quinta-feira, 15 de novembro de 2007

CARLOS DUARTE: “40 ANOS DE FOTOGRAFIAS”





“40 ANOS DE FOTOGRAFIAS” é um livro de Carlos Duarte, um ilhavense apaixonado pela arte de fotografar. Esta obra, que reflecte um labor de 40 anos, de andanças e olhares atentos e interessados sobre o que o rodeia, vai ser apresentada no dia 24 de Novembro, pelas 15.30 horas, na Biblioteca Municipal de Ílhavo. Paralelamente, será inaugurada uma exposição de fotografia cujo tema é a Ria e que ficará patente ao público até 2 de Dezembro.
Conheço o Carlos Duarte há muitos anos. O jornalismo provocou muitos encontros e gerou entre nós as simpatias inevitáveis. Tudo porque o Carlos Duarte é um homem bom.
O fotógrafo que não gosta de ser fotografado é um artista com sentido de oportunidade, vendo, muitas vezes, o que outros não vêem. Fixando da fotografia o que outros nunca descobriram ou acharam digno de registo. Por tudo isso, entendo que vale a pena adquirir o seu livro para o guardar, depois de muito apreciado, num lugar de destaque da sua sala de visitas. Bem à vista de todos e para que todos o manuseiem, fixando os olhares nas fotografias que mais os levarem a um passado mais próximo ou mais afastado.

FM

OPINIÃO E OBSESSÕES A TER EM CONTA


O tema da escola continua na baila e isso prova que o país está preocupado. Afunilou no ensino estatal e no privado e é pena que assim seja, pois não faltam motivos ponderosos para levar mais adiante uma reflexão necessária sobre muitos aspectos do tema.
Ainda bem que todos podemos ter opinião e torná-la pública sem medo de represálias de qualquer ordem. Mas a opinião de quem quer que seja é mais válida quando não têm de se ocultar realidades que contrariam os argumentos ou de as adaptar ao que se pretende provar, defender, atacar ou minimizar.
Há que estar prevenido em relação a obsessões cegas. As mais frequentes destas são as ideológicas e político partidárias. Impedem ver claro e ter liberdade interior para opinar na procura do melhor para os alunos, uma vez que são eles a razão de ser da escola.
Não vamos ter que dizer uma vez mais que estamos num campo difícil e que se torna ainda mais quando se multiplicam os decretos e portarias, que quem tem que os interpretar e cumprir diz que estão fora do contexto em que se vive e trabalha.
Assim se provoca em quem depende directamente do Estado, direcções executivas e sobretudo professores, desmotivação, apatia, desinteresse e, por vezes, mesmo revolta. Há sempre vítimas deste estado de alma, de quem está na escola para ensinar e educar.
Uma opinião repetida até ao massacre de quem é legítimo esperar melhor reflexão - penso em Vital Moreira, que julgo que seja um democrata consciente e consequente, é defender, à revelia da realidade e da história, uma coisa que já nem se discute em países libertos de ideologias redutoras, de que em Portugal só tem sentido a escola pública. E diz, escandalizado, não se conceber que, “havendo falta de dinheiro para investir na escola pública, o Estado desperdice tanto dinheiro com a manutenção abusiva de “contratos de associação”. Ora a verdade é que os contratos de associação são menos onerosos para o Estado e até podem ser, em muitos meios do país, o primeiro passo para uma escolha da escola, tal como o exige a liberdade democrática. O caminho democrático já nem vai por aí, como se o contrato de associação fosse uma excepção por razão de uma escola supletiva, mas mostra como só um ensino generalizado, pago pelo Estado, como é óbvio, é garantia de direitos legítimos. Quando aí chegarmos, todos beneficiarão e a democracia estará a ser tomada a sério. Então, será mais importante para o país que o governo faça acordos com clínicas privadas para praticarem abortos, do que, no campo escolar, os faça com entidades que proporcionam a todos os que frequentam as suas escolas, um ensino mais qualificado e que é estímulo para todos? O Estado democrático tem de considerar todo o ensino válido como um serviço público, independentemente de quem o ministra, desde que o faça segundo as exigências legais, mas com espaço de liberdade sadia, para poder inovar nas matérias, nos conteúdos programáticos e nas estratégias pedagógicas. Afinal, o que o Ministério está a procurar em relação à autonomia, com grande esperança de êxito da ministra da tutela, para já apenas numa centena de escolas, não é uma cópia do que se faz, desde sempre, nas escolas privadas sérias, tão atacadas e menosprezada pelo governo e seus ideólogos?
Outra obsessão é da própria ministra que, incompreensivelmente, mete todas as escolas no mesmo saco, ao dizer que no ensino privado há melhores resultados porque as escolas podem escolher os alunos e no estatal não. Mas a senhora ministra sabe que isso não é verdade em todos os casos. Até acontece que, por determinação do ministério, há escolas privadas em zonas pobres, que são proibidas de receber os alunos que as procuram e que os pais desejam. Ou a verdade toda ou, então, a confissão de falência.
Acabe-se também com a história de que todo o êxito da escola está na classe social dos pais. E, então, nada a ver com os professores, o clima interno da escola, as normas da comunidade educativa, os estímulos pessoais e as exigências de trabalho, postas a quem tem de dar contas e de se preparar para uma vida cada dia mais difícil e exigente?


António Marcelino

ORDEM DOS MÉDICOS NÃO ALTERA CÓDIGO DEONTOLÓGICO

Ministro da Saúde tinha pedido alteração ABORTO:
ORDEM DOS MÉDICOS NÃO MUDA CÓDIGO DEONTOLÓGICO A Ordem dos Médicos (OM) não vai alterar o artigo 47 º do código deontológico que considera a prática de aborto como uma “falha grave”, tal como tinha pedido o ministro da Saúde na sequência de um parecer da Procuradoria-Geral da República que manda “repor a legalidade” nesta matéria. “Amanhã [quinta-feira] vamos escrever uma carta ao senhor ministro explicando que a independência, autonomia e liberdade dos médicos não são negociáveis e que, por isso, não vamos alterar o nosso regulamento”, adiantou o bastonário Pedro Nunes que dará uma conferência de imprensa sobre o polémico assunto. A decisão do conselho nacional da OM será conhecida no último dia do prazo de um mês dado por Correia de Campos para a “reposição da legalidade” no código. O bastonário nota que concorda com o parecer da PGR quando este refere que, em caso de discrepância, a lei se sobrepõe ao código deontológico mas discorda da necessidade de alterar o regulamento por causa disso. E exemplifica: “O limite legal para andar na estrada é 120 quilómetros por hora mas não precisamos de mudar os veículos para saber que temos de cumprir a lei”. Andrea Cunha Freitas In PÚBLICO on-line

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia




TANTOS LIVROS DO “FIM”. PORQUÊ?

1. Há dias veio à ribalta a última obra do escritor Sam Harris. O título, desafiador à maturidade humana, intelectual e filosófica do leitor, é o seguinte: O Fim da fé – Religião, terrorismo e o futuro da razão (Lisboa: Tinta da China, 2007, original de 2006). Vivemos, já acolhendo os efeitos das novas revoluções científicas e comunicacionais, o tempo de profunda transformação de paradigmas (como tanto sublinha o estudioso destas questões, Thomas Kuhn); época de globalização que vai revelando tanto um pessimismo existencial como (e que acabará por ser) de metamorfose (mudança) de referenciais… Nada de novo e tudo de novo! Tempestades e ansiedades querem ser oportunidades!
2. As literaturas universais vão espelhando esse sentir, marcadamente pessimista e ilusório, e muitas delas mesmo para os campos da busca de segurança no exotérico irracional. Veja-se como progridem os misticismos e todas as formas de magias a par das literaturas (muitas já transformadas em cinema), cheias de “anéis”, de “cálices”, etc. Tudo impregnado de seguranças mágicas, como que substituidoras do empenho de uma “razão” humana que, avançada pela tecnologia fora, foi perdendo o contacto com o mais profundo do humano. Tudo avança, paulatinamente, pois “a ideia não tem pressa” como diria Hegel.
3. Considerando “o fim da fé” como um ponto de chegada deste género de escritos quase apocalípticos, demonstrativos do sentir social de transformação, então valerá a pena registar os seus antecedentes: Idade de Extremos (Hobsbawm 1994), O fim da História e o último homem (Fukuyama 1992), O fim do trabalho (Rifkin 1995), O fim da Ciência (Horgan 1996) e O fim da autoridade (Renaut 2005). Valendo o que valem (e algumas o Nobel da Literatura), todas estas obras têm expressão mundial de referência, sinal do seu poder de sedução que, no fundo, corresponderá ao sentir existencial ansioso deste tempo, época fascinante de avanços técnico-científicos mas em que o calor humano de uma esperança colorida não vai tendo a devida correspondência.
4. Muitas vezes, bem pelo contrário, mais concentração de poderes (técnico-económicos) é sinónimo de mais exclusão e desintegração do projecto HUMANO, consequentemente, mais intolerância. Afinal, porque progridem tanto as literaturas do “fim”? Sinal claro que “algo” continua a precisar de respostas bem mais profundas, existenciais. Aqui, no “sentido da vida” não há tecnologias (nem neurocientíficas) que entrem! Essas respostas necessárias abarcam a totalidade que só o SER pode abarcar.

Alexandre Cruz

GAFANHA DA NAZARÉ: Nomeações do Bispo de Aveiro

Por Decreto hoje publicado no Correio do Vouga, órgão oficial da Diocese de Aveiro, D. António Francisco dos Santos fez as seguintes nomeações:
P.e Paulo Cardoso da Cruz – Administrador Paroquial de Nossa Senhora da Nazaré da Gafanha da Nazaré, mantendo todos os cargos pastorais que actualmente exerce;
P.e Luís Filipe Costa Dias, sacerdote do Instituto dos Missionários Combonianos do Sagrado Coração de Jesus – Vigário Paroquial de Nossa Senhora da Nazaré da Gafanha da Nazaré.
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No mesmo Decreto, fez, ainda, entre outras, mais esta nomeação:
P.e José Sardo Fidalgo – dispensado a seu pedido do múnus de Pároco de Nossa Senhora da Nazaré da Gafanha da Nazaré e nomeado Colaborador do Pároco de Santo André de Esgueira.
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O GAFANHÃO

Gafanhões actuais vestidos à moda antiga
(Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré)


A primeira impressão que o gafanhão oferece a quem o contempla no dia-a-dia de um labor constante capaz de arrasar montanhas, e de domar dunas formadas e deformadas por ventos que também gretam peles tostadas pelo sol salgado, é a de que se trata de um homem com uma capacidade de adaptação fora de comum. Se nos debruçarmos sobre ele, sobre a sua vida de trabalho árduo, sobre a sua denodada resistência e capacidade de sofrimento, não podemos deixar de o admirar. Ele fez, com todas estas qualidades, aliadas a outras não menos importantes, ao longo de mais de três séculos, a Gafanha de que hoje se orgulha.
Oriundo de regiões essencialmente agrícolas, nomeadamente dos concelhos limítrofes, de Vagos e Mira, o gafanhão para aqui carreou, nos finais do último quartel do século XVII, hábitos de trabalho e de vida social que o ajudaram a cimentar usos e a projectar costumes que ainda perduram nos nossos dias. Quem esquece, por exemplo, a paixão pela terra e o respeito pela tradição de “fazer casa quem casa”, paixão e respeito estes em que se alicerçam uma certa estabilidade familiar e a construção de um património que vai passando de pais para filhos? E o espírito de poupança tão característico do gafanhão que casa de forma tão expressiva com o gosto pelo trabalho? E a religiosidade que o tem levado a tantas manifestações de fé através de gestos de solidariedade fraterna e de caridade cristã?
Vale a pena debruçarmo-nos sobre tudo isto, mesmo de fugida, numa tentativa de descobrirmos as razões que contribuíram para a formação do homem que se fixou neste areal varrido por ventos marítimos carregados de salmoira.
À partida, ele não pode ser, nem é, muito diferente do homem que ainda hoje ocupa a terra-mãe. Filho dessas areias, habituado a domá‑las e a delas extrair o sustento do dia-a-dia, para aqui veio com a mesma tenacidade. Procurou, afinal, algo que lhe era familiar e fê‑lo por necessidade e sem receio. Sempre era preferível a ter de buscar trabalho longe dos horizontes que os seus olhos sempre dominaram. Não era pessoa de tentar de imediato a riqueza do mar ou mesmo da ria. Isso ficaria para mais tarde, quando a pouco e pouco fosse sentindo essa necessidade, simultaneamente com a descoberta de que as águas que o circundavam eram amigas de verdade. A princípio, delas foi colhendo o que lhe ofereciam (o arrolado, moliço que as marés deixavam nas margens) em jeito de desafio para que se aventurasse e deixasse, sem medo, a terra firme. E foi isso mesmo que aconteceu. Pé ante pé, ei-lo à conquista das águas mansas da nossa ria, na apanha do moliço e na pesca artesanal. Estava aberto o caminho do progresso.
Homem de trabalho, habituado à luta diária a que as areias pouco produtivas o obrigavam para delas conseguir o magro sustento, geralmente para família de muitos filhos, aqui veio continuar a dar exemplo de tenacidade. Ele continuou igual a si próprio e como a terra que sempre lhe deu o pão foi tornada produtiva pelo seu esforço e à custa de sacrifícios sem conta, facilmente se compreende o amor que ainda lhe devota. Não é egoísmo o que o leva a estar, ainda hoje, tão agarrado aos “bocadinhos”, que herdou e que ele mesmo tantas vezes ajudou a fertilizar com moliço e suor salgados. Não é puro egoísmo essa relutância em vender ou ceder, quantas vezes por bom dinheiro, o quintal que desde pequenino revirou com enxada gasta de tanto cavar. Esse comportamento é, antes, fruto amadurecido pelo amor construído por algumas gerações que lhe moldaram a maneira de ser e de pensar.
Os primeiros gafanhões para aqui vieram em busca de terra igual à que sempre cavaram. As famílias de origem não tinham, normalmente, terra que produzisse para tantas bocas. Daí o sentirem-se obrigados a procurá-la não muito longe do regaço materno e da sabedoria paterna, nessas épocas tão respeitados. E casa para habitar com cómodos de gente era luxo que o gafanhão tinha de encontrar à custa do seu próprio querer. Construí‑la com a ajuda de familiares e amigos era tarefa urgente. E assim foram aparecendo as primeiras choupanas onde o fumo pintava paredes mal acabadas e ajudava a calafetar frinchas que a pouca experiência produzia. Gestos de solidariedade, neste como noutros campos, deixaram marcas desse tempo que a custo vão sobrevivendo na sociedade consumista que nos envolve e por vezes nos domina. Ainda há, apesar de tudo, embora em pequeníssimo número, casas construídas ao jeito antigo do auxílio fraterno ou da troca de serviços. Por isso, desse esforço de construir a sua casa, o amor que o gafanhão lhe vota e o gosto por manter a tradição deixada pelos seus antepassados de “fazer casa quem casa”.
A vida duríssima que procurou e aceitou, ou não soube evitar, despertou nele um respeito muito grande pelo dinheiro, símbolo, ontem como hoje, do trabalho. E como, para o conseguir, do corpo lhe saía, facilmente se compreende o espírito de poupança, que não de avareza, seguido e continuado até aos nossos dias, com frutos projectados em empresas que fizeram a Gafanha comercial, industrial e agrícola.
Saliente-se que, a par do trabalho na indústria e mesmo no comércio, o gafanhão alimentou sempre o trabalho na horta como tarefa complementar e de ajuda à mulher, a primeira responsável pela azáfama agrícola, sobretudo no século XX.
O contacto permanente com a natureza, a dependência das condições climatéricas e o sentido do divino bebido no seio da família fizeram do gafanhão um ser religioso por excelência, embora com um outro resquício do supersticioso, alimentado, este, aliás, por alguma ignorância que as poucas letras ajudavam a criar. O sentimento de caridade e o gosto pela solidariedade, contudo, fizeram desde sempre desta terra um manancial de iniciativas próprias e vizinhas. Aliás, ainda há poucos anos perduravam os róis de gado, quais seguros que garantiam uma certa estabilidade económica do proprietário rural, quando ameaçada por morte ou incapacidade do animal.
Mas o gafanhão não ficou só agarrado à terra e à ria. Conquistadas estas, ei-lo à procura de mais. Mistura-se com o cagaréu na safra do sal e cedo passou a dominá-la, aprende com os Ílhavo os segredos da pesca e com os Mónicas a arte de manejar o enxó e de fazer veleiros que o fizeram sonhar com o mar alto. Antes descobrira a aventura do mar na arte da Xávega, primeiro com os pés bem assentes na terra e depois agarrado ao remo com unhas e dentes, não fosse alguma onda mais traiçoeira arrastá-lo. Vencido o temor inicial, aí vai ele na frota a caminho dos bancos da Terra Nova e da Gronelândia, em missão nunca sonhada pelos seus avós. Depois, a emigração, o comércio e a indústria, numa ânsia de fazer render talentos porventura adormecidos. O gafanhão das sete partidas e dos sete ofícios marca sempre a sua presença, onde quer que se encontre, viva ou trabalhe, pela dignidade, pelas amizades que sabe cultivar, pela simplicidade e humildade, pelo amor entranhado à terra que o viu nascer. Como outros povos, certamente. Mas com muito orgulho pela noção exacta de que é, realmente, ele próprio, um bocado da Gafanha.

Fernando Martins

REPÚBLICA VIVA




Nenhum tempo, nenhum facto da história deve ser lido com leviandade. E ainda menos com uma perspectiva interesseira em extrair lições de proveito rápido. O tempo e os acontecimentos merecem grande serenidade e discernimento para que os sinais que vão surgindo tenham uma interpretação que torne a história em mestra e a vida corrente em contínua aprendiz. Sem medo das luzes e das sombras que a travessia dos tempos induz.
Ainda estamos relativamente longe do centenário da Implantação da República e já se ouvem foguetes de glória. Sem se explicar muito bem a cor da bandeira e a praça certa para festejar não se sabe ainda muito bem o quê. É aqui que começa a ambiguidade com adquiridos ideológicos que justificam todos os erros e exaltam todas as virtudes.
Fazendo lembrar sobressaltos revolucionários que se entendem no tempo em que acontecem mas que não sobrevivem aos crivos implacáveis da análise histórica. É essa joeira fria que nos depura o trigo e o joio, o grão e as poeiras. É essa atitude que nos enriquece na visitação dos factos sem vencedores nem vencidos antecipados.
Provavelmente muitos de nós, da República nascida em 1910, pouco mais temos que preconceitos ou chavões reduzidos a meia dúzia de factos que nos descreveram como heróicos ou mesquinhos. Que ninguém tenha medos dos factos, do que os precedeu, dos contextos em que se verificaram, dos líderes que os protagonizaram, dos horizontes que abriram, das mudanças históricas que criaram. Mas que não venham misturados de jogos subtis e presunções anacrónicas e obsoletas. Todos precisamos aprender e assumir responsabilidades no melhor e no pior que assumimos no tempo.
Quando se fala da I República, quase sempre se antagoniza com outra pedra do xadrez chamada Igreja Católica. Como se se esgotasse no duelo entre as duas instituições toda a gama de factos e consequências. Como se não existisse o povo. Trabalhar as análises sobre preconceitos é um erro não apenas histórico mas de consequências negativas para os tempos de hoje e para a convivência saudável da comunidade nacional. Por isso se saúda a proposta da Conferência Episcopal Portuguesa em Roma para uma evocação do centenário da I República com uma "interpretação exacta dos acontecimentos". Para bem ou para mal a I República ainda está viva.

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