“Pena da Vida”
1. É uma virtude apreciar a vida! Não só quando ela escapa ou quando é colocada em perigo por visões que a desprestigiam, mas todos os dias o apreciar a vida como um “dom”, superior à nossa própria ordem da racionalidade, ao nosso “querer”, é sinal de autêntica profundidade de uma existência pessoal que abre “portas” a um autêntico sentido de vida. Como em tudo, só quando se reflecte e aprecia se pode proteger!...
2. Na pressa agitada e “stessada” dos tempos que correm cada vez tornar-se-á mais difícil esse apreço pelo mistério do “Ser pessoal” que nos envolve tudo o que somos; os tempos são mais de quantidade que de qualidade. Talvez o altíssimo conhecimento científico do nos viesse garantir (quase como obrigação ética) esse nova sensibilidade no apreciar da vida; mas nem por isso, com pena, mais conhecimento tantas vezes não é sinónimo de maior zelo cuidadoso…
3. Dia 10 de Outubro, Dia Mundial da Saúde Mental e Dia Mundial Contra a Pena de Morte, o Conselho da Europa decidiu proclamar este dia como “Jornada Europeia Contra a Pena de Morte”, decisão esta que havia sido bloqueada ao nível da União Europeia pelo veto de Varsóvia, Polónia. A irreverente razão polaca toca no essencial, dizendo que a Europa precisa de fazer um reflexão mais ampla sobre o direito à vida, aspecto que toca problemáticas como o aborto e a eutanásia. Fracturante, mas é a verdade da vida!...
4. Cruzaram-se, nesse contexto, as visões diplomáticas com a visão objectiva da própria realidade. Dir-se-á que, mais que dias “contra” (que têm o seu lugar como início de um caminho) a Europa pós-racionalista precisará, para se refrescar, dos dias a favor dos valores fundamentais, entre eles o valor que fundamenta a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a dignidade da Pessoa Humana. Terá de ser esta a fonte, quando não reflectimos já “poluídos”! Talvez seja hora, para além destes dias comemorativos, de incentivar todos os esforços dos que têm “pena da vida”.
5. Quando não, continuamos a querer o sol na eira e a chuva no nabal. Defendemos dias “contra” os males terríveis que se fazem (entre eles a pena de morte que todos os anos continua a ceifar milhares de pessoas em países chamados de modernos), por outro lado, esquecemo-nos da coerência interna dessa defesa da dignidade humana ao permitir, diplomática e elegantemente, outras execuções de vidas inocentes. Devolvamos (pedagogicamente) à VIDA toda a sua grandeza, não estraguemos. Ela é, por essência, intocável, inviolável, única, um “dom” que nos ultrapassa e que não temos o direito de gerir como dá jeito! Seja em que latitude for. Só assim haverá rumo certo! Enquanto isso, vamo-nos enganando e a vida passa!
Alexandre Cruz