quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Roteiros de férias

HOJE VAMOS AO MUSEU


O nosso roteiro de férias leva-nos a visitar alguns dos museus temáticos existentes na área geográfica da Diocese de Aveiro. Se fosse possível, o percurso seria feito de comboio e de navio, ao som de música popular e saboreando um vinho bairradino.
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NAVIO-MUSEU SANTO ANDRÉ


Atracado junto ao Forte da Barra, na Gafanha da Nazaré, o Navio-Museu Santo André é um antigo navio da pesca do bacalhau adaptado a museu, que conserva todo o seu equipamento e respectivos apetrechos da pesca.
Algumas das suas dependências, como os antigos porões, são agora salas de exposições e um pequeno auditório, onde o visitante pode ficar a conhecer melhor algumas das actividades relacionadas com a pesca do bacalhau, como também pode visitar exposições temporárias sobre variados temas ou participar em eventos diversos.
A casa das máquinas, a ponte (de comando do navio), os camarotes (tanto dos oficiais como dos pescadores), a cozinha, o refeitório, entre outras dependências, estão de acordo com o original, de modo a que o visitante possa ter uma ideia fiel de como era a vida a bordo no navio.
O Navio-Museu Santo André é propriedade da Câmara Municipal de Ílhavo e está tutelado pelo Museu Marítimo de Ílhavo.
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NOTA: Uma proposta do jornalista Cardoso Ferreira, no Correio do Vouga

Voltas de férias




PAÇO DE MAIORCA VAI PASSAR A HOTEL

Nas minhas voltinhas de férias, não podia deixar de passar por alguns sinais históricos e turisticamente recomendáveis. Num dia de algum calor, parei defronte de um palácio, que foi propriedade dos Viscondes de Maiorca. Os desdobráveis turísticos recomendam, com justiça, este edifício, que é, desde 1977, imóvel de Interesse Público.
Trata-se de um edifício de planta longitudinal irregular, cuja fachada assimétrica se compõe de um portal central, como facilmente pode ser confirmado.
Documentação turística diz este paço se enquadra na tipologia dos palácios rurais de influência barroca, já da segunda metade de setecentos, apresentando-se ao visitante com uma significativa riqueza na decoração de interiores, particularmente os azulejos rocaille das diferentes salas, os tectos pintados, a beleza da Sala de Papel, a imponente cozinha de planta octogonal e a capela com altar do séc. XVI.
Flanqueado por jardins, este nobre edifício enquadra-se numa vasta propriedade que propicia agradáveis passeios de lazer e encontro com a natureza.
Tudo isto tinha lido e me dispunha a confirmar in loco, mas dei com o nariz na porta. O paço estava encerrado ao público. Indaguei então que o antigo palácio dos Viscondes de Maiorca, que havia sido adquirido pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, no tempo da presidência de Pedro Santana Lopes, estaria à espera de ser convertido num luxuoso hotel. Melhor que ficar por ali fechado sem ninguém o poder visitar, como me aconteceu a mim.
F.M.

Ares do Verão


A SOMBRA DAS ÁRVORES É SEMPRE...
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A sombra das árvores é sempre um convite a um descanso, por pequeno que seja, a quem passa afogueado com o calor. O mês de Julho deste ano, que não foi muito quente, teve, no entanto, um ou outro dia que nos obrigava a parar a caminhada à sombra de uma árvore. Aqui me lembro das redacções de pequeno, quando nos pediam os benefícios das árvores. Além dos frutos e da madeira que elas nos davam, lá aparecia sempre, inevitavelmente, a sombra saborosa em dias de calor.
Estas árvores, como outras, podem ser apreciadas e usufruídas no parque das Abadias, na Figueira da Foz.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os meus contos

A TITA


Estar no quintal, em dias de sol ou de chuva, é um dos prazeres que cultivo, como quem cultiva uma flor para desabrochar na Primavera. Olhar as árvores na hibernação, ver as plantas que nascem sem que alguém as tenha semeado, cheirar o verde ora viçoso ora mortiço da vegetação espontânea, experimentar o prazer de deitar a semente à terra e de ver as novidades, mais tarde, ferirem a crosta areenta e estrumada, tudo isto me encanta. 
Numa dessas tardes em que a contemplação me deixava voar ao sabor da maré que os ventos envolviam, a Tita surgiu apressada, como quem deseja chegar o mais depressa possível à meta que o seu instinto alimenta desde que nasceu. Passa por mim ostentando uma alegria inusitada e corre, corre, sem aparente explicação. Depois cheira tudo, em busca não sei de quê. Dou comigo a pensar que isso já nasceu com ela. Chama o companheiro Tótti, grita mesmo por ele, em jeito de quem quer alguém com quem possa partilhar a alegria de uma liberdade conquistada. Tótti dá-lhe o gosto e corre também, mas a Tita, logo depois, volta ao seu prazer de procurar. 

Ares do Verão

Costa Nova, com velas à vista



VERÃO UM POUCO TRISTE, MAS...
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O Verão ainda não chegou verdadeiramente... Há muito vento e o calor, aquele calor que nos obriga a procurar o fresco das sombras ou da brisa da ria ou do mar, ainda não se dignou aparecer com aquela força que gostaríamos. De qualquer forma, sabe sempre bem estar ali ao lado da laguna que enche os nossos sonhos. E se houver velas ao vento, tanto melhor...
Boas férias de Verão para todos, mesmo que sem muito calor.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 34

O MORTO QUE MATOU O VIVO
Caríssima/o:
Há outro grupo de imigrantes que demandou a Gafanha e que terei de mencionar: o de S. Pedro do Sul; e não só pelo seu número mas ainda mais por um dos seus membros ter passado para a minha Família. Rabuscando a lenda, contudo aconteceu o inesperado e “o morto que matou o vivo” fez-me reapreciar a figura bondosa e cativante de um Amigo que todos os sábados me entrava pelo portão do quintal e me trazia uma estória nova. Foi da sua boca que ouvi pela primeira vez este retrato do nosso povo. E como ria e nos fazia rir o bom do Padre António Nédio! Vamos então partilhá-la e dedicá-la a todos os Antónios que se têm cruzado nos caminhos por mim trilhados. Se quiserem podem não ler as outras duas.
1. «Lá para Covas do Rio, a cinco léguas de S. Pedro do Sul, conta-se a lenda do morto que matou o vivo. Dizem que foi entre a aldeia da Pena, que na altura ainda não tinha cemitério, e a aldeia de Covas, que o tinha. E o trajecto era forçosamente feito a pé, em que havia quatro homens para o transporte da urna. Pois a dada altura, conta o povo, um dos homens de trás, lá escorregou ou coisa assim, e os outros não seguraram tão bem e o caixão caiu-lhe em cima, matando-o! Foi assim que o morto matou o vivo, dizem por lá... 2. Pois bem, neste concelho fica a Serra de S. Macário, cujo cimo sobe a mil metros. Pois conta a lenda que «Macário era caçador e, num dia de caça, acompanhado de seu pai, pensando que arqueava a flecha contra um javali, feriu mortalmente o pai. Em desespero, correu de um lado para o outro o sucedido, mas sem nunca ter coragem de voltar a casa. Daí em diante viveu sempre na Serra, em isolamento, sobrevivendo de esmolas e penitenciando-se pelo seu erro. Um dia pediu a alguém que lhe desse um montinho de brasas para fazer uma fogueira. Obtendo a graça do seu benfeitor, pegou as brasas com as mãos sem se queimar, ficando desde aí com o nome de santo. Morreu e viveu nesta serra junto à capela onde ainda hoje muitas pessoas o veneram. Em seu nome é feita uma festa anual que ocorre no último domingo de Julho.» 3. Desde que foi feita a Ponte do Cunhedo sobre o Vouga, é muito simples a passagem do rio, não importa a estação do ano. Porém, esta lenda passa-se – se é verdade que as lendas se passam fora da cabeça das pessoas - quando ainda não havia tal passagem, embora o convento de S. Cristóvão já lá estivesse. Bem, e estamos numa bela manhã de Junho, acompanhando a jornada do frade superior dessa pequena comunidade religiosa. Na sua bela égua Estrela, o frade acompanha a margem direita do Vouga. Vai devagar, gostava daquele longo passeio que lhe proporcionara uma visita pastoral. Umas roupas aqui, um dinheirito ali, boas palavras além, conhecia bem aqueles descaminhos, mas também se confiava ao instinto do animal. Dera uma boa volta e regressava satisfeito. Mas o tempo é que estava a mudar de aspecto conforme entravam nas negruras da noite. A égua era fina e o cavaleiro dava-lhe rédea solta, para lhe evitar constrangimento, mas ela parara e acenara com a cabeça, como a dizer ao frade que se segurasse bem porque o pior ainda estava para vir. E o pior eram as poldras, que ela soube atravessar com extremo cuidado. E daí a pouco o frade estava no convento, quase sem dar por isso. Nessa noite, ele soube que, apesar de tudo, passara por milagre o Rio Vouga. Não era só a sabedoria da Estrela a salvá-lo, e no dia seguinte voltou ao sítio das poldras e, desmontando, ficou estarrecido, vendo claramente o perigo por que passara. Eram tamanhos os estragos que a tempestade da véspera fizera! De repente, sentiu um frémito percorrer-lhe o corpo, encostou-se ao pescoço da égua e apercebeu-se que o rio já não era o Vouga, mas outro, muito mais longo e profundo. Já apoiado numa árvore, cadáver há já umas horas, aí o foram encontrar outros seus irmãos que o procuravam...» [V. M., pg. 242]
Manuel

Um artigo de António Rego

FÉRIAS EM FILOSOFIA
A vida são dois dias, o Carnaval, três. Diz-se a brincar, como um hábil jogo de palavras e números, como se nada, de facto, se quisesse dizer. Estes três dias acabam por ter algo de religioso. Três dias de festa estridente que precedem a quarentena de cinzas e penitência. Ou a alusão aos três dias de Paixão de Cristo que terminaram na Ressurreição. Ou escondendo ainda um outro conceito: a vida dura pouco, menos que um divertimento de Carnaval e por isso não vale a pena perder tempo com o que não é aprazível. Indo mais fundo parece insinuar-se uma filosofia de vida retintamente epicurista que valoriza antes e acima de tudo o prazer. As viagens ideológicas demoram o seu tempo e as mudanças, por muito velozes que pareçam, operam-se com leis rígidas que não permitem que a história evolua aos saltos. Entremos um pouco mais no concreto. Vivemos uma sociedade de progresso, trabalho, produção, eficácia, rendimento. Mesmo com o apoio da técnica e da tecnologia, nunca o homem pode dizer que o seu tempo de vida é de lazer, como aconteceria a Adão, não fora o pecado original. Mas o facto é que o conceito de Carnaval como divertimento de choque, excitação, entretenimento esgotante, vai-se estendendo a outras áreas. O repouso já não é o que era. E para muitos, o próprio tempo de férias constitui uma multiplicação – um compacto, como ora se diz – de entretenimentos que se escolhem como em carta de vinhos e se consomem até à embriaguês. Umberto Eco fala mesmo da carnavalização da vida face aos espectáculos constantes que as pessoas procuram, nomeadamente através dos media que são os agentes deste divertimento non stop quer de informação quer de ficção. Aparte outros considerandos parece urgente rever a concepção de repouso, divertimento, festa, corte do trabalho quotidiano (quantas vezes o fim de semana é concebido como tempo de orgia!). Com tudo isso, há valores recônditos que não afloram nos tempos comuns de trabalho e rotina. Há pausas, silêncios, escutas, olhares que só se descobrem num certo despojamento de alma. Será por isso bom que as férias se não transformem em repetição programática do mesmo. Se assim for, semana após o recomeço do trabalho estarão praticamente gastas.