quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A força dos Blogues



O mundo da blogosfera é mesmo interessante. Quem tem um blogue pode sentir isso, com toda a naturalidade e realismo. Escrevemos sobre variadíssimas facetas da vida, desde a mais simples à mais complicada, divulgamos aquilo de que gostamos, tornamos público o nosso diário por vezes mais intimista, alertamos para o que, a nosso ver, está mal, aplaudimos, com calor, o que está bem. Isto tudo sem pressões, sem balizas que não sejam a nossa consciência, os nossos valores e as nossas regras de vida.
Com muita frequência recebo notícias de pessoas que não via há anos, estabeleço contactos com gentes que nunca vi, recebo informações de todo o mundo. E perguntas, muitas perguntas, a que procuro responder com toda a prontidão, tendo de recorrer, frequentemente, a amigos e conhecedores dos temas que me põem.
Um dia destes, do Funchal, puseram-me questões relacionadas com S. Gonçalinho; ontem, pediram-me ajuda para localizar o editor de um poema de Fernando Pessoa, que há muito tempo publiquei no meu blogue; hoje, de Itália, alguém que quer entrar em contacto com o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. A lista dos contactos seria muito grande para a divulgar aqui. Mas estes três exemplos, de três dias seguidos, dão uma ideia da verdadeira importância da blogosfera.

FM

Homenagem a um professor de matemática de Aveiro

Prémio Nacional de Professores para Arsélio Martins


Será enfado? "Com esta coisa quase deixei de ter tempo para o que gosto..." Modéstia? "Isto é circo", diz, referindo-se aos autocolantes que espalharam a sua cara por tudo o que é parede da escola - "Estamos muito contentes!". Ironia? "Se calhar ganhei porque o júri reconheceu a minha tralha consolidada."
Talvez uma soma disto tudo ou nada disto. Há uma verdade e é esta: a vida de Arsélio Martins, 59 anos, quase deixou de lhe pertencer desde que foi anunciado como vencedor da primeira edição do Prémio Nacional de Professores. Não é que ter jornalistas à perna durante uma semana o aborreça; só que ele tem cada vez menos tempo. "E o que eu mais preciso enquanto professor é de tempo", explica, depois de uma aula de 90 minutos do 10.º B da Escola Secundária José Estêvão, em Aveiro.
A escola está "muito contente", já percebemos. Ele, professor de Matemática há 35 anos, está sobretudo "honrado" por ter sido distinguido no seio da escola de José Pereira Tavares (1887-1983), professor e reitor do então Liceu de Aveiro. "Ao pé deste tipo sinto-me um nabo." Não há quem confirme esta informação. Funcionária de olhos verdes escondidos atrás de uns óculos: "O professor Arsélio é espectacular. É um homem pequeno mas uma grande pessoa." Ana Santos, aluna do 10.º B: "É diferente de todos os professores que já tive. Consegue tornar a Matemática mais simples e explica que ela está em tudo o que fazemos." Maria da Luz, professora de Matemática: "Não desiste enquanto não faz os alunos perceber o que ele está a explicar." Alcino Carvalho, presidente do conselho executivo: "Não se esgota na faceta de professor."
E agora, professor Arsélio? "Eu sou basicamente um produto da educação. Sou filho de camponeses de Santo André, Vagos, fui criado por uma irmã, quis ser padre mas a minha família não deixou, tentei ser marinheiro porque achava que era a melhor maneira de ser poeta." Não sabe se foi por acaso que foi parar a um curso de Matemática Pura. "Não era bom nem mau aluno, mas não houve nenhuma paixão assolapada."
Com verdadeira paixão fala da sua intervenção cívica. Foi dirigente associativo, envolveu-se na política (é deputado municipal pelo Bloco de Esquerda), tem um blogue (aveiro.blogspot.com/). No campo da educação, foi presidente do conselho executivo da José Estêvão, orientou estágios, dirigiu o Centro de Formação de Escolas de Aveiro, foi co-autor dos programas da disciplina, fundou o Sindicato dos Professores do Norte.
Na sala de aula - "a parte mais difícil, a relação directa com os alunos, mas também a que mais me realiza" - o que mais lhe interessa é "não perder nenhum aluno". "Quando perco um é uma desgraça completa", diz. E o segredo, se é que é segredo, é "arranjar estratégias que possam ir ao encontro das necessidades de cada um".
Defende que a melhor forma de potenciar o sucesso numa disciplina como a Matemática é permitir que os alunos tenham o mesmo professor ao longo de um ciclo de estudos - "eu tenho de ter persistência, respiração e tempo". Não dá "nada em papel aos alunos, para eles se habituarem a tirar notas", constrói com as próprias mãos sólidos geométricos para mostrar aos estudantes, maneja com destreza o quadro interactivo - "uma óptima ferramenta". "Sou um professor clássico que foi incorporando tudo o que há de moderno."
Mas não é um professor modelo. "Ninguém deve imitar-me. Meti muita água. Mas faço o que gosto e melhor do que isso não há no mercado."

Sandra Silva Costa

In PÚBLICO de hoje

NO RODOPIO DA VIDA


E assim vamos no ciclo do tempo. Lento, veloz, sereno, revolto. O tempo que se recicla e nos recicla. Lança-nos no retorno das coisas, nas repetições da paisagem, do sol, da chuva, da terra, da semente, do sono outonal, do renascimento, numa teimosia de renovar e reviver dentro do mesmo espaço e duma duração que se sente mas se não vê. O tempo, afinal, não existe. Existimos nós que passamos, morremos continuamente para a etapa anterior e nos refrescamos no presente e no advir. Sentindo sempre que tudo é volátil, passageiro, aparentemente insignificante. Experiências, descobertas, emoções, com o rodar do tempo esvaem-se, envelhecem, parecem sem sentido.
E, todavia, a esperança que sempre emerge mesmo das mortes, dos outonos, das sementeiras profundas, das árvores desnudadas e tristes, reaviva-nos irresistivelmente. De tal modo que a morte continua a ser visceralmente repugnante. Temos sempre preparado o alerta máximo para qualquer ameaça próxima ou distante. Mesmo com a fé pronta para entender a ressurreição e a eternidade sempre extraímos de cada breve momento a seiva plena como se fora um composto de eternidade. Foi Deus quem nos plantou na alma este instinto de eterno que ultrapassa o nosso raciocínio e mesmo as formulações da nossa fé. Está no âmago do homem. Com a vinda de Jesus cada pequeno gesto em torno da árvore da vida ganhou um significado novo. Não se trata duma armação lógica, mas da certeza íntima de que Ele remiu todos os segundos do tempo e da eternidade e por isso tudo ganha uma interpretação transcendente. Olhamos, assim, de outro modo para as Estações, a natureza, o próximo e o longínquo, a tempestade e o tom primaveril que sempre irrompe das tardes mais cinzentas. O fim do ano litúrgico, a coroa de todos gestos de redenção, a esperança do renascimento no esboçar dum advento intemporal mas prenhe da história redentora de Jesus. Assim nos apercebemos que o Natal é muito mais que uma soma de objectos trocados. É o grande jogo do afecto pela vida nos seus diferentes tons. É uma liturgia, uma parábola, uma história mais que mágica. Real. Com a estrela, os magos, o canto dos anjos, o Menino reclinado, a humanidade em festa porque redimida. Seja em que tom for, este hino de Deus no meio dos homens nunca pode deixar de ser repetido. Mesmo que o Natal pareça mais um ciclo com menos imaginação.

António Rego

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia


Os interesses. E os princípios?

1. O debate era sobre a globalização e ainda sobre o “choque” do rei de Espanha com Hugo Chávez. Não em Fórmula 1, mas quase! Vimos só a parte final. O suficiente para ouvir de gente diplomata e especialista a confirmação de uma ideia (inferior) que cada vez mais tem feito caminho: a noção de que, quando há grandes “interesses”, os “princípios” ficam de parte. Aplicavam esta teoria sem qualquer dificuldade à vinda de Chávez a Portugal como ao escravo império económico asiático. Mas mais interessante ainda, comprovavam que o Ocidente tem grave carência de líderes políticos.
2. Não deixa de ser interessante como a relativização dos princípios e a supremacia dos interesses (no caso energético-petrolíferos) convivem facilmente com a denúncia da ausência de lideranças. Ou seja, afirma-se o que se critica! Será por estas contradições cabais que alguns afirmam que estamos no fim da razão (política)?! A velocidade dos acontecimentos, propiciadora da lógica da quantidade e do esbatimento da clarividência das ideias vai, assim, fazendo o seu lastro percurso, onde bem e mal, verdade e mentira, caminham serenamente a par…
3. Por vezes parece que diante da “desordem” falta claramente deixar que uma “razão profunda” venha oferecer o tempero, o equilíbrio, a lucidez capaz de criar a ponte entre os interesses (legítimos, porventura) mas sem abdicar dos “princípios” em que queremos alicerçar toda a construção. Será que não reparamos que desprestigiando os “princípios” valorativos estaremos no princípio da desregulação cabal dos próprios interesses, o mesmo será dizer, no princípio do fim (a prazo). A ordem da racionalidade (razoável), para o ser, precisa de princípios inalienáveis que ofereçam uma luz de dignidade à própria vontade. Quando não, com facilidade, quereremos (como interesse) aquilo que humanamente não devemos.
4. Se dos lados asiáticos, da América latina ou de África, a busca democrática vai fazendo o seu sofrido caminho numa clara dificuldade em coexistir com a diferença, verdade se diga que esta denunciada carência de líderes também tem tido a confirmação da chamada potência (em queda) norte americana. Os candidatos democratas em ordem às eleições presidenciais, Hillary Clinton e Obama, têm andado (vergonhosamente com ameaças e ofensivas pessoais) “à turra e à massa”! Quanto ao modelo político de Bush, já nada a dizer! Pelo ritmo de descredibilidade democrática a que os povos se vão habituando, não admira que quem prometer um espectáculo diferente comece a ser rei e senhor. Pobreza de ideias. Talvez tenham(os, os líderes) de regressar à escola (com) os Diálogos de Platão, onde o entendimento, as virtudes e os princípios (re)começam a ser a “base” do Ocidente!

Alexandre Cruz

FÁTIMA: Igreja da Santíssima Trindade


Celebrações oficiais

Dezembro

No 1º Domingo do Advento, 2 de Dezembro de 2007, iniciar-se-ão as celebrações oficiais na Igreja da Santíssima Trindade.
Assim, durante o período de Inverno, terão lugar na nova igreja do Santuário de Fátima, as seguintes celebrações, do programa oficial do Santuário de Fátima:
- Sábados: Missa das 11h;
- Domingos e dias santos: Missas das 11h, 15h e 16.30 h, e Vésperas cantadas, às 17.30 h;
Para o mês de Dezembro de 2007 estão ainda agendadas as seguintes celebrações na nova igreja:
- 7 de Dezembro: Vigília da Imaculada Conceição (início às 21 h na Capelinha das Aparições);
- 24 de Dezembro: Vigília Natalícia – início às 22.15 h; celebração da Santa Missa às 23 h;
- 31 de Dezembro: Celebração de Acção de Graças pelo ano findo – 22 h;
Diariamente, o horário para visitas à Igreja da Santíssima Trindade mantém-se, das 11 h às 18 h, fora do tempo de celebração.


NOTA: Há dias recebi alguns protestos sobre as dificuldades em entrar na igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Aqui ficam os esclarecimentos que prometi.

Bonito

Vejam, que vale a pena http://uk.youtube.com/watch?v=LnLVRQCjh8c

Árvores de Natal do tamanho da nossa generosidade


Com a chegada de Dezembro, o mês de preparação do Natal, nas ruas, nas casas e nos nossos corações, parece que anda no ar já uma competição engraçada: há muitos a quererem montar a maior e a mais vistosa Árvore de Natal do País. Não vejo nenhum mal nisso, mas gostaria de reflectir um pouco com os meus leitores sobre esta realidade.
Conforme reza a tradição, o Natal é, para muitos, para além da celebração do nascimento do Menino Deus, a vivência da generosidade. Multiplicam-se os gestos de solidariedade, preparam-se os cabazes de natal, organizam-se ceias para os sem-abrigo e para os mais pobres e idosos, marcam-se nos restaurantes encontros festivos para dirigentes e empregados de instituições e empresas, montam-se, em todas as casas, os presépios e planeiam-se as consoadas nas famílias. É muito bonito sentir este espírito natalício um pouco por todo o lado. Mas… Há sempre um mas…
É já um lugar-comum proclamar-se que o Natal devia ser todo o ano, que Natal é quando o homem quiser. E é verdade. Este espírito festivo e solidário não devia ter dia e época marcados. Mas tem…
E porque tem dia e época marcados, acho que devemos aproveitá-lo, com todas as forças das nossas almas. Com presentes, com gestos de ternura, com caridade a rodos, com a solidariedade a atingir pontos altos, com a bondade e a tolerância a mudarem os nossos comportamentos, com a alegria a iluminar a tristeza de muitos, com as melodias musicais a marcarem ritmos novos de vida, com a neve a aquecer a nossa forma de amar quem sofre…
Então, que as Árvores de Natal, altas, muito altas, aquecidas por luzes rutilantes, sejam, de verdade, do tamanho do nosso amor pelos mais pobres e pelos mais infelizes. No Natal e sempre!

Fernando Martins