AVALIAR ALUNOS É TAMBÉM
AVALIAR PROFESSORES
Por notícias de hoje, parece que alguns professores estão um pouco incomodados com as avaliações a que estão a ser sujeitos os alunos dos 4º e 6º anos. Dizem eles que, pelos vistos, são os professores de Português e de Matemática que estão a ser avaliados. E a ser assim, o Ministério da Educação devia dizê-lo abertamente. Há aqui um equívoco qualquer, isto é, há professores que pensam que os alunos avaliados não mostram, muitas vezes, o trabalho dos seus professores. Mostram sempre, mas ainda mostram capacidades e incapacidades de alunos e de docentes, ambientes nada favoráveis à aprendizagem, falta de recursos didácticos e de pessoal de apoio, entre outras razões, certamente.
É sabido que há professores sem vocação para o ensino, sem capacidade para estabelecerem empatias com alunos, sem estabilidade profissional, longe das suas famílias, sem ligação efectiva e afectiva às escolas onde trabalham, sem qualquer apoio da comunidade educativa, sem conhecimentos do meio, em suma, sem condições que lhes assegurem trabalhos rentáveis.
Penso que nos dias de hoje todos temos de ser avaliados. Seja em que profissão for, a produtividade e a competitividade exigem gente trabalhadora, competente, disponível, com capacidade de adaptação às novas tecnologias, aberta à inovação. E os professores, mais do que ninguém, têm de ser exemplo disso, porque deles depende, em grande parte, a formação das novas gerações.
Sei que há alunos difíceis, famílias destroçadas que dão às escolas alunos vencidos à partida e revoltados contra tudo e contra todos.
Sei que certos professores não encontram condições ideais para um trabalho digno, condições essas que levem os alunos a entusiasmarem-se pela escola e pela beleza de saber mais.
Sei que há turmas terrivelmente indisciplinadas e crianças e jovens desmotivados. Mas também sei que há professores que não têm nenhuma vocação para o ensino e para lidarem com crianças e jovens de comportamentos anormais.
Em resumo, a avaliação de alunos conduz, inevitavelmente, à avaliação dos professores. E não é preciso o Ministério andar a dizer isso. Toda a gente de bom senso sabe que é assim. Porém, é importante que se diga que será urgente averiguar a razão do fracasso, se os alunos mostrarem que estão mal preparados. É que a culpa pode não ser apenas deles.
Fernando Martins