem fronteiras antecipando o futuro de unidade. Também estas organizações haverão de crescer cada vez mais para “partilharem” a sua visão calorosa que, muitas vezes, poderá iluminar de calor humano a partir da prática esperançosa a frieza por vezes de sistemas teóricos estruturalistas menos abertos.
5. Mesmo diante de todos os prós-e-contras que tudo quanto é humano pode ter, é imenso o potencial de valor educativo (muitas vezes ainda não devidamente abraçado por todos os quadrantes sociais e educativos) de acções e campanhas de Voluntariado como esta do Banco Alimentar. Afinal, numa cidadania humana e atenciosa, toda a sociedade está interessada, mesmo como sensibilização e co-responsabilidade social. (Os interessados em colaborar na Campanha podem contactar pelo 234 381 192 ou 962 814 355.) Nos dias 1 e 2 de Dezembro, AJUDAR É NO BANCO ALIMENTAR! (http://www.aveiro.bancoalimentar.pt/)


Alexandre Cruz

LIÇÃO DE PORTUGUÊS


Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:"Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres." Morreu antes de fazer a pontuação.
:
A quem deixava a fortuna?
Eram quatro concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa prá sardinha dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.
:
Moral da história: Assim é a vida. Pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que colocamos os pontos.
E isso faz toda a diferença.
:
NOTA: O Acácio Rodrigues, da UA, teve a amabilidade de me enviar este texto, que me recorda, com que saudades!, os tempos de uma aula de Português, em que o mesmo texto era dado a cada aluno para que fizesse a pontuação. Era assim que se aprendia, noutros tempos e penso que ainda hoje, a partir de casos concretos.
FM

Ainda as Novenas

É LINDO RECORDAR COISAS PITORESCAS DO PASSADO É lindo recordar coisas pitorescas do passado. Também participei em novenas: uma à Sra das Dores em Verdemilho, outra à Sra da Boa Viagem na Gafanha de Aquém e outra naquela capelinha que fica frente ao Largo de St. Johns na Gafanha da Nazaré. No final havia a tremoçada, às vezes com uns amendoins à mistura, e pelo menos uma vez houve vinho a acompanhar. O encomendador da novena era um homem. O termo novena pode ter sido adaptado a estes eventos em que participavam nove meninos e nove meninas pois verdadeiramente designa um período de oração de nove dias seguidos.Creio que hoje as crianças ainda gostariam desta prática se lhes fosse solicitada. Esse papel pertence aos adultos que deixaram cair bons usos e costumes que faziam parte da nossa identidade.Era bom que se ocupassem as mentes juvenis com algo simples e saudável que lembrariam sobretudo numa etapa mais calma da sua vida.Á S.ta Maria Manuela de Tabueira ainda devo vinte e cinco tostões por me ter limpo os cravos das mãos, isso já na área das promessas. Tenciono cumpri-la só que agora pagarei em euros. Ela sabe que gosto de recordar a promessa e a dívida.
João Marçal
NOTA: Obrigado, João, pela tua achega. É assim que se constrói a história da nossa terra e da nossa gente. Manda sempre, que eu acolho tudo o que vem pela positiva. Mas o convite vai para toda a gente.
FM

Bispo de Aveiro em entrevista ao Correio do Vouga



"NO ENCONTRO COM O SANTO PADRE,
SENTI A PRESENÇA
DE TODA A DIOCESE COMIGO"


Correio do Vouga - A Imprensa transmitiu a ideia de que Bento XVI se manifestou desagradado com a realidade da Igreja portuguesa. Foi essa a impressão com que ficou?
D. ANTÓNIO FRANCISCO DOS SANTOS - Compreendo que a comunicação social, numa leitura marcada pelo imediatismo, tenha entendido a mensagem do Santo Padre como se fosse uma nota de desagrado face à Igreja em Portugal.
Mas a realidade vivida em Roma e a mensagem recebida do Santo Padre revelam-nos outros sentimentos, apontam-nos outros caminhos, relançam-nos noutros desafios e exigem-nos sobretudo respostas noutros horizontes.
A visita Ad Limina proporcionou aos bispos portugueses tempo de oração, de partilha fraterna entre todos, de diálogo com as Congregações Romanas e sobretudo esses momentos únicos que são o encontro pessoal de cada bispo e o encontro de todos os bispos com o Santo Padre.
No diálogo pessoal que tive com o Santo Padre e nas orientações dele recebidas, senti o acolhimento afável, a solicitude fraterna e o estímulo confiante de Bento XVI. É de esperança esta hora que vivemos em Igreja.
O Santo Padre dialoga connosco, escuta o que lhe dizemos e perscruta atentamente os caminhos percorridos e os projectos pastorais acalentados. Deste encontro, brota uma imensa alegria e emerge um incontido ânimo de viver e trabalhar em comunhão com o sucessor de Pedro.
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Toda a entrevista no Correio do Vouga

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