quinta-feira, 12 de julho de 2007

As sete maravilhas de Portugal




MOSTEIRO DA BATALHA

A escolha das Sete Maravilhas de Portugal, que alertou os portugueses para o património histórico do nosso País, veio mostrar que entre nós há muito que ver, com olhos de ver. Foi e é também um desafio para cada um de nós, no sentido de visitarmos e apreciarmos o que Portugal tem de bom, quer quanto ao património histórico, quer natural, quer turístico. Oxalá saibamos todos corresponder a esse desafio, aproveitando as férias ou os tempos livres, que decerto acabaremos por ter neste Verão ou mesmo para além dele.
Eu já comecei. Por estes dias, saí de casa com o propósito de rever terras e monumentos que foram lembrados nessa escolha. Visitei os Mosteiros da Batalha e de Alcobaça, seguindo uma rota que passou por Leiria e Aljubarrota. Foi muito agradável.
Durante alguns dias, aqui recordarei os momentos do reencontro.
O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha, é, de facto, obra notável, levada a cabo pelo Mestre de Avis, aquele que viria a ser o nosso rei D. João I, no cumprimento de um voto à Virgem, caso vencesse os castelhanos na célebre batalha de 14 de Agosto de 1385, em Aljubarrota, o que veio a acontecer, como todos sabemos.
A construção deste Mosteiro, que se estendeu de 1386 a 1517, respeitando diversas fases do Estilo Gótico, simboliza, de alguma forma, o poder da nova dinastia, iniciada pelo Mestre de Avis. Mobilizou recursos materiais e humanos avultados e permitiu colocar Portugal na linha dos estilos artísticos já em curso na Europa, mas desconhecidos dos portugueses.
Todo o Monumento precisa de ser apreciado com calma, tal é a beleza de cada pedra, de cada recanto, de cada sala, de cada fachada, de cada torre, da igreja e das diversas capelas. Ler legendas, seguir o guia que tem de ser comprado, tanto o mais simples como o mais elaborado, saber que ali está sepultado, desde D. João I e sua esposa, a grande rainha D. Filipa de Lencastre, a tal que educou a “Ínclita Geração, Altos Infantes”, como ficaram conhecidos os seus filhos (D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. Fernando, D. João e Dona Isabel), até D. Duarte e sua esposa, a rainha D. Leonor, os primeiros na capela do Fundador, presentemente em obras, e os segundos, nas Capelas Imperfeitas, assim chamadas porque nunca foram concluídas.
Claustros, túmulos de gente que fez história, naves e portais sumptuosos, abóbadas, janelões, estátuas e estatuetas, colunas e pilares, jardins e vitrais que nos atraem e fixam os nossos olhares. 
O Túmulo do Soldado Desconhecido, lembrando a participação de Portugal na Guerra de 1914 – 1918, está na Sala do Capítulo. Tem junto o lampadário monumental, onde arde permanentemente a “Chama da Pátria”, sob a guarda de dois militares portugueses, na posição de sentido. O lampadário é alimentado com azeite virgem das oliveiras portuguesas. 
Estes símbolos da Pátria podem ser apreciados na referida Sala do Capítulo, em que se destaca a sua famosa abóbada, em estrela de oito pontas. Sob ela, segundo a lenda, dormiu a primeira noite, depois da conclusão, mestre Afonso Domingues, para provar que a abóbada, sem qualquer suporte, não cairia.
Não é por acaso que o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, o famoso Mosteiro da Batalha, passou a ser integrado, em 1983, na lista da UNESCO do Património Mundial.
Se puder, e pode certamente, se quiser, não deixe de visitar esta Maravilha de Portugal.

Fernando Martins



AS SETE MARAVILHAS DE PORTUGAL 







Palácio da Pena
Palácio do século XIX, atrai a Sintra muitos visitantes.

Torre de Belém
Construída no século XVI em homenagem a S. Vicente, padroeiro da Sé de Lisboa.

Castelo de Guimarães
Edificado no século X. No século seguinte foi residência da corte. Presume-se que D. Afonso Henriques nasceu lá e que lá viveu.

Castelo de Óbidos
Mostra a importância da povoação na Baixa Idade Média, mantendo intacto o Castelo agora distinguido, ruas e ruelas, casas antigas e outros motivos de interesse histórico.

Mosteiro de Alcobaça
Um dos mais significativos mosteiros cistercenses medievais, doado aos monges de Cister por D. Afonso Henrfiques.
Ali repousam os restos mortais de D. Pedro I e D. Inês, como símbolo de um amor "até ao fim do mundo", como se pode ler num monumento. Dele falarei aqui um dia destes.

Mosteiro da Batalha
Também conhecido por Mosteiro de Santa Maria da Vitória, é o mais importante símbolo da dinastia de Avis. Voltarei ao assunto, nem que seja, apenas, para publicar mais algumas fotos.

Mosteiro dos Jerónimos
Também conhecido por Mosteiro de Santa Maria de Belém, é representativo do Estilo Manuelino, construído para comemorar os feitos dos nossos navegadores.

Ares do Verão


VERÃO MAIS ALEGRE
:
Penso e sinto que o Verão é, de facto, uma estação de alegria. A natureza está com toda a sua pujança, iniciada na Primavera, e as pessoas, com sol e calor, até se sentem outras. Mais abertas, mais livres, mais simples, mais comunicativas. Há autarquias que têm o bom gosto de enfeitar as ruas. Acho bem, pois as decorações, quando bem feitas, estimulam a alegria e a boa disposição. Sei, como todos sabemos, que a crise nos obriga a apertos e que há outras prioridades. Mas se for possível enfeitar uma ou outra rua, mesmo com simplicidade, isso será muito bom.
Boas férias, com muita alegria, para todos.

Um poema de Manuela Azevedo

Serra da Boa Viagem - Figueira da Foz

SUBINDO A SERRA

Subir a serra
é sentir lá no cimo
a presença divina,
ter asas e ser pequenino.
Ver as minúsculas casas
ponteadas na paisagem,
sentir o vento a fustigar o corpo
e só querer chegar sempre mais alto,
o coração a soltar-se na aragem,
qual papagaio a que se solta o fio.

Manuela Azevedo
.

In O Canto das Fragas,
a ser lançado no dia 13 de Julho,
pelas 21.30 horas,
no Auditório Municipal
da Figueira da Foz.

Um artigo de Alexandre Cruz

EUropa?
1. Cabe-nos este semestre a presidência da União Europeia. Não só a Europa no seu processo de consolidação institucional de um Tratado (com este ou outro nome), mas uma visão de Europa de Nações que não se anulam mas que saibam acolher, em pluralismo, a riqueza da diversidade cultural. Este processo europeu, algo de único na história, apresenta-se como uma dinâmica de aprendizagem contínua, lendo-se nas entrelinhas dos seus solavancos (de avanços e recuos) uma “ideia” de comum-unidade que, todavia, nunca se poderá render ao pragmatismo das coisas diárias. Talvez a maior crise de todas seja mesmo essa, a de a generalidade dos cidadãos estarem ainda longe da “ideia” de Europa que lhes preside (e quando dela falam é para queixar dos bens perdidos em vez se apreciarem os bens de estabilidade e paz ganhos); ou talvez também a própria configuração institucional necessite de uma reforma situada, pois não se poderá governar eficientemente uma comunidade de 27 países com o modelo de 12. No fundo, o implacável mundo global (o qual a Europa antecipou), propõe a interrogação hoje decisiva sobre “o que os cidadãos querem da Europa?” Se, pela generalizada e cómoda indiferença europeia (temos pão e água garantidos, todos os dias), existirem dificuldades em responder a esta pergunta sobre o que se quer da Europa, então voltemo-nos para as próprias nações que a constituem e perguntemos “o que querem os cidadãos do seu país?” Nesse momento apercebemo-nos de que a mesma dificuldade em responder é sintoma generalizado de uma certa passividade indiferente, em que as perguntas sobre o colectivo bem comum vão-se esbatendo, generalizando-se mais a preocupação do EU individual que do NÓS comunidade. Sem nações abertas e participativas a Europa só pode ser fechada… 2. A Europa, apesar de toda a sua complexidade sempre em construção, precisará de se abrir mais ao mundo, se sair de si. Refere, em recente entrevista (Público, 9 Julho) o Alto-Comissário nas Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, que “há uma enorme falta de Europa no mundo”. Diríamos que nas questões decisivas da humanidade a Europa tem-se alheado, desconsensualizando-se no essencial, perdendo a sua própria ideia / afirmação estimulante e negando as suas rasgadas raízes de identidade plural (onde estão Atenas e Roma?); talvez, na Europa vinda da Razão (da científica à de estado) tenhamos amado irracionalmente a própria liberdade esquecendo-nos de colocar nela as fronteiras do razoável e da inalienável dignidade humana; talvez, ainda, tenhamos desapreciado progressivamente os benefícios de paz e desenvolvimento que a União Europeia neste 50 anos tem concedido ao próprio continente. Todos somos beneficiários, e todos apreciam? Teremos, mais, de desenvolver a cultura do apreciar a história construída. Não para ficar nela, mas para, apreciando o caminho apostado, não deitemos a perder todo o esforço de gerações que nos precederem; nesta tarefa, uma nova opinião pública europeia esperançosa torna-se um imperativo. Mas onde vamos buscar a esperança, o ânimo? Que temos e promovemos na Europa além de tecnologias? Quais os lugares do “ser” e da cultura? Talvez tenhamos de nos conhecermos mais, no nosso património, dos monumentos às ideias que nos conduziram, sendo certo que sabendo donde vimos melhor saberemos para onde queremos ir. 3. Neste ideário que terá Portugal a dizer? Primeiro de tudo, faz-nos bem sairmos das nossas portas para ser possível entrar o ar fresco do pluralismo em liberdade, de expressão e de vivência, e não nos fecharmos num unanimismo fictício ou à força; todos somos filhos da diversidade. Se a Europa precisa de sair do seu EU talvez seja a “hora”, apesar de termos vivido (como fuga, como estratégia?) de costas voltas para a Europa, de Portugal dar o seu contributo universalista para uma Europa que se abra mais ao mundo. Um dos factos neste contexto é precisamente a realização da segunda Cimeira Europa - África (sublinhe-se que a primeira foi também com a presidência portuguesa, tendo a Europa, entretanto, esquecido o continente do sul…). Como refere Manuel Antunes (Repensar Portugal, Multinova 2006: 61-62), neste contexto mundial os povos mediadores – de preferência mais os pequenos que os grandes – serão decisivos para o crescimento harmónico da Humanidade. Assim este entendimento plural (multiétnico, intercultural e inter-religioso) seja assumido, pois tanto lá fora como cá dentro, esse diálogo edificante anda pelas ruas da... Precisamos, só nele haverá futuro com futuro!...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A nossa gente - João Catraio

Os velhos são livros abertos


O TIO JOÃO CATRAIO

Há mais de 60 anos, o tio João Catraio era um dos patriarcas da Gafanha da Nazaré. Vivia no lugar da Cambeia e desde cedo me habituei a escutá-lo com enlevo. Falava sempre com um sorriso nos lábios e nunca o ouvi nem vi aborrecido. Deixava transparecer um optimismo contagiante e uma serenidade que impressionava. Apesar da idade avançada, mostrava um ar de catraio, que atraía pela sua candura e simpatia.
Gostava de conversar com ele, mais para ouvir do que para falar, já que é ouvindo os mais velhos que se aprende. Foi um ídolo da minha infância e juventude, e mais tarde, já homem feito, nunca deixei de o olhar com muito respeito e admiração, qual livro aberto cheio de estórias de encantar, para legar às gerações futuras.
Quando nos víamos, de mim e dele saíam saudações amigas, comentários de circunstância e divagações que nos levavam a perder a noção do tempo. Ficávamos, por vezes, por ali, no seu quintal, entre o chilrear da passarada que fazia ninhos nas árvores, nos beirais de sua casa e no verde milheiral que dominava tudo em redor, ou não fosse o milho o cereal que mais merecia a atenção e a preferência dos gafanhões.
Quem passava tinha sempre uma palavra de cumprimento, ao jeito de “Boa tarde lhe dê Deus”, a que se respondia “Boa tarde; vá com Deus”. Eram expressões que denotavam a fé dos gafanhões daquele tempo, e que ainda hoje se ouvem entre as pessoas mais idosos, sem qualquer complexo.
Há umas quatro décadas, numa tarde de Verão, à hora da sesta, o tio João descansava sentado junto ao monte de palha e junco, bem perto dos currais dos animais. A frescura das árvores de fruto amenizava o ar abafado que à volta tudo dominava. Àquela hora, o trabalho na sua pequena quinta, onde de tudo um pouco se criava, era impossível.
Nem vivalma pela rua, sinal de que os outros agricultores esperavam por uma temperatura mais fresca, para recomeçarem a labuta nos campos. Ao vê-lo assim tão bem encaixado na palha e à sombra reparadora do monte, senti vontade de o ouvir, como diversas vezes tinha feito.
Nessa tarde, o tio João falou-me da estória da sardinha que era repartida por três pessoas da família, no momento da janta. Estranhei tanta poupança, mas ele logo me confirmou que era uma realidade desde os seus tempos de menino, ainda nos finais do século XIX. Antes e depois, segundo ele, as pessoas da Gafanha alimentavam-se parcamente. Não haveria fome, mas as dificuldades económicas eram muitas. Comia-se do que se cultivava e pouco se comprava.
Também não havia o hábito de pescar, já que os gafanhões eram essencialmente agricultores e não queriam nada com a ria nem com o mar, segundo ele me confessou. Só mais tarde, nos finais do século XIX e princípios do século XX, se aventuraram na apanha do moliço, do berbigão e do mexilhão, sem se afastarem muito da borda. A pesca veio lentamente para os hábitos desta gente que deixou os areais das aldeias de Vagos e de Mira, para se estabelecer nos areais semelhantes da península da Gafanha. A isso foram obrigados pela falta de terra para cultivar. As famílias, por norma muito numerosas – recordava-me o tio João – viam as suas propriedades serem repartidas sucessivamente nos momentos das heranças. Se era necessário procurar mais terrenos para cultivar, o mais fácil seria deslocarem-se para terras vizinhas, onde havia espaço para todos. Umas terras recebidas por aforamento e outras por ocupação, simplesmente. Eram terrenos muito iguais, resultantes das areias esbranquiçadas que o mar depositava nas margens, dando origem, durante séculos, à restinga que se foi formando, de Ovar a Mira.
E a areia foi tanta, que em 1888 se iniciou a sementeira do penisco, que deu origem à Mata da Gafanha. Esses trabalhos, que envolveram muitos gafanhões, terminaram em 1910, ano da criação da freguesia da Gafanha da Nazaré. A Mata serviria para fixar as dunas e para proteger as sementeiras dos ventos marinhos e das areias que os mesmos arrastavam, prejudicando as culturas, assim me dizia o tio João Catraio, qual livro aberto que tanto me ensinou, com a sua sabedoria de experiência feita.
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Fotos: Tio João Catraio, com esposa Carolina

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 31

Os beatos Jacinta e Francisco

FÁTIMA

Caríssima/o:

Hoje, se me permitis, vou dar três saltos no tempo:

1- 23 de Julho de 1958, dia em que realizei o Exame de Estado, na Quinta da Rainha. Estamos a entrar no início das bodas de ouro. E quantas estórias por aí andarão?
Que é dos nossos Professores? E dos “funcionários” da Escola?
E vós, companheiros/as, onde e como estais?
Lembro-me que a nossa última saída, enquanto alunos da escola, foi a Fátima, a consagração do nosso Curso. Os rapazes, e logo também eu, levámos o andor na procissão de velas. Lá estavam connosco o Director, os Professores e o padre Eurico Dias Nogueira, nos nossos dias, arcebispo emérito de Braga.


2- «A 13 de Maio de 1917, três crianças apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, hoje diocese de Leiria-Fátima. Chamavam-se Lúcia de Jesus, de 10 anos, e Francisco e Jacinta Marto, seus primos, de 9 e 7 anos. Por volta do meio-dia, depois de rezarem o terço, como habitualmente faziam, entretinham-se a construir uma pequena casa de pedras soltas, no local onde hoje se encontra a Basílica. De repente, viram uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir-se embora, mas, logo abaixo, outro clarão iluminou o espaço, e viram em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol", de cujas mãos pendia um terço branco. A Senhora disse aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela hora.»

3 - A fada Oureana

«Fátima , jovem e bela Princesa moura , era filha única do emir, que a guardava dos olhos dos homens numa torre ricamente mobilada , tendo por companhia apenas as aias e , entre elas , a sua preferida e confidente Cadija .
Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o "Traga-Mouros" , o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela princesa à janela da torre.
Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das Luzes , na noite que mais tarde seria a de S.João , preparou uma cilada de amor.
No impressionante cortejo de Mouras e Mouros , montando corcéis lindamente ajaezados , Fátima era vigiada de perto por Abu . De repente os cristãos liderados pelo Traga-Mouros saíram ao caminho e Fátima viu-se raptada por Gonçalo .
Mas Abu depressa se organizou e partiu com os seus homens em perseguição dos cristãos e a luta que se seguiu revelou-se fatal para o rico e poderoso Abu .Como recompensa pelos prisioneiros mouros, Gonçalo Hermingues pediu a D. Henriques licença para se casar com a princesa Fátima , a que o rei acedeu com a condição que esta se convertesse .
A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima , mas a princesa, já com o nome cristão de Oureana, deu também seu nome ao lugar onde se instalaram definitivamente , a Vila de Ourém.»
[in Escola 1º C.E.B. - Matas N.2 – Sobral - Agrupamento de Escolas - IV Conde de Ourém]

Recuados no tempo, poderíamos perguntar onde começa e termina a lenda.

Manuel
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Nota: Por motivo de férias, o TECENDO... aqui fica, mesmo antes de domingo, dia que lhe está destinado. Boas Férias para todos.
F.M.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Um artigo de D. António Marcelino


HUMOR,
POESIA E VALORES
DO ESPÍRITO

Diz o povo, com a sua proverbial sabedoria, que “quem se pica não é ouro de lei”. O ouro verdadeiro resiste a riscos e encontrões e não se amolga com facilidade. Não é assim com o ouro fingido, que não passa de quinquilharia e que, facilmente, perde o brilho, denunciando a sua fingida aparência.
Está a acontecer entre nós algo de estranho e de preocupante. O primeiro- ministro leva a tribunal, como cidadão ofendido, um outro cidadão que a ele se referiu num vulgar blogue da Internet. Os ministros da Educação e da Saúde demitem funcionários dos seus ministérios por os julgarem menos respeitadores das suas pessoas e dos actos do seu Governo. Mas, se procuram nos ministérios, informações necessárias e legítimas, ou ninguém atende ou fica-se dependurado no telefone à espera de quem nunca aparece. Tudo isto denuncia intolerância, menosprezo, indiferença, sobranceria. Porém, não deixamos de sentir que está montada uma rede de videirinhos e denunciadores atentos, com acesso fácil ao senhor ministro, gente que alimenta a intolerância, de quem devia dar exemplo diário de tolerância…
Quem não respeita, acaba por não ser respeitado. Isto é mau e não acaba bem.
Não é menos preocupante ver hoje, muito mais do que antes se via, como se reprime o humor e a anedota de sabor político. Num ambiente pesado, o sol escurecerá, os poetas vão calar-se e tudo quanto tem raízes no espírito vai estiolar e fenecer.
O humor, a poesia, as vozes defensoras de valores espirituais, são um tónico indispensável para que se possa viver em sociedade, de modo livre e sadio. Não se pode correr o risco de termos de falar, nas conversas e nos meios de comunicação, e mesmo assim com cuidado porque há ouvidos suspeitos e pouco limpos, apenas de futebol, orçamento, mercado, impostos, desemprego, greves, escândalos, festa de gente fina, brigas de mau humor de milionários, telemóveis de topo de gama, assaltos e raptos, milhões por transferências de jogadores e por aí adiante em coisas de igual teor.
Quem quiser falar de processos mais a guardar prescrição que sentença; de leis que não respeitam o bem comum e destroem o tecido social; de pobres de vária ordem, que a sociedade torna cada vez mais pobres e menos atendidos e defendidos; de desvalorização premeditada da pessoa humana e das pessoas em geral; do ensino, mais dependente das estatísticas, gerador de incultura e que parece só olhar para um futuro de competição; de portas escancaradas à entrada de todo o lixo que a Europa exporta; de favores partidários que menosprezam a justiça e roçam o escândalo, então há que ter cuidado, porque, ao nosso lado, a intolerância aumenta, os governantes não suportam críticas e se generaliza cada vez mais um clima de desconfiança. Nunca se sabe quem se senta ao nosso lado, no café ou no restaurante, no comboio, no autocarro ou na sala de espectáculo.
Dê-se lugar ao humor e às anedotas sadias que fazem rir, antes que tudo se transforme numa anedota, sem gosto nem sal. Apareçam poetas que falem da beleza das pessoas e das coisas, de um modo livre, que só eles sabem. Dê-se voz e atenção a quem defende e promove valores espirituais e morais, para que o ambiente social seja respirável e apetecível. Olhemo-nos uns para os outros, sem que mutuamente ponhamos rótulos na testa. Tenhamos coragem para aplaudir o bem, denunciar o mal, respeitar as pessoas e viver sem medo em qualquer lugar. Não nos deixemos envinagrar nem envenenar, com coisas que passam e que passam depressa. Não permitamos que apaguem o sol ou o queiram só para alguns, porque “o sol quando nasce é para todos”, nem que Portugal se extinga e se empobreça. O remédio para os nossos males não tem que vir de fora. Está em nós. A menos que quem manda nos impeça de sermos nós próprios e de agirmos com a liberdade que nos assiste.
Se o povo não se dividir mais, nem for abafado no seu bom senso e natural sabedoria, ele servirá de corrector normal dos vícios e dos desvios enganadores.

António Marcelino

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