terça-feira, 23 de outubro de 2007

Igreja portuguesa apresentada no Vaticano



D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, antecipa visita dos Bispos ao Papa, a primeira em oito anos


AE - Não era preferível dar algumas tarefas aos leigos para aliviar o trabalho dos padres?
CA - Os padres devem dedicar-se mais à sua missão específica.
AE - Qual é essa missão específica?
CA - Verem-se livres de tarefas adjacentes que foram acumulando ao longo da história. Têm alguma dificuldade em se desprenderem do que acumularam. Um padre não tem que ser gestor de centros sociais. O padre não tem que ser administrador dos bens de uma paróquia ou diocese. O padre não tem que ser o burocrata de serviço da paróquia. A sua missão específica é evangelizar e formar cristãos. Ser mistagogo. Esta é outra dimensão que tem sido descuidada.
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No funeral do Padre Domingos

AS AMIZADES QUE PERDURAM Diz-se, com alguma razão, que há amigos que só se vêem de longe em longe, em situações especiais, mormente em funerais. E depois, como hoje mesmo verifiquei, no meio da tristeza vive-se a alegria do reencontro. Amigos de infância, com quem senti, há décadas, a amizade comum com um sacerdote que tinha uma forma muito especial de lidar connosco. Sempre do mesmo modo. Com um sorriso aberto, límpido, terno. Com palavras e conselhos evangélicos. Todas as situações eram oportunidades para nos brindar com a mensagem certa. Ao abraçá-los, abracei tempos que não voltam… tempos com marcas de amizades que perduram… leais, francas, sinceras… cristãs. Na missa de corpo presente (como presente estava também em todos a alma do nosso querido amigo), D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, recordou “o servidor generoso da Igreja” que o Padre Domingos foi, tão expressivamente, em especial junto dos que mais sofriam, no corpo e no espírito. Incansável no zelo e na preocupação de ser “pedra viva”, com uma maneira muito peculiar de estar com as pessoas, em comunhão plena com os Bispos da Diocese de Aveiro, com o presbitério, com todos, afinal. Evocado por D. António e confirmado por muitos foi ainda o seu amor para com a Mãe de Deus e nossa Mãe, que encaminhou o Padre Domingos para testemunhar, no dia-a-dia, a ressurreição de Cristo. Despedi-me de amigos com a certeza de que este encontro nos serviu de estímulo para o imitarmos dentro dos nossos limites e sensibilidades, na convicção de que não há dois testemunhos iguais, duas maneiras iguais de viver os valores em que acreditamos, dois caminhos iguais neste mundo carregado de contrastes. Por mais voltas que dêmos, cada um de nós partilhará o que tem para partilhar, à medida dos seus horizontes e da claridade espiritual que dá ânimo, cor e sentido à vida. FM

ÍLHAVO: Semana da Educação


A Câmara Municipal de Ílhavo promoveu a Semana da Educação, que se vai desenvolver até 26 de Outubro. O programa inclui encontros entre os responsáveis autárquicos e diversos agentes da comunidade educativa, incluindo associações de pais. Se bem aproveitada, a Semana será uma mais-valia para o ensino e para a educação que se vive e pratica entre nós. Mais encontros, nesta linha fundamental da formação de cidadãos mais comprometidos com os interesses colectivos, serão sempre importantes, não se ficando por iniciativas que têm princípio e fim no curto espaço de uma semana. Há urgências que não podem ficar mais de 50 semanas à espera da Semana de Educação que ano após ano a autarquia ilhavense promove, e bem.
Isto vem a propósito da fraca participação dos pais das nossas crianças e jovens nas reuniões programadas pelas escolas. É conhecidíssimo o divórcio que existe entre os vários membros da comunidade educativa, ficando os alunos, na sua grande maioria, entregues apenas às escolas, as quais não têm capacidade para dar respostas às múltiplas exigências de todos os alunos, quer no campo do ensino, quer da educação.
Neste contexto, urge criar mecanismos para alertar os pais para a premência de viverem a educação e o estudo dos seus filhos com mais atenção, empenhando-se, regularmente, nas associações de pais e nos projectos das respectivas escolas.

Quem tem medo da Europa unida?


Para alguns analistas os tempos nunca são bons. Sobretudo nas vésperas duma crónica ou comentário, os tempos são os piores que a história já conheceu. Há críticos tão mal dispostos cuja alegria única é azedar o maior número de pessoas possível. Isto acontece com quase tudo: na política, economia, cultura, ou mesmo religião. Não há milagre que valha.
Mas falemos, para não irmos mais longe, da Europa. Do nosso Continente, da nossa matriz e memória. Do nosso passado e do nosso futuro. Com as glórias e desaires que vamos conhecendo e adivinhando. Entre lutas, opressões, pecados mortais contra a humanidade e contra Deus. Terra de heróis e santos, sábios e místicos, aventureiros e contemplativos. Ponto de irradiação de tantos sinais luminosos que ajudaram a desenhar o planeta que habitamos.
Não esquecemos as guerras e mortes. Não esquecemos o pós-guerra e as iniciativas de ressurgimento que surgiram. Ligada ao que chamamos Ocidente, a Europa deu corpo aos tempos novos que vivemos. A União Europeia começou, como sabemos, por ser uma estratégia económica de muito poucos. A história e o espírito empreendedor de alguns foi rasgando horizontes, abrindo portas, alargando a comunidade. Com maiores e menores, mais ricos e mais pobres. O Tratado há pouco aprovado em Lisboa pelos líderes da União Europeia, surge na esteira de entendimento entre os mais e menos velozes na caminhada do progresso. Se são os mais pequenos que correm mais riscos - e são - também em muitos aspectos serão os que recebem maiores benefícios com a aproximação. A solidariedade favorece mais os mais fracos.
Certamente poucos pacientes lerão o complexo texto do Tratado. Mas o essencial está dito e entendido, foi sendo relatado ao longo de anos com total abertura para os protestos e achegas em ordem ao respeito por todos e à solidariedade dum Continente que conhece a sua importância no concerto das Nações.
A questão que agora se coloca é esta: quem explicará todo o articulado do Tratado de Lisboa para o colocar em Referendo? Como pode o povo dizer sim ou não a um todo que é muito mais que meia dúzia de chavões? Para que servem os eleitos do povo se não para estudarem e decidirem questões na especialidade? O gosto pelo desprazer não justifica o número de objecções artificiais que agora se podem levantar. Nem, a esta hora, o pretenso arranjo dum tijolo deve colocar em risco todo o edifício.

António Rego

Na Linha Da Utopia



Sociedade de (des)confiança?

1. As recentes declarações do (PGR) Procurador-Geral da República têm proporcionado os mais variados sentimentos, e vindo despertar mesmo uma opinião pública tantas vezes longínqua destes mecanismos essenciais do Estado de Direito. Ao fim de um ano na gestão de órgão tão importante para a credibilidade democrática, o que está declarado, declarado está, a ponto de o próprio Procurador-Geral, dono da “tutela”, sentir alguns “sons” no telefone. No mínimo estranho, no máximo alarmante; mas está dito, e em entrevista não formal, o que torna as coisas mais verdadeiras.
2. Como comentário ao “comentário” do PGR, muitas vozes se fazem sentir, algumas mesmo estando contra a realização de qualquer escuta telefónica e outras a favor da sua generalização, dizendo que só com um sistema fiscalizador constante (quase inquisitorial) é que conseguiremos instaurar uma ordem de justa justiça. Dir-se-á que tudo isto (da realidade ao comentário) é muito preocupante, mas tanto mais quando o “dono” da casa partilha a sua impotência no lidar com este barco social que, diremos, mais que imposição de uma ordem pela “força” terá de ser capaz de instaurar uma ordem educativa, numa (insistente) ética transversal, pessoal e social.
3. Há breves anos, quando da obra Portugal, o Medo de Existir, do filósofo-ensaísta José Gil, muito se falou sobre a “inveja” como manifestação cultural de menoridade (se o vizinho tem, também tenho de ter!). Alguns pensadores vão sublinhando que, em comparação com outros países europeus, a CONFIANÇA terá de ser a base de construção da nossa comunidade. Mas como assumir a confiança, como factor decisivo, diante de sistemas de corrupção e crime organizado? Se o “combate” tem de ser em todas as frentes (dos sistemas judiciais aos da educação ética), uma coisa será certa: não se pode() generalizar a desconfiança, tanto na comunidade em geral, como fundamentalmente naqueles de cuja acção depende a esperança de sociedade justa.
4. O eco das declarações do PGR estão aí, pairando no ar. Um ar poluído que carece de purificação. Novamente, só a ética nos pode salvar! Como multiplicá-la como antídoto para todas as desconfianças?

Alexandre Cruz

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO



Pisei a areia da praia
à cata do silêncio terno
do teu olhar
E vi no teu andar
ao longe
a ternura que brota
sempre
da tua caminhada
Segura
serena
feliz
É a certeza da paz
que me dás
É a garantia
que aceito
e anseio
Numa tardinha quente
do Outono
Fernando Martins

Um livro de Georgino Rocha




“AO SERVIÇO DA FÉ
NA SOCIEDADE PLURAL”

Acaba de sair mais um livro do Padre Georgino Rocha, que vai merecer, decerto, a atenção dos agentes de pastoral, clérigos, religiosos e leigos. “Ao Serviço da Fé na Sociedade Plural” reveste-se de uma oportunidade evidente, ou não fosse a sociedade globalizada um desafio constante para todos, sobretudo para quantos acreditam que a acção da Igreja Católica tem de estar em sintonia com as exigências dos tempos que correm.
A obra, editada pela Princípia, reúne 12 ensaios deste sacerdote da Diocese de Aveiro, os quais reflectem uma boa diversidade de documentos do Magistério Pontifício e da Conferência Episcopal Portuguesa. São fruto, sem dúvida, do seu labor académico e das suas vivências pastorais, como pessoa aberta às realidades concretas da vida, em todas as suas vertentes.
Na apresentação, o autor sublinha que, “Para ter consciência recta e agir livremente, a consciência necessita de estar bem informada e de ser bem formada”, porque “só assim se defenderá do relativismo e do subjectivismo”. Adianta que “os direitos humanos fundamentais e a mensagem cristã devem destacar-se entre os conteúdos substanciais da informação e da formação” e frisa que a construção da sociedade, tendo como sonho utópico o lema de São Paulo –“Tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” –, “é desafio que indicará o rumo de todo o progresso, mobilizará todas as energias humanas e dará sentido a todas as opções fundamentais alicerçadas nesta escola de valores e nas respectivas realizações”.
No Prefácio, D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro, recorda que o autor tem “credenciais que o recomendam” e acrescenta que a sua vida tem sido “dedicada à formação dos mais diversos agentes pastorais”. Fala das experiências pessoais e reflexões do Padre Georgino Rocha, da preocupação de diálogo com “as realidades sociais e culturais mais diversas”, da “capacidade de entender e dar sentido à vida diária dos cristãos” e, ainda, da “sua vivência conciliar diária, numa Igreja diocesana que não se cansa de fazer esforços para ser fiel aos tempos que vive e aos desafios que enfrenta”.
“Ao Serviço da Fé na Sociedade Plural” comporta temas elaborados em épocas distintas para situações concretas, tendo merecido, agora, uma actualização, na certeza de que nada neste mundo é estático. No fundo, este trabalho vai ser, indubitavelmente, uma mais-valia para a formação e informação dos que não se resignam a ficar parados a ver passar a carruagem da globalização, característica fundamental das gerações do presente e do futuro.
Ao ler este trabalho, com o cuidado que ele merece, senti, de forma bem palpável, em cada tema, direi mesmo em cada parágrafo, vontade de parar, para meditar cada ideia e cada proposta, que o autor nos oferece para estes dias de correrias, quantas vezes sem sentido.
Como estímulo a quem busca um trabalho de referência, nem que seja simplesmente para a sua autoformação, é pertinente indicar alguns temas que o autor desenvolveu, com citações que são outras tantas pistas de estudo: Educação e Pastoral dos Direitos Humanos; Por uma Evangelização Eficaz; Propor a Fé com Ousadia Confiante; Conversão Cristã e Propostas Pastorais; Evangelizar o Social, Missão Urgente; Função dos Bens e Consumo Responsável; Cristãos com Cristo? Provocação Oportuna; e Testemunhas e Arautos da Fé.

Fernando Martins

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