sexta-feira, 12 de outubro de 2007

MINORIA ENTRE MINORIAS

Dez anos depois de ter sido elevado aos altares um cigano, Ze-ferino Gimenez Malla, foi publicado um documento do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes, especialmente dedicado à etnia cigana, que merece alguma atenção, tanto por parte da sociedade civil e dos governantes, como da Igreja e das diversas confissões religiosas.
Em Portugal vivem 40 mil ciganos ou talvez um pouco mais. São uma minoria entre as diversas minorias, mas não da última hora, como tantas outras, pois se instalaram entre nós no século XV. O mesmo aconteceu em Espanha, onde o seu número é de 600 mil.
Não é difícil verificar que em algumas comunidades locais, bem como em escolas, há ainda muita suspeita e pouco acolhimento em relação aos membros desta etnia, que na sua maioria não são já imigrantes, mas cidadãos portugueses. É verdade que os ciganos, vivam onde viverem, em Portugal, na Espanha, na França ou em qualquer outro país, são sempre e acima de tudo ciganos, coesos e fiéis à sua cultura e tradições, todos eles cidadãos de uma pátria sem território, mas considerada a sua pátria comum.
Muitas coisas mudaram nas suas vidas, por normais exigências de integração no país, onde vivem. Muitos deles já se documentaram, fixaram a sua residência, escolarizaram-se, gozam da segurança social, têm emprego ao lado de não ciganos, tiraram cursos superiores, dirigem associações e, não se furtando à defesa dos seu direitos, assumiram os deveres correspondentes. Mas, em muitos outros casos nota-se a necessidade de maior formação humana e social, bem difícil de se proporcionar se não for atendida a sua cultura com os valores que lhe são próprios e se se pensar fazer coisas em seu favor sem os ouvir e os tornar protagonistas naquilo que lhes diz respeito.
No aspecto religioso, sabe-se que a sua adesão a expressões religiosas que mais se coadunem com a sua cultura, modo de ser e de se expressar, é muito grande. A Igreja Católica tem de há muitos anos um serviço nacional dedicado à sua promoção, com outros similares nas diversas dioceses do país, e tem sido pioneira na atenção às suas necessidades e aspirações, humanas e sociais. Outras confissões religiosas protestantes de linha pentecostal têm muito aderentes ciganos.
Num encontro internacional recente, realizado em Roma, foi dado a conhecer que há na Igreja mais de uma centena de ciganos clérigos (padres e diáconos) e consagrados, oriundos de diversos países da Europa e da Ásia. Muitos participavam nesse encontro.
A etnia cigana testemunha valores importantes e fundamentais, que hoje escasseiam em países ocidentais. Entre outros, o espírito de família, o acolhimento e respeito pelos idosos, a hospitalidade e a solidariedade para com os membros da etnia, a virgindade da mulher antes do casamento, o respeito pelos mortos, a concepção humana do trabalho…
O que falta para que esta minoria seja reconhecida, promovida e integrada, uma vez que ainda é marginalizada em muitos aspectos, dado o apoio do governo e da comunicação social a outras minorias recentes, discutíveis pela sua dimensão e objectivos sociais?
Toda a atenção à etnia cigana deve acolher e respeitar e sua cultura e valores e atender às condições de um diálogo, eficaz e personalizado. Se os ciganos são capazes de cursos superiores, a nível civil e religioso, e de assumir as responsabilidades inerentes, não lhes escasseiam capacidades de promoção e mesmo de integração comunitária.
Um trabalho de formação e sensibilização junto das comunidades locais e dos agentes civis (autarquias, escolas, serviços púbicos em geral) e, também, dos agentes pastorais é indispensável que se faça e se faça bem. Para que o seja, não pode dispensar o seu contributo activo.
Se é importante conhecer línguas, não o é menos conhecer as pessoas que vivem connosco. Marginais há-os em todos os grupos sociais. Temos de nos perguntar quem é que hoje mais envenena o ambiente e corrompe a convivência na nossa sociedade.

António Marcelino

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Marçal Grilo no CUFC

O ex-ministro da Educação falou ontem no Fórum::UniverSal, no CUFC, onde criticou certos comportamentos de algumas universidades portuguesas.
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"Falando em Aveiro, numa conferência promovida pelo Foro Universal sobre o tema «Que Educação/Universidades que temos e queremos?», Marçal Grilo frisou que «ninguém vive com o que gostaria de ter» e disse que a forma de encarar o problema «não é vir para a rua dizer que há sub-financiamento das universidades. »A imagem da universidade é devastada quando alguns reitores vêm para a rua falar de sub-financiamento. Os reitores deviam estar a procurar ir buscar dinheiro a outras fontes de financiamento«, comentou."
: Leia mais na Lusa/Diário Digital

CRUZEIROS DA GAFANHA



A propósito dos Cruzeiros da Gafanha, o Padre João Vieira Rezende diz, na sua Monografia da Gafanha, que o primeiro Cruzeiro de que há memória “deveria ter existido em 1584, ‘perto da ermida de Nossa Senhora das Areias’ em S. Jacinto”, segundo reza um alvará régio, com data de 20 de Maio daquele ano. E acrescenta, talvez para espanto de alguns, que considera S. Jacinto, “por muitos motivos, pertencente à região da Gafanha”, porque “era-o realmente antes da abertura da Barra em 1808”.
O autor refere depois que “o segundo Cruzeiro foi construído na Gafanha da Nazaré em data que ignoramos. Foi posterior à data da construção da demolida capela de Nossa Senhora da Nazaré e distava dela uns 550 metros para o sudeste. Ficava junto ao caminho (hoje estrada) que ligava Ílhavo com a dita capela. Inaugurada a nova igreja paroquial em 1912, foi mudado para o sítio que hoje ocupa, a 350 metros do local da demolida capela e a 750 da nova igreja matriz. É muito simples, de granito e com os seus três degraus mede 3 m.”
Desde sempre recordo que as procissões das festas da paróquia da Gafanha da Nazaré passavam, e continuam a passar, pelo Cruzeiro, habitualmente enfeitado nesses dias.
Ontem passei por lá e disso dou nota aqui com uma fotografia.
Em 1994, segundo regista uma inscrição inserta na pequena rotunda que foi implantada no cruzamento de várias vias, o Cruzeiro foi mudado, mais uma vez. A inscrição diz assim: “Vila G. Nazaré 1994”
Aproveito para dizer que os cruzeiros são, obviamente, símbolos cristãos, evocativos de datas marcantes. Nada têm a ver, como algumas pessoas pensam, com Pelourinhos. Os Pelourinhos eram símbolos do poder e da justiça. Neles eram acorrentados e expostos os condenados, que sofriam castigos severos, sendo nomeadamente açoitados. Os Pelourinhos não serviam, como algumas pessoas também admitem, para enforcar ninguém. As Forcas eram construídas, para esse efeito, normalmente, fora dos povoados.
Quando passar pelos outros cruzeiros, deles darei notícia neste meu espaço.

FM

Abertura do Concurso Público para o Jardim Oudinot

O Executivo Municipal de Ílhavo deliberou aprovar recentemente a aber-tura do Concurso Público para a execução da obra de requalificação do Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré.
Esta obra tem um valor estimado de 3.275.772 euros (+ IVA) e o seu prazo de execução é de 6 meses.
Esta é uma obra de grande importância para a Gafanha da Nazaré, para todo Município de Ílhavo e também para toda a região da Ria de Aveiro, pela sua localização numa zona privilegiada de relação entre a terra e a Ria de Aveiro, na “ponta norte” do Canal de Mira, enquadrando o Navio Museu Santo André.
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Leia mais CMI

FÁTIMA: IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Obra do arquitecto greco-ortodoxo Alexandros N. Tombazis combina a luz e a tecnologia

SONHADA HÁ 30 ANOS

Sonhada há já 30 anos, a nova igreja da Santíssima Trindade será inaugurada esta Sexta-feira após quase quatro anos de obras, tornando-se o maior recinto público fechado do país. Tem forma circular, com 125 metros de diâmetro, e é sustentada por um grande pilar que suporta toda a cobertura e evita colunas no interior do templo. O projecto, desenhado pelo arquitecto greco-ortodoxo Alexandros N. Tombazis, combina a luz e a tecnologia, procurando respeitar a atmosfera de Fátima.
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Esta nova igreja vai ser inaugurada amanhã. Para ficar
a conhecer alguns pormenores, clique ECCLESIA.

NA LINHA DA UTOPIA



A manifestação das liberdades

1. Há dias realizou-se a comemoração do cinquentenário do I Congresso Republicano, realizado em Aveiro, momento do qual saiu oportuna sugestão para a realização de um IV Congresso, agora já em tempos de liberdade (os outros foram realizados em 1969 e 1973). Estando o país a caminho do centenário da República (2010), muito terreno de reflexão, que se deseja ampla, estará na agenda nacional, debate este que deverá envolver todos os cidadãos humanos (optamos por esta nomenclatura “cidadãos humanos” que prioriza a dignidade do ser humano, enraizada na Declaração dos Direitos Humanos, pois há muitas visões de cidadania, até a cidadania só para alguns, ficando excluídos os que estão “fora”, na marginalidade, da(s) cidade(s).
2. Por vezes deixa-nos a pensar tanto um governado poder chamado social(ista) que vai esquecendo a sociabilidade (tudo são números de uma economia sempre à frente de tudo!), como nos deixa a reflectir (na essência) também o limitado alcance e a menor profundidade de “ser”, de “sentido do essencial”, de visões que exaltam e mesmo quase “divinizam” a “república”, como se ela fosse bem mais importante que as pessoas concretas. Colocar qualquer sistema sócio-político acima das pessoas será o primeiro passo para esquecê-las... Tantas histórias da história humana e nacional já mostraram indignificantes realizações neste contexto. É certo que, caminhando na história, os sistemas sociais haverão de garantir não só uma neutralidade (que nunca ninguém consegue), mas uma “inclusão” proporcionada de tudo quanto for bom para a comunidade, “seja bem-vindo quem vier por bem!”
3. Saber (con)viver com a manifestação da diferença de pensamento social, político, religioso, clubístico, será sinal de uma autêntica preparação democrática assente na respeitabilidade da opinião de cada pessoa. Mas o discernimento sobre a razoabilidade desta ou daquela diversidade é terreno sempre novo. Neste contexto erguer-se-á a formação humana como referencial construtivo e uma visão de pluralismo que seja garantida pelo sistema de regulação humanista e dignificante (esta uma função nuclear do Estado de Direito). A democracia, assim, por inerência, contextualizará tanto as manifestações da liberdade de pensamento, como também o respeito das regras previamente acordadas e dignificantes das mesmas manifestações. Uma qualquer causa não justifica uma qualquer manifestação ou a sua fiscalização ou mesmo impedimento. Temos, ainda, muito a caminhar para chamar “LIBERDADE” às liberdades que vamos experimentando. Precisamos de cidadãos humanos. Venha o (livre) Congresso de Aveiro!

Alexandre Cruz

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

COISAS TÃO SIMPLES

Entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes:
os instantâneos silêncios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza fortuita, dizia eu
imoral, dizias tu
do vento?

José Tolentino Mendonça
In A NOITE ABRE MEUS OLHOS

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